Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras.
Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
Pazuello e Bolsonaro agora esqueceram por um tempo João Doria e resolveram brigar com os grandes laboratórios produtores de vacinas e os fabricantes de seringas, colocando neles a culpa pelo fracasso do programa de imunização, que ainda não tem data para começar.
Não temos ainda vacinas nem seringas e agulhas, muito menos um cronograma definido para combater a pandemia no Brasil.
Na véspera, o general mandou um subalterno dar entrevista no lugar dele, que não tinha nada para dizer, enquanto a Argentina e mais de 50 países já estavam vacinando suas populações, e imunizaram mais de 6,5 milhões de pessoas pelo mundo.
Bem longe de Brasília e do mundo real, tranquilão, com a camisa 10 do Santos que um dia foi usada por Pelé, de bermuda e chinelos, Bolsonaro apareceu logo cedo nesta quarta-feira na Praia Grande, litoral sul paulista, para fazer uma caminhada na areia, enquanto soldados do Exército terminavam de “improvisar” uma barreira com grades de ferro, mourões e cabos de aço, para conter os curiosos que já se aglomeravam em volta.
Destacava-se na cena, sob a camiseta, uma espécie de bola, na altura da barriga do capitão.
Bolsonaro vai tocando a vida
Cercado por seguranças que filmavam tudo com o celular, o presidente começou a falar sozinho para um vídeo ao vivo postado nas redes sociais, enquanto caminhava em direção aos fiéis.
“O povo está aqui na praia. Muitos vão falar que tem aglomeração, mas como eu disse lá no começo… Nós temos que enfrentar a pandemia. Tomar conta dos mais idosos, que têm comorbidade… E toca a vida”.
Nem tinha tanta aglomeração. Eram cerca de cem banhistas que ficaram sabendo da chegada do presidente pelo trabalho dos soldados. No caminho, sem citar os mais de mil óbitos por covid registrados na véspera, ele apenas lamentou a morte de um cabo da PM, que tentou salvar quatro crianças no mar e morreu afogado. Prometeu ir ao sepultamento (e foi) e prestou mais uma homenagem a todos os policiais militares do Brasil. “Realmente um herói, né?”, justificou.
Pessoas de todas as idades, todos sem máscaras, a exemplo de Bolsonaro, de velhos a crianças de colo, começaram a gritar “Mito!” quando o viram chegar mais perto, acenando com os dois braços erguidos, como qualquer candidato em campanha.
Como não era tanta gente, Bolsonaro foi e voltou pelas grades duas vezes, posando para selfies, cumprimentando um a um e dando autógrafos.
Curta-metragem surrealista na Baixada
Logo apareceu alguém que lhe pediu para posar com a camisa do Corinthians e outro que queria o seu autógrafo numa camiseta com o rosto do presidente e a frase: “Acabou a palhaçada”.
“Manda um beijo para minha filha”, implorou uma mulher estendendo-lhe seu celular; vários pediram “tira uma foto comigo” e ele foi puxando conversa com um e com outro, dando trabalho para os seguranças, nesta praia enorme frequentada pela baixa classe média, desde os tempos em que meu pai me levava lá aos domingos. Foi ali que pela primeira vez vi o mar.
“Jair Bolsonaro estava ao vivo – seguir”, informa o vídeo postado nas redes sociais que tem exatos 31 minutos e 42 segundos, e só não durou mais porque acabou a plateia. Seria um curta-metragem mas, como disse outro dia, nem Glauber Rocha conseguiria enredo tão impressionante, com sua câmera na mão e uma ideia na cabeça.
É inacreditável que, no momento mais crítico da pandemia, que já matou mais de 190 mil brasileiros e deixou mais de 7,5 milhões de contaminados pelo coronavírus, quando o país já conta com mais de 14 milhões de desempregados, o presidente da República se dê ao desfrute de dedicar seu tempo apenas a uma pequena claque de devotos (vejam o vídeo) reunidos na Praia Grande.
Até agora, Brasil só tem a Coronavac
Em que mundo esse elemento vive? Nos últimos dias, Jair Bolsonaro deu seguidas demonstrações de que não tem mais a menor condição de governar o país, em meio à maior crise sanitária, social e econômica dos últimos 100 anos.
Quem tem que ser demitido, e o mais rápido possível, não é o general-ministro, minha cara Thaís Oyama, mas o chefe dele, o capitão-presidente. Não adianta nada trocar o ministro.
Se depender desse presidente antivacina, que nos levou ao abismo civilizatório, 212 milhões de vidas estão em risco no Brasil — a minha e a de vocês, caros leitores e leitoras.
Só espero que o capitão não mande tropas federais para confiscar as 10,8 milhões de doses da Coronavac que já estão estocadas no Instituto Butantan, em São Paulo — as únicas que o Brasil tem até agora — para iniciar a imunização no dia 25 de janeiro, apenas esperando a aprovação do contra-almirante presidente da Anvisa.
Uma sucessão de enquetes revela: populações rejeitam a “normalidade” que gerou consumismo, destruição, crises e catástrofes. Os donos do mundo querem forçar o regresso a este pesadelo. Mas a saída do labirinto terá de ser anormal
Por George Monbiot, no The Guardian| Tradução de Simone Paz
Em algum lugar do mundo, que não consta em nenhum mapa, mas que está tentadoramente perto, há uma terra prometida chamada Normal, para a qual algum dia poderemos voltar. Esta é a geografia mágica que certos políticos nos ensinam, como Boris Johnson com sua “significativa volta à normalidade“. É a história que contamos para nós mesmos — sem importar se a contradizemos logo em seguida, no próximo pensamento.
Existem razões práticas para acreditar que o Normal é um país imaginário ao qual nunca poderemos voltar. O vírus não desapareceu — e provavelmente continuará voltando em ondas. Mas vamos focar em outra questão: se essa terra existisse, será que gostaríamos de morar lá?
As pesquisas sugerem fortemente que não. Uma enquete realizada pela BritainThinks quinze dias atrás, descobriu que apenas 12% das pessoas gostariam que a vida fosse “exatamente como era antes”. Outra pesquisa, realizada no final de junho, encomendada pela rede Bright Horizons, sugere que apenas 13% das pessoas desejam voltar a trabalhar da mesma forma que antes da quarentena. Na mesma semana, um estudo da YouGov revelou que apenas 6% quer de volta o mesmo tipo de economia que tínhamos antes da pandemia. Outro estudo, realizado em abril pelos mesmos pesquisadores, demonstrou que apenas 9% dos entrevistados queriam retornar ao “normal”. É raro ter resultados fortes e consistentes como esses em quaisquer outras questões relevantes..
É claro que todos gostaríamos de deixar a pandemia para trás, junto com seus devastadores impactos na saúde física e mental, o recrudescimento da solidão, o fechamento das escolas e o colapso do emprego. Mas isso não significa que queiramos voltar ao mundo bizarro e assustador que os governos definem como normal. O nosso planeta não era nenhuma terra encantada — era bem mais um lugar que acumulava várias crises letais muito antes da pandemia. Além de todas as nossas disfunções políticas e econômicas, a normalidade também precipitou a situação mais estranha e profunda que a humanidade já enfrentou: o colapso de nossos sistemas de vida
No mês passado, desde o confinamento de nossas casas, vimos colunas de fumaça subirem desde o Ártico, onde as temperaturas atingiram a assustadora marca de 38ºC. Imagens apocalípticas como essa estão se tornando o pano de fundo de nossas vidas. Percorremos imagens do fogo consumindo a Austrália, a Califórnia, o Brasil, a Indonésia, e as normalizamos sem perceber. Em um brilhante ensaio, do início deste ano, o escritor Mark O’Connell descreve esse processo como “o lento atrofiamento de nossa imaginação moral”. Estamos nos familiarizando com a crise da nossa existência.
Quando se retoma a lógica de sempre, o mesmo ocorre com a poluição do ar — que mata anualmente mais pessoas do que o Covid-19 e aumenta os impactos do vírus. O colapso climático e a poluição do ar são dois aspectos de uma disbiose maior. Disbiose significa a devastação e desequilíbrio dos ecossistemas. O termo é usado pelos médicos para descrever o colapso de nossos biomas intestinais, mas é igualmente aplicável a todos os sistemas vivos: florestas tropicais, recifes de coral, rios e solo. Ele vem se desencadeando numa velocidade estonteante, devido ao efeito cumulativo da tal “normalidade” — que implica uma expansão perpétua do consumo.
Este mês, descobrimos que 10 bilhões de dólares em metais preciosos, como ouro e platina, são despejados em aterros todos os anos — embutidos em dezenas de milhões de toneladas de materiais menores, no formato de lixo eletrônico. A produção mundial de lixo eletrônico está aumentando 4% ao ano. E esse crescimento é impulsionado por outra norma terrível: a obsolescência programada. Nossos aparelhos são projetados para quebrar; são planejados, deliberadamente, para não ter conserto. Essa é uma das razões pelas quais um smartphone comum, que contém materiais preciosos extraídos com alto custo ambiental, dura apenas entre dois e três anos; e uma impressora doméstica durará, em média, cinco horas e quatro minutos antes de ser descartada
O mundo vivo, e as pessoas que ele carrega, não conseguem sustentar esse nível de consumo, mas a vida normal depende dele. O efeito cascata dessa disbiose nos leva ao que alguns cientistas alertam que pode ser um colapso sistêmico global.
Nesse quesito, os resultados das pesquisas também são claros: não queremos voltar a essa loucura. Uma pesquisa da YouGov sugere que oito em cada dez pessoas esperam que o Estado priorize a saúde e o bem-estar acima do crescimento econômico durante a pandemia. Seis em cada dez gostariam que isso continuasse assim quando (ou se) o vírus diminuir. Uma pesquisa da Ipsos trouxe um resultado semelhante: 58% dos britânicos almejam uma recuperação econômica verde, contra 31% que discordam. Como em todas essas enquetes, a Grã-Bretanha fica entre os últimos da lista. De um modo geral, quanto mais pobre a nação, maior o peso que seu povo atribui às questões ambientais. Na China, na mesma pesquisa, as proporções são de 80% e 16%, respectivamente; e, na Índia, de 81% e 13%. Quanto mais consumimos, mais nossa imaginação moral se atrofia
Mas os governos estão determinados em nos levar de volta à hipernormalidade, independentemente de nossos desejos. Nesta semana, o secretário do meio ambiente do Reino Unido, George Eustice, sinalizou que pretende acabar com o sistema de análises ambientais. A proposta do governo de portos “livres”, nos quais impostos e regulamentações seriam suspensos, não só possibilita fraudes e lavagem de dinheiro, como também expõe as áreas úmidas e os pântanos em volta, junto com a rica vida selvagem que eles abrigam, a destruição e poluição. O acordo comercial que o governo pretende fechar com os EUA pode anular nossa soberania parlamentar e extinguir nossos padrões ambientais — sem nenhum consentimento público
Da mesma forma como nunca existiu um ser humano normal, nunca existiu um tempo normal. A normalidade é um conceito utilizado para limitar nossas imaginações morais. Não há um normal ao qual possamos retornar, nem desejar retornar. Vivemos tempos inusitados. E eles demandam uma resposta igualmente inusitada.
As expectativas se foram: melhora de vida, tecnologia transformadora e estabilidade democrática. Mas persiste ideia de que é preciso ter um trabalho (de merda) e pagar as dívidas. Nada disso faz sentido — mas mantém as engrenagens
David Graeber em entrevista a Lenart J. Kučić, no Dissenz | Tradução: Victoria Moawad
Essa é a segunda parte (de três) de uma das últimas entrevistas concedidas pelo pensador anarquista britânico David Graeber, morto aos 59 anos no último dia 2 de setembro. O trecho abaixo funciona bem autonomamente, mas caso queira ler a parte inicial, basta clicar aqui.
Qual tipo de Estado irá surgir depois da pandemia? Para alguns, o Socialismo pode ter uma segunda chance, como vemos através da nacionalização do sistema ferroviário no Reino Unido ou dos hospitais na Espanha. Outros temem que o Estado se torne mais autoritário, como aconteceu na Hungria. Há também esperanças de que o Estado forte poderia tornar-se emancipatório: regular indústrias que tornaram-se muito poderosas, colocar as pessoas acima dos lucros…
Bem, primeiramente, quando nos perguntamos “quem se mostrou mais eficaz ao lidar com a pandemia”, acho que devemos ter muito cuidado para não cair em falsas dicotomias: autoritário versus democrático, socialista versus capitalista e assim por diante.
Não há evidências de que os Estados autoritários lidaram melhor. Obviamente a China parece desafiar esse parâmetro, e isso ecoa com uma certa percepção, particularmente comum nos países do Sul nas últimas décadas, de que ela representa a única alternativa viável ao tipo de modelo neoliberal promovido por instituições como o FMI e o Banco Mundial. Claro, é verdade que a China não seguiu a prescrição neoliberal. Eles se recusaram a liberalizar as finanças, por exemplo, e essa combinação de crédito fácil “corrompido” para a construção civil e assim por diante foi implementada na Índia, na Turquia e em muitos lugares da América Latina, como única maneira comprovada de fazer um país pobre tornar-se relativamente rico.
Mas a ideia de que isso só foi possível porque o governo Chinês forçou as pessoas a sacrificarem liberdades sociais e políticas, é completamente infundada — não há razão nenhuma para acreditar que um deriva necessariamente do outro.
Mas por que então a China, a Coréia do Sul e Singapura são frequentemente apresentados como modelos a serem seguidos? Eles não têm os melhores resultados no combate à pandemia? Isso não está de alguma maneira relacionado à disciplina social?
Recentemente, li um estudo muito interessante comparando como regimes autoritários e não autoritários lidaram com a pandemia. Em linhas gerais, os autores concluíram que o autoritarismo era irrelevante enquanto fator. O importante era a crença das pessoas nos pronunciamentos do governo: o quanto eles confiavam em instituições públicas, na mídia e na comunidade científica.
Não há relação sistemática entre o que está sendo chamado de “democracia” e esse tipo de confiança nas instituições. Aqui no Reino Unido temos uma das mais antigas democracias parlamentares do mundo, mas os políticos e a imprensa nos mentem tão sistematicamente, e de forma tão flagrante, que temos a menor taxa de confiança na mídia da Europa — seguidos pela Itália, e da Espanha, se me lembro bem.
Nos Estados Unidos, a direita encontrou um jeito de tirar proveito dessa desconfiança justificável. Tudo é “fake news”. Estamos em um labirinto de espelhos. Melhor votar no cara (Donald Trump, Boris Johnson) que pelo menos é honesto suficiente para admitir que está mentindo; então você pode tornar-se um cúmplice, efetivamente, pois já que o mundo é feito de golpistas e vítimas, pelo menos você estará no time vencedor.
Mas há algo mais profundo. Acho que do que realmente precisamos é de uma análise adequada do que é chamado de “centrismo” que é, de diversas maneiras, uma ideologia surpreendentemente perversa.
Centrismo?
O que pessoas de classe média — basicamente, membros da classe profissional-gerencial, que estão no âmago do centrismo — queriam dizer nos anos 1980 e 90, quando começaram a descrever-se como “liberais no estilo de vida, conservadores fiscais”?
Isso significa que aceitaram uma ordem social na qual a esquerda moderada ficou a cargo da produção de pessoas, como acontecia, dirigindo os hospitais e as faculdades, enquanto a direita moderada estaria a cargo da produção de óleo, roupas e estradas. Então, assim que os movimentos sociais de esquerda atacam CEOs e acordos comerciais, movimentos sociais de direita atacam a autoridade das pessoas responsáveis pelo sistema educacional ou de saúde: professores e cientistas. Pense no criacionismo, aquecimento global ou aborto.
Mas, como um Gramsciano poderia dizer, é uma guerra de posição sem esperanças, nenhum lado irá vencer; a direita radical não está mais propensa a colocar igrejas evangélicas a cargo da reprodução social do que a esquerda radical está de transformar a Bechtel, Microsoft ou Monsanto em um coletivo autogestionado. O que a direita radical pode fazer é minar a confiança em especialistas. E claro, quanto mais eles têm acesso ao poder, mais conseguem fazê-lo, colocando incompetentes em posições de autoridade. Então a coisa toda alimenta a si própria.
O resultado é um labirinto de espelhos infinito, onde tudo é ou pode ser mentira. Esses são os lugares que agora estão empilhando corpos. Porque eles foram para mais além da fantasia de Saint Simon. E você não pode culpar as pessoas por suspeitarem quando se tem um país como o Reino Unido, onde não deveríamos saber o nome dos cientistas aconselhando o governo a respeito do que fazer em uma crise médica. Mas de algum jeito, nós sabemos que dois dos membros no conselho são propagandistas do partido conservador sem nenhum treinamento científico. É quase como se eles quisessem mostrar que não são confiáveis.
E se governos que não são confiáveis também tornarem-se mais autoritários…?
A ideia é que é algo que se autoalimenta. Há um paradoxo. As pessoas confundem políticas antiautoritárias com oposição a qualquer tipo de autoridade intelectual, e até mesmo a qualquer noção de verdade, justiça e mesmo de realidade física. Como se insistir em qualquer forma de verdade fosse equivalente ao fascismo. Mas, claro, se não há verdade, por que o fascismo seria sequer um problema? Quais são suas bases para contestar o fascismo, para além do gosto pessoal, o que não quer dizer nada se outras pessoas gostarem dele. Bem, esse tipo de relativismo absoluto agora está se dissipando na esquerda, ao mesmo tempo em que está sendo aderido agressivamente pela direita.
Mas se for esse o caso, o autoritarismo — pelo menos a variável populista — acaba de sofrer grandes danos. Trata-se mesmo do que algumas pessoas estão dizendo, de um culto de morte, de uma forma de suicídio em massa.
Entretanto, por essa mesma razão, não acho que deveríamos estar nos limitando a debater qual será natureza do futuro governo — se tornará mais autoritário, socialista, nacionalista, emancipatório? O que é impressionante é esse grau de auto-organização das pessoas, como nunca visto. A primeira coisa que aconteceu no Reino Unido, quando a pandemia começou, foi que cada bairro começou a estabelecer seu próprio grupo de ajuda mútua identificando pessoas vulneráveis: indivíduos sem familiares ou assistência, pessoas idosas… Eles são chamados assim: grupos de “ajuda mútua”, usando a antiga expressão anarquista. Somente em Londres, há centenas desses grupos.
Isso prova aquele antigo ditado que diz que todo mundo vira socialista — ou anarquista — durante a crise?
No meu bairro, e eu moro bem perto da Grenfell Tower, as pessoas estão cientes de que o governo é basicamente inútil em tempos de crise. Quando houve o incêndio há dois anos atrás, o governo não foi capaz de dar conta. É de se imaginar que o governo do país com a quinta maior economia do mundo não teria tanta dificuldade em encontrar moradia para algumas centenas de sobreviventes. Mas, na verdade, grupos de igreja e comunidades de ocupações autônomas tiveram que fazer tudo sozinhos.
Então apesar da percepção comum acreditar que o anarquismo nos levaria da ordem ao caos, ele pode na verdade transformar o caos em ordem?
Sempre acho um pouco divertido como as pessoas sempre dizem “meu deus, não podemos acabar com a polícia, porque se acabarmos com a polícia, todo mundo vai começar a se matar!” Repare como ninguém nunca diz “Eu começaria a matar pessoas”. “Humm, não há polícia? Acho que vou comprar uma arma e atirar em alguém.” Todos assumem que será o outro.
Enquanto antropólogo, sei o que acontece quando a polícia desaparece. Eu vivi em um lugar na parte rural de Madagascar onde a polícia tinha, de fato, desaparecido há alguns anos antes da minha chegada. Não fazia praticamente nenhuma diferença. Bem, os crimes de propriedade aumentaram. Se as pessoas fossem muito ricas, elas eram furtadas ocasionalmente. Os assassinatos, se algo, diminuíram. Quando a polícia some em uma grande cidade, onde as diferenças de propriedade são muito mais extremas, os arrombamentos com certeza aumentam, mas os crimes violentos não são afetados.
Mas no que diz respeito à organização — bem, o que temos que nos perguntar é por que achamos necessário bater nas pessoas, ou atirar nelas, ou enclausurá-las em uma sala imunda durante anos, para assim manter alguma forma de organização. Pessoas que realmente pensam assim não acreditam muito em organização, não é?
Como os anarquistas lidariam com a pandemia?
Acho que nesse momento as pessoas estão aprendendo o quanto elas mesmas são capazes de fazer, independentemente de autoridades hierárquicas ao estilo militar. Em emergências, uma forma bruta e pronta de comunismo se afirma: de cada um conforme suas habilidades; para cada um conforme suas necessidades.
Eles o fazem por mera eficiência: é a única coisa que realmente funciona. Mas é claro que o comunismo de crise tende a ser o exato oposto do autoritarismo socialista hierárquico. Sistemas de comando e hierarquia, como sistemas de câmbio, tornam-se um luxo a que as pessoas não podem se permitir — mesmo que frequentemente sejam restaurados na segunda fase da crise, quando as coisas começam a ficar mais fáceis.
Na primeira fase, é mais como Saint-Simon e menos Foucaultiano — a única autoridade que as pessoas reconhecem é aquela realmente baseada em algum tipo de conhecimento especialista, poucas pessoas são capazes de discutir com um médico tentando curar sua perna quebrada.
As comunidades revolucionárias mais bem-sucedidas que conheço equilibram ambas as fases. Tentam disseminar o máximo de conhecimento possível mas, por essa mesma razão, há confiança em pessoas que possuem conhecimento especializado. Os lugares mais próximos do anarquismo que conheço não se saíram mal durante a pandemia. Penso nas comunidades Zapatistas no México e em Rojava, a região amplamente curda no nordeste da Síria.
Todas são anti-Estado e profundamente influenciados pelo anarquismo. Reagiram imediatamente à pandemia e deram início a uma mobilização comunitária completa, fechando escolas, criando equipamentos de proteção, melhorando o saneamento… Até agora, Rojava está se saindo bem, ainda que o governo turco esteja tentando fazer um ataque de germes contra eles, ao enviar intencionalmente refugiados infectados para lá. Esses exemplos mostram que princípios anarquistas podem ser usados para coordenar eficientemente profissionais da saúde.
Todavia, os governos estão tentando seriamente levar os créditos pelo combate à pandemia. O presidente americano Donald Trump chegou ao ponto de assinar cheques de próprio punho, sugerindo ter sido o principal responsável por dar dinheiro aos cidadãos. Não está sozinho nessa. Muitos governos tentam passar a impressão de que estão distribuindo recursos para nos ajudar a sobreviver à crise.
É difícil falar sobre como o sistema financeiro realmente funciona, pois está cercado por camadas e camadas de erros e mistificação. Para começar, há a retórica de “buscar” dinheiro para ajudar a economia e os cidadãos. Dinheiro não é um bem limitado que precisa ser encontrado, escavado ou produzido. Ele está literalmente sendo criado do nada.
Trump não está dando algo que ele já tem. Está produzindo dinheiro ao distribuí-lo. Mas essa é apenas uma das muitas falsas premissas que o sistema sustenta. Aos olhos das classes dirigentes, tais mistificações são extremamente importantes de se manter, agora que as justificativas tradicionais para a existência do capitalismo se dissolveram quase todas.
Quais são essas mistificações?
Bem, havia três principais. Primeiro, as pessoas costumavam dizer “ok, claro, o capitalismo cria desigualdade extrema e todos os tipos de injustiças óbvias. Mas vale a pena, porque até as pessoas mais pobres sabem que seus filhos vão se sair melhor do que elas.” […]
O segundo argumento era tecnológico: que o capitalismo sempre conduziria a uma rápida mudança científica. Nós costumávamos acreditar que nossas vidas iriam se transformar radicalmente com o desenvolvimento tecnológico. Que estaríamos voando até Marte, vivendo para sempre e que a essa altura a maioria dos nossos problemas teria desaparecido. Basta imaginar como era uma cozinha há cem anos. E em seguida comparece às cozinhas modernas de hoje em dia. […]
O mesmo vale para outras esferas da vida. Há cada vez mais provas de que o capitalismo está reprimindo a inovação tecnológica pois não há incentivos de lucros no curto-prazo, na inovação. Estamos aperfeiçoando tecnologias de simulação, podemos fazer filmes incríveis de ficção científica, os efeitos especiais são ótimos, mas desistimos da ideia de que estaremos efetivamente fazendo alguma dessas coisas fantásticas em um futuro próximo.
E o terceiro argumento afirma que o capitalismo traz estabilidade.
Às classes médias?
Expandindo a prosperidade para que a maioria das pessoas tornem-se classe média, e esse crescimento da classe incentiva a estabilidade democrática. Isso não aconteceu. Em vez disso, aqueles que estão sendo expulsos da classe média estão cada vez mais dispostos a votar em qualquer um que esteja se candidatando contra a estabilidade.
Então o que resta são apenas dois argumentos. Um deles é de que não há alternativas: é ou isso, ou Coreia do Norte. O outro argumento é moral.
Moral?
Estou cada vez mais convencido de que o sistema só se mantém através da moralidade. Uma moralidade bem esquisita, deturpada. É por isso que escrevi um livro sobre a moralidade da dívida, e outro sobre a moralidade do trabalho.
Até quem entende que nosso sistema econômico é fundamentalmente estúpido e injusto parecem acreditar que quem não paga as dívidas é uma pessoa ruim. Caloteiros são os culpados irresponsáveis. De modo similar, até pessoas que odeiam seus chefes parecem achar os “vagabundos” ainda piores. Se você não estiver trabalhando mais do que gostaria, com algo de que não gosta muito, preferencialmente para alguém por quem não morre de amores, você é uma pessoa ruim, um parasita, e certamente não é merecedor da assistência pública.
As pessoas parecem realmente acreditar na sacralidade do trabalho. Não apenas do trabalho, dos empregos. Todo mundo deveria ter um emprego. Não importa se esse trabalho está trazendo algo de bom a alguém ou não. Pelo menos um terço da mão de obra trabalhadora parece estar pessoalmente convencida de que se seu trabalho não existisse, isso não faria diferença alguma — ou até mesmo que o mundo ficaria melhor. A sacralidade do trabalho, a sacralidade da dívida, a sacralidade do “mercado” — todas essas coisas estão profundamente internalizadas e todas são extremamente problemáticas.
Problemáticas… Erradas?
Pessoas ricas não acreditam em dívidas; pelo menos não em suas próprias dívidas. Certamente não acham que pagá-las seja uma questão de honra. Se tivessem descoberto um meio para não me pagar, metade dos meus ex-empregadores não teriam pago. Mas para além disso, se você está em uma posição vulnerável, dívida é moralidade; se você está em uma posição de força, dívida é poder. Por isso, comecei o livro sobre Dívidas com um antigo provérbio: se você deve ao banco 100 mil dólares, você pertence ao banco. Se você deve ao banco 100 milhões de dólares, o banco pertence a você.
Você compara com frequência a dívida a uma promessa. Mas se a promessa é quebrada por um dos lados, por que o outro lado deveria respeitá-la ainda?
Exatamente. Mas o poder importa. Veja as relações internacionais. Se a Serra Leoa deve um bilhão de dólares aos Estados Unidos, está enrascada. Se os Estados Unidos devem um bilhão de dólares à Coréia do Sul, a Coréia do Sul está enrascada.
Mas a artimanha moral é muito eficaz. Caso contrário, pessoas decentes não pensariam que é justificável tirar comida de crianças famintas porque seu antigo ditador contraiu um empréstimo ruim.
É por isso que muitos de nós têm tentado encontrar meios de popularizar a noção de “dívida odiosa”. Não é uma frase muito atraente. Esse termo foi inventado por uma corte norte-americana depois que os Estados Unidos tomaram Cuba do império espanhol. O governo espanhol insistiu que os Estados Unidos agora eram responsáveis pelas dívidas pendentes do governo cubano para com a Espanha. As cortes norte-americanas decidiram que Cuba não devia dinheiro à Espanha, pois os empréstimos foram tomados sob condições injustas. É isso o que eles queriam dizer com “dívida odiosa”: um empréstimo que ninguém tomaria caso realmente fosse livre e estivesse agindo de acordo com seus próprios interesses.
Muitas dívidas pessoais também não se encaixam nessa definição?
Sim, essa é a ideia. Como fazer as pessoas enxergarem, digamos, uma hipoteca de risco como uma dívida odiosa? Somos ensinados que pagar as próprias dívidas é uma questão básica de moralidade. Isso se deve ao fato da nossa concepção de obrigação moral ter sido moldada a partir da obrigação financeira, e não o contrário. Será que a noção de dívida odiosa pode começar a transformar isso? Será que não há dívidas cuja própria tentativa de extorsão é imoral?
Na verdade, na Europa Medieval, isso teria sido senso comum legal básico, era o tipo de problema que os juristas discutiam a respeito com frequência.
A famosa disputa acerca de um pedaço de carne da peça O Mercador de Veneza, de Shakespeare?
Ou o exemplo de um ovo, se você estiver na prisão.
Um ovo?
Sim, escolásticos medievais usavam esse exemplo com frequência — lembre-se, naquela época, as questões econômicas eram questões morais que recaiam em direito canônico, tudo fazia parte da teologia. Na verdade, eu diria que até hoje a economia é um ramo da teologia, isso só não é mais admitido.
O exemplo era esse: há um homem na prisão, em uma dieta de pão e água. Ele está morrendo lentamente. O detento na cela ao lado tem amigos que lhe trazem comida; ele diz, por exemplo: tenho alguns ovos cozidos aqui. Eu te darei um desses ovos se você assinar esse documento me concedendo os direitos de todas as suas propriedades. O primeiro aceita, come o ovo, sobrevive, e alguns anos depois ambos saem da cadeia. Esse contrato é executável?
Hoje em dia… pode ser.
A resposta hoje em dia é: sim. Nós estamos fazendo praticamente a mesma coisa com os países do hemisfério Sul há anos. Mas a maioria dos teólogos medievais iriam contestar: obviamente não. O homem que assinou concedendo sua propriedade não era um agente livre. Como no caso dos países do Sul, isso se torna ainda mais válido se o cara com todos os ovos fosse o guarda, em vez de um presidiário. Isso traz uma nova dimensão ao problema. Trata-se de uma dívida odiosa. Obviamente. Mas a palavra “odiosa” é antiquada e não soa bem.
Tentamos várias vezes criar uma frase mais cativante. Talvez possamos falar em capitalismo gângster, dívida de máfia? Mafiosos são muito bons em fazer uma extorsão parecer moral, ao enquadrá-la como dívida. Como transmitir ao senso comum que, da mesma maneira que seria melhor que ninguém tivesse certos empregos, algumas dívidas não deveriam ser pagas?
Isso é realista?
Muitos de nós ainda estão tentando encontrar um jeito de quebrar o feitiço. Talvez essa pandemia possa nos ajudar a ver com mais clareza que o que chamamos de “finanças” se trata apenas das dívidas de outras pessoas, e essas dívidas são intencionalmente produzidas pelo conluio entre corporações financeiras e o governo, entre instituições aparentemente públicas e privadas que estão cada vez mais difíceis de diferenciar.
Gosto de usar o exemplo do J.P. Morgan Chase, o maior banco dos Estados Unidos. Não me lembro do número exato, mas algo como 76% de seu lucro provinha de taxas e multas. Pense nisso. Eles lucram quando você comete um erro. Então, têm que criar um sistema confuso o suficiente para que tenham certeza que X por cento das pessoas irá cometer um erro, mas que não seja confuso a ponto de não poderem dizer “olha, não é nossa culpa se você não consegue administrar seu saldo”.
Cada vez mais, todo o aparato do governo e do sistema financeiro estão se tornando um esquema gigantesco desenhado para nos conduzir ao endividamento. Como a maioria dos lucros que estão sendo transacionados em Wall Street, índice Nikkei ou FTSE vêm das finanças, não da indústria, é isso que está movimentando o capitalismo hoje.
Em seu livro Dívida — os primeiros 5 mil anos, você descreve também antigos rituais nos quais todas as dívidas são apagadas. Quais são as circunstâncias sociais sob as quais cancelamentos de dívidas como esses podem ocorrer?
Cancelamentos de dívidas ainda acontecem. Houve um na Arábia Saudita e acho que começaram no Kuwait logo depois da Primavera Árabe. Simplesmente cancelaram as dívidas de todo mundo para evitar instabilidade. De fato, foram muito cautelosos em não enquadrar isso como “cancelamento”. Para manter as aparências, eles fingiram pagar tudo com petrodólares. Na Índia, também cancelam periodicamente dívidas de agricultores, mas em silêncio, parece haver uma vontade de não querer que a maioria das pessoas saibam que os governos têm o poder de fazer isso.
Dívidas são canceladas o tempo inteiro, mas como são canceladas é uma questão política. Os poderes em questão estão convictos que devem pelo menos fingir que as dívidas são sagradas, você só está saldando elas — mesmo que com dinheiro que acabou de criar. Isso é obviamente besta, seria perfeitamente fácil para os governos simplesmente decretarem uma certa categoria de dívidas não obrigatórias, como os Estados Unidos fizeram com Cuba e Espanha. Qualquer governo poderia fazer o mesmo com, digamos, dívidas pessoais, dívidas de hipoteca, ou empréstimos estudantis: poderiam dizer, “claro, se você se sente honrado em pagar essa, vá em frente, mas nós não usaremos o poder da corte para forçá-lo”.
Outro recurso, que é frequentemente usado na África do Sul, é uma pontuação de crédito. Já que mesmo se a corte não tornar uma dívida obrigatória, você pode acabar estragando sua pontuação de crédito e ser impedido de fazer empréstimos. Então os estados podem, e às vezes o fazem, simplesmente zerar a pontuação de crédito de todo mundo.
E a ideia de dívida não pode existir sem coerção, que você afirma frequentemente?
Agora mesmo estou recebendo e-mails da Virgin Media. Recentemente, me mudei de casa e cancelei minha assinatura. Mas estão, de algum modo, me cobrando pelos últimos dois meses que nem sequer passei lá. Têm me mandado cartas cada vez mais ameaçadoras e desagradáveis, porque sabem que há um aparato legislativo os amparando. Se você simplesmente recusar-se a consentir, em algum ponto, isso vai parar em um oficial de justiça, que vai te perturbar, e se você recusar durante muito tempo, e a soma for muito alta, vão começar a subtrair seus bens, e se você tentar impedi-los, ameaças físicas começam a entrar em cena.
Facilmente esquecemos que a coerção violenta está por trás das nossas leis. O poder de fazer o mal. No caso do irritante cobrador de dívidas, pode estar a trinta ou até mesmo a cem passos de distância. Mas está sempre lá, pois caso contrário, você simplesmente o ignorava. E há outra correlação interessante que tenho pensado a respeito ultimamente.
Qual?
Talvez também seja o caso de que quanto maior seu potencial de causar danos às pessoas, mais as pessoas te pagam.
O que você quer dizer?
Sempre digo que quanto mais o seu trabalho beneficiar os outros, menor a probabilidade de você ser pago. Recentemente, alguém me disse que talvez seja o oposto: quanto mais o seu trabalho é capaz de causar danos aos outros, maior sua probabilidade de ser pago. Imediatamente pensei no trabalho de um economista chamado Blair Fix, que fez uma análise de renda no setor corporativo e descobriu que a chave para a remuneração não é a “produtividade”, como os economistas costumam insistir, mas simplesmente o poder. Quanto mais alto você estiver na cadeia de comando, maior seu salário. Em certo sentido, isso não é novidade para ninguém. Mas ele tem os números. Então tudo se trata de poder.
Poder de fazer o quê?
Bem, essa é a questão. Talvez seja mesmo o imenso potencial de causar dano. Assim como Wall Street não costuma beneficiar o público, mas pode causar um dano enorme se quebrar. Talvez o capitalismo seja apenas uma forma privatizada de poder, que deriva diretamente de formas de poder feudais-militares.
Pense nas corporações como as catedrais do poder capitalista. Seus donos já possuem toda a riqueza e poder que é possível. Em certo ponto, a pessoa já tem todo dinheiro e os prazeres, todas as prostitutas e toda cocaína que possa querer. Tudo o que resta é ego e narcisismo. É por isso que você tem uma legião de empregados inúteis: para que algum Vice Presidente Executivo babaca possa dizer “vejam só meu império! É maior que o império daquele outro Vice Presidente Executivo”.
O planeta está morrendo para que pessoas assim se sintam bem consigo mesmas. Eles estão sugando recursos enormes para construir suas torres gigantes e enchê-las com subordinados inúteis apenas para uma gratificação do ego. Quando obtive relatos de empregos de merda, ouvi incontáveis exemplos desse tipo de coisa. Toda corporação precisa ter sua própria revista interna com altos valores de produção e artigos em destaque retratando este ou aquele gerente de alto escalão. Qual é a razão disso? Ninguém lê essas revistas! Bem, quase ninguém. Elas existem para que cada gerente possa ter o prazer de ver um artigo bajulador dele mesmo no que parece ser uma revista de notícias.
Espécies inteiras de seres vivos estão sendo extintas a cada ano por esse tipo de coisa. Mas, no fim das contas, isso acontece porque ele está em posição de tornar a vida dos outros miserável.
E claro que essa pandemia lançou luz sobre o lado oposto disso: quanto mais diretamente seu trabalho ajudar outras pessoas, menor sua probabilidade de ser pago.