Livro relata histórias de crianças presas com os pais na ditadura
André, 3, e Priscila, 2, foram parar atrás das grades com a mãe no dia da promulgação do AI-5, sigla que entrou para a história como o ato institucional que escancarou a ditadura no Brasil, em 13 de dezembro de 1968. Depois, viveram clandestinos até 1976, sem saber ao certo o que estava acontecendo no país - e na família - ou mesmo o nome verdadeiro dos pais.
Os dois, 41 anos depois, se transformaram em personagens do livro "História de Meninas e Meninos Marcados pela Ditadura", lançado nesta terça (08) pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência.O livro traz a história de oito militantes presos com os filhos, dois adolescentes ativistas presos e torturados, quatro crianças sequestradas por militares, uma órfã criada por esquerdistas e dez jovens assassinados a sangue frio ou após sessão de tortura durante a ditadura (1964-1985). Ao menos três deles integram o governo Lula.
Um deles é André Arantes, 44, diretor de esportes de base e alto rendimento do Ministério do Esporte, preso com a irmã Priscila e a mãe, Maria Auxiliadora. Apesar de não ter lembranças dos quatro meses que ficou encarcerado, ele se recorda do dia em que descobriu que o pai, Aldo Arantes, usava o nome falso de Roberto.
Foi só a partir daí, e da prisão do pai um ano depois, que Arantes começou a entender que os pais militavam na resistência. "Tudo esclarecido, você começa a lidar com a história de ser filho de um preso político", diz.
Outro personagem é Laerte Meliga (subsecretário de Planejamento do Ministério da Fazenda), que completou 18 anos na clandestinidade e, pouco depois, foi preso. As marcas da violência na prisão e dos três anos e nove meses de encarceramento permaneceram. "Tortura é um processo absolutamente traumático, mas também marcou muito a solidariedade da cadeia", afirma.
O livro faz parte do Projeto Direito à Memória e à Verdade e será lançado durante a 8ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Com Folha de S.Paulo
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