Por Mauro Santayana
Quando, instado por importantes personalidades da sociedade brasileira, entre elas líderes políticos regionais, a candidatar-se à sucessão presidencial, Aécio Neves sugeriu consultas prévias às bases partidárias. Seria a forma mais democrática de escolha. Não deveria o partido, que surgiu da dissidência do PMDB, em oposição ao mando do governador de São Paulo, Orestes Quércia, ficar submetido à vontade de duas ou três personalidades paulistas, como vinha ocorrendo desde a Presidência de Fernando Henrique.
Em uma Federação, os diretórios regionais devem ter o direito de expor suas ideias e suas preferências, de acordo com as condições políticas locais. Não podem transformar-se em caudatários resignados de um diretório em particular. O problema não houve em 1995, porque o PSDB não elegeu o sociólogo; quem o elegeu foi Itamar Franco. O PSDB não o elegeria, sem o claro apoio do presidente da República, que dispunha de prestígio equivalente ao do atual chefe de Estado.
Os paulistas, com Fernando Henrique à frente, se opuseram às prévias, ao perceber que o governador mineiro as venceria facilmente. Aécio, nas visitas esporádicas aos estados, reunia poderosas alianças regionais, em torno dos diretórios de seu partido. Se realizadas, as consultas confirmariam a tendência já registrada. Por isso, Serra, Fernando Henrique e Geraldo Alckmin não aceitaram a consulta.
Não aceitaram a consulta, nem tiveram a coragem de dizer ao governador de Minas que pretendiam impor a candidatura paulista. Interessava-lhes manter as coisas bambas até o prazo final para a filiação partidária, de maneira a impedir que, se o desejasse, Aécio aceitasse disputar a Presidência por outras legendas, que lhe eram oferecidas – entre elas, a do próprio PMDB. Mas ele preferia que sua candidatura se fizesse de baixo para cima, e contava com as prévias.
Não convinha ao governador de São Paulo, nem a seus aliados paulistas, assumir a posição de anti-Lula, conforme percebeu argutamente o senador Pedro Simon, no momento em que o presidente dispõe de altíssimo índice de popularidade, registrado por todos os institutos de pesquisa. Serra preferia fazê-lo no ano próximo, já que previa dificuldades na economia nacional, que trouxessem problemas políticos para o presidente – e de eventuais denúncias contra o PT, tão comuns em tempo de eleição. Ao recusar as prévias, e diante do pronunciamento de Aécio, José Serra já é, na percepção do povo brasileiro, o candidato da oposição, o anti-Lula.
O senador Sérgio Guerra, que manifestara a convicção de que Aécio dispunha de maior capacidade de ampliação de alianças regionais, voltou a elogiar a coragem moral do mineiro, reafirmando que ele será um grande presidente da República se vier a ocupar o cargo. Se o quadro se mantiver, com a candidatura de Serra, o grande beneficiário será Ciro Gomes. Relembre-se que as mesmas pesquisas que dão, hoje, preferência a Serra atribuem a uma chapa Aécio-Ciro 35% de intenções de voto.
De maneira diferente, mas com os mesmos fundamentos, repete-se, nas eleições do ano próximo, o problema registrado em 1930. Os paulistas estavam convencidos de que a sua supremacia econômica significava, necessariamente, seu predomínio político sobre a Federação. Em razão disso, vetaram a candidatura do então governador de Minas, Antonio Carlos – o que acabou conduzindo o gaúcho Getulio Vargas ao poder.
Cabe ao partido decidir em convenção nacional se ratifica o nome de Serra, ou se aceita outra postulação. O tempo é curto, mas ainda não se esgotou. E só a convenção partidária é soberana.
O governador de Minas tem seu prestígio político nacional robustecido pela coragem da decisão de ontem. Minas terá grande peso no pleito do ano que vem, e acompanhará a sua liderança, na hipótese de que não seja candidato à Presidência da República, e sim ao Senado. A leitura atenta da carta que enviou ao partido não o compromete em favor de qualquer candidatura. Como registrou a imprensa, ele não mencionou o nome do governador de São Paulo. A nota de Serra, nos termos em que foi redigida, era esperada. Ele tentou, com os elogios a Aécio, e em atitude diplomática, convencer os diretórios regionais do PSDB de que a agremiação é “democrática”.
O anúncio de Aécio não encerrou a questão, nem decidiu o pleito. É mais um movimento do processo sucessório, que promete ainda fortes surpresas.
Quando, instado por importantes personalidades da sociedade brasileira, entre elas líderes políticos regionais, a candidatar-se à sucessão presidencial, Aécio Neves sugeriu consultas prévias às bases partidárias. Seria a forma mais democrática de escolha. Não deveria o partido, que surgiu da dissidência do PMDB, em oposição ao mando do governador de São Paulo, Orestes Quércia, ficar submetido à vontade de duas ou três personalidades paulistas, como vinha ocorrendo desde a Presidência de Fernando Henrique.
Em uma Federação, os diretórios regionais devem ter o direito de expor suas ideias e suas preferências, de acordo com as condições políticas locais. Não podem transformar-se em caudatários resignados de um diretório em particular. O problema não houve em 1995, porque o PSDB não elegeu o sociólogo; quem o elegeu foi Itamar Franco. O PSDB não o elegeria, sem o claro apoio do presidente da República, que dispunha de prestígio equivalente ao do atual chefe de Estado.
Os paulistas, com Fernando Henrique à frente, se opuseram às prévias, ao perceber que o governador mineiro as venceria facilmente. Aécio, nas visitas esporádicas aos estados, reunia poderosas alianças regionais, em torno dos diretórios de seu partido. Se realizadas, as consultas confirmariam a tendência já registrada. Por isso, Serra, Fernando Henrique e Geraldo Alckmin não aceitaram a consulta.
Não aceitaram a consulta, nem tiveram a coragem de dizer ao governador de Minas que pretendiam impor a candidatura paulista. Interessava-lhes manter as coisas bambas até o prazo final para a filiação partidária, de maneira a impedir que, se o desejasse, Aécio aceitasse disputar a Presidência por outras legendas, que lhe eram oferecidas – entre elas, a do próprio PMDB. Mas ele preferia que sua candidatura se fizesse de baixo para cima, e contava com as prévias.
Não convinha ao governador de São Paulo, nem a seus aliados paulistas, assumir a posição de anti-Lula, conforme percebeu argutamente o senador Pedro Simon, no momento em que o presidente dispõe de altíssimo índice de popularidade, registrado por todos os institutos de pesquisa. Serra preferia fazê-lo no ano próximo, já que previa dificuldades na economia nacional, que trouxessem problemas políticos para o presidente – e de eventuais denúncias contra o PT, tão comuns em tempo de eleição. Ao recusar as prévias, e diante do pronunciamento de Aécio, José Serra já é, na percepção do povo brasileiro, o candidato da oposição, o anti-Lula.
O senador Sérgio Guerra, que manifestara a convicção de que Aécio dispunha de maior capacidade de ampliação de alianças regionais, voltou a elogiar a coragem moral do mineiro, reafirmando que ele será um grande presidente da República se vier a ocupar o cargo. Se o quadro se mantiver, com a candidatura de Serra, o grande beneficiário será Ciro Gomes. Relembre-se que as mesmas pesquisas que dão, hoje, preferência a Serra atribuem a uma chapa Aécio-Ciro 35% de intenções de voto.
De maneira diferente, mas com os mesmos fundamentos, repete-se, nas eleições do ano próximo, o problema registrado em 1930. Os paulistas estavam convencidos de que a sua supremacia econômica significava, necessariamente, seu predomínio político sobre a Federação. Em razão disso, vetaram a candidatura do então governador de Minas, Antonio Carlos – o que acabou conduzindo o gaúcho Getulio Vargas ao poder.
Cabe ao partido decidir em convenção nacional se ratifica o nome de Serra, ou se aceita outra postulação. O tempo é curto, mas ainda não se esgotou. E só a convenção partidária é soberana.
O governador de Minas tem seu prestígio político nacional robustecido pela coragem da decisão de ontem. Minas terá grande peso no pleito do ano que vem, e acompanhará a sua liderança, na hipótese de que não seja candidato à Presidência da República, e sim ao Senado. A leitura atenta da carta que enviou ao partido não o compromete em favor de qualquer candidatura. Como registrou a imprensa, ele não mencionou o nome do governador de São Paulo. A nota de Serra, nos termos em que foi redigida, era esperada. Ele tentou, com os elogios a Aécio, e em atitude diplomática, convencer os diretórios regionais do PSDB de que a agremiação é “democrática”.
O anúncio de Aécio não encerrou a questão, nem decidiu o pleito. É mais um movimento do processo sucessório, que promete ainda fortes surpresas.
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