Como Veja criou Arruda – 1
Da Veja de 15/07/2009
Ele deu a volta por cima
Depois de amargar uma imensa rejeição provocada por medidas de austeridade, o governador do Distrito Federal diz que é possível ser popular sem ceder às tentações do populismo
(…) Numa cidade acostumada a conviver com exibições grotescas de todo tipo de privilégio e desperdício de dinheiro público, o governador chegou pela contramão. Demitiu funcionários, pôs as contas em ordem, tirou camelôs e vans irregulares das ruas, enfrentou grevistas e freou um processo histórico de invasão de terras públicas. O resultado imediato e previsível: sua popularidade foi ao chão. Três anos depois, porém, Brasília dá mostras de que popularidade e populismo podem andar separados.
(…) E qual é o seu limite?
É o limite ético. É não dar mesada, não permitir corrupção endêmica, institucionalizada. Sei que existe corrupção no meu governo, mas sempre que eu descubro há punição. Não dá para entregar um setor de atividade do governo para que um grupo político cuide dele por interesses empresariais escusos. Se peço a um parlamentar eleito para me ajudar a administrar sua base eleitoral, isso é política. Mas, se entrego a esse parlamentar a empresa de energia elétrica, isso não é aceitável.
(…) Esse diagnóstico também se aplica ao governo federal?
O PT segue outra linha. O PT tem uma visão de instrumentalização da máquina pública e politiza as relações que deveriam ser institucionais. Mas o presidente Lula é diferente do PT.
(…) E o Bolsa Família, que o senhor citou, está em qual dos exemplos?
Nos dois. O Bolsa Família atende e escraviza. Aqui em Brasília há pessoas que se dispõem a fazer um serviço doméstico mas não aceitam ter a carteira assinada para não perder o benefício. E, infelizmente, há um grande número de pessoas que se acomodam, deixam de trabalhar e vivem escravizadas pelo benefício.
(…) O senhor vai estar em qual palanque em 2010?
Meu partido vai seguir com o PSDB, com o candidato que os tucanos definirem, o governador José Serra ou o governador Aécio Neves. O melhor candidato da oposição será aquele que conseguir construir uma unidade.
(…) o Brasil, não é um risco um político adotar essa linha dura nas questões urbanas?
A política de ordenamento urbano e de gestão responsável da máquina pública contraria muitos interesses. Em meu primeiro ano de governo, cheguei a ter 58% de rejeição. Com o tempo, isso foi se invertendo. Hoje já tenho uma posição mais confortável, mas muito distante do que eu teria se simplesmente fosse o populista clássico e não contrariasse os interesses de ninguém. É muito fácil no Brasil governar sem contrariar nenhum interesse. Você não constrói nada novo, mas todo mundo te ama.
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