quinta-feira, 31 de março de 2011

POLÍTICA - O ex-Gabeira chamou o Fleury de bundão.

O ex-Gabeira chamou o Fleury de bundão. E o Bolsonaro é o quê?

Quando o ex-Gabeira era Gabeira ele escrevia na Revista dos Bancários, que editei por um bom tempo, e também fazia comentários na Rádio dos Bancários, programa que era transmitido pela Gazeta AM de São Paulo.

Na ocasião do assassinato dos 111 presos no Carandiru, o ex-Gabeira, como muitos de nós, ficou indignado e chamou algumas vezes o governador Fleury de bundão ao vivo na Rádio.

Imediatamente o Márcio Baraldi, um chargista brilhante e que ainda trabalha no movimento sindical, fez uma ilustração onde o rosto do Fleury reproduzia uma bunda. A ilustração era sensacional, se tornou adesivo (até hoje não sei quem mandou reproduzir aquilo) e ganhou a cidade.

O então governador ficou fulo da vila e processou o ex-Gabeira.
Fui uma das testemunhas de defesa arroladas no processo do ex-Gabeira.

Chegamos a ir numa audiência que foi desmarcada e, até onde sei, o caso acabou não dando em nada.

E o rosto de Fleury caricaturado numa bunda continuou rodando a cidade.

Bolsonaro não autorizou a invasão de uma prisão onde 111 presos foram barbaramente assassinados, mas a sua declaração no CQC é criminosa é deve ser tratada como um caso exemplar pelo Congresso.

Só devemos tomar cuidado com uma coisa, não tornar Bolsonaro algo que ele não é.

Ele não é um homem corajoso. Ao contrário, é um falastrão que deve subir em cima da mesa quando vê uma barata.

Pessoas corajosas não se escondem atrás de fardas e nem de imunidade parlamentar para atacar minorias e setores da sociedade que são vítimas de violência.

Mas com isso não estou querendo dizer que Bolsonaro é um bundão.

Porque bundão é algo grande. E Bolsonaro é bem pequenininho.

Blog do Rovai

POLÍTICA - José Alencar e Lula.

Alencar harmonizou os andares de cima e de baixo em torno de Lula.

Pedro do Coutto

Depois de uma luta intensa contra o câncer e a morte, exemplo de compromisso com a existência, o coração de José Alencar deixou de pulsar encerrando uma bela vida de sucesso, ao mesmo tempo de superação e afirmação humana. Foi um homem absolutamente autêntico, fiel a si próprio e a seus princípios, posição refletida nos pronunciamentos que, mesmo vice presidente da República, fez sobre temas econômicos, especialmente os envolvendo os juros pagos pelo governo e os cobrados pelos bancos no país.

Essa postura sobretudo ética lhe garante um lugar na história moderna do Brasil. Entretanto, sua presença nela é mais ampla. Ele se tornou, a exemplo de Tancredo Neves e Ulisses Guimarães, um dos responsáveis pela transição democrática entre o passado e o presente e também o início da construção de uma ponte para o futuro.

Sim. Porque sua presença na chapa liderada por Lula, na sucessão de 2002, praticamente eliminou a resistência que o empresariado, nacional e internacional, mantinham em relação ao candidato do PT. A resistência que o derrotou em 89, atemorizando também a classe média através de um risco (inexistente) da esquerdização do país, a partir de um retrocesso do sistema capitalista.

Tal hipótese significou um bloqueio no campo do voto. Aproximadamente 30% do eleitorado temiam que o sonho natural de subir mais um andar na escala social desaparecesse. Fenômeno político que se manteve nos pleitos de 94 e 98.

A entrada de José Alencar em cena em 2002 mudou o panorama. Um superempresário ao lado de um ex-líder sindical ao mesmo tempo causou surpresa e transferia a Lula a confiança que lhe faltava para vencer a resistência social repetida três vezes nas urnas.

Claro não foi este apenas o instrumento da mudança no campo eleitoral. Somou-se à impopularidade do presidente Fernando Henrique, cuja taxa de rejeição estava no alto da pirâmide do voto, com registro acentuado nos grupos de menor renda, os assalariados, mas sensível igualmente nos segmentos de maior poder aquisitivo.

A candidatura de José Serra, na sua primeira investida rumo ao Palácio do Planalto, foi travada simultaneamente pela imagem negativa dos tucanos e pela imagem positiva que Luis Inácio passou a alcançar como alternativa de poder avalizada pela bravura, simpatia pessoal, disposição de Lula, e o caráter capitalista que o vice emprestava à chapa popular.

Talvez sem Alencar, Lula não tivesse conseguido vencer ininterruptamente em 2002, 2006 e 2010, sucedendo-se a si próprio ao derrotar Geraldo Alckmim e elegendo sua sucessora. Lula tornou-se assim o único político do mundo a disputar cinco vezes a presidência da república. Perdeu três, venceu duas vezes e empatou o jogo assegurando a vitória de Dilma Rousseff. Os números – vale a pena lembrá-los – foram 62 a 38; 61 a 39; Dilma 56 contra 44 de Serra. Um patamar constante nas vitórias. A esperança venceu o medo, slogan síntese da jornada.

Mas eu citei a importância de José Alencar harmonizando e reunindo em torno de Lula o andar de cima e o andar de baixo. Tema do filme Metrópolis, do cineasta alemão Fritz Lang, um clássico de 1929, imagem muito usada nos excelentes artigos de Elio Gáspari, em O Globo e na Folha de São Paulo, quando aborda conflitos, aliás eternos, entre o capital e o trabalho. A imagem dos dois andares não inspira apenas Gáspari. Inspirou René Clair, como A Nós a Liberdade, e Charles Chaplin, gênio absoluto, em Tempos Modernos. Por sinal título da revista de cultura dirigida por Sartre e o filósofo Merleau Ponty, nas décadas de 40 e 50.

Alencar subiu com Lula o elevador de um andar para outro. E ele mesmo definiu o seu impulso dizendo na campanha de 2002: no mundo, o trabalho nasceu antes do capital. Por que não a harmonia entre ambos?

PRIVATARIA - Doação da Vale.

Existiam 100 razões para Roger Agnelli não presidir a Vale, DOADA por preço miserável. E outros 100 motivos para não ser expulso agora. Com a liderança, aval e comando do Bradesco?

Helio Fernandes

É uma pena que os prédios da Tribuna estejam interditados. Sem energia, telefone, computador, quase 3 anos sem limpeza. Impossível chegar perto até das escadas. Cito o fato, pois gostaria de reproduzir pelo menos uma parte do que escrevi nos tempos da DOAÇÃO.

Os chamados órgãos de comunicação se omitiram, se esconderam, não deram uma palavra de protesto. Já era época da globalização, se refugiaram nos subterrâneos da adesão glorificada e magnificamente remunerada.

A Comissão de DESESTATIZAÇÃO, por onde passaram fortunas dos bens doados, teria merecido antes uma CPI e continua merecendo. Agora, pela DOAÇÃO e pelo domínio da politicagem interna e financeira, comandada e beneficiada pelo Bradesco.

E a Vale não foi sequestrada, emparedada e destruída nos tempos da DOAÇÃO. Pelo menos 30 anos antes já era uma propriedade feudal de Eliezer Batista, que dominava e controlava a empresa, também doando seus principais minérios, pelos mesmos preços aviltantes.

Eliezer DOAVA os bens da Vale, parceladamente, mas mantinha a empresa, era mais lucrativa para ele. FHC DOOU a empresa de uma só vez, o mesmo preço vergonhoso, trilhava caminhos diferentes do “dono” da empresa.

Entregaram a preços vis todo o manganês do Amapá, dominado depois (coincidência ou reincidência no crime financeiro?) por José Sarney. De 1956 a 1961 (quando passei para a Tribuna de papel) no bravo Diário de Notícias escrevi dezenas, dezenas mesmo, de artigos revelando os roubos perpetrados, que palavra, pelo poderoso Eliezer Batista. Os navios que levavam o raríssimo minério, quase que exclusivamente existente no Brasil, eram descarregados no porto de Nova Iorque, bem lá no fundo, escondidos, para que poucos soubessem.

Mas eu tinha tantos informantes privilegiados, que publicava a identificação dos navios, os números da faturas, por quanto era miseravelmente faturada essa riqueza do Brasil. Antes e depois do golpe de 1964, ninguém interferia com Eliezer.

Eliezer não deixou a presidência da Vale, por um dia que fosse. Mas viajava muito e até morava no exterior. Na então União Soviética e depois, dois anos na Alemanha. Foi casado com uma alemão, confiram o nome dos filhos. E não era só isso.

Fundou uma empresa “concorrente”, a Icomi, que atuava no mesmo campo da Vale. Faturava horrores, vendendo minérios que não possuía. Denunciei tudo, com dados extraordinários, nada acontecia, Eliezer era intocável, inqualificável, indomável. Seus lucros aumentavam, inflacionavam sua geografia bancária, ao mesmo tempo assustavam e impediam que alguma providência fosse tomada, pelo menos para puni-lo.

Quando FHC e seus grupos da DESESTATIZAÇÃO decidiram entregar tudo, Eliezer já estava desinteressado, velho e rico demais. E cuidara a herança, que foi transferida de forma perdulária e criminosa como fora tramada.

Desaparecido e desinteressado Eliezer, surgiram os tempos da pós-doação, de Agnelli e do Bradesco. Os malabaristas do banco de SP indicaram um funcionário para presidir, controlar e dividir a Vale com eles. Acontece que o “planejamento” criminoso continua sendo um crime, mas os lucros não coincidem com o que foi planejado. O funcionário Agnelli virou patrão, como confiar nas pessoas?

Desconfiado co a atuação de Agnelli, o Bradesco fez acordo com a maior acionista,a Previ, propriedade dos funcionários do Banco do Brasil, displicentemente conduzida. Apesar dos resultados terem melhorado, lá no Bradesco continuava a desconfiança em relação à conduta de Agnelli.

Mesmo com a Previ subjugada, o Bradesco, numa eventual votação, não conseguiria maioria. Decidiram então obter “maioria majoritária”, sem investir coisa alguma, nem precisaram pensar (?) muito para chegarem à conclusão: “A solução é o BNDES”. Maravilha, acertaram como se estivessem atirando com um fuzil de mira telescópica, da mesma qualidade da que assassinou Martim Luther King a 1 quilômetro de distância. (“Tenho um sonho”).

Fizeram os cálculos, para controlar a empresa, precisavam comprar ações da Vale no total de 200 milhões. Mas como era a 4 por cento AO ANO, pediram e conseguiram 242 milhões. Que maravilha viver.

São no Brasil, os maiores possuidores de bônus da chamada DÍVIDA INTERNA, pela qual recebem, no momento 11,75% ao ano (e já se sabe que neste abril que está chegando, a remuneração pelo que chamam de Taxa Selic, vai passar dos 12 por cento).

***

PS – Só que esses compradores estão sentindo um “frio na espinha”. O governo tem que pagar (na verdade é AMORTIZAR) no mínimo, no mínimo, 180 BILHÕES por ano.

PS2 – O que significa que precisam ECONOMIZAR no que dizem que é DÉFICIT PRIMÁRIO (o único país que tem essa anomalia) 15 BILHÕES mensais.

PS3 – O Secretário do Tesouro comunicou à própria Dona Dilma: “Em janeiro, acumularam 2 bilhões e 200 milhões. Em fevereiro, 2 bilhões e 600 milhões”. Quer dizer: 4 bilhões e 800 milhões, quando já deveriam ter “ECONOMIZADO” 30 BILHÕES.

PS4 – A conclusão é simples: Dona Dilma vai indo bem na superfície, mas pessimamente no planalto. E o cidadão continua pagando ao Bradesco 9 por cento ao mês e 241 por cento ao ano. A Polícia, onde está a Polícia?
Fonte: Tribuna da Imprensa online.

quarta-feira, 30 de março de 2011

POLÍTICA - As últimas 24 horas de José Alencar.

Balaio do Kotscho


Segunda-feira, dia 28, 14 horas. Com fortes dores abdominais, José Alencar chegou de ambulância para ser internado mais uma vez no Hospital Sírio-Libanês.

A equipe médica rapidamente se reuniu na UTI e avaliou a gravidade do quadro _ tão grave, que não havia mais nada a fazer, a não ser sedar o paciente com morfina para que ele não sofresse com as dores.

O ex-vice-presidente estava consciente ao chegar e mostrou bom humor quando fez seu último comentário aos médicos, antes de receber o medicamento:

” O doutor Raul não vai falar nada? Se o doutor Raul não está falando nada é porque estou mal, a situação deve ser grave mesmo…”

Terça-feira, dia 29, por volta das 14h30 horas. O médico Raul Cutait, 61 anos de idade e 37 de medicina, que cuidava de José Alencar desde a sua primeira cirurgia, em 1997, e passou com ele as últimas 24 horas, recebe uma ligação do ex-presidente Lula, querendo saber notícias do seu amigo.

Dez minutos depois, Cuitait daria a notícia da morte de José Alencar a Lula, que soltou um palavrão e começou a chorar ao telefone.

A imbatível dona Marisa, acompanhada dos filhos Josué, Patrícia e Maria da Graça, ficou ao lado do marido até o fim. Nas muitas visitas que fiz a ele no Hospital Sírio-Libanês, nos últimos dois anos, nunca o encontrei sem a mulher a seu lado.

A última vez, umas duas semanas atrás, foi no dia em que Alencar, cansado de tomar remédios e se submeter a tratamentos dolorosos que já não faziam mais efeito, decidiu comunicar aos médicos que preferia voltar para casa.

Queria apenas que a família lhe providenciasse uma garrafa da cachaça “Maria da Cruz”, que ele mesmo fabricava, para tomar um “golo”, como ele dizia, com os amigos.

A companheira de mais de 50 anos só não estava com ele no momento em que foi internado na segunda-feira porque tinha passado a noite em claro a seu lado, e queria descansar um pouco antes de ir para o hospital.

No final da tarde, quando ela chegou, o quadro médico já era gravíssimo. “Procuramos apenas dar conforto ao paciente”, lembrou Cutait, na manhã desta quarta-feira, ao me relatar os últimos momentos da vida de José Alencar, de quem ficou muito amigo também.

Na hora do almoço de terça-feira, fui informado por um amigo que estava no hospital, o eterno assessor Adriano Silva, que já não havia mais esperanças de que Alencar conseguisse sobreviver a mais um dia, como tantas vezes aconteceu antes.

Ao saber da notícia de sua morte, fiz apenas um breve registro no Balaio. Tudo o que tinha a dizer sobre José Alencar Gomes da Silva escrevi enquanto ele estava vivo, em inúmeros posts nos quais os leitores puderam acompanhar a sua longa luta contra o câncer.

“É fácil falar das pessoas depois que morrem, porque todo mundo fica bom depois que morre. Mas o Zé Alencar era bom em vida”, disse Lula sobre seu melhor amigo, e disse tudo. Faço minhas as palavras do ex-presidente.

Os dois, Lula e Alencar, eram os melhores amigos um do outro _ um exemplo raro na vida, raríssimo na política.
Fonte: Blog Balaio do Kotscho.

terça-feira, 29 de março de 2011

POLÍTICA - Nenhuma surpresa com este ídolo das viúvas da ditadura.

Tas: "Bolsonaro mostrou preconceito contra negros e gays".

Francisco Cepeda/AgNews

"A ironia é uma lente de aumento que mostra com muito mais clareza o que se vê e o que é dito", diz Marcelo Tas.

Bob Fernandes


Um dos personagens da polêmica com Jair Bolsonaro (PP-RJ), o humorista Marcelo Tas, apresentador do programa CQC (Band), afirma que não se surpreendeu com as declarações do deputado federal.

Tas avalia que Bolsonaro cometeu "duas coisas que faz com recorrência: declarou seu profundo apoio à ditadura militar e manifestou dois preconceitos, contra os negros e contra os gays".

Terra Magazine ouviu o humorista para colher sua visão da entrevista. No programa, Preta perguntou a Bolsonaro se ele deixaria seu filho namorar com uma negra. "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco, e meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o teu", declarou o deputado.

Terra Magazine - Marcelo, daquela conversa com Bolsonaro ontem, no CQC, o que você, de fato, entendeu?
Marcelo Tas - Entendi que Bolsonaro fez duas coisas que faz com recorrência: declarou seu profundo apoio à ditadura militar e manifestou dois preconceitos, contra os negros e contra os gays.

Mas, depois da entrevista do Bolsonaro, quando voltou pra você, pareceu que você manifestava uma dúvida ao perguntar se tinha entendido direito?
O que eu manifestei foi uma esperança de que a alma tivesse alguma salvação.

Por quê?
Porque ele fez uma associação da raça negra com promiscuidade e isso é absolutamente inadmissível, principalmente vindo de um deputado.

Mas você esperava o quê ao manifestar sua dúvida sobre o que ele teria dito?
Esperava, espero, que ele de fato não tenha entendido a pergunta da Preta Gil.

Como poderia dizer o CQC, ele está sendo julgado pelo conjunto da obra?
Ele já disse isso reiteradas vezes, mas como o CQC é um programa de humor e usa a ironia, a ironia é uma lente de aumento que mostra com muito mais clareza o que se vê e o que é dito.

A propósito do CQC, vocês...
...A propósito do CQC, o que me espanta é a reação de pessoas, inclusive de movimentos de defesa de direitos dos gays, que acham que nós não podemos tocar em assuntos como esse. É o mesmo preconceito do outro lado. Eles não entendem que o humor, às vezes, joga luz sobre alguns assuntos, como esses que foram tratados ontem, e eles ganham uma dimensão que de outra forma não teriam.

Fonte: Terra Magazine.

EXPLORAÇÃO CAPITALISTA - Felizmente os trabalhadores das empreiteiras estão tomando consciência que são explorados.

Já são mais 80 mil que cruzaram os braços em todo país. O PIG, como era de se esperar, continua manipulando as informações sobre as reais causas da revolta dos traabalhadores nos canteiros de obras das empreiteiras

Revolta em Jirau reflete superexploração.

Causas da revolta dos trabalhadores da usina hidrelétrica envolvem “licenciosidade” federal e superexploração.

Eduardo Sales de Lima

da Redação


Em 15 de março, parte dos cerca de 22 mil trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, levantaram-se contra as péssimas condições de trabalho em que viviam. Mais do que isso. Muitos compreenderam que o consórcio Energia Sustentável do Brasil, formado pelas empresas Camargo Corrêa, Suez e Eletro, estão lucrando às custas de sua exploração.

Na ocasião, dezenas de veículos foram incendiados e algumas instalações do canteiro de obras, depredadas. Praticamente todos os alojamentos foram incendiados. As obras estão paralisadas por tempo indeterminado. Uma assembleia já havia sido marcada para o dia 27 de março. Segundo os trabalhadores, o estopim foi a agressão, por parte de um motorista da empresa que transporta os funcionários, a um operário que fora impedido de embarcar porque não possuía autorização para deixar o canteiro. A situação, então, tornou-se incontornável. Por causa da manifestação, cerca de 35 trabalhadores foram presos.



“Vandalismo”

Emergem dúvidas, entretanto, sobre quem praticou o primeiro ato de “vandalismo”. “O funcionários nos relatam constantemente inúmeros desmaios por dia em plena obra, sendo que os ambulatórios não possuem médicos. E o pior: permanecem sob observação por dez minutos, e, depois, são obrigados a retornar ao trabalho”, revela a irmã Maria Ozânia da Silva, coordenadora da Pastoral do Migrante em Rondônia.

O transporte dos operários é de péssima qualidade. Segundo conta o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) em Rondônia, Océlio Muniz, aquele que perde um ônibus devido à lotação e chega atrasado na rodoviária de distribuição para os canteiros de obras perde o dia de serviço.

De acordo com ele, no almoço, que dura uma hora, todos se apressam para tomar o ônibus. Não há tempo para descanso. O mesmo acontece para quem perde o ônibus que retorna ao alojamento e é obrigado a andar por cerca de 7 quilômetros até o dormitório.

Em junho de 2010, um funcionário do setor de reciclagem de Jirau afirmou à reportagem do Brasil de Fato presente no local que o simples posicionamento de um trabalhador exigindo seus direitos, como a existência de instrumentos básicos de proteção, como máscaras, por exemplo, resultava em sua demissão ou perseguição.

“A falta de diálogo, o autoritarismo da empresa, isso tudo se reflete na violação dos direitos humanos tanto das comunidades atingidas quanto em relação aos operários”, critica irmã Maria Ozânia da Silva. Também existem relatos de trabalhadores que teriam sido agredidos por outros funcionários contratados pela Camargo Corrêa.



Direitos atacados

Não é de hoje que as empresas que constroem a Usina Hidrelétrica de Jirau – que faz parte do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – estão envolvidas em sérios ataques aos direitos trabalhistas.

Em setembro de 2009, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Rondônia e o Ministério Público do Trabalho libertou 38 pessoas que trabalhavam em condição análoga à escravidão para a BS Construtora, empresa terceirizada do consórcio dono da barragem que construía a Vila Nova Mutum, para onde serão transferidas as famílias que residem na área que será inundada.

A grande imprensa focaliza o “vandalismo” dos trabalhadores, mas pouco ou nada diz sobre os motivos da revolta que, para o sociólogo Luiz Fernando Novoa, professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), reside na “insistência em disciplinar e aferrar a mão de obra a cronogramas físico-financeiros autistas e irreais, com condições de trabalho degradantes, e através da repressão policialesca”.

Para Novoa, grande parte dos erros cometidos contra os trabalhadores está inscrita em dois equívocos maiores: na “licenciosidade” por parte do governo federal em relação à implementação das obras no rio Madeira e na busca das empresas pelo lucro imediato, atrelados a tais “cronogramas autistas” mesmo que o custo seja o desrespeito aos direitos dos barrageiros. “O governo federal, em nome da atratividade do negócio, afrouxou ao máximo a regulamentação e a fiscalização em todas as áreas afetadas devidos às obras (ambiental, trabalhista, urbanística, compensações sociais) e blindou política e juridicamente todo o processo de outorga, concessão e licenciamento”, destaca.



“Arranjo financeiro”

Novoa lembra que as hidrelétricas feitas na região amazônica devem ser extremamente flexíveis na sua implementação, oferecendo, nos leilões, tarifas reduzidas que justifiquem o risco nesse investimento. O consórcio Energia Sustentável do Brasil, que constrói Jirau, ofereceu, em leilão ocorrido em 2008, o preço de 71,40 reais por Mwh (megawatt-hora), um considerável deságio de 21,5%.

Quase um ano depois das rebeliões ocorridas na Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, o sociólogo aprofunda a questão ao elucidar que o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira resulta de um arranjo financeiro, arquitetado pelo Ministério do Meio Ambiente (MME) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e viabilizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que premia a máxima antecipação da operação das usinas com a venda de 100% da energia, gerada antes do prazo contratual, no mercado livre.

“Impõe-se a etapa da construção nas margens mínimas de tempo e de custos e quem paga por isso são os trabalhadores, a população atingida e o meio ambiente. É preciso lembrar que o governo federal, ao defender a construção da Usina de Belo Monte, apresentava as usinas do Madeira como modelo de sustentabilidade e participação. Será esse o paradigma para a construção de novas grandes hidrelétricas na Amazônia?”, critica Novoa. Como ele disse ao Brasil de Fato em 2010, “a fatura está vindo de modo informal, por meio dessas rebeliões”.

Altair Donizete de Oliveira, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Rondônia (Sticcero), joga mais luz nessa situação. Ele lembra que a Camargo Corrêa não pagou a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) que deveria ter sido repassada em novembro.“É dito cinquenta vezes por dia que a Usina de Jirau está um ano adiantada no cronograma, e a empresa não paga PLR porque diz que não teve lucro. Então, como fica a cabeça do trabalhador?”, conta.

O projeto da Usina Hidrelétrica de Jirau recebeu R$ 7,2 bilhões do BNDES. O salário médio dos funcionários é de R$ 1.500. Grosso modo, os gastos do consórcio com salários gira em torno de entre R$ 33 milhões e R$ 40 milhões.
Fonte: Brasil de Fato.

segunda-feira, 28 de março de 2011

POLÍTICA - Quem é o autor do slogan "Lula-Lá"?

Balaio do Kotscho - Balaio do Kotscho

O assunto foi tratado pela primeira vez aqui no Balaio no dia 26 de maio de 2010, no início da campanha presidencial, quando a Folha publicou matéria com o título “Marina recorre a inventor do `Lula-Lá ´”.

No mesmo dia, publiquei post contestando a informação da Folha, pois trabalhei na campanha de Lula em 1989 e sabia como e por quem o jingle havia sido criado: “Folha errou: `Lula-Lá ´é de Hilton Acioly”.

Dizia a matéria da Folha: “PV recruta Paulo de Tarso, mas diz rejeitar marqueteiro profissional. Autor do jingle petista nas eleições de 1989 já prepara senadora para eventos. Contrato ainda estaria em negociação”.

Se o PV rejeita marqueteiro profissional, então é porque está recrutando um marqueteiro amador, se é que isso ainda existe (além do falecido Carlito Maia, criador do slogan “Lula-Lá”, não conheço nenhum). Se é amador, para que negociar contrato? Não fica claro.

A verdade é que a Folha confundiu slogan com jingle e errou duas vezes: o publicitário Paulo de Tarso não é autor de nenhum dos dois. Foi apenas o marqueteiro que levou o slogan de Carlito, criado no ano anterior, como sugestão para o compositor Hilton Acioli usar no jingle da campanha de 1989, que acabou virando um hino.

Pensei que o assunto estivesse esclarecido e morto, quando na semana retrasada me ligou uma repórter da Folha querendo checar uma informação publicada sobre o assunto na coluna da minha amiga Monica Bergamo. Repeti-lhe o mesmo que está escrito no meu post de maio do ano passado.

Dias depois, o sr. Paulo de Tarso Santos enviou um comentário desvairado ao meu blog, que nem me dei ao trabalho de responder.

Só agora entendi o motivo: a família de Carlito Maia resolveu contestar a versão dada por Paulo de Tarso e encampada pela Folha, reinvindicando a autoria do slogan.

Maurício Maia, filho de Carlito, enviou-me neste final de semana a longa troca de correspondência que manteve com a Folha.

Ao final da leitura das mensagens, que reproduzo abaixo, não tenho a menor dúvida, diante da cronologia dos fatos e das notas publicadas em jornais, inclusive na própria Folha, de que a autoria do slogan é mesmo do meu querido amigo Carlito Maia e o jingle da campanha foi criado por Hilton Acioly.

O slogan de Carlito é bem anterior à montagem da estrutura de comunicação da campanha, em meados de 1989. Só eu e o colega Sergio Canova começamos a trabalhar mais cedo, cuidando da área de imprensa, no início daquele ano.

Sei por experiência própria que a Folha tem grande dificuldade em reconhecer erros históricos que comete, preferindo reescrever a história, mas neste caso não dá para ficar calado diante de um episódio do qual fui testemunha.

Peço aos leitores deste Balaio que porventura também tenham trabalhado na primeira campanha presidencial de Lula, em 1989, ou guardem consigo qualquer lembrança ou documento daquela época que, por favor, ajudem a esclarecer esta polêmica sobre um fato ocorrido 21 anos atrás.

Transcrevo abaixo a correspondência com a Folha que me foi enviada por Maurício Maia:

***

Prezado Ricardo Kotscho,

Como imaginava, a Folha de S. Paulo ignorou meus protestos contra as notas publicadas pela colunista Mônica Bergamo, em que atribui ao publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos a autoria da frase “Lula lá”. Só resta recorrer à blogosfera para mostrar que o jornal Folha de S. Paulo errou em algum momento nesta história. Ou em 1989, quando publicou diversas notas em que a autoria da frase era atribuída a Carlito Maia; ou agora, quando endossa a versão do publicitário Paulo de Tarso.

Esse problema não se resume apenas ao “Lula lá”. Ele mostra como existe uma parcela do jornalismo que se acha imune às críticas. Lembro-me de uma frase sua que sempre foi um norte para o exercício da profissão (“O trabalho do jornalista é essencialmente crítico e a gente tem que começar a criticar o nosso próprio trabalho para poder melhorar”). Ao contrário do que escreveu a colunista Mônica Bergamo (“Sua carta foi encaminhada ao Painel do Leitor e seguramente será publicada”), o jornal parece não ter considerado relevante minha argumentação. A carta não saiu no Painel do Leitor e a ombudsman nem se deu ao trabalho de responder as mensagens que lhe enviei.

Apresentei à Folha de S. Paulo diversas evidências de que a autoria da frase é de Carlito Maia e que caberia ao publicitário Paulo de Tarso demonstrar que teve antes a ideia. A expressão se tornou pública em nota que saiu na coluna de Zózimo do Amaral em dezembro de 1988. Esta e todas outras notas que encontrei publicadas na imprensa ao longo da campanha eleitoral de 1989 seguem logo abaixo para que se possa montar uma linha do tempo. Em anexo, mando facsímilie das colunas “Tenho Dito”, publicadas na Gazeta de Pinheiros. Amanhã cedo, pedirei ao Centro de Documentação do Jornal do Brasil cópia da coluna do Zózimo. As notas da Folha de S. Paulo podem ser verificadas no sítio virtual do jornal.

A colunista Mônica Bergamo insiste que não há documentos para provar a autoria da frase. Os jornais da época seriam o que, então? Obras de ficção? Como ela se apega às declarações de suas fontes, procurei algumas pessoas ouvidas pelo jornal.

O vereador José Américo Dias (PT-SP), que coordenou a comunicação de rádio e de TV da campanha eleitoral de 1989, reconhece que não havia estrutura alguma montada em 1988. Aguardo nota que ele se comprometeu a me enviar com data aproximada da primeira vez que ouviu a expressão “Lula lá” (o vereador é uma das fontes ouvidas pela Folha de S. Paulo que referendaram a versão de que a ideia seria de Paulo de Tarso).

O compositor Hilton Acioli diz que recebeu a frase das mãos do publicitário Paulo de Tarso entre o final de janeiro e começo de fevereiro de 1989 num encontro de publicitários realizado em Cajamar. Ainda não localizei nenhuma referência a essa reunião. De qualquer modo, ela é bem posterior à nota publicada no Jornal do Brasil. Acioli não se lembra exatamente quando entregou as duas versões da música (um samba e a composição consagrada na campanha) aos coordenadores da campanha. Garante, no entanto, que é fantasiosa a versão apresentada no livro “Notícias do Planalto”, do jornalista Mário Sergio Conti, que relata ligações telefônicas de madrugada (telefonemas que nunca existiram, afiança Acioli).

O livro de Conti, publicado no final de 1999, parece ser o primeiro momento em que o publicitário Paulo de Tarso assume publicamente a autoria do “Lula lá”. Vem dessa época a estranha versão de uma ideia surgida simultaneamente na cabeça de dois publicitários. Essa história foi repetida no livro “Partido dos Trabalhadores – Trajetórias”, editado em 2000 pela Fundação Perseu Abramo. Na época, procurei Zilah Abramo para que a fundação corrigisse o erro. Nada foi feito.

Recorro agora a você para que essa história seja passada a limpo definitivamente. Seu testemunho pode ajudar a esclarecer alguns pontos obscuros dessa história. É espantoso, por exemplo, que o publicitário Paulo de Tarso não tenha procurado a Folha de S. Paulo ainda em 1989, caso as notas publicadas pelo Painel estivessem atribuindo à pessoa errada a criação do “Lula lá”. Gostaria muito que você fizesse um esforço de memória para tentar identificar a data em que os jingles foram apresentados aos coordenadores da campanha eleitoral. Se foi em fins de maio ou começo de junho, como sugere a nota publicada pela Folha de S. Paulo a 3 de junho, como o publicitário Paulo deTarso explicaria a nota de 16 de abril, quando a campanha não contava com canção alguma? Será que Paulo de Tarso não lia a Folha de S. Paulo? O Jornal do Brasil, pelo visto, não fazia parte de seus hábitos de leitura.

Desde já, grato pela atenção.

Maurício Maia

Dia 7/12/1988:
Jornal do Brasil, Caderno B, Coluna de Zózimo Barrozo do Amaral:
“Carlito Maia, filósofo popular de São Paulo, faz tanta fé no PT que acaba de criar um slogan para a campanha de Luiz Inácio da Silva à presidência da República. Lula lá. Parece canção de ninar”.

Dia 5/2/1989:
Gazeta de Pinheiros, coluna Tenho Dito, de Carlito Maia:
“(…) Logo mais teremos Lula lá e PT saudações. A continuação da virada…”

Dia 16/4/1989:
Folha de S. Paulo, Painel, p. A4:
“O publicitário Carlito Maia está tentando convencer Rita Lee a fazer um rock para a campanha de Lula, baseada no slogan que criou – Lula lá”

Dia 1º/5/1989:
Folha de S. Paulo, Painel do Leitor, p. A3:
[carta do leitor Sidney Lopes, provavelmente enviada em reação à nota do dia 16 de abril]
“Lula lá nunca, se Deus quiser”.

Dia 7/5/1989:
Gazeta de Pinheiros, coluna Tenho Dito, de Carlito Maia:
“(…) Então – Lula lá!”

Dia 3/6/1989:
Folha de S. Paulo, Painel, p. A4:
“Lula-lá – O compositor Hilton Accioly, autor da música ‘Disparada’ com Geraldo Vandré, fez duas versões para o jingle de campanha de Lula, a partir do slogan criado pelo publicitário Carlito Maia”.

Dia 21/3/2011:

Folha de S. Paulo, p.E2

LULA LÁ 1

Quem é o verdadeiro autor do “Lula Lá”, que embalou as campanhas presidenciais de Lula nas últimas décadas? Mais de 20 anos depois da eleição de 1989, Tereza Rodrigues, viúva do publicitário Carlito Maia, insiste em dizer que saiu da cabeça de seu marido. Tereza escreveu à coluna para protestar por causa de um texto em que a criação do “Lula lá” foi atribuída ao publicitário paulista Paulo de Tarso Santos.

Folha de S. Paulo, 21/3/2001, p. E2

LULA LÁ 2

Já Paulo de Tarso diz que teve a ideia num encontro do PT. Escreveu a frase num papel e a mostrou para o compositor Hilton Acioli. “Ele sacou que a frase era musical e a usou no jingle. A razão da frase é a musicalidade”, diz. “Admito que o Carlito Maia possa ter tido essa ideia ao mesmo tempo que eu, mas isso nunca chegou a nós durante o desenvolvimento do trabalho”. Testemunhas que coordenaram e participaram da campanha confirmam a versão de Tarso.

Enviada em: segunda-feira, 21 de março de 2011 12:52
Para: Monica Bergamo
Assunto: Lula lá

Prezada sra. Mônica Bergamo,

Sou filho de Carlito Maia e há anos venho me batendo contra a versão farsesca da autoria do “Lula lá”. Como o tema voltou à sua coluna, na edição de hoje, aproveito para demonstrar que o publicitário Paulo de Tarso mente quando diz que a ideia foi dele. Trata-se de simples cronologia. A expressão veio a público em nota que apareceu na coluna de Zózimo Barroso ainda em dezembro de 1988. A estrutura publicitária da campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva só foi montada em meados de 1989, conforme depoimento de vários participantes daquela disputa eleitoral. Sugiro contato com o compositor Hilton Acioli para confirmar quando ele recebeu a sugestão do “Lula lá”.
Reproduzo abaixo o texto que publicamos no sítio virtual em homenagem a Carlito Maia que, depois de morto, tem sido bombardeado com acusações de ter plagiado suas próprias ideias (o “Lula lá” é apenas um caso, há quem tem a cara de pa u de dizer que não era dele a criação da “Jovem Guarda” de Roberto Carlos e cia.).
Duvido que o sr. Tarso tenha prova material de ter se encontrado com o compositor Acioli ainda em 1988 – ou antes de maio de 1989.
Atenciosamente,

Maurício Maia

http://www.carlitomaia.etc.br/home.html

A participação política foi um dever de cidadania para Carlito Maia, traduzida de diversas maneiras: escrevendo cartas indignadas para jornais, colaborando na criação das campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores, principalmente nas disputas de Eduardo Suplicy e com a parceria de companheiros de longa data, como Erazê Martinho. Também emprestava seu nome para manifestos políticos e movimentos sociais. O Movimento dos Sem-Terra foi ardorosamente defendido por ele.

Em 1983, criou o Tribunal Tiradentes, que julgou e condenou a Lei de Segurança Nacional. Também instituiu um prêmio simbólico para personalidades que se destacassem na luta pela Paz, pela Justiça e pela Liberdade. Os vencedores seriam aqueles que, na opinião de 1.062 amigos de Carlito (muitos dos quais ele sequer conhecia pessoalmente), fossem os mais votados pelo que fizeram ao longo de 1981. A premiação, que consistia apenas no anúncio dos vencedores e nada mais, seria feita em 1o de janeiro de 1982, Dia da Confraternização Universal. O Prêmio Mahatma Ghandi da Paz foi concedido a Dom Paulo Evaristo Arns, que recebeu 366 votos; o Prêmio Bertrand Russell da Justiça foi dado ao advogado Heráclito Sobral Pinto (que obteve 297 indicações); e, por fim, o pensador Alceu Amoroso Lima foi o vencedor do Prêmio Charles Chaplin da Liberdade, com 314 votos.

Duas das maiores criações de Carlito, no entanto, foram feitas para o PT: “optei” e “Lula lá”. Houve quem quisesse dividir a paternidade do “Lula lá”, mas registros jornalísticos não deixam dúvida de quem foi o criador da expressão que consagrou as campanhas eleitorais de Lula para a presidência da República. O publicitário Paulo de Tarso Santos, por duas vezes (em entrevistas publicadas nos livros “Notícias do Planalto” e “Partido dos Trabalhadores – Trajetórias”), insistiu em dizer que também era autor do “Lula lá”. Na lembrança de Paulo de Tarso, “Lula lá” teria surgido nas primeiras reuniões da equipe de criação da campanha de TV do candidato
petista (ocorridas provavelmente em meados do primeiro semestre de 1989). Mas a expressão já havia sido cunhada por Carlito muito antes do processo eleitoral. A referência mais remota aparece em nota publicada no Jornal do Brasil, a 7 de dezembro d e 1988:

“Carlito Maia, filósofo popular de São Paulo, faz tanta fé no PT que acaba de criar um slogan para a campanha de Luis Inácio da Silva à presidência da República. Lula lá. Parece canção de ninar”

Ao contrário do que supunha o jornal carioca, o mote tornou-se um dos mais belos jingles das campanhas políticas com a música de Hilton Acioli. Carlito era um entusiasta propagador da idéia, como mostra sua coluna “Tenho Dito”, da Gazeta de Pinheiros. Na edição de 5 de fevereiro de 1989, ele escrevia:

“Brasil: vote-o ou fique-o! Logo mais teremos Lula lá e PT saudações. A continuação da virada…”. Três meses depois, em 7 de maio, arrematava assim seu texto dirigido aos eleitores de 16 anos: “Então, Lula lá!”.

Em 21/03/2011 13:07, Monica Bergamo escreveu:

Olá, Mauricio, tudo bem?

Agradeço a sua mensagem.

Na nota que publicamos, o Paulo de Tarso não acusa o Carlito de plágio. Ele diz inclusive que admite que o Carlito possa ter tido a ideia do Lula lá.

Mas diz que também não pode ser acusado de plágio pois não sabia, nunca tinha ouvido ou lido nada a respeito.

Procuramos registrar a posição da família sem deixar de dar voz ao publicitário, que nos deu a explicação agora publicada.

Um grande abraço, muito obrigada

Mônica

Enviada em: segunda-feira, 21 de março de 2011 21:59
Para: Monica Bergamo
Assunto: RE: RES: Lula lá

Prezada Mônica,

Curiosa essa situação. Apresentei-lhe dois registros jornalísticos – públicos, portanto – da expressão “Lula lá”. Um deles, por sinal, impresso numa das colunas mais lidas da imprensa brasileira de então, publicada por Zózimo Barrozo do Amaral no Jornal do Brasil. Ambos são bem anteriores às primeiras reuniões da campanha publicitária do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Na nota publicada hoje, a última palavra ficou com o sr. Paulo de Tarso e sua equipe de campanha. Ponto para o jornalismo declaratório e azar da apuração da verdade fática.
Caso sua coluna não volte ao caso, enviarei carta ao Painel do Leitor. É sempre bom que os leitores da Folha de S. Paulo não sejam ludibriados com apurações incompletas.
Atenciosamente,

Maurício Maia

Enviada em: terça-feira, 22 de março de 2011 11:11
Para: leitor@uol.com.br; Monica Bergamo; Ombudsman Folha de S.Paulo
Assunto: Lula lá: quando a Folha errou?

Prezados senhores,

Na edição de ontem, 21 de março, a colunista Mônica Bergamo voltou a insistir que o publicitário Paulo de Tarso é autor do slogan “Lula lá”, um dos fatos mais marcantes da campanha eleitoral de 1989. Ou a Folha de S. Paulo erra agora ou errou em sua edição de 3 de junho de 1989, quando publicou nota no Painel em que atribui a autoria do “Lula lá” a Carlito Maia, meu pai (FSP, 3/6/1989, p. A4).
Ontem mesmo, enviei à colunista da Ilustrada outros elementos que provam que o publicitário Paulo de Tarso tenta de apropriar de criação alheia. Em dezembro de 1988, o Jornal do Brasil publicou na coluna do Zózimo nota em que dizia: “Carlito Maia, filósofo popular de São Paulo, faz tanta fé no PT que acaba de criar um slogan para a campanha de Luis Inácio da Silva à presidência da República. Lula lá. Parece canção de ninar”.
Não bastasse essa prova pública de autoria, que circulou numa das colunas mais lidas do jornalismo brasileiro dos anos 80, Carlito Maia ainda voltou ao tema em sua coluna no jornal Gazeta de Pinheiros a 5 de fevereiro de 1989 (“Brasil: vote-o ou fique-o! Logo mais teremos Lula lá e PT saudações. A continuação da virada…”) e a 7 de maio (“Então, Lula lá!”).
A colunista Mônica Bergamo não é a primeira pessoa a dar crédito à versão mentirosa do publicitário Paulo de Tarso. O jornalista Mario Sérgio Conti, em seu livro “Notícias do Planalto” (lançado em 1999) deu crédito à fantasia de Paulo de Tarso. O livro “Partido dos Trabalhadores – Trajetórias” repete o erro. Nas duas vezes, a autoria de “Lula lá” é atribuída tanto a Carlito Maia como a Paulo de Tarso. Este último, em concessão generosa, admite que a ideia possa ter saído de duas cabeças ao mesmo tempo. O caso é de dar inveja à polêmica entre os irmãos Wright e Santos Dumont. Cabe a ele, portanto, provar que se encontrou com o compositor Hilton Acioli em dezembro de 1988 ou, então, explicar porque não protestou quando a Folha de S. Paulo publicou a nota de junho de 1989.
Não custa lembrar que a fantasiosa versão de simultânea autoria do “Lula lá” só começou a circular depois que Carlito Maia não podia se defender. Vítima de doença neurológica, deixou de publicar cartas e protestos desde 1999. Desde então venho tentando devolver a Carlito o que é de Carlito.
Como a colunista Mônica Bergamo optou pelo jornalismo declaratório (“checando” sua informação com “testemunhas que coordenaram e participaram da campanha [de Lula]” e que “confirmam a versão de Tarso”), rogo a publicação desta carta para que os leitores da Folha de S. Paulo tenham acesso a informações documentais que derrubam a farsa do publicitário Paulo de Tarso.
Em tempo: um dos maiores orgulhos que tenho de meu pai é que ele nunca ganhou um centavo por algumas de suas maiores criações publicitárias (como, por exemplo, “Optei” e “Lula lá”).
Atenciosamente,

Maurício Maia

Em 22/03/2011 20:36, Monica Bergamo escreveu:

Maurício,

Tudo bem?

Como eu já disse a você num outro e-mail, diante da acusação que a família de Carlito Maia faz ao Paulo de Tarso de que ele plagiou o slogan, nós o procuramos para que falasse a respeito.

Ele disse que teve a ideia e que, até então, nunca tinha ouvido falar que Carlito criara frase idêntica, nem lera nada a respeito.

Ele diz que nunca leu esta nota que você cita do Jornal do Brasil, publicada, segundo você, muito antes da campanha.

Nós registramos tanto as afirmações da família quanto a do publicitário.

Hilton Acioli, citado por você, também foi procurado por nós, entre outros que participaram daquela campanha.

Ele diz que recebeu a frase do Paulo de Tarso.

Diz que depois disso teve alguns encontros com Carlito Maia e que Carlito Maia nunca reivindicou a autoria da frase.

Hilton Acioli me contou que certa vez, num comício, Carlito Maia chegou a perguntar a ele: “Quem te passou essa frase?”

Acioli respondeu: “O Paulo de Tarso”. Carlito mais uma vez nada disse sobre ser o autor do slogan, segundo Acioli. Comentou apenas que a canção só poderia ser coisa “de um petista apaixonado”.

Acioli explicou a ele então que não era petista.

E nada mais, segundo ele, foi dito.

Enviado: terça-feira, 22 de março de 2011 21:34
Para: Monica Bergamo
Assunto: Re: RES: Lula lá: quando a Folha errou?

Prezada Mônica,

São surpreendentes as declarações que você relata quando cotejadas com o material publicado na imprensa em 1989. Só hoje tive acesso à nota publicada no Painel da Folha de São Paulo que trata justamente da autoria da frase e das duas versões da composição musical de Acioli.
Caso não tenha recebido cópia da carta que encaminhei ao Painel do Leitor, transcrevo a nota – que você pode acessar no banco de dados que a Folha de S. Paulo gentilmente colocou à disposição dos leitores. Trata-se de ferramenta fundamental para evitar os riscos de memórias construídas.
Se quiser, posso lhe mandar também cópia fac-similar da nota publicada por Zózimo.
São provas incontestáveis de autoria e mostram que a criação musical de Acioli é de junho de 1989, quando a criação de Carlito Maia já havia sido publicada em dezembro de 1988 no Jornal do Brasil.
Não se trata de guerra de versões. A frase é de Carlito Maia. O resto é invencionice.
Faço questão que o jornal publique esses dados, essenciais para que os leitores do jornal saibam de que lado está a verdade. Suas notas de segunda-feira, por sinal, têm um viés claramente favorável ao publicitário Paulo de Tarso, quando trata da “insistência” da viúva e de que integrantes da campanha confirmam a versão do publicitário Paulo de Tarso.
Resta à Folha de S. Paulo dizer a seus leitores se errou em 1989 ou se erra em 2011.
Grato pela atenção.

Maurício Maia

Painel – FSP, 3 de junho de 1989

Lula-lá

O compositor Hilton Accioly, autor da música “Disparada” com Geraldo Vandré, fez duas versões para o jingle de campanha de Lula, a partir do slogan criado pelo publicitário Carlito Maia.

Em 22/03/2011 23:03, Monica Bergamo escreveu:

Maurício,

Sua carta foi encaminhada ao Painel do Leitor e seguramente será publicada.

Sobre a apuração da coluna, eu quero apenas lhe dizer que não foi feita em cima apenas de declarações do Paulo de Tarso, mas sim de apuração com outras fontes.

Em nenhum momento dissemos que a frase não é do Carlito Maia.

Relatamos que a família, vinte anos depois, insiste, e é fato, em dizer que ela é dele.

E que o publicitário Paulo de Tarso admite que Carlito Maia possa ter tido a ideia.

Ninguém desmente a família.

Mas Paulo de Tarso afirma que teve a mesma ideia e que não sabia que Carlito Maia também tinha tido.

O fato de uma nota ter sido publicada no JB não prova que ele sabia.

Ele diz que não leu a nota do JB, que não sabia de nada.

Qual é a prova de que ele leu, sabia e copiou:

Outras fontes, da coordenação da campanha, dão o crédito ao Paulo de Tarso. Não se referem a nota no JB nem a informações anteriores de que o slogan é do Carlito Maia, embora não coloquem em dúvida a palavra da família.

Você citou o compositor Acioli e por isso eu relatei na mensagem anterior o que ele disse à Folha.

Um abraço, obrigada

Mônica

Enviada em: quarta-feira, 23 de março de 2011 09:49
Para: Monica Bergamo
Assunto: Re: RES: RES: Lula lá: quando a Folha errou?

Prezada Mônica,

Volto, então, ao ponto mais surpreendente dessa história. Até agora, você não relatou em momento algum a nota que encontrei ontem, publicada no Painel a 3 de junho de 1989. A clareza da nota é meridiana (repito: “Lula-lá: O compositor Hilton Accioly, autor da música”Disparada” com Geraldo Vandré, fez duas versões para o jingle de campanha de Lula, a partir do slogan criado pelo publicitário Carlito Maia”). Ou vocês me dizem que essa nota estava errada, ou houve um problema sério de apuração em sua nota publicada na última segunda-feira.
O publicitário Paulo de Tarso primeiro diz ser criador da frase “Lula lá” (apropriando-se decriação de Carlito Maia) e agora diz “que não sabia” da ideia de Carlito Maia (toma de empréstimo a famosa frase do Lula presidente?). Convenhamos, é muita cara de paulo (estou tomando de empréstimo frase de meu pai quando se referia a Paulo Maluf).
Volto a insistir: há um problema técnico em sua apuração, apoiada em declarações que se chocam com farto material publicado entre 1988 e 1989. Caso Acioli negue a nota publicada pela Folha de S. Paulo em junho de 1989, é razoável que o jornal comunique a seus leitores que errou naquele momento.
Continuo aguardando a publicação da carta que enviei ao jornal. Gostaria, no entanto, que sua coluna se manifestasse sobre todas as evidências que lhe mandei desde segunda-feira.
A nota na coluna do Zózimo, publicada em 1988, pode não provar que o publicitário Paulo de Tarso fosse leitor habitual do JB, mas prova que a ideia é de Carlito Maia, da qual nenhum aventureiro tem o direito de lançar mão.
Quando houve a polêmica entre os irmãos Wright e Santos Dumont, um oceano separava os inventores da aviação. A disputa pela autoria do “Lula lá” se dá n um universo infinitamente menor e todas as evidências da época que recolhi até agora mostram como é difícil acreditar na coincidência có smica da mesmíssima ideia ter surgido simultaneamente na cabeça de duas pessoas distintas.
Repito: o publicitário Paulo de Tarso assumiu a “paternidade” do “Lula lá” publicamente apenas em 1999, na entrevista a Mário Sérgio Conti, quando meu pai já estava seriamente comprometido por problemas neurológicos.
Como diria meu pai, continuo aguardando.
Atenciosamente,

Maurício Maia

Em 23/03/2011 12:30, Monica Bergamo escreveu:

Maurício,

Eu não posso responder pela nota de 1989. Não apurei, não sei como foi feita.

Mas sei como a Folha funciona.

Certamente o jornalista que assinava a coluna naquele momento ouviu a história de uma fonte fidedigna, ou não teria publicado.

Ele fez a nota baseado na declaração que alguém deu a ele. Confiou e publicou.

Não tinha como ser de outra forma. Não há documentos para provar nada. Só testemunhos, ou seja, declarações.

E eu fiz a minha nota baseada em declarações da família, do Paulo de Tarso e de coordenadores e participantes daquela campanha.

Em nenhum momento a minha nota desmente a nota de 1989.

Em nenhum momento diz que Carlito Maia não teve aquela ideia.

Diz, isso sim, que a família insiste em dizer que a ideia foi dele e que o Paulo de Tarso admite que isso pode ter acontecido.

Mas que não sabia. E sustenta que teve a ideia do “Lula lá” de sua própria cabeça e a levou para a campanha.

Você acha que o Paulo de Tarso é farsesco, é mentiroso, é aventureiro e etc.

É um direito seu.

Eu, como jornalista, não posso entrar nesse julgamento subjetivo.

Um abraço, muito obrigada

Mônica

Para: Monica Bergamo ,ombudsman@uol.com.br
Assunto: Re: RES: RES: RES: Lula lá: quando a Folha errou?
Enviada: 24/03/2011 08:45

Prezada Mônica,

Você há de concordar que a nota publicada pela Folha de S. Paulo a 3 de junho de 1989, atribuindo a autoria do mote “Lula lá” a Carlito Maia, prova que foi em meados do ano que o compositor Hilton Acioli fez o jingle da campanha de Lula. Se você consultar todas as suas fontes, creio que nenhuma deixará de confirmar ter sido nessa época que Acioli fez sua composição.
O publicitário Paulo de Tarso pode não ter lido a coluna de Zózimo, que na edição de 7 de dezembro de 1988 publicou a nota “Carlito Maia , filósofo popular de São Paulo, faz tanta fé no PT que acaba de criar um slogan para a campanha de Luis Inácio da Silva à presidência da República. Lula lá. Parece canção de ninar”. Muito menos as duas edições da Gazeta de Pinheiros em que “Lula lá” aparecia na coluna “Tenho Dito”, de Carlito Maia (dias 5/2/1989 e 7/5/1989).
Encontrei hoje, no entanto, outra nota publicada na seção Painel, da editoria de política da Folha de S. Paulo, que torna evidente que a criação do “Lula lá” é exclusivamente de Carlito Maia. Publicada a 16 de abril, no mesmo Painel (página A-4), a nota relata: “O publicitário Carlito Maia está tentando convencer Rita Lee a fazer um rock para a campanha de Lula, baseada no slogan que criou – Lula lá”. Será que Paulo de Tarso também não era leitor da Folha de S. Paulo?
Essa última evidência mostra que, antes mesmo da entrada em cena de Acioli, “Lula lá” já circulava publicamente em São Paulo, a ponto de causar reações indignadas entre aqueles que tinham aversão ao PT, como o leitor Sidney Lopes, que teve sua carta publicada no Painel do Leitor a 1º de maio de 1989 (“Lula lá nunca, se Deus quiser” – p. A-3).
Em respeito à cronologia dos fatos, rogo mais uma vez que você repare o erro cometido em sua coluna na última segunda-feira. A autoria de “Lula lá” é única e exclusivamente de Carlito Maia.
Desculpe-me a insistência. Não há subjetividade alguma nos elementos que lhe apresento.
Leitor voraz, meu pai costumava distribuir aos amigos os belos textos que encontrava pela frente. Fazia questão de colocar em destaque as fontes de onde retirava tudo o que compartilhava entre os seus. O respeito ao direito autoral é um dos mais importantes fundamentos da civilização moderna.

Maurício Maia

Para: ombudsman@uol.com.br
Assunto: Fwd: RES: RES: RES: Lula lá: quando a Folha errou?
Enviada: 25/03/2011 12:28

Prezada ombudsman,

Desde segunda-feira aguardo publicação de carta que enviei ao jornal para corrigir erro publicado na coluna de Mônica Bergamo. Até ontem, mantive esperança que a colunista reparasse o erro diante da várias mensagens que trocamos desde então. Hoje, tenho certeza que ela não pretende voltar ao assunto. Pelo visto, o Painel do Leitor também não se interessou por minha carta (que a colunista Mônica Bergamo disse que “seguramente” seria publicada).
Pois bem. Minha última esperança é que a representante dos leitores trate do assunto em sua coluna dominical. O jornal Folha de S. Paulo sempre foi muito cioso em questões de direitos autorais (vide a polêmica que resultou no desligamento de professor da USP que plagiou trabalho alheio).
Como lhe enderecei toda a minha argumentação relativa ao episódio da criação do “Lula lá”, não vou esmiuçar todos os pontos que apresentei. Só quero voltar a uma questão, fundamenta l no meu entendimento.
A colunista Mônica Bergamo insiste em dizer que a história se encerra em versões distintas e que não há “documentos” para provar ter sido de Carlito Maia a autoria da frase.
Pois bem, a cronologia mostra que meu pai teve a ideia em dezembro de 1988, quando foi tornada pública na coluna de Zózimo do Amaral. Voltou à ela, publicamente, em outras tantas oportunidades ao longo de 1989. Como a representantes dos leitores pode verificar no acervo da Folha de S. Paulo, o publicitário Paulo de Tarso não rebateu em 1989 nenhuma das notas publicadas sobre o “Lula lá”, nas quais a autoria era atribuída a Carlito Maia. Muito menos apresentou qualquer evidência que tenha dado publicidade à “sua” ideia.
Se essa documentação não é suficientemente sólida, estamos definitivamente diante do fim da História.
Aguardo sua manifestação pública sobre esse episódio. Por mais que a colunista Mônica Bergamo negue, estamos numa encruzilhada: ou a Folha de S. Paulo errou em 1989 ou erra agora.

Maurício Maia

POLÍTICA - Dilma com as artistas mulheres.

Enviado por luisnassif

Folha de S.Paulo - Mônica Bergamo - 28/03/2011

A atriz Glória Pires, Dilma Rousseff e a diretora Anna Muylaert no Palácio da Alvorada

Cercada pelas cineastas que queriam entregar a ela DVDs de seus trabalhos, tirar fotos e pedir autógrafos, a presidente Dilma Rousseff tentava escapar do cerco das seis jornalistas que, também convidadas para uma sessão de cinema no Palácio da Alvorada, na noite de sexta, tentavam arrancar dela alguma revelação. "Por que o ex-presidente Lula recusou o convite da senhora para almoçar com o [presidente americano] Barack Obama?", perguntou a Folha.


Dilma segura no ombro da colunista e afirma, com sotaque mineiro: "Ô, gente, não aposta nisso [referindo-se à possibilidade de um desentendimento com Lula]. Cês vão perder... Cê sabe pra onde que eu vou [no dia 30]? Eu vou para Portugal com o Lula, gente". E o voto do Brasil contra o Irã na ONU? "Essa aqui tá querendo discutir o Irã!", dizia Dilma, desviando-se das perguntas.


A cineasta Flávia Moraes diz a Dilma que não votou nela "por causa do Lula. Eu não gosto dele. Mas estou gostando muito da senhora. Parabéns, principalmente pela posição nos direitos humanos". Dilma sorri. Outra diretora, Ana Maria Magalhães, diz que tem um amigo "muito reacionário" que também está adorando o governo de Dilma. "Eu até penso: o que está acontecendo de errado?", brinca Ana. "Sabe que até eu às vezes me pergunto? O que será que eu estou fazendo de errado?", diz a presidente, rindo.


A cineasta Bia Lessa, uma das vinte cineastas convidadas para a noite de cinema, se aproxima. Pede um autógrafo "para a minha filha". A atriz Glória Pires, estrela do filme exibido por Dilma naquela noite, "É Proibido Fumar", da diretora Anna Luiza Muylaert, também pede um autógrafo. "É para quem, Glória?" "Para mim!", diz a atriz. "Glória Maravilha, que encanta as nossas vidas!", escreve Dilma numa folha de papel. Lucélia Santos apela à presidente para que a ajude a encontrar nos palácios de Brasília um vaso do Dalai Lama que deu a Lula. "Eu queria saber onde ele está."

O jantar -robalo ao molho de azeitonas, costelinha de cordeiro, filé mignon ao molho de shitake, salada, vinho Valduga e espumante -ainda estava sendo servido mas as cineastas rodeavam a presidente, que saltava de mesa em mesa para conversar.

"E quem vai ser o novo presidente da Vale?", arriscava uma repórter. "Eu não sei", dizia Dilma. A conversa voltava a girar em torno de amenidades. "Eu parei de fumar em setembro de 1989. Depois disso comecei a nadar, nadar, nadar. Até hoje eu sonho que estou fumando", dizia a presidente. Aceita uma cigarrilha "socialmente", mas não chega perto de cigarro. "O pecado, se você chega perto dele, você peca." Acorda cedo, "às 6 horas, não importa a hora em que vou dormir". Parou com a natação e hoje só faz caminhadas. "Mas engordei. Tô comendo mais."


Elas começam a falar de plástica. "Vocês sabem que eu fiz uma plástica, né? Mas tem três lugares que não tem jeito: aqui [aponta o pescoço], nos lábios e nas mãos."


A presidente diz que ganhou a coleção de longas financiados pela Petrobras. "Eu vejo para dormir." Risos. Dilma corrige: "Não, não é que eu durmo no filme. Eu não durmo! Mas, pra tirar as coisas que eu tenho na cabeça o dia inteiro, eu leio ou eu vejo um filme." Cita longas de que gostou: "Vidas Secas", "A Hora e a Vez de Augusto Matraga".

Diz que considera o cinema brasileiro "uma das coisas mais importantes" e que teve a ideia de convidar só diretoras porque março é o mês da mulher. "A eleição de uma mulher não é algo trivial. Eu não vou fazer um governo só para as mulheres. Mas, nesse período, a mulher tem que ser muito afirmada."

Perto da meia-noite, ela serve café e licor às convidadas. Toma um cálice de Frangelico. Diz que vai disponibilizar o Alvorada outras vezes para encontros semelhantes. "Eu vou abrir esse espaço sempre que vocês quiserem, e quando vocês quiserem." Quase todas dizem que desejam voltar.

LÍBIA - Quem mexe (u) os peões do xadrez líbio?

Por Alarcon


Peter Dale Scott | Who are the Libyan Freedom Fighters and Their Patrons?
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The Asia-Pacific Journal Vol 9, Issue 13 No 3, March 28, 2011
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QUEM SÃO OS "COMBATENTES DA LIBERDADE" DA LÍBIA E SEUS PATRONOS?

PARTE 01 - A OPOSIÇÃO LÍBIA | "As Crianças' e 'O Facebook"?




Notas de Peter Dale Scott sobre a Líbia
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Prefácio

O mundo está enfrentando uma situação bastante imprevisível e potencialmente perigosa no Norte da África e no Oriente Médio.

O que começou como uma memorável, promissora e relativamente não-violenta conquista da Nova Política - as Revoluções na Tunísia e Egito - se metamorfoseou muito rapidamente em um recrudescimento de velhos hábitos: os Estados Unidos da América, já atolados em duas guerras de duas décadas no Iraque e no Afeganistão, além de esporádicos ataques aéreos no Iêmen e na Somália, agora bombardeia mais outro país do Terceiro Mundo, neste caso a Líbia.


USS Barry lança um míssil Tomahawk em apoio à Operação Odisséia Alvorada no Mar Mediterrâneo, 19 de março de 2011. Comunicado do Governo dos EUA

O objetivo inicialmente declarado desse bombardeio foi o de reduzir as baixas entre civis líbios.

Mas muitas figuras importantes em Washington, incluindo o presidente Barack Obama, têm indicado que os EUA estão se preparando para uma guerra completamente diferente, para mudar o regime, que pode muito bem ser prolongada e pode facilmente se expandir para além da Líbia (1).

Se ela se expande, a esperança de uma transição pacífica para um governo civil na Tunísia e no Egito e em outras nações do Oriente Médio experimentando instabilidade política, pode se perder frente a um militarização linha-dura do governo, especialmente no Egito.

Todos nós, não apenas egípcios, temos um grande interesse em garantir que isso não aconteça.

O presente artigo não pretende propor soluções ou um plano de ação seja para os Estados Unidos e seus aliados, seja para o povo do Oriente Médio. Tenta, por outro lado, examinar a natureza das forças que vêm emergindo na Líbia nas últimas quatro décadas e que estão atuando no presente.

Para este fim, comecei a compilar o que eu chamo de meu Livro de Notas sobre a Líbia, uma coleção de fatos relevantes que permeiam a crise atual.

São anotações críticas, voltadas para a coleta de fatos que a mídia dos EUA tende a ignorar.

Fatos que são o produto de muitas instâncias de jornalismo investigativo que vão ao coração das relações de poder, estruturas profundas e interesses econômicos na região, incluindo os EUA, Israel e os Estados Árabes e como estes vêm atuando nas últimas duas décadas e mais.

Mas espero o presente seja de uma utilidade objetiva porém aberta, permitindo que outros possam tirar conclusões diferentes de um mesmo conjunto de fatos (2).

Gostaria de começar por dois temas mal-entendidos:

I. Quem é a oposição na Líbia? (este artigo), e
II. De onde estão vindo as armas dos rebelde da Líbia? (clique para link - inglês)
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I. Quem é a oposição na Líbia

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1) Historicamente:

"Se Muamar Al Kadhafi teve um comportamento paranoico, foi por uma boa razão. Não foi muito depois de completar 27 anos de idade e liderar um pequeno grupo de jovens oficiais militares em um golpe-de-estado contra o Rei Ídris da Líbia em 1º de setembro de 1969, que as ameaças ao seu poder e contra sua vida emergiram - desde monarquistas, passando pelo Mossad israelense, desafetos palestinos, forças de segurança sauditas, a Frente Nacional de Salvação da Líbia (NFSL), a Conferência Nacional para a Oposição Líbia (NCLO), a inteligência britânica, o antagonismo dos Estados Unidos e, em 1995, a mais grave de todas, uma espécie de Al -Qaeda como Grupo Combatente Islâmico Líbio conhecido como Al-Jama'a al-Islamiya al-Muqatilah bi-Líbia. O Coronel reagiu brutalmente, ou expulsando ou matando aqueles que ele temia o ameaçarem."(3)

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Kadafi e Nasser em uma foto de 1969. Getty

2) Frente Nacional de Salvação da Líbia (NFSL)

"Com o objetivo de derrubar o homem forte da Líbia Muamar Khadafi, Israel e os EUA treinaram rebeldes anti-Líbia em vários países da África Ocidental e Central. O boletim African Confidential, sediado em Paris, reportou em 05 de janeiro de 1989, que os EUA e Israel haviam montado uma série de bases no Chade e noutros países vizinhos para treinar 2.000 rebeldes líbios capturados pelo exército do Chade. O grupo, chamado 'A Frente Nacional para a Salvação da Líbia', foi baseado no Chade."(4)

"Registros oficiais dos EUA indicam que o financiamento da guerra secreta contra a Líbia, baseada no Chade, vinha também de Arábia Saudita, Egito, Marrocos, Israel e Iraque. Os sauditas, por exemplo, doaram $7 milhões a um grupo de oposição, a Frente Nacional de Salvação da Líbia (também apoiada pela inteligência francesa e a CIA). Mas um plano para assassinar Khadafi e assumir o governo em 8 de maio de 1984 foi esmagado.

No ano seguinte, os EUA pediram ao Egito que invadisse a Líbia e derrubasse Khadafi, mas o Presidente Mubarak recusou. No final de 1985, o Washington Post expôs o plano depois que líderes no Congresso que se opuseram escreveram em protesto ao Presidente Reagan."(5)

"A FNSL [Frente Nacional de Salvação da Líbia] foi parte da Conferência Nacional para a oposição da Líbia, realizada em Londres em 2005, e os recursos britânicos estão sendo utilizados para apoiar a FNSL e outras "oposições" na Líbia... A FNSL realizou o seu Congresso Nacional nos EUA em julho de 2007. Relatórios de "atrocidades" e mortes de civis estão sendo canalizados para a imprensa ocidental a partir de operações em Washington DC, e as oposições FNSL estão declaradamente organizando a resistência e os ataques militares a partir tanto de fora quanto do próprio território da Líbia."(6)

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3) Conferência Nacional para a Oposição Líbia (NCLO),

"O principal grupo liderando a insurreição é a Conferência Nacional para a Oposição Líbia, que inclui a Frente Nacional de Salvação da Líbia (NFSL). A NFSL, que está liderando a violência, é uma milícia armada patrocinada pelos EUA e composta em sua maior parte por expatriados líbios e tribos de oposição a Kadhafi."(7)

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4) Al-Jama'a al-Islamiyyah al-Muqatilah bi-Libya (Grupo Islâmico Combatente da Líbia, LIFG)

"O LIFG foi fundado em 1995 por um grupo de veteranos mujahideen* que lutou contra a ocupação soviética no Afeganistão. Após o regresso para a Líbia foi crescente sua irritação quanto ao que eles consideravam como a corrupção e a impiedade* do regime líbio e formaram a LIFG para criar um estado que mostraria o que eles acreditavam ser o verdadeiro caráter do povo líbio.

O ataque mais significativo do LIFG foi a tentativa de assassinar Kadafi em 1996, quando membros do LIFG, liderados por Wadi al-Shateh, atiraram uma bomba por baixo da carreata de sua comitiva.

O grupo também organiza ataques de guerrilha contra as forças de segurança do governo a partir de suas bases nas montanhas.

Embora a maioria dos membros LIFG estejam estritamente dedicados à derrubada Kadhafi, relatos da inteligência indicam que alguns têm unido forças com a Al-Qaeda na jihad contra os interesses da Líbia e do Ocidente mundo afora....

Ainda recentemente, em Fevereiro de 2004, o então diretor da CIA, George Tenet, testemunhou perante o Comité de Inteligência do Senado que "uma das ameaças mais imediatas [à segurança dos EUA] é a de grupos extremistas internacionais sunitas menores, que se beneficiaram de ligações com a Al-Qaeda. Eles incluem ... o Grupo Islâmico Combatente da Líbia ".(8)

"Recentemente, autoridades líbias distribuiriam documentos de segurança dando os detalhes sobre Sufiyan al-Koumi, dito ser dirigido por Osama bin Laden, e sobre outro militante supostamente envolvido em um "Emirado Islâmico" em Derna, no agora libertado leste da Líbia.

Koumi, mostram os documentos, foi libertado em setembro de 2010 como parte de uma iniciativa de "arrependimento e recuperação" organizada por Saif al-Islam, filho de Khadafi...

O LIFG, estabelecido no Afeganistão na década de 1990, tem assassinado dezenas de soldados e policiais líbios.

Em 2009, para marcar os 40 anos de Khadafi no poder, pediu desculpas por tentar matá-lo e concordou em depor as armas.

O MI6 [inteligência britânica], foi acusado no passado de apoiá-lo.

Seis líderes do LIFG, ainda na prisão, repudiaram seus velhos costumes e explicaram por que enfrentar Kadafi deixou de representar a jihad "legítima". Abdul-Hakim al-Hasadi, outro membro do LIFG libertado, negou as alegações oficiais. "Khadafi está tentando dividir o povo", disse para a Al-Jazeera. "Ele alega que existe um Emirado Islâmico em Derna e que eu sou seu emir. Ele está se aproveitando do fato de que eu sou um ex-preso político."

Derna é famosa como o lar de onde parte um grande número de suicidas explosivos que atacam no Iraque. Também é profundamente hostil a Kadafi. "Residentes da Líbia ocidental em geral e em Derna, particularmente, enxergam os Gaddadfa (a tribo de Khadafi) como ignorantes, intrusos rudes de uma parte insignificante do país que têm "roubado" o direito de governar na Líbia". Foi o que diplomatas dos EUA relataram ter ouvido em 2008, segundo mensagem divulgada pelo WikiLeaks.

Os últimos 110 membros do LIFG foram libertados em 16 de fevereiro, um dia depois que o levante na Líbia começou.

Um dos libertados, Abdulwahab Mohammed Kayed, é o irmão de Abu Yahya Al Libi, um dos principais propagandistas da Al Qaeda. Koumi fugiu da Líbia e é dito que acabou no Afeganistão trabalhando para Bin Laden. Capturado no Paquistão, ele foi entregue para os EUA e enviado para Guantánamo em 2002. Em 2009 ele foi enviado de volta para a Líbia. (9)

Especialistas em contraterrorismo dos EUA expressaram a preocupação de que a Al-Qaeda poderia tirar proveito de um vácuo político caso Khadafi seja derrubado. Mas a maioria dos analistas dizem que, embora a ideologia dos Islamitas tenha forte ressonância no leste da Líbia, não há sinal de que os protestos serão "sequestrados" por eles (10).


Membros do 'Grupo Combatente Islâmico Líbio' são soltos

"Violentos confrontos entre as forças de segurança [Kadafi] e guerrilheiros islâmicos eclodiu em Benghazi, em setembro de 1995, deixando dezenas de mortos em ambos os lados.

Após semanas de intensos combates, o Grupo Combatente Islâmico Líbio (LIFG) declarou formalmente a sua existência em um comunicado chamando o governo de Khadafi de "um regime apóstata que blasfemou contra a fé do Deus Todo-Poderoso" e declarando que sua derrubada é "o principal dever após a fé em Deus." [3]

Este e comunicados posteriores do LIFG foram emitidos por afegãos líbios que tiveram asilo político concedido na Grã-Bretanha...

O envolvimento do governo britânico na campanha do LIFG contra Kadafi continua a ser objeto de uma imensa controvérsia.

Da grande operação seguinte do LIFG, uma tentativa fracassada de assassinar Kadafi, em fevereiro de 1996, que matou vários de seus seguranças, foi dito posteriormente ter sidofinanciada pela Inteligência Britânica, no montante de $160.000, de acordo com o ex-oficial do MI5 David Shayler. [4] Mesmo com as alegações de Shatler não tendo sido confirmadas independentemente, está claro que a Grã-Bretanha permitiu que o LIFG desenvolvesse uma base de apoio logístico e de arrecadação de fundos em seu território.

De qualquer forma, o financiamento por Bin Laden parece ter sido muito mais importante. De acordo com um relatório, o LIFG teria recebido até $50.000 do cérebro terrorista saudita por cada um dos seus militantes mortos no campo de batalha." [2005] (11)

"Os estadunidenses, britânicos e os franceses estão se achando como camaradas-em-armas do Grupo Combatente Islâmico, o elemento mais radical da rede Al Qaeda [para derrubar Gaddhafi].

A Secretária-de-Estado Hillary Clinton reconheceu os riscos da aliança profana em uma audiência no Congresso, dizendo que a oposição da Líbia é provavelmente mais anti-americana do que Muamar Gaddhafi.

Uma década atrás, esta mesma ilusão de uma aliança ocidental-islâmica em Kosovo, Bósnia e Chechênia terminou abruptamente nos ataques de 11 de setembro."(12)

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5) O Conselho Nacional de Transição

"Um governo RIVAL de transição para o regime do líder líbio Muamar Khadafi parece destinado a ganhar o suporte dos EUA e outros apoios internacionais enquanto crescem as chances para a derrubada do longevo ditador.

A Secretária-de-Estado Hillary Clinton confirmou que a administração Obama estava estendendo a mão para opositores do Coronel Kadafi.

Ela disse que os EUA estavam dispostos a oferecer "qualquer tipo de assistência" para removê-lo do poder.

Os líderes do protesto, que assumiram o controle das cidades ao leste da Líbia afirmam ter criado um "conselho nacional" de transição que corresponde ao governo rival.

Eles pediram ao exército do país para se juntar a eles que se preparam para um ataque contra a capital, Trípoli, onde o líder líbio mantém o controle.

Confiante de que o comando de 42 anos do líder líbio estaria chegando ao fim, Hillary Clinton disse: "Estamos apenas no início do que se seguirá a Kadafi."(13)

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6) Facebook

"Ele [Omar El-Hariri, chefe das Forças Armadas para o Conselho Nacional de Transição] permaneceu sob estreita vigilância por parte das forças de segurança até 17 de fevereiro, quando a revolução começou.

Não foi iniciada por figuras proeminentes da geração mais velha, disse ele, mas começou de forma espontânea, quando a Tunísia e o Egito inspiraram a juventude. "Crianças do Facebook! , declarou ele, em Inglês, com um largo sorriso. "(14)

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7) Petróleo

"Os rebeldes líbios de Benghazi disseram que eles criaram uma nova companhia nacional de petróleo para substituir a empresa controlada pelo líder Muamar Kadafi, cujos bens foram congelados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O Conselho Nacional de Transição divulgou um comunicado anunciando a decisão tomada em uma reunião a 19 de março para estabelecer a "Companhia de Petróleo da Líbia, como autoridade de supervisão da produção e das políticas petrolíferas no país,provisoriamente a partir de Benghazi, e a nomeação de um diretor-geral interino" da empresa.

O Conselho também disse que "designou o Banco Central de Benghazi, como autoridade monetária competente em políticas monetárias na Líbia e que indicou um presidente para o Banco Central da Líbia, com sede provisória em Benghazi."(15)

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Notas (passe o mouse para alguns links)
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1 "O Secretário de Defesa Robert Gates, que recentemente alertou contra qualquer guerra terrestre dos EUA mais prolongada, disse em 23 de março que o fim da ação militar na Líbia é desconhecido e pode durar mais do que algumas semanas. "Eu acho que há qualquer número de possíveis resultados aqui e ninguém está em condições de prevê-los", disse Gates a repórteres no Egito "(C-Span, 24 de março de 2011).

2 leitores interessados ​​podem consultar minha primeira pesquisa exploratória, “Googling ‘Revolution’ in North Africa.”

3 Dan Lieberman, “Muammar Al Gaddafi Meets His Own Rebels,”, CounterCurrents.org, 09 de março de 2011.

4 Bainerman Joel, Inside the Covert Operations of the CIA & Israel's Mossad (New York: Livros SPI, 1994), 14.

5 Richard Keeble, “The Secret War Against Libya,” MediaLens, 2002.

6 " Petroleum and Empire in North Africa.NATO Invasion of Libya Underway, ", por Keith Harmon Snow, 02 de março de 2011.

7 Ghali Hassan, “U.S. Love Affair with Murderous Dictators and Hate for Democracy.” Axis of Logic, 17 de março, 2011.

8 Centro de Informações de Defesa ", em destaque: O Grupo de Combate Islâmico Líbio (LIFG)," 18 de janeiro de 2005

9 Kadafi estava preocupado com o terrorismo da Al Qaeda na Líbia, e em 1996, a Líbia tornou-se o primeiro governo a colocar Osama bin Laden na lista de procurados da Interpol (Rohan Gunaratna, Inside Al Qaeda: Global Network of Terror [New York: Columbia UP, 2002], 142). Posteriormente, a inteligência americana e da Líbia colaboraram durante alguns anos contra a Al Qaeda. Desde quando?

10 Ian Black, “Libya rebels rejects Gaddafi's al-Qaida spin,” Guardian, 01 de março de 2011.

11 Gary Gambill, "The Islamic Fighting Group (LIFG), Jamestown Foundation," Terrorism Monitor, May 5, 2005,; citing Al-Hayat (London), 20 October 1995 [“communiqué”]; "The Shayler affair: The spooks, the Colonel and the jailed whistle-blower," The Observer (London), 9 August 1998; Jean-Charles Brisard and Guillaume Dasquié, Ben Laden: La Verite interdite (Bin Ladin: The Forbidden Truth). Cf. also Annie Machon, Spies, Lies and Whistleblowers: MI5, MI6 And the Shayler Affair (Book Guild Publishing, 2005) [Shayler]. Cf. also Annie Machon, Spies, Lies and Whistleblowers: MI5, MI6 And the Shayler Affair (Book Guild Publishing, 2005) [Shayler].

12 Yoichi Shimatsu, “Attack on Libya: Why Odyssey Dawn Is Doomed,” New America Media, 20 de março de 2011.

13 "nos EUA chega a sair com os insurgentes da Líbia," The Australian, 1 de março de 2011,

14 “How a onetime friend to Gadhafi became his rival,” Globe and Mail [Toronto], 4 de março de 2011.

15 Libyan Rebel Council in Benghazi Forms Oil Company to Replace Qaddafi’s,” 22 de março de 2011, Bloomberg.

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Peter Dale Scott, é um ex-diplomata canadense, Professor de Inglês na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e autor de Drogas, Petróleo e Guerra , A Estrada para o 11 de Setembro,A Conspiração da Guerra: JFK, 11/09, e a Política Profunda da Guerra.
Seu livro mais recente é A Máquina de Guerra dos EUA: Política Profunda, a CIA Conexão Global das Drogas e a Estrada para o Afeganistão .
Seu site, rico em seus escritos, está aqui .

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tradução livre: Guilherme de Alarcon Pereira
Fonte: Blog do Luis Nassif.

MÌDIA - Assange e seu Wikileaks ganham força para seguir em frente.

Assange e seu Wikileaks ganham força para seguir em frente com financiamentos por doações voluntárias. Daniel Ellsberg (o “Garganta Profunda” dos Papéis do Pentágono) considera Assange o herói do século.

Federico Rampini

Oitenta mil leitores da Time querem que Julian Assange seja o “homem do ano”, a ser colocado na capa da revista. “Ele deve ser perseguido como Osama Bin Laden”, intima a líder da direita norte-americana Sarah Palin. “Condenemos à morte todas as gargantas profundas”, invoca na Fox News o âncora Bill O’Reilly, enquanto o deputado republicano Peter King propõe o “crime de terrorismo” para os vazamentos de notícias.

Mas quem está verdadeiramente por trás do WikiLeaks? A quem é útil politicamente o cataclismo diplomático orquestrado pelo seu chefe Julian Assange? Como funciona o seu universo paralelo, que usa um impenetrável segredo interno para impor o máximo de transparência aos governos do mundo todo? Sem protetores poderosos, só um gênio pode fugir da caça planetária ao homem e ressuscitar o seu site depois de formidáveis ataques informáticos. Esse australiano de 39 anos já conquistou um lugar no Panteão dos grandes da era da internet.

Como Bill Gates (Microsoft), Larry Page (Google) ou Mark Zuckerberg (Facebook), Assange também é um inovador revolucionário. Usando as novas tecnologias, demoliu costumes diplomáticos antigos há séculos. Um “gigante da informática”, como o definem também aqueles ex-colaboradores que decidiram abandoná-lo por divergências políticas ou éticas.

É um justiceiro ou um criminoso, anjo ou Mefistófeles? Daniel Ellsberg, a garganta profunda que, em 1971, revelou ao The New York Times as mentiras de Estado sobre o Vietnã (os Pentagon Papers), considera Assange o herói do nosso tempo: “Esperei 40 anos – diz – para ver alguém que abatesse os segredos de Estado de modo a mudar o curso da história”.

Mas as deserções polêmicas de tantos dos seus colaboradores podem retratar um outro personagem: ambíguo, irresponsável ou manipulado.

Da clandestinidade, respondendo por e-mail às entrevistas, Assange desafia os seus adversários: “O que fizemos até agora é uma milésima parte da nossa missão”. Sobre Hillary Clinton, que o acusa de colocar vidas humanas em perigo, ele diz: “Há 50 anos, esse é o álibi usado por todo governo norte-americano, para impedir que a opinião pública saiba o que eles fazem. Mas a coragem é contagiosa: quanto mais demonstrarmos que a verdade está vencendo, mais teremos novas revelações”.

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JAMES BOND DA CONTRAINFORMAÇÃO

Leva “uma vida de James Bond da contrainformação”, como ele mesmo a define. Viaja sob nome falso, evita os hotéis, pinta os cabelos, muda continuamente de celular (criptografado) e impõe aos seus colaboradores que façam o mesmo. Paga só em dinheiro vivo (os cartões de crédito deixam rastros), e o dinheiro também deve ser emprestado para ele, para não usar o caixa eletrônico.

Porém, o início dessa história é bem diferente, o que aumenta o mistério do WikiLeaks. Catalogada no seu batismo em 2006 como um “órgão de informação internacional não lucrativo”, ele se autodefine assim: “Um sistema à prova de censura, para gerar vazamentos maciços de documentos reservados, sem trair sua origem”. Entre as regras estatutárias: “Só aceita materiais secretos”, e os documentos devem ter “relevância política, diplomática, histórica, ética”.

Um ano depois do seu lançamento, já havia 1,2 milhão de documentos no site WikiLeaks. Nas origens, a organização se descrevia como um coletivo, animado por notáveis dissidentes chineses como Xiao Qiang, Wang Youcai e Wang Dan; jornalistas em luta contra as ditaduras; e matemáticos e especialistas em informática que cooperavam dos Estados Unidos, da Europa, da Austrália, de Taiwan e da África do Sul.

O componente chinês do núcleo fundador é importante: aqueles dissidentes se aliaram para “furar” um muro impenetrável, a Grande Muralha de Fogo, a censura informática da República Popular. A sua presença também está nas origens de venenosas suspeitas – provavelmente infundadas – sobre a infiltração dos serviços secretos de Pequim no WikiLeaks.

Nos primeiros anos, a batalha se dirigiu principalmente contra os regimes autoritários, os genocídios, a repressão do dissenso. Em 2008, o WikiLeaks ganhou um reconhecimento da Anistia Internacional pelas revelações sobre as execuções sumárias da polícia no Quênia. A revista The Economist entregou ao site o prêmio New Media Award.

Tudo mudou de repente em abril de 2010, quando, no WikiLeaks, apareceu o vídeo de um massacre de civis iraquianos por parte de soldados norte-americanos. Depois, em julho, saiu a primeira fornada de 76.900 documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão, seguida de 400 mil comunicações confidenciais sobre o conflito no Iraque. Até chegar ao grande golpe que espalhou à luz do sol 250 despachos dirigidos ao Departamento de Estado das embaixadas dos EUA.

Os EUA de Barack Obama se tornaram o alvo número um. Coincidentemente com essa reviravolta, aumentou significativamente a visibilidade do WikiLeaks. Como líder, surge o australiano Assange, com um passado de pirata da informática. A novidade sacudiu alguns defensores do “primeiro” WikiLeaks. A agência de imprensa Associated Press, o Los Angeles Times, a federação dos editores de jornais dos EUA, que haviam financiado o site, repensam a respeito. A Anistia Internacional e os Repórteres Sem Fronteiras criticam Assange com o mesmo argumento de Hillary, “por ter colocado vidas humanas em perigo” (divulgando nomes de informantes afegãos da CIA, agora expostos à vingança dos talibãs).

À retirada dos grandes apoiadores, Assange reage apoiando-se em uma miríade de simpatizantes, os micropagamentos chegam do mundo inteiro usando o sistema Paypal. Mais inquietantes são as deserções entre os amigos e os colaboradores mais estreitos. Um verdadeiro “cisma”, acelerado depois das acusações de abusos sexuais (não usar camisinha) por parte de duas mulheres suecas contra Assange (ele nega, diz que as relações foram consensuais).

Pelo menos uma dezena de voluntários do núcleo original do WikiLeaks foram embora. Alguns se pronunciam. Como o islandês de 25 anos Herbert Snorrason, que diz o seguinte sobre Assange: “Já está fora de si”. Birgitta Jonsdottir, uma parlamentar islandesa que também havia estado entre os ativistas fundadores, acusa Assange de ter decidido tudo sozinho sobre os segredos militares norte-americanos no Afeganistão. Outros, por trás do anonimato, o acusam de ter se tornado “megalomaníaco, ditatorial”.

Os fidelíssimos, porém, não o abandonam: 40 voluntários, 800 ajudantes externos. Um milagre econômico para uma organização que sobrevive com um orçamento de só 200 mil euros por ano. Sem uma sede física. Deslocando-se virtualmente entre aquelas “praças jurídicas off-shore” das leis mais tolerantes para a liberdade de expressão. Um prodígio tecnológico principalmente: “Como é possível” – perguntaram as autoridades inglesas – “que o Pentágono, com todo o seu poder na guerra eletrônica, não consiga ocultar o WikiLeaks para sempre?”.

A resposta está totalmente no gênio de Assange. Em fuga perpétua da Austrália à Suíça, de Berlim a Londres, talvez a ponto de pedir asilo na Suíça, ele usa o mesmo método até para os servidores da Internet, mudando constantemente seus próprios pontos de comunicação. E ele tem uma arma secreta, a qual ele define como o seu “seguro de vida”: muitos documentos reservados em sua posse já foram “descarregados” via twitter em forma criptografada nos computadores de dezenas ou talvez de centenas de simpatizantes. “Se acontecer alguma coisa comigo” – ameaça Assange – “ou ao site principal, dispara automaticamente a divulgação da senha que permitirá difundir todo esse material”.

Blefe ou verdade? Tudo o que se refere a Assange se presta a leituras duplas, é circundado por uma aura de mistério. O próprio uso político que é feito dele: a direita norte-americana o denuncia como um terrorista, mas ao mesmo tempo instrumentaliza as fugas de notícias contra o governo Obama. A mídia aprendeu como Assange pode ser implacável: o The New York Times foi colocado “em quarentena” por não ter aceito, sem ter visto, os diktats do WikiLeaks, o Wall Street Journal e a CNN foram colocados de lado pelas revelações.

Buscado por polícias e magistraturas, no alvo dos hackers, o Pimpinela Escarlate que abateu toda regra dos segredos de Estado debocha do anúncio de que a Casa Branca e o Departamento de Estado irão rever todos os sistemas de comunicação: “O novo rosto da censura moderna é impedir a fuga de notícias reservadas. Mas, mesmo que inventem novas proteções, sempre será possível enganar os sistemas”.

Fonte:Tribuna da Imprensa ooline.

domingo, 27 de março de 2011

POLÍTICA - Resistir é preciso.

Carlos Chagas

A presidente Dilma Rousseff chega hoje a Portugal para participar da homenagem da Universidade de Coimbra ao ex-presidente Lula. Terá tempo para examinar o que acontece naquele país. Com certeza trará lições sobre o que não fazer no Brasil, exatamente o que o governo português vem tentando. Demitiu-se o primeiro-ministro José Sócrates, ainda que deva permanecer no cargo por dois meses, por conta das resistências na Assembléia Nacional ao seu plano de “recuperação econômica”.

Assim como a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a França e outras nações européias, Portugal quer sair do sufoco às custas do trabalhador. Para manter felizes as elites financeiras, na verdade as causadoras da crise econômica, os dirigentes portugueses estão propondo aumento de impostos, redução de direitos, a começar pelas aposentadorias, demissões em massa, interrupção nos investimentos sociais, cortes nos gastos públicos e outras fórmulas clássicas do neoliberalismo.

Os protestos já se fazem sentir em Lisboa e no Porto. Os sindicatos estão na rua, mobilizando contingentes de prováveis vítimas da sanha do chamado mercado. Os trabalhadores não aceitam iniciativas capazes de tornar ainda pior a vida deles, mas, pelo jeito não vai adiantar muito a sua reação. Não tem adiantado em situações similares no Velho Mundo. Lá, a prevalência continua sendo das elites, na hora das decisões. São elas a base da maioria dos governos europeus.�

Ao retornar, Dilma precisará meditar para prevenir. Não há iminência de crise, entre nós. A economia mantém-se estável, continuamos crescendo, novos empregos tem sido criados e, mais importante ainda, o governo atual não surgiu das elites e nem parece prisioneiro delas, ainda que continuem tentando dominá-lo.

Mas já se falou em aumento de impostos, no caso, a volta da CPMF. Registra-se a contenção de gastos públicos, na ordem de 50 bilhões, apesar das promessas da presidente pela preservação das obras do PAC. Mesmo assim, ressurge a ameaça de modificações no sistema de aposentadorias.

Dificuldades são inerentes a qualquer administração. Tudo indica o modelo europeu longe de aportar por aqui, mas prevenir e prestar atenção será sempre bom. Numa palavra, resistir.

Fonte: Tribuna da Imprensa online.

POLÍTICA - Não sejamos injusto com o Serra!

Do Blog Tijolaço.

Muitos leitores pedem que eu comente a reunião de ontem, no Clube Militar, onde um grupo de saudosistas da ditadura se renuiu para marcar – antecipadamente – o aniversário do golpe de 1º de abril de 1964.

Francamente, não ia nem dar bola para esta história, mas hoje li que a trinca de debatedores da ocasião foi profundamente injusta.

Disseram que “infelizmente” não há um líder de direita como Carlos Lacerda e um partido como a UDN.

Realmente é verdade, mas não é justo deixar de reconhecer que José Serra tem se esforçado demais para ser um “Lacerda-Parte 2″.

Tenta seguir-lhe os passos, com afinco, embora sem sucesso.

Como Lacerda, transitou da esquerda para a direita sem qualquer cerimônia.

De “perigoso esquerdista” que saudou Prestes na Aliança Nacional Libertadora, em 35, Lacerda virou promotor das “marchas com Deus pela família”.

Serra fez força: comungou, cantou hino evangélico, se benzeu e distribuiu panfletos nas sacristias.

E explorou miseravelmente a história do aborto na campanha eleitoral.

Até um “atentado da Rua Tonelero” chegou a tentar arranjar com aquela história da bolinha de papel.

Pode-se dizer tudo de Serra, até que não tem o talento do “Corvo”. Mas perseverança ele tem, e não quer – como se vê neste episódio do “racha” do DEM, onde ele claramente inspira a ação de Gilberto Kassab contra Geraldo Alckmin e Aécio Neves – que não lhe falta perseverança.


Serra lutará sem tréguas pela chance de perder pela terceira vez uma eleição em 2014.

MÍDIA - O poder da imprensa e os abusos do poder.

Reproduzo artigo de Bernardo Kucinski, publicado no Observatório da Imprensa:

Todos sabemos que a imprensa pode destruir reputações, derrubar ministros e às vezes um governo inteiro. Foi uma campanha de imprensa, liderada por um grande jornalista, Carlos Lacerda, que levou Getúlio ao suicídio em 1954. Vinte anos depois, nos Estados Unidos, o presidente Richard Nixon renunciou por causa de denúncias da imprensa.

Nos dois episódios, o poder havia recorrido a métodos criminosos para eliminar ou intimidar oponentes políticos. Ao revelarem esses abusos, derrubando a parede de segredo que os protegia, jornalistas exerceram uma das funções sociais que legitimam a imprensa como ator importante numa democracia.

Mas no Chile, em 1973, a grande imprensa contribuiu não para aprimorar a democracia ou denunciar abusos do poder, ao contrário, para derrubar o governo democraticamente eleito de Salvador Allende, abrindo caminho para a uma das mais abomináveis chacinas políticas da nossa história, sob a ditadura de Pinochet.

Esses três episódios comprovam o imenso poder da mídia tanto de fazer o bem – sob a ótica do aperfeiçoamento democrático – quanto de fazer o mal. E apontam para a questão crucial, objeto dos ensaios que compõem esta obra definitiva do professor Venício Lima: como regular o mercado da comunicação de massa numa sociedade em que a informação é uma mercadoria apropriada por empresas privadas portadoras de interesses políticos, de modo a preservar o potencial democrático da mídia e ao mesmo tempo impedir abusos de poder da própria mídia?

Critérios democráticos

Essa questão é ainda mais crucial em sociedades de cultura autoritária, como as latino-americanas, nas quais predomina um cenário de polarização da renda e concentração da propriedade e do poder econômico, inclusive o dos conglomerados da indústria da comunicação.

É um cenário propício à instrumentação da mídia nas disputas de poder. Basta lembrar como se deu a eleição do primeiro presidente civil, ao fim do regime militar. Inventado do nada, endeusado pela revista Veja como condutor de uma luta implacável contra a corrupção e com o apoio da Rede Globo, que falseou o debate final decisivo da campanha, Fernando Collor tornou-se o primeiro presidente eleito, após os 25 anos de ditadura.

Depois, a mesma mídia que inventara sua candidatura conduziu a campanha que levou ao seu impeachment. Mas o resultado duradouro e nefasto do episódio não foi a autocrítica. Ao contrário, foi a percepção pelos principais grupos de mídia de massa do país de seu poder de eleger ou derrubar presidentes. Desde então, nossa mídia de massa não se limita a reportar a nossa história – quer determinar os rumos de nossa história.

Nas democracias mais avançadas, ou sociedades de cultura menos autoritária, abusos e instrumentação da mídia são dirigidos principalmente para fora, para objetivos de dominação mundial. O ataque americano ao Iraque em 1991 foi precedido por uma operação de mídia que iludiu a opinião pública com a falsa noção dos bombardeios cirúrgicos, que atingiriam instalações com precisão milimétrica, sem matar ninguém. No segundo ataque ao Iraque, esse seguido da invasão e ocupação, dezenas de jornalistas foram "embutidos" nos diferentes batalhões, disseminando a cada dia uma nova falsa informação de que haviam sido encontrados indícios dos meios de destruição de massa – o pretexto da invasão.

Nas grandes democracias representativas, as democracias de massa, como Brasil, Estados Unidos e Índia, a mídia substituiu as praças públicas como o espaço em que se dá a disputa pelo voto. Obviamente, se o grosso dessa mídia se alinha a uma determinada corrente política, gera-se um desequilíbrio fundamental na disputa democrática. Como garantir ao mesmo tempo a mais ampla liberdade de alinhamento político dos meios de comunicação, e impedir esse desequilíbrio?

A resposta, de novo, está numa regulação de mercado formatada por critérios republicanos e democráticos. Daí a importância desta obra do professor Venício Lima, em especial as referências às experiências de regulação em outros países.

Unidade de propósitos

Estudos empíricos feitos em sua maioria nos Estados Unidos sugerem que os meios tradicionais de comunicação de massa conseguem determinar que temas serão objeto do debate público e que temas serão omitidos. No debate da regulação, vive-se no Brasil um paradoxo nefasto: os meios de comunicação de massa procuram excluir o debate da própria regulação, rotulando-o de ameaça à liberdade de imprensa. Assim, excluíram do debate público as propostas, apresentadas democraticamente pelo governo, de criação de um Conselho Federal de Jornalistas e a de criação de um novo sistema de estimulo ao audiovisual.

É na determinação da agenda pública de debates, de resultados seguros e duradouros, em especial na nomenclatura e forma de abordagem desses temas, que os grupos de interesses mais poderosos, como os bancos, por exemplo, concentram hoje seus esforços midiáticos.

Outro exemplo notável é a visibilidade dada às ocupações de terra do MST, retratando-o como organização violenta, nunca se referindo à Universidade dos Sem Terra, em Guararema (SP) ou às suas escolas primárias ou à escandalosa concentração da propriedade da terra no Brasil.

No plano internacional um bom exemplo de determinação da agenda é a insistência da mídia mundial em classificar certos países como "irresponsáveis", em cujas mãos nunca deveria estar a bomba atômica, quando o único país que ousou despejar bombas atômicas em cima de populações civis foram os Estados Unidos, e sem uma justificativa plausível, se é que poderia haver alguma.

Esses exemplos sugerem que ao agendar o que é discutido e o que é omitido, em especial a forma e a linguagem das discussões, os grandes jornais e redes de televisão, cada vez mais interligados e homogêneos, criam o ambiente em que se forma nossa visão de mundo.

Além disso, as simplificações inerentes à linguagem jornalística geram falsos consensos ou um senso comum simplificado ou grosseiro. Em alguns casos-limite, invertem sentidos e escamoteiam a realidade.

Os grandes jornais são também instituições da sociedade civil. A maioria deles foi criada em momentos cruciais da luta política em seus respectivos países. O Estado de S.Paulo, principal jornal brasileiro, foi lançado em 1875 manifestamente para defender a instauração de um regime republicano. O Le Monde nasceu da luta contra a ocupação alemã. O último desses grandes jornais, o espanhol El País, foi criado pela burguesia espanhola como parte do projeto de enterrar o vergonhoso passado do franquismo e levar a Espanha à União Europeia.

No Brasil, os três grandes jornais de referência nacional – Estadão, Folha de S.Paulo e O Globo, e mais alguns importantes diários regionais como o Correio Braziliense e o Zero Hora, de Porto Alegre, e ainda a revista Veja e os canais de televisão e rádio do grupo Globo – formam hoje um compacto político-ideológico em defesa dos fundamentos do modelo econômico chamado neoliberal: privatizações, terceirizações, flexibilização das leis trabalhistas e desrregulação do movimento de capitais. Também combatem em uníssono as principais políticas públicas do governo, como o Bolsa Família, o Plano Nacional de Direitos Humanos, as cotas nas universidades e a política externa. Tornaram-se assim substitutos de um grande partido político conservador e protagonistas centrais na cena político-eleitoral.

Não por coincidência essa unidade ideológica e de propósitos começou a tomar corpo com a fim da ditadura militar. É como se a grande mídia oligárquica tivesse assumido funções de controle social por meios ideológicos, em substituição ao exaurido controle social coercitivo.

Conceito de mercadoria

Felizmente, já se foram os tempos em que os grandes jornais combinavam de modo tão explosivo o poder econômico com o poder político que se autodenominavam "o quarto poder." O advento da internet como principal meio hoje de comunicação – tanto interpessoal, como intergrupal e de massa – destruiu o monopólio da fala detido pelos jornais, pelos jornalistas, e pela indústria capital intensiva da comunicação.

Hoje os três grandes jornais de referência nacional não chegam a vender, somados, 900 mil exemplares. No período de duas décadas em que nossa população cresceu uns 25%, esses jornais perderam 25% de leitores.

A internet nasceu com vocação libertária, tornando-se o meio principal de comunicação livre e barata entre as pessoas organizações e movimentos sociais. Além de ferramenta poderosa de pesquisa, registro, processamento e guarda do conhecimento, é ao mesmo tempo uma nova mídia, um novo meio de transmissão, de articulação e de mobilização.

Pela primeira vez, com as novas tecnologias, baratas e livres do controle do grande capital, qualquer ser humano razoavelmente inserido num meio social pode materializar o direito de informar como distinto do direito de ser informado.

A mediação exclusiva dos meios de comunicação foi substituída pela interatividade, pela capacidade de cada leitor modificar, questionar, desconstruir os conteúdos jornalísticos no momento mesmo de sua emissão. Trata-se de todo um novo processo de elaboração coletiva do discurso midiático, um processo tão rico e sedutor, que está cativando até mesmo os jornalistas, cada vez mais dedicados aos seus blogs e twitters do que às suas colunas opinativas nos grandes jornais.

Essa revolução da comunicação está ainda no seu início. Uma de suas conseqüências é o declínio acelerado dos grandes jornais como indústria capital intensiva, que se utiliza de rotativas gigantescas, processando volumes imensos de papel.

Embora o hábito de ler diários seja arraigado, a lógica de produzi-los já morreu. Não tem mais sentido econômico plantar uma floresta inteira de eucaliptos, produzir toneladas de polpa e depois bobinas imensas de papel jornal, transportá-las a grande distância, levá-las até uma rotativa central, imprimir meio milhão de exemplares de jornais e depois distribuí-los em caminhões por vastas distâncias, para nos trazer de manhã uma notícia que já está velha, que já foi superada pelo noticiário online da internet.

Esse "modelo de negócios", como se diz na linguagem neoliberal, está superado. E a indústria dos grandes jornais ainda não conseguiu encontrar uma saída. Os grandes jornais continuam sendo a principal fonte produtora das informações, inclusive as veiculadas pela internet, e todos eles têm hoje uma versão digital, mas não sabem como cobrar por essa leitura e perdem publicidade e leitores pagos na versão tradicional impressa.

O meio internet é infenso ao lucro e ao conceito de mercadoria, fundamental no capitalismo. Na internet é possível "consumir" a matéria jornalística ou de entretenimento sem que com isso ela acabe. Ao contrário, ao mesmo tempo que é consumida, pode ser multiplicada, ao ser reenviada, com um simples comando, a inúmeros outros destinos.

Interesses antagônicos

A maioria dos grandes jornais já reduziu suas redações à metade. Alguns já deixaram de circular e outros seguem o mesmo caminho. Embora mais lentamente, a revolução tecnologia está erodindo a indústria dos jornais da mesma forma como erodiu a indústria dos CDs.

Isso não significa que os jornais impressos deixarão de existir. Tanto jornais quanto revistas existirão para sempre, nas mais diversas formas. Mas não mais como uma poderosa indústria que comandava ao mesmo tempo lucros e poder político.

A revolução digital retirou dos jornais sua principal função, a noticiosa. Daí a exacerbação hoje da função ideológica que os marcou na era das revoluções republicanas, antes que a invenção das grandes rotativas fizesse deles também uma indústria de alto retorno.

Mas, sem poder econômico, os grandes jornais tendem a perder poder político. Na França já há subsídio estatal a alguns grandes jornais. As tevês, em ritmo mais lento, perdem poder pela força da fragmentação do meio e do rápido avanço da informação digital em outras plataformas, inclusive no celular.

O símbolo maior da nova era da comunicação é o celular, com o qual cada ser humano pode se comunicar com todos os demais, informar e ser informado. Vivemos hoje uma situação em que a comunicação como um todo assumiu estatuto antropológico nas nossas vidas, constituindo-se no ambiente no qual se formam as novas gerações, desde a infância.

Não há mais distinção nítida entre comunicação pública e privada, entre jornalistas e não jornalistas. O próprio jornalismo como um campo constituído de relações definidas, papéis pré-atribuídos, uma ética própria, foi destruído pela internet e ainda não sabe como se recompor.

O vazio jurídico provocado pelo advento da internet é imenso. Nos principais países, inclusive no Brasil, discutem-se novos marcos legais para a comunicação. Como preservar o direito autoral, se a cópia é tecnicamente acessível a todos e barata? Como preservar o direito à auto-imagem se uma matéria difamatória, mesmo se posteriormente corrigida, fica registrada para sempre nos arquivos digitais da internet? Deve haver direito de resposta na internet? Qualquer um tem o direito de enviar uma mensagem a outra pessoa? Com se define um atentado ao pudor pela internet? Como tipificar crimes de imprensa pela internet, se ela é ao mesmo tempo comunicação pública e privada? Como preservar a neutralidade da rede, ou seja, o princípio pelo qual nenhum acesso pode ser filtrado por interesses particulares?

Entre nós esse vazio jurídico agravou-se depois da extinção da Lei de Imprensa e da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo pelo Supremo Tribunal Federal. A Lei de Imprensa estabelecia mecanismos específicos para o exercício do direito de resposta, que não afetavam a liberdade de expressão, mas garantiam às pessoas ou instituições injustamente agredidas pela mídia o direito básico à retificação.

Além disso, até hoje não foram regulamentados os artigos da Constituição "cidadã" de 1988, que tentam colocar um pouco de ordem na casa. Ou acabar com ilegalidades flagrantes como é a posse direta ou disfarçada de concessões de rádio e televisão por políticos com mandato.

A regulação é em si mesmo um campo de disputa entre forças de interesses antagônicos. Daí o paradoxo de termos uma Constituição "cidadã", na esfera do direito à informação, mas uma realidade de mercado autoritária e, a rigor, prosperando na ilegalidade. A Constituinte refletia uma correlação de forças efêmera.

Linha de frente

Os proprietários da grande mídia identificam liberdade de expressão, um dos direitos humanos fundamentais, com liberdade da indústria de comunicação, que é um direito empresarial. Como se as empresas fossem as detentoras exclusivas do direito de expressão. Ou, em outras palavras, como se o direito de expressão só pudesse ser exercido na forma de uma mercadoria.

A liberdade de expressão tem como limites ou pontos de atrito o direito à auto-imagem e à privacidade, assim como a presunção da inocência. São conflitos delicados, em parte objeto de leis especificas de imprensa e em parte objeto de códigos de ética ou leis ordinárias. O espírito dessas leis em geral é o de não intimidar o jornalista ou o meio de comunicação a tal ponto que ele sinta inibição no seu trabalho, porque se reconhece o peso especial de uma imprensa livre na constituição da democracia. Mas, ao mesmo tempo, assegurar a imediata reparação de eventuais erros cometidos. Daí o direito de resposta.

O direito empresarial tem seus limites na formação de cartéis, oligopólios e monopólios – considerados crimes contra a livre concorrência. É nesse âmbito, principalmente, que incide a regulação nos países mais ricos, como mostra o professor Venício Lima neste livro. Além disso, a mercadoria comunicação tem dimensões próprias que exigem regulamentação específica, assim como a mercadoria medicamento tem regulamentação própria. Medicamento mexe com saúde. Tem faixa vermelha, tem faixa preta. Tem restrição de propaganda. Comunicação mexe com cultura, com educação, com interesse social e nacional. Com erotismo, com pornografia. Tem restrição de horário, faixa etária. Linguagem.

E há também que distinguir os meios oriundos de concessão pública, a partir de um espectro de freqüências necessariamente limitado, como rádio e tevê. Essas concessões devem ser regidas pelos princípios republicanos do serviço público e neutralidade política – além de critérios de regionalização, diversificação editorial, desconcentração do mercado e outras políticas públicas.

No nosso caso, predomina a desordem nas três esferas – na do direito de expressão em si, na do direito comercial e na das políticas públicas para a concessão de freqüências de rádio e tevê. Vivemos hoje no Brasil à mercê de uma grande mídia sofisticada e avançada em termos técnicos e estéticos, mas excessivamente concentrada, atrasada em relação aos direitos básicos da pessoa; que prospera na ilegalidade constitucional e ao mesmo tempo se insurge por antecipação à qualquer tentativa de regulação.

As empresas não querem que se legisle sobre das três esferas. É como se quisessem estender à indústria da comunicação todas as benesses da desrregulação neoliberal que a banca internacional conseguiu para o capital financeiro.

A batalha da regulação do mercado de comunicação no Brasil está hoje na linha de frente da luta pelo aperfeiçoamento democrático. Esta obra do professor Venício Lima é referência obrigatória nesse debate, que a despeito da resistência dos grandes meios de comunicação está destinado a ser um dos temas centrais da agenda pública deste início de um novo século [São Paulo, setembro de 2010].

* Prefácio do livro "Regulação das comunicações – História, poder e direitos", de Venício A. de Lima, Editora Paulus, São Paulo, 2011; intertítulos do OI.
Postado por Miro às 11:24 0 comentários Links para esta postagem