O fim do modelo político-midiático
Tempos atrás escrevi que a transparência trazida pela Internet e pelo acesso aos bancos de dados mais reservados liquidaria com o modelo político.
Os escândalos de hoje são um bom exemplo.
Com os partidos preparando-se para as eleições, não sobra um. Aí está o DEM envolvido, o PPS, na hora em que se quiser levantam-se os esquemas políticos por trás do Detran-SP, as compras da Secretaria da Educação e tudo o mais. Diria que hoje em dia o partido mais cuidadoso é o PT, mas por uma razão externa: é o mais visado pela mídia. Em compensação, a falsa certeza de blindagem tornou São Paulo suscetível a uma série de futuras denúncias graves.
São práticas seculares, que sobreviviam graças ao cartel que dominava o mercado de opinião. Como escrevi várias vezes, os escândalos ficavam guardados, como produtos de gôndola de supermercados. Quando a velha mídia pretendia atingir alguém ía lá, na prateleira dos escândalos, e tirava o produto de que necessitava.
Com a entrada da blogosfera, o mercado tornou-se competitivo. Não dá mais para prosseguir no jogo hipócrita de utilizar escândalos para interesses políticos, achaques ou chantagem.
É só conferir a Folha de hoje – que não é das publicações que recorre a achaques. Depois do desastre da declaração de César Benjamin, foi obrigada a sair correndo, na tentativa infrutífera de salvar a imagem. A primeira página – inédita – diz que “Ex-secretário liga tucano a mensalão” – em circunstâncias normais jamais sairia, aliás nem tem muita relevância porque pega o inexpressivo diretório do Distrito Federal. Depois, abre espaço para Jânio de Freitas analisar o rombo na tática do PSDB para as eleições. Prossegue com chamada para os escândalos do Detran-SP e ressuscita o quase extinto (para a mídia) tema do inquérito da Camargo Correia.
Não chegará ao ponto de analisar a Fundação de Desenvolvimento da Educação, pois aí seria pedir demais. Mas esse movimento, se não será suficiente para colar a trinca no cristal de credibilidade da Folha, mostra que o jogo das denúncias seletivas acabou.
No fundo, esse conjunto de denúncias traz apenas uma novidade: serve para desmascarar os Catões, como Roberto Freire. Mas o que ele fez não é diferente das práticas de quem ele acusa. Ou seja, são práticas generalizadas, tanto na oposição quanto na situação.
Agora se entrou no período eleitoral. Mas o modelo político-partidário-midiático implodiu. Se a classe política não começar a trabalhar logo em mudanças na legislação eleitoral, no financiamento de campanhas, este país se tornará ingovernável.
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