sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

ECONOMIA - Os juros bancários e o silêncio do PIG.

Sobre juros bancários silêncios nos jornais

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Roberto Setúbal (Itaú, à esq.) e Pedro Moreira Sales (Unibanco, incorporado ao primeiro), em rara aparição midiática de banqueiros no Brasil

Taxas podem chegar agora a 268,83% ao ano. Capturam renda da população, ampliam desigualdade e… provocam curiosas decisões editoriais na velha mídia.

Por Antonio Martins

Um estudo do Procom (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) de São Paulo, divulgado nesta segunda-feira (22/12) demonstrou que subiram novamente — e estão em níveis estratosféricos — as taxas de juros que os maiores bancos cobram de seus clientes, em operações como crédito pessoal e utilização do cheque especial. Podem chegar a 268,83%.
Tais juros têm, como explicou o professor Ladislau Dowbor num artigo recente, consequências sociais e econômicas dramáticas. Eles capturam parte significativa dos salários e outras rendas dos trabalhadores, obrigados frequentemente a recorrer a crédito. Ao fazê-lo, limitam o próprio crescimento da produção e do emprego — já que parte do que seria consumido pela sociedade é entesourado pelos banqueiros, muitas vezes em “paraísos fiscais”. No entanto, você certamente não teve notícia do estudo do Procom nem na cada dos jornais impressos, nem nos destaques dos noticiários da TV. O assunto seria de importância menor? Ou seriam maiores os poderes dos que desejam evitar o debate sobre o tema?
Segundo os dados do Procon, as taxas do cheque especial saltaram para 191,6% ao ano (5,64% ao mês, com juros compostos), em média — uma alta de 7% em relação a um ano atrás. Já as linhas de crédito ao cliente (acessíveis via terminais de caixa automático) avançaram para 103,7% ao ano.
Embora seja altíssimos em todas as instituições, os juros discrepam muito entre um banco e outro, segundo indicam os dados do Procom. No cheque especial, a oscilação vai de 5,98 % ao mês (Caixa Econômica Federal-CEF) a 11,49% (Santander) — é neste caso que a taxa anualizada atinge 268,83%. No empréstimo pessoal, de 3,77% (CEF) para 6,92% (Santander).
Em seu artigo recente, o professor Ladislau Dowbor chamou, aliás, atenção para as diferenças entre o que uma mesma instituição cobra em sua matriz e o que impõe aos clientes no Brasil. No caso do HSBC, por exemplo, os juros para desconto de duplicatas cobrados às empresas são de 7,86% no Reino Unido, sede da instituição — mas sobrem para 40,36% (o quíntuplo) no Brasil. No mesmo texto, Ladislau lembrou que a operação brasileira de outro banco estrangeiro, o espanhol Santander, é responsável por 25% a 30% dos lucros que o grupo obtém em todo o mundo.

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