Mídia minimiza colapso da Europa
Por Altamiro Borges
Durante a campanha eleitoral, a mídia tucana evitou dar destaque para o agravamento da crise capitalista no mundo. O objetivo era eleitoreiro. Visava vender a imagem de que apenas o Brasil enfrentava dificuldades na economia. A culpa seria do “intervencionismo” do governo Dilma, que engessaria o “deus-mercado”. Aécio Neves era tratado como político moderno, capaz de destravar o crescimento econômico com suas propostas de austeridade fiscal, redução dos tributos das empresas e flexibilização trabalhista – entre outras receitas amargas do neoliberalismo. Passada as eleições, porém, o noticiário volta a destacar os efeitos nefastos da crise mundial, mesmo sem analisar as causas reais do caos capitalista.
Na sexta-feira (26), a Folha publicou uma série de reportagens sobre a “ressaca europeia”. O especial até tenta insinuar que o pior já passou, mas os dados apresentados são dramáticos. No caso da Grécia, por exemplo, o desemprego atinge 26% da população economicamente ativa – muito acima dos 5% verificados no Brasil. Segundo o repórter Leandro Colon, cinco anos após o colapso, o país “dá sinais tímidos de recuperação em meio à crise que abalou a Europa e levou o país a receber um socorro de € 240 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BCE (Banco Central Europeu)”. No segundo quadrimestre deste ano, ela saiu tecnicamente da recessão e a previsão é de que cresça entre 0,6% e 0,8%.
“O país pode estar retomando fôlego, mas ainda falta muito para devolver a mesma vida aos que sofreram e sofrem os reflexos da crise. A taxa de desemprego continua a mais alta do bloco europeu, em torno de 26%. Cerca de 70% dos desempregados (1,3 milhão de pessoas) não conseguem ocupação há mais de um ano – muitos vagam pelas ruas de Atenas. A dívida pública ronda os 175% do PIB (era de 129% em 2009) em um país cuja economia encolheu 25% nos últimos cinco anos”. Além da grave crise econômica, a Grécia atravessa intensa turbulência política. O parlamento poderá ser dissolvido nos próximos dias devido à sua total incapacidade para eleger o presidente do país.
Outro país analisado é a Irlanda, “o primeiro a deixar o programa de socorro financeiro da Europa”. A situação também é trágica. “No último dia 10, ao menos 30 mil pessoas foram às ruas contra a ‘water charge’, imposto sobre uso de água criado entre os compromissos para receber € 67 bilhões do FMI e do BCE. A Folha acompanhou a manifestação, marcada por confrontos com a polícia. O novo imposto impõe uma despesa anual de € 160 a € 208 por ano às famílias irlandesas e começa a valer a partir de janeiro. ‘Estão jogando no nosso colo uma consequência da crise. É uma forma de fazer a população pagar a dívida do país com a Europa’, diz Dean Mulligan, 23, um dos líderes do último protesto”.
A criação do imposto sobre o consumo da água se soma a outras medidas de austeridade fiscal impostas ao país pela “troika” neoliberal – FMI, Banco Central da Europa e União Europeia. Houve congelamento de 20% dos salários dos servidores públicos; retirada de direitos trabalhistas no setor privado; e redução dos gastos sociais. O desemprego vitima 10,7% da população economicamente ativa e “os jovens continuam deixando a Irlanda, ante a falta de perspectiva. Estima-se que 90 mil cidadãos por ano tenham saído desde 2008”, aponta a “otimista” reportagem da Folha.
Já na Espanha, o desalento da população é geral, apesar do governo de direita se jactar de que a economia voltou a crescer. Segundo o repórter Diogo Bercito, “quem não se gaba são os espanhóis que diariamente fazem fila nos centros de emprego. Mesmo com os avanços da economia, a porcentagem da população ativa sem trabalho é de 24%, o equivalente a 5 milhões. ‘Na minha idade, a única solução é voltar ao meu país natal’, afirma à Folha Nelly Galeas, 50, equatoriana, depois de ir ao posto pedir seguro-desemprego. ‘Não há oportunidade aqui’”. Diante deste quadro, o governo neoliberal de Mariano Rajoy – expressão do ganancioso capital – ainda propõe retirar direitos dos trabalhadores. “Para as autoridades espanholas, uma das razões pelas quais o país enfrenta o desemprego é a rigidez do mercado de trabalho, que encarece as contratações”.
Por último, a Folha analisa a situação de Portugal. Neste caso, nem o jornalista conseguiu amenizar o cenário dramático do país. O governo até cumpriu à risca as imposições da “troika”, mas não há sinais de recuperação da economia. “Portugal teve de levar a cabo cortes com violentos custos sociais, inclusive nas pensões e na proteção a desempregados. Funcionários públicos tiveram salários reduzidos e o imposto de renda subiu. Mas diversas de suas fraquezas, incluindo um alto desemprego, persistem”.
A série de reportagem sobre a “ressaca europeia” poderia servir para a Folha relativizar os impactos da crise econômica no Brasil e até para desaconselhar a adoção do receituário neoliberal, proposto nas eleições pelo tucano Aécio Neves. Mas aí já seria pedir demais ao jornalão da famiglia Frias.
Durante a campanha eleitoral, a mídia tucana evitou dar destaque para o agravamento da crise capitalista no mundo. O objetivo era eleitoreiro. Visava vender a imagem de que apenas o Brasil enfrentava dificuldades na economia. A culpa seria do “intervencionismo” do governo Dilma, que engessaria o “deus-mercado”. Aécio Neves era tratado como político moderno, capaz de destravar o crescimento econômico com suas propostas de austeridade fiscal, redução dos tributos das empresas e flexibilização trabalhista – entre outras receitas amargas do neoliberalismo. Passada as eleições, porém, o noticiário volta a destacar os efeitos nefastos da crise mundial, mesmo sem analisar as causas reais do caos capitalista.
Na sexta-feira (26), a Folha publicou uma série de reportagens sobre a “ressaca europeia”. O especial até tenta insinuar que o pior já passou, mas os dados apresentados são dramáticos. No caso da Grécia, por exemplo, o desemprego atinge 26% da população economicamente ativa – muito acima dos 5% verificados no Brasil. Segundo o repórter Leandro Colon, cinco anos após o colapso, o país “dá sinais tímidos de recuperação em meio à crise que abalou a Europa e levou o país a receber um socorro de € 240 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BCE (Banco Central Europeu)”. No segundo quadrimestre deste ano, ela saiu tecnicamente da recessão e a previsão é de que cresça entre 0,6% e 0,8%.
“O país pode estar retomando fôlego, mas ainda falta muito para devolver a mesma vida aos que sofreram e sofrem os reflexos da crise. A taxa de desemprego continua a mais alta do bloco europeu, em torno de 26%. Cerca de 70% dos desempregados (1,3 milhão de pessoas) não conseguem ocupação há mais de um ano – muitos vagam pelas ruas de Atenas. A dívida pública ronda os 175% do PIB (era de 129% em 2009) em um país cuja economia encolheu 25% nos últimos cinco anos”. Além da grave crise econômica, a Grécia atravessa intensa turbulência política. O parlamento poderá ser dissolvido nos próximos dias devido à sua total incapacidade para eleger o presidente do país.
Outro país analisado é a Irlanda, “o primeiro a deixar o programa de socorro financeiro da Europa”. A situação também é trágica. “No último dia 10, ao menos 30 mil pessoas foram às ruas contra a ‘water charge’, imposto sobre uso de água criado entre os compromissos para receber € 67 bilhões do FMI e do BCE. A Folha acompanhou a manifestação, marcada por confrontos com a polícia. O novo imposto impõe uma despesa anual de € 160 a € 208 por ano às famílias irlandesas e começa a valer a partir de janeiro. ‘Estão jogando no nosso colo uma consequência da crise. É uma forma de fazer a população pagar a dívida do país com a Europa’, diz Dean Mulligan, 23, um dos líderes do último protesto”.
A criação do imposto sobre o consumo da água se soma a outras medidas de austeridade fiscal impostas ao país pela “troika” neoliberal – FMI, Banco Central da Europa e União Europeia. Houve congelamento de 20% dos salários dos servidores públicos; retirada de direitos trabalhistas no setor privado; e redução dos gastos sociais. O desemprego vitima 10,7% da população economicamente ativa e “os jovens continuam deixando a Irlanda, ante a falta de perspectiva. Estima-se que 90 mil cidadãos por ano tenham saído desde 2008”, aponta a “otimista” reportagem da Folha.
Já na Espanha, o desalento da população é geral, apesar do governo de direita se jactar de que a economia voltou a crescer. Segundo o repórter Diogo Bercito, “quem não se gaba são os espanhóis que diariamente fazem fila nos centros de emprego. Mesmo com os avanços da economia, a porcentagem da população ativa sem trabalho é de 24%, o equivalente a 5 milhões. ‘Na minha idade, a única solução é voltar ao meu país natal’, afirma à Folha Nelly Galeas, 50, equatoriana, depois de ir ao posto pedir seguro-desemprego. ‘Não há oportunidade aqui’”. Diante deste quadro, o governo neoliberal de Mariano Rajoy – expressão do ganancioso capital – ainda propõe retirar direitos dos trabalhadores. “Para as autoridades espanholas, uma das razões pelas quais o país enfrenta o desemprego é a rigidez do mercado de trabalho, que encarece as contratações”.
Por último, a Folha analisa a situação de Portugal. Neste caso, nem o jornalista conseguiu amenizar o cenário dramático do país. O governo até cumpriu à risca as imposições da “troika”, mas não há sinais de recuperação da economia. “Portugal teve de levar a cabo cortes com violentos custos sociais, inclusive nas pensões e na proteção a desempregados. Funcionários públicos tiveram salários reduzidos e o imposto de renda subiu. Mas diversas de suas fraquezas, incluindo um alto desemprego, persistem”.
A série de reportagem sobre a “ressaca europeia” poderia servir para a Folha relativizar os impactos da crise econômica no Brasil e até para desaconselhar a adoção do receituário neoliberal, proposto nas eleições pelo tucano Aécio Neves. Mas aí já seria pedir demais ao jornalão da famiglia Frias.
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