segunda-feira, 31 de outubro de 2022

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Segunda-feira, 31 de outubro de 2022 Vitória de Lula não vai dar fim ao caos

O bolsonarismo seguirá testando os nervos da democracia.

Acabou. Acabou o governo perverso, que fez o Brasil chorar de tristeza tantas vezes, que colocou o país num clima de eterna pandemia, que levou ao limite a sanidade mental de mais de 60 milhões de brasileiros que votaram contra ele neste domingo. Quando a apuração já mostrava uma vantagem irreversível de Lula, um áudio emocionado de uma pessoa que viu o pai morrer de covid-19, pela negligência deliberada do estado, pipocou no whatsapp. A dor misturada à emoção naquela voz mostrava de onde vieram os mais de 2 milhões de votos a favor de Lula que o separaram de Jair Bolsonaro. Apesar de tudo contra, da máquina pública abertamente a favor da campanha pela reeleição, o Brasil disse não a mais quatro anos de governo de ultradireita armamentista. O Nordeste salvou, Minas Gerais ajudou, e a organização da sociedade civil no Pará, incluindo as aguerridas comunidades indígenas, foi decisiva. Foram exatos 435.189 votos paraenses a mais para o antibolsonarismo num dos estados mais violentados pela política morticida contra a Amazônia. A resistência nos estados mais bolsonaristas, como o Paraná, ou o Mato Grosso do Sul, não pode ser desmerecida. É ela que vai ter ainda mais trabalho para reconstruir as pontes que foram rompidas e denunciar os abusos que seguirão sendo cometidos regionalmente. A vitória é fantástica, embora agridoce. Não só pelas perdas no caminho, os quase 700 mil mortos por covid-19, o desmatamento recorde nos biomas, os ataques ao SUS, à educação, à ciência e à cultura. Ou pela política de extermínio escancarada com Genivaldo de Jesus Santos, o homem assassinado numa câmara de gás improvisada no porta-mala de um carro da Polícia Rodoviária Federal em 26 de maio deste ano. É agridoce também porque o bolsonarismo está aqui, com Tarcísio de Freitas eleito governador de São Paulo, depois de uma campanha marcada pelo assassinato de um homem desarmado durante a visita do então candidato à comunidade de Paraisópolis neste segundo turno. Há, ainda, deputados e senadores recém-eleitos no Congresso que continuarão jogando abaixo da cintura, buscando holofotes a qualquer preço para evitar a perda da coroa.Os caminhoneiros golpistas, que fecharam estradas no Sul e na Via Dutra no mesmo domingo da vitória de Lula, também fizeram questão de lembrar que a toada de caos seguirá, com a lógica da pressão pelo terror. Pedem intervenção militar e vão testar os nervos da democracia por muito, muito tempo. Vai ser preciso paciência. A mesma que foi necessária do primeiro para o segundo turno. A maioria dos eleitores que votaram contra Bolsonaro queriam que as eleições deste ano tivessem se encerrado em 2 de outubro. Mas o 1,8 milhão de votos que faltaram a Lula para fechar a fatura foi um recado contundente ao partido que já carrega as máculas de corrupção de outros carnavais. Ao fim e ao cabo, foram semanas didáticas entre os dois turnos. Os intermináveis 28 dias para chegar ao último domingo colocaram o Brasil tóxico do bolsonarismo em estado bruto. Dos disparos de fuzil de Roberto Jefferson em direção aos agentes da Polícia Federal que tentavam prendê-lo, ao teatro da deputada Carla Zambelli, de arma em punho para devolver uma agressão verbal proferida por um homem negro em São Paulo. Tudo filmado e viralizado em redes sociais, numa das eleições mais eletrizantes de que se tem notícia.Os relatos de eleitores virando voto por algum desses episódios se multiplicaram. O choque com a violência de Jefferson, uma figura repulsiva que xingou a ministra Cármen Lúcia — uma cena inacreditável quando o público feminino era o mais disputado das eleições — e as mentiras de Zambelli desfeitas por inúmeros vídeos estarreceram até os próprios bolsonaristas. Para um outro público, que rejeitava os dois candidatos, os episódios falaram mais sobre as diferenças entre o lulismo e o bolsonarismo do que os debates dos presidenciáveis, como se pensou a princípio. Foi por pontos, mas venceu a melhor proposta na visão da maioria dos eleitores.  A vitória nessas condições, com 58 milhões de votos contra um governo do PT, precisa colocar o campo progressista para refletir e agir. O Lula vencedor não é o mesmo de 2002, assim como o Brasil não é o mesmo de 20 anos atrás. Muita água já passou por baixo desta ponte, e o eleitor que deu a vitória nas urnas ao petista está longe de ser fechado incondicionalmente com ele. Ele não ostenta botons de Che Guevara ou boné de Cuba na cabeça. Esse voto fechou com a democracia, com Simone Tebet e Marina Silva, com Fernando Henrique Cardoso — que conquistou votos decisivos para Lula na reta final —, e com a trupe de economistas Henrique Meirelles, Pérsio Arida e Armínio Fraga. O caminho é longo e de muitas nuances. Não há espaço para descansar sobre os louros. Que o diga o presidente do Chile Gabriel Boric, que derrotou o pinochetista José Antonio Kast no segundo turno das eleições de dezembro do ano passado com 56% dos votos contra 44% do adversário. Com apenas seis meses no cargo, Boric tinha só 27% de apoio popular, depois de uma frustrada mudança da Constituição.Lula e toda a frente que o apoiou têm uma chance de fazer o Brasil dar certo. Será um trabalho aguerrido não só da classe política, mas de toda a sociedade. Nunca nos foi exigido tanto que a organização e disciplina parta de nós mesmos, enquanto cidadãos e nas instituições que ocupamos. A missão está no nosso colo: trabalhar para evitar as armadilhas do caminho. Limpar o veneno despejado pelo bolsonarismo vai levar anos, o que pede muito mais do que este voto de domingo. A trilha é longa e vai servir para testar a humildade do campo progressista, sem superioridade moral para afastar antigos aliados. Ainda estamos assustados com o fim do silêncio forçado pela política de terror do governo e precisamos usar a palavra para construir, não para tripudiar sobre os perdedores. Por ora, vamos celebrar a firmeza, o altruísmo e nossa fé a toda prova. Vencemos.

Brasil 247

 


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Ganhou a Democracia

 

Lula venceu, ganhou a Democracia (Por Paulo Timm)

Leandro Demori, Obrigado

 


🙏 Obrigado

Ufa!

Foi pesado pra todo mundo, eu sei. Confesso que estou mentalmente acabado. O dia de ontem representou o fim do pior período da minha vida profissional. Em mais de 20 anos como jornalista eu JAMAIS tinha pensado em desistir. Nos últimos anos pensei muitas vezes em mim e na minha família e quis mudar de profissão. Hoje, de todo modo, aqui estamos nós, em pé.

Obrigado, gente. Vocês não têm ideia da importância do apoio de todos aqui. Valeu mesmo, de coração. Hoje somos mais de 900 pessoas na nossa comunidade do Apoia.se, o que me deu algum estabilidade pra manter a cabeça no lugar e seguir olhando pra frente. Eu não sei o que faria sem vocês.

Esste e-mail é só para agradecer. Fiquem bem.

Deixamos uma fase horrível pra trás. Ninguém sabe do amanhã, e não é dado que a extrema direita vá desaparecer – infelizmente não irá. Mas provamos que somos fortes e que o ódio pode, sim, ser derrotado.

Sigamos.Um abraço do Leandro.