quarta-feira, 31 de março de 2010

MÍDIA - PIG confessa sua partidarização.

Do blog POR UM NOVO BRASIL.

PIG: PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA

"Na situação atual, em que os partidos de oposição estão muito fracos, cabe a nós dos jornais exercer o papel dos partidos (da oposição).”
Judith Brito, diretora-superintendente da Empresa Folha da Manhã S.A., que edita a Folha de s. Paulo e presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), em discurso na Fecomercio, 18/03/2010 .
A mídia confessa com todas as letras, eles estão sim fazendo oposição ferrenha ao governo Lula. Eles não são imparciais, eles não tem ética, não tem profissionalismo. Eles fazem parte da elite golpista que quer governar o Brasil!

Jussara Seixas
Jussara Seixas
Jussara Seixas

AFEGANISTÃO - Manipulação da opinião pública européia.

A estratégia da CIA para manipular a opinião pública europeia quanto à guerra no Afeganistão — Revelações de um documento ciático

por Tom Burghardt [*]

. Desde o seu lançamento em 2007, o sítio web de denúncias WikiLeaks tem sido sujeito a "actos hostis" de serviços de segurança estatais e privados por revelar casos de crime, corrupção e violência perpetrados na profundidade dos estados capitalistas.

Mas ao invés de se acovardar com as ameaças do governo ou actos abertos de violência, incluindo o assassínio de dois promotores dos direitos humanos em Nairobi, em Março último, os quais proporcionaram aos denunciantes relatórios sobre matanças extra-judiciais da polícia do Kenya, WikiLeaks virou a mesa sobre a CIA.

Em 26 de Março, o grupo publicou um documento notável que esboça a estratégia da Agência para manipular a opinião pública europeia sobre o apoio declinante à guerra no Afeganistão.

O documento classificado como "Confidential/NOFORN" (No Foreign Nationals) de 11 de Março de 2010 intitula-se "Afeganistão: Sustentar o apoio da Europa Ocidental para a Missão conduzida pela NATO – Porque contar com a apatia pode não ser suficiente" ("Afghanistan: Sustaining West European Support for the NATO-led Mission--Why Counting on Apathy Might Not Be Enough").

Preparado pela Red Cell da CIA, a entidade é descrita no texto como uma sub-unidade da Agência "encarregada pelo Director de Inteligência de adoptar uma abordagem 'pronta para usar' que provocará [mudança de] ideias e apresentará um ponto de vista alternativa sobre todo o conjunto de questões analíticas".

Segundo a equipe WikiLeaks, "As estratégias de RP propostas centram-se em pontos de pressão que foram identificados dentro destes países. Para a França é a simpatia do público para com refugiados e mulheres afegãs. Para a Alemanha é o medo das consequências da derrota (drogas, mais refugiados, terrorismo) bem como para a posição da Alemanha na NATO. O memorando é uma receita para a manipulação dirigida da opinião pública em dois países aliados da NATO, escrito pela CIA".

Curiosamente, num eco do capitalismo real e não imaginado, com conteúdo social vivo, a CIA evoca A sociedade do espectáculo de Guy Debord. Afinal de contas, foi Debord quem, ao comentar acerca da capacidade das sociedades contemporâneas de produzirem e reproduzirem um mundo monstruoso "mediado por imagens", primeiro identificou os media como o locus central para administrar a própria realidade.

O melhor e mais brilhante novo conselho dos mestres políticos da América, em Langley, é que embora a "apatia" possa ser o seu aliados mais forte ao travar a infindável "guerra ao terror", não se pode contar com ela indefinidamente para apoiar o projecto imperial.

Contraste a evocação da CIA da "apatia" como uma ferramenta para travar a guerra com a percepção de Debord de que "o espectáculo ... exprime nada mais do que a sua vontade de dormir. O espectáculo é o guardião daquele sono". Alguém pode acrescentar que o proposta assalto da Agência aos media [para manipular] a opinião pública ocidental está a ser preparado precisamente para garantir que as massas continuem sonolentas.

França e Alemanha: Rumo à saída?

A queda no mês passado do governo holandês devido ao seu apoio contínuo à ocupação do Afeganistão conduzida pelos EUA foi uma campainha de despertar para Washington.

A notícia foi recebida com desgosto pelos partidários da intervenção afegã e os seus sicofantas dos media. O New York Times informou a 21 de Fevereiro, que quando fracassou o esforço final para manter as tropas holandesas no Afeganistão isto imediatamente levantou "temores de que a coligação militar ocidental a travar a guerra estava cada vez mais em risco".

Quando forças estado-unidenses e britânicas intensificavam operações por todo o teatro do Afeganistão, lançando ataques assassinos e indiscriminados com aviões sem piloto no Paquistão e "matanças direccionadas" e massacres ali, o espectro de um recuso significativo por parte dos governos francês e alemão fez soar campainhas de alarme no Pentágono.

A retirada planeada para Dezembro de cerca de 2000 soldados holandeses da International Security Assistance Force (ISAF), sem dúvida prejudicaria os trabalhos em curso. Os holandeses actualmente estão a operar na irrequieta província sulista de Oruzgan, a norte das fortalezas Taliban nas províncias de Helmand e Kandahar onde importantes operações militares estão em curso; a sua partida iminente alterará significativamente os planos da NATO.

Embora a história de cobertura para a intensificação de operações no Afeganistão por parte de Washington seja ostensivamente destruir a base de dados afegã-árabe dos descartáveis activos de inteligência ocidentais conhecidos como al-Qaeda, e travar a avalanche de drogas de atingir os consumidores ocidentais, isto é, e sempre foi, um ridículo conto de fadas.

Como sabemos através de incontáveis investigações e revelações ao longo de décadas, desde o Vietname até o Watergate e desde o caso Irão-Contra à infindável "Guerra ao terror", o comércio internacional de drogas é a criada de serviço das campanhas de contra-insurgência do Pentágono, de operações da CIA e da violência das elites por todo o mundo.

O New York Times informou a 21 de Março que as lucrativas plantações de ópio do Afeganistão já não são um objectivo das operações militares. Segundo o Times, a posição dos militares é clara: "As forças dos EUA já não erradicam", como afirmou um oficial da NATO. O ópio é o principal meio de vida de 60 a 70 por cento dos agricultores em Marja, a qual foi tomada pelos rebeldes Taliban numa grande ofensiva no mês passado. O fuzileiros navais americanos que ocupam a área têm ordens para deixar incólumes os campos dos agricultores".

Mas com os maiores actores do jogo da droga no Afeganistão ligados a aliados próximos da América no corrupto governo Karzai, o significado implícito é claro. Como há muito argumentaram os analistas Michel Chossudovsky e Peter Dale Scott, a intervenções americanas tendem a administrar, não a eliminar, os fluxos globais de drogas, favorecendo narco-traficantes que cooperam enquanto aponta para a destruição dos que não cooperam.

Como informou Scott em Janeiro no Global Research , nada menos que Antonio Maria Costa, o chefe do Gabinete de Drogas e Crime das Nações Unidas, afirmou que "dinheiro da droga no valor de milhares de milhões de dólares manteve o sistema financeiro a flutuar na altura da crise global [de 2008]". Na verdade, Costa disse a The Observer em Dezembro último que viu a evidência de que "no ano passado as receitas do crime organizado foram 'o único capital líquido de investimento' disponível para alguns bancos à beira do colapso".

E como revelou Chossudovsky em 2005, de acordo com um relatório do Senado dos EUA, "uns US$500 mil milhões a US$1 milhão de milhões em receitas criminosas são lavados através dos bancos em todo o mundo a cada ano, com cerca da metade daquela quantia movimentada através de bancos dos Estados Unidos".

Acima de tudo, a estratégia da CIA é destinada a deter qualquer tentativa de cidadãos da Europa de encurralar os seus governos e forçá-los a finalizar a sua participação nos esforços efectuados pelos EUA para recolonizar a Ásia Central e do Sul.

Um abalo, comentou Julian Lindley-French, professor de estratégia de defesa da Academia Holandesa de Defesa, em Breda, ao New York Times: "Se os holandeses se vão, a implicação de tudo isto é que podia abrir as comportas para outros europeus dizerem também, 'Os holandeses estão a ir embora, nós também podemos'."

Dados estes sentimentos, a CIA e o Pentágono voltar-se-ão para "outros meios" a fim de impedir os seus parceiros da NATO de rumarem para a saída.

Uma operação cínica dos media

As operações da CIA com os media estão em plena consonância com os objectivos e métodos utilizados pelos planeadores da guerra dos EUA. Na verdade, a manipulação da opinião pública por batalhões de especialistas em relações pública, pesquisadores de opinião e antigos oficiais de alta patente, muitas vezes empregados por corporações gigantes da defesa e da segurança como "matilhas de caça", são parte do exército secreto do estado de "multiplicadores de mensagens de força".

Que tais operações têm consequências desastrosas para o funcionamento de democracias, para não mencionar as vítimas da NATO, não pode se suficientemente enfatizada. Para assegurar que as bombas continuem a cair e que o controle ocidental sobre o acesso as reservas vitais de gás e petróleo da Ásia Central continue, a opinião pública, tratada como uma frente essencial da "batalha do espaço" imperial, deve ser "adoçada".

Consequentemente, a CIA descobriu que "a baixa importância pública da missão no Afeganistão permitiu aos líderes franceses e alemães ignorarem a oposição popular e aumentarem firmemente as suas contribuições de tropas para a International Security Assistance Force (ISAF). Berlim e Paris actualmente mantém os terceiros e quarto mais altos níveis de tropas na ISAF, apesar da oposição de 80 por cento dos alemães e franceses a deslocações acrescidas para a ISAF, segundo inquérito do INR no fim de 2009".

O inquéritos do Bureau of Intelligence and Reserarch (INR) do Departamento de Estado descobriram:

  • Apenas uma fracção (0,1-1,3 por cento) dos inquiridos franceses e alemães identificaram "Afeganistão" como a questão mais urgente confrontada pelo seu país numa pergunta aberta, segundo o mesmo inquérito. Este público classificou "estabilizar o Afeganistão" como entre as mais baixas prioridades para os líderes dos EUA e da Europa, segundo inquéritos efectuados pelo German Marshall Fund (GMF) ao longo dos últimos dois anos.

  • Segundo o inquérito INR no fim de 2009, a visão de que a missão no Afeganistão é um desperdício de recursos e "problema não nosso" foi citada como a razão mais comum de oposição à ISAF por inquiridos alemães e foi a segunda razão mais comum para inquiridos franceses. Mas o sentimento do "problema não nosso" também sugere que, até então, enviar tropas para o Afeganistão ainda não é um problema na maior parte do radar dos eleitores. (CIA Red Cell, Afghanistan: Sustaining West European Support for the NATO-led Mission--Why Counting on Apathy Might Not Be Enough, 11 March 2010)

"Se algumas previsões de um Verão sangrento no Afeganistão se verificarem", escrevem os planeadores da CIA, "o desgosto passivo de franceses e alemães com a presença das suas tropas poderia tornar-se hostilidade activa e politicamente potente. O tom do debate anterior sugere que um aumento de baixas francesas ou alemães ou baixas de civis afegãos poderia tornar-se um ponto de viragem na conversão de oposição passiva em apelos activos para a retirada imediata".

Isto deve ser evitado a todo custo. Cinicamente, os analistas da CIA concluem que "mensagens sob medida poderiam evitar ou pelo menos conter a reacção adversa".

Ao olhar as coisas sobre o terreno, a CIA terá que manipular muito a fim de consertar o pretexto desgastado da NATO para a intervenção no Afeganistão.

Como revelou a 13 de Março uma investigação do jornalista Jerome Starkey em The Times , "um ataque nocturno executado por pistoleiros estado-unidenses e afegãos levou à morte de duas mulheres grávidas, uma adolescente e dois responsáveis locais numa atrocidade que a NATO a seguir tentou encobrir".

Segundo Starkey, quando pormenores do ataque vieram à luz, oficiais da NATO afirmaram que a força havia descoberto os corpos das mulheres "amarrados, amordaçados e mortos" numa sala, dando a entender que os pavorosos assassínios foram obra de insurgentes.

"Uma investigação do Times ", escreve Starkey, "sugere que as alegações da NATO são ou deliberadamente falsas ou, no mínimo, enganosas. Mais de uma dúzia de sobreviventes, oficiais, chefes de polícia e um líder religioso entrevistados nas proximidades da cena do ataque afirmaram que os perpetradores foram pistoleiros estado-unidenses e afegãos. A identidade e o estatuto dos soldados é desconhecida".

Tal como o guião do lançamento de qualquer novo produto, ou movimento para aumentar o interesse numa mercadoria existente, os nichos de consumidores, as opiniões públicas francesa e alemã quanto à intervenção no Afeganistão são agora sujeitas a uma estratégia de marketing dirigida pela CIA.

Consequentemente, desde que o inquérito INR descobriu que "os franceses [estão] centrados em civis e refugiados", analistas da CIA afirmam que "citar exemplos de ganhos concreto poderia limitar e talvez mesmo reverter a oposição à missão. Tais mensagens sob medida podiam atender agudas preocupações francesas com civis e refugiados". Na verdade, a percepção de que "contraditar o 'ISAF faz mais mal do que bem' é claramente importante, particularmente para a minoria muçulmana da França".

Tais construções cínicas são ainda mais notáveis quando se considera que "a minoria muçulmana da França" são acusadas pelo estado francês, seus apoiantes de extrema-direita e pelos guerreiros secretos americanos como uma verdadeira "quinta coluna" a ser estreitamente vigiada e quando necessário reprimida, temendo que um alegado "contágio islâmico" ganhe raízes no coração da própria Europa!

Quanto a isto, "mensagens que dramatizem as consequências adversas potenciais de uma derrota da ISAF para civis afegãos podiam alavancar [o sentimento] de culpa de franceses (e outros europeus) por abandoná-los. A perspectiva do Taliban a repelir progressos duramente conquistados na educação de meninas poderia provocar a indignação francesas, tornar-se um ponto de aglutinação para o público amplamente não religioso da França e dar aos eleitores uma razão para apoiar uma causa boa e necessária apesar das baixas".

Não importa que os senhores da guerra e a coligação islâmico/mafiosa que inclui o governo Karzai, como documentado por inúmeras organizações de direitos humanos e pelas próprias mulheres afegãs, tais como a expulsa deputada Malalai Joya, tenham descoberto que as mesmas condições brutais para as mulheres persistem hoje sob o retrógrado regime Taliban apoiado pelos EUA/Paquiestão da década de 1990.

Para os alemães, contudo, serão jogadas as cartas xenófoba e nacionalista. "Mensagens que dramatizem as consequências da derrota da NATO para interesses específicos alemães poderiam conter a percepção generalizada de que o Afeganistão não é um problema da Alemanha. Mensagens, por exemplo, que ilustrem como uma derrota no Afeganistão poderia aumentar a exposição da Alemanha o terrorismo, ópio e refugiados poderiam ajudar a fazer a guerra mais palatável para os cépticos".

Além disso, os analistas da CIA sublinham que "a ênfase sobre aspectos multilaterais e humanitários da missão podiam ajudar a facilitar as preocupações alemãs sobre travar qualquer espécie de guerra enquanto apelaria ao seu desejo de apoiar esforços multilaterais. Apesar da sua alergia a conflitos armados, os alemães estaviveram desejosos de romper precedentes e utilizar a força nos Balcãs na década de 1990 para mostrar o compromisso para com os seus aliados da NATO. Os inquiridos alemães mencionaram a ajuda aos seus aliados como uma das mais convincentes razões para apoiar a ISAF, segundo um inquérito INR no fim de 2009".

Considerando que os aliados EUA/NATO saltaram para dentro dos Balcãs só quando ficou claro que o imperialismo alemão sob o governo em bancarrota de Helmut Kohl pretendia destruir o estado socialista multicultural da Jugoslávia, e assim fez só para não ser deixada para trás por um ressurrecto estado unificado alemão com os olhos claramente centrados em mercados lucrativos da Europa do Leste, trata-se de uma notável reescrever da história!

Outra carta com a qual a CIA pretende jogar é a alegada "confiança dos públicos francês e alemão na capacidade do presidente Obama para manusear os assuntos estrangeiros em geral e o Afeganistão em particular".

Na verdade, os apelos do novo capo de tutti capo da América "sugerem que seriam receptivos à sua afirmação directa da sua importância para a missão do ISAF – e sensíveis a expressões directa de desapontamento para com aliados que não ajudam". Tais apelos directos do Padrinho global "podem proporcionar pelo menos alguma alavancagem para manter as contribuições à ISAF".

Dados do inquérito GMF mencionados pela CIA revelam que "quando aos inquiridos foi recordado que o próprio presidente Obama havia pedido deslocações de tropas acrescidas para o Afeganistão, o seu apoio à aceitação desta solicitação aumentou dramaticamente, de 4 para 15 entre inquiridos franceses e de 7 para 12 entre alemães. As percentagens totais podem ser pequenas mas elas sugerem sensibilidade significativa quanto a desapontar um presidente que é encarado como estando em sincronia com as preocupações europeias".

Outra bala explorável mencionada pela CIA são as mulheres afegãs. Consequentemente, estas "poderiam servir como as mensageiras ideais para humanizar o papel da ISAF no combate ao Taliban devido à capacidade que têm para falar pessoalmente e com credibilidade acerca das suas experiências sob o Taliban, suas aspirações em relação ao futuro e os seus temores de uma vitória Taliban".

Contudo, como destaquei acima, apenas algumas "mulheres afegãs" seria consideradas como "mensageiras ideais" nestas operações nos media. As de esquerda, feministas ou outras críticas do regime Senhores da Guerra-Máfia-Islâmicos de Karzai seriam, por definição, excluídas de tais fóruns. Para as poucas escolhidas que passam na revista, "iniciativas de envolvimento que criem oportunidades nos media para mulheres afegãs partilharem suas histórias com mulheres francesas, alemãs e outras da Europa poderia a ajudar a ultrapassar o cepticismo difuso entre as mulheres da Europa Ocidental quanto à missão ISAF".

Conclusão

Os Estados Unidos e os seus aliados da NATO estão a deparar-se com resistência firme no Afeganistão. A fim de reforçar o apoio político de cépticos cidadãos norte-americanos e europeus, a CIA e os seus "amigos" entre os conglomerados de gigantes dos media estão a remover todos os entraves.

A publicação deste documento analítico da CIA pela Wikleaks proporciona ao movimento anti-guerra uma visão de como o imperialismo pretende vender ao público a infame guerra afegã.

Contra-estratégias que potencializem este conhecimento podem em princípio proporcionar munições aos críticos que desafiam directamente a propaganda americana, desarmar os sicofontas académicos, nos media e na política e, ainda mais importante, descarrilar a política de travar guerras agressivas e "antecipativas" no futuro.

28/Março/2010
[*] Investigador residente em San Francisco. Seus artigos são publicados em Covert Action Quarterly, Global Research, Dissident Voice , The Intelligence Daily , Pacific Free Press , Uncommon Thought Journal , Antifascist Calling... e no sítio web Wikileaks. É o editor do livro Police State America: Us Military 'Civil Disturbance' Planning .

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=18376


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

MÍDIA - O poder da mídia tradicional.

Por Venício A. de Lima

Tenho recorrido com freqüência neste Observatório ao conceito grego de hybris (ou hubris) para me referir a uma constante do comportamento de jornalistas que revelam "confiança excessiva, orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência".

Escrevi ainda em fevereiro de 2007 que "a imprensa (mídia) não gosta e, muitas vezes, não admite, ser criticada. Embora a crítica seja a sua tarefa preferida, ela não suporta delegar ou reconhecer que outros possam ter o mesmo direito, sobretudo se a crítica se refere à sua própria atuação. Em geral, a imprensa e os jornalistas padecem do mal que os gregos clássicos consideravam o mal maior, a hybris, isto é, a soberba, a arrogância. Não reconhecem suas limitações e se colocam acima do bem e do mal" (ver "Tempo de avançar o debate sobre a mídia").

Constato tardiamente que ao lado da hybris – ou seria apenas um de seus componentes? – jornalistas famosos, em situações nas quais são chamados a prestar depoimentos sobre sua experiência profissional, recorrem à falsa modéstia que logo revela sua verdadeira natureza, bastando para isso que alguém questione mitos nos quais sua postura se apóia.

O momento de intensas mudanças pelo qual passam a mídia e a prática profissional do jornalismo é extremamente propício a esse tipo de comportamento.

Jornalismo online vs. jornalismo impresso
A crise universal da mídia impressa nos autorizaria a afirmar que ela já acabou, é coisa do passado? A expansão avassaladora da internet significa que não se deve mais dar importância ao que a mídia impressa publica? O número de acessos individuais a sites e/ou blogs é comparável, sem mais, à tiragem e à circulação de jornais? A mídia tradicional – jornais, revistas, rádio e televisão – "não faz a cabeça de ninguém" e hoje o que de fato interessa são os jornais eletrônicos, blogs, sites de notícia, sites de relacionamento e as redes sociais?

As assessorias de comunicação social devem canalizar todos os seus recursos orçamentários para as "novas mídias" (incluindo a criação de redes de relacionamento), ignorar a velha mídia e se escorar exclusivamente na chamada "mídia espontânea"?

Jornalistas que, por uma razão ou outra, migraram precocemente para os blogs – temáticos e/ou genéricos – e optaram por abandonar a mídia tradicional, logo se surpreenderam com o elevado número de acessos individuais a seus blogs e à oportunidade que a interatividade da internet permite de correção ou acréscimo de informações depois que a notícia já está "no ar". Logo concluíram, sem mais, que a sobrevivência da mídia tradicional é apenas uma questão de tempo: ela já acabou e ainda não se deu conta disso.

"Pioneiros" da blogosfera afirmam que fizeram a mudança por intuir que o jornalismo tradicional havia chegado ao fim. Apesar de não serem acadêmicos e de serem apenas e tão somente intuitivos – desconhecedores, inclusive, de muitos dos recursos que a tecnologia lhes oferece – se aperceberam da nova realidade, faz tempo. Segundo eles, não partilhar essa visão revelaria a incapacidade de enxergar o que de fato está acontecendo diante de seus olhos.

Recurso à "ciência"
Se perguntados, todavia, sobre o papel dessa mídia tradicional, por exemplo, em relação ao assassinato de reputações – pessoais e/ou institucionais; à formação da opinião pública – por omissão ou manipulação –; à construção da agenda pública de debates e ao processo eleitoral, a coisa muda de figura. A falsa modéstia da intuição desinformada cede lugar a uma enxurrada de números e percentagens "científicos", oriundos de pesquisas sempre realizadas por instituições credenciadas em outros países, os Estados Unidos, de preferência.

Os até então intuitivos não acadêmicos recorrem a referências "científicas" que atestariam, há mais de 70 anos, o fato de a mídia tradicional "nunca ter feito a cabeça de ninguém". Ao contrário, ela apenas reforça as opiniões e os comportamentos preexistentes. Vale dizer, a mídia tradicional nunca teve a importância que se atribui a ela, especialmente, aqueles – os acadêmicos desinformados – que estão distantes da prática profissional.

O novo e o velho

Além de revelador de uma falsa modéstia oportunista, o comportamento descrito acima faz evocar o que também já tive a oportunidade de afirmar por diversas vezes neste OI. Embora, por óbvio, as circunstâncias fossem outras e seja necessária uma pequena adaptação no texto, penso que se aplica ao momento de transição que a mídia vive no Brasil a idéia gramsciana de que "o velho está morrendo e o novo apenas acaba de nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece".

(A frase original correta é: "A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece"; ver "O novo nasce, o velho ainda resiste".)

Um dos riscos que se corre, enquanto não se completam as intensas mudanças pelas quais passa a prática profissional do jornalismo, é esquecer que o velho resiste e sobrevive e está mais ativo do que nunca em defesa de seus antigos privilégios.

Não reconhecer essa realidade pode fazer bem ao ego insaciável de uns poucos blogueiros pioneiros, mas está longe de contemplar a verdade do que ainda ocorre no Brasil de nossos dias. A mídia tradicional continua exercendo um poder importante demais para ser simplesmente ignorado.


Venício A. de Lima

ELEIÇÕES - Não há lugar para Ciro em São Paulo.

Pedro do Coutto

A pesquisa do Datafolha publicada na edição de 29 de março e comentada por Fernando Canzian na Folha de São Paulo, revela que não existe lugar possível para uma eventual candidatura de Ciro Gomes ao governo paulista. Foram realizadas duas alternativas: Geraldo Alckmin, do PSDB, contra Aloísio Mercadante, do PT deu 53 a 13. A outra confrontando Alckmin com Eduardo Suplicy. O PT melhora um pouco. Em vez dos 13 de Mercadante, 19 para Suplicy.

Nos dois levantamentos, Celso Russomano, do PP, surge com dez pontos. O presidente da Fiesp, entidade de classe economicamente mais forte do país, depois, é claro dos bancos, registrou somente 2 por cento das intenções de voto. Vai desistir rápido, evidente. O percentual obtido é ridículo.

O PT revelou estar fraco em São Paulo. Se assim é, imaginem os leitores, como estaria Ciro Gomes. Provavelmente junto com Skaf. Não acrescenta nem retira votos de ninguém. Alckmin parece consolidado com o sucesso de Alberto Goldman que, no dia 2, substitui José Serra que deixa o governo para se desincompatibilizar. Eduardo Suplicy, em dúvida, apesar da separação de Marta, ainda é o nome mais forte ao governo paulista pelo Partido dos Trabalhadores. Os demais candidatos, como Skaf, vão retirar-se do plano. Afinal de contas não fica bem a um presidente da Fiesp ter somente 2 por cento da votação. Parece até que nem os próprios funcionários da Federação das Indústrias se dispõem a votar nele.

A base paulista é importante para Dilma Rousef. A mim parece que deverá terminando escolhendo Suplicy para que a margem de derrota não seja gigantesca em São Paulo, que concentra 21 por cento de todos os eleitores do país. Foi pena que o Datafolha não incluísse o nome de Ciro Gomes entre as hipóteses. Tenho a impressão- apenas a impressão, – que Ciro Gomes tenha dado zero por cento e, por isso, tenha sido retirado da lista. De qualquer forma, ele nada acrescenta a Dilma Roussef.

Em São Paulo, a preocupação de Lula e Dilma é diminuir ao mínimo a diferença de votos, já que as coisas não estão muito boas em Minas Gerais, e tampouco no Rio de Janeiro, neste caso em função da confusão criada pelo governador Sérgio Cabral, em vetar que Dilma Roussef suba no palanque de Anthony Garotinho. Afinal de contas, a inabilidade foi interpretada como um ultimato. E nenhum presidente da República, no caso Lula, pode reagir bem a ultimatos.

O governador precipitou e terminou ampliando o campo de Garotinho. Somados os votos de Gabeira e Garotinho, Gabeira contando com uma pequena parcela proporcionada por Marina Silva, o segundo turno ficou assegurado. Ou entre Cabral e Garotinho ou entre Cabral e Gabeira. Gabeira oferece mais perigo. Em primeiro lugar porque é um debatedor intelectualmente muito acima de Sérgio Cabral; em segundo, se puder contar com o apoio do ex-governador, forte nas áreas pobres do Rio e no interior do estado. Talvez com sua colocação infeliz tenha jogado fora sua reeleição, que a primeira vista pareceria tranqüila, mas se complicou com os royalties do petróleo.

Cabral revelou conhecer muito pouco do assunto e meteu os pés pelas mãos. O debate, no caso do petróleo, ultrapassou seu nível de competência, inclusive não leu nem a legislação complementar nem a própria Constituição do Estado, artigo 20. O artigo 20 define taxativamente a distribuição dos royalties. Alguém, por favor, forneça uma Carta de 89 do Rio de Janeiro para que ele, pelo menos, leia esse ponto da questão.

POLÍTICA - Há 46 anos, a ditadura. E a festa da Direita.

Sobre o Golpe Militar












José Dirceu escreve:

Dia 31 de março de 1964, trabalhando no centro antigo de São Paulo, num escritório da Praça da República para pagar meus estudos, assisti perplexo e indignado às manifestações de júbilo e apoio aos golpistas vitoriosos depois de duas tentativas de implantar a ditadura no Brasil, em 1954 e 1961.
Mais uma vez eram os mesmos de sempre com a UDN à frente - essa mesmo que vocês se lembram, virou ARENA, PDS, PPB, PFL e agora se chama DEM. Vai mudando de nome tentando enganar e achando que o povo esquece.
Derrubavam um presidente constitucional, João Goulart - o Jango - eleito democraticamente para instalar no país uma ditadura militar que durou 21 anos se tomarmos a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral como marco do seu fim, ou 24 anos se tomarmos como data a Assembléia Nacional Constituinte de 1988.

Os nefastos 21 anos que se iniciavam naquela noite
Naquele momento e com o desfile daquelas imagens da alta classe média paulistana e dos considerados na época "filhinhos de papai" do Colégio/Universidade Mackenzie apoiando entusiasticamente o golpe, iniciava-se a onda de repressão e violência que se abateria sobre o país e contra os democratas, os que defendiam a Constituição e a Liberdade.
Aquela cena e aquele dia mudaram para sempre a minha vida. Naquele momento tomei a decisão de me opor com todas as minhas forças e energias ao golpe militar, decisão que persegui durante vinte anos até a reconquista da democracia.
No momento em que assomei a janela para ver a cena dos estudantes de direita do Mackenzie descerem a Avenida Ipiranga rumo a Praça da República, mal sabia eu que minha vida estava sendo decidida naquela manhã de março, no simpático mês das águas e do meu aniversário.
Mal tinha idéia eu de que naquele dia e com as cenas que presenciava, se iniciava a mais longa e teneborosa noite que desabaria sobre o país, a nefasta ditadura sonhada e instaurada pela direita que sufocaria tantos e tantos democratas, atingiria em maior ou menor grau - e ainda que indiretamente - a todos os brasileiros, e se tornaria o período político e social mais nocivo vivido pelo país.

ECONOMIA - Como Meirelles foi parar no BC.

Do blog BALAIO DO KOTSCHO.

Com o dólar, a inflação e o risco Brasil subindo assustadoramente no período entre a eleição e a posse de Lula, no final de 2002, tornava-se cada vez mais urgente, para acalmar os mercados, que o novo presidente indicasse logo o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Foi preciso dar logo nomes aos bois para provar que a Carta aos Brasileiros, lançada em meio à campanha, era para valer.

O problema é que ninguém queria aceitar o cargo de presidente do Banco Central de um governo do PT. Após alguns convites recusados, Lula chegou ao nome de Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do Banco de Boston e recém-eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás, por indicação de Aloizio Mercadante, seu antigo assessor econômico, que acabara de se eleger senador pelo PT de São Paulo.

Já naquele momento não era fácil para Meirelles tomar uma decisão, como acontece agora com o suspense em torno da sua permanência ou não no Banco Central: para aceitar o convite de Lula, ele teria que renunciar ao seu mandato de deputado federal. Como sabemos, o poder de convencimento de Lula funcionou naquela ocasião.

Meirelles e Mercadante se conheceram em 1995, após a derrotada campanha presidencial de Lula no ano anterior, durante a implantação do Projeto Travessia, um programa social para menores de rua do centro da cidade, criado por iniciativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo, no qual eu também trabalhei.

Então presidente do Banco de Boston no Brasil, Meirelles aceitou logo de cara o convite que lhe foi feito pelo presidente do sindicato na época, o hoje deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), e vestiu com gosto a camisa do Projeto Travessia, que existe até hoje, e é considerado um modelo no atendimento a menores carentes.

Participamos juntos de várias reuniões para viabilizar o projeto e surgiu daí a admiração mútua entre Meirelles e Mercadante. Nem o homem do Boston estava nos planos iniciais do presidente eleito, muito menos Meirelles poderia esperar este convite, tendo sido eleito pelo PSDB, o partido derrotado pelo PT em 2002.

Da mesma forma como ninguém esperava que o médico sanitarista Antonio Palocci, então prefeito de Ribeirão Preto, fosse convidado por Lula para assumir o Ministério da Fazenda, a indicação de Meirelles só surpreendeu quem ainda não conhecia os critérios do novo presidente para montar seu governo.

Lula tinha deixado claro para sua equipe, antes mesmo antes da eleição, que pretendia chamar para o governo os que considerava melhores em cada área, independentemente do partido a que pertenciam ou do candidato que tenham apoiado.

Foi assim que ele convidou o agrônomo Roberto Rodrigues, que havia se engajado na campanha presidencial do tucano José Serra, para o Ministério da Agricultura, ao descobrir que ele se encontrava hospedado no mesmo hotel em Araxá, onde Lula participava de uma reunião convocada por Aécio Neves com os governadores eleitos pelo PSDB.

Pelo mesmo motivo, convidou também outro apoiador de Serra, o empresário Luiz Furlan, então presidente da Sadia, para o Ministério do Desenvolvimento, encarregando-o de exercer o papel de grande mascate dos produtos brasileiros no exterior com a missão de abrir novos mercados.

No governo, Antonio Palocci (depois substituído por Guido Mantega) e Henrique Meirelles seriam os principais responsáveis, primeiro, pela estabilidade e, depois, pelo crescimento econômico registrado pelo país nos dois mandatos de Lula.

Por isso, a insistência do presidente Lula para que Meirelles permaneça à frente do Banco Central até o final do governo. Meirelles ainda não anunciou oficialmente o que pretende fazer da vida, mas tem tempo até esta quinta-feira para dizer se fica ou se sai do BC. Se depender do presidente Lula, que é muito grato a ele, e reconhece a sua importância para o bom momento econômico vivido pelo país, tenho certeza que Meirelles fica.

MÍDIA - Roberto Marinho, Armando Nogueira, a Proconsult.

Do blog da TRIBUNA DA IMPRENSA.

(Trecho do livro “Brizola Tinha Razão”,
do jornalista FC Leite Filho)

“No dia 18 de novembro de 1982, inconformado com a demora na divulgação dos resultados da eleição, em que era tido por todos como candidato vitorioso ao governo do Rio de Janeiro, Leonel Brizola procurou a imprensa internacional para denunciar uma tentativa de fraudar a apuração e declarar eleito o candidato do PDS Moreira Franco.

Mais tarde, o candidato do PDT foi à sede da Rede Globo de Televisão, no Jardim Botânico, no Rio, e exigiu espaço para falar. Ele via na emissora o braço direito da conspiração, pelo modo faccioso com que se comportou, ao desconhecer os resultados favoráveis a Brizola, que eram corretamente projetados pelo Jornal do Brasil; e a Rádio Jornal do Brasil.

Como se verificou depois, segundo denúncias que também partiram de funcionários da própria Rede Globo, as Organizações Globo, juntamente com o SNI estavam envolvidas naquilo que mais tarde se tornou conhecido como a Operação Proconsult.

Esta operação, que levava o nome da empresa encarregada de proceder à apuração do Rio de Janeiro, a Proconsult-Racimec – de propriedade de antigos oficiais de informação do Exército – tinha como objetivo virar na marra os resultados em favor do candidato do Governo federal na época, Moreira Franco.

A estratégia consistia em sonegar os resultados da capital, a cidade do Rio, que reúne mais de dois terços do eleitorado do Estado, e onde Brizola obteve cerca de 70% dos votos, e só divulgar uma média das apurações do interior, onde Moreira era majoritário, com as da periferia e parte da capital, de modo que situasse sempre Moreira Franco à frente dos votos. Isto era para infundir no público a convicção de que Moreira Franco e não Leonel Brizola ganharia a eleição.

Da contenção dos resultados da capital, a Proconsult passaria para a inversão pura e simples dos mapas eleitorais, em favor de Moreira .Franco, na proporção que o público fosse trabalhado subrepticiamente pela Rede Globo a achar que o candidato do PDS, que já fazia declarações nas emissoras de rádio e televisão na qualidade de virtual governador, tinha sido mesmo o vitorioso.

As denúncias de Brizola, que logo chegaram à opinião pública nacional acabaram provocando grande impacto popular, com reações nas ruas do Rio contra os veículos das Organizações Globo, que não incluam somente a televisão, mas o jornal O Globo e a Rádio Globo.

Pressionada por aquilo que ameaçava se transformar numa rebelião popular de proporção nacional contra a Globo, a emissora não teve outra saída, senão conceder espaço a Brizola para fazer a denúncia e abortar a conspiração contra as urnas, em plena cidade do Rio de Janeiro. E isto foi feito no horário de depois das 22 horas daquele dia 18 de novembro de 1982.

Ali mesmo, Leonel Brizola assegurou a verdade eleitoral. Logo depois de sua entrevista, á tarde, aos correspondentes estrangeiros, a Globo passou a admitir que Brizola encaminhava-se para chegar à frente dos votos e não mais Moreira Franco, como a emissora vinha insinuando, desde o início da apuração, que tentou esconder, juntamente com o SNI.

Até à noite de 18 de novembro, os resultados chocavam-se violentamente com os da Rádio Jornal do Brasil;, que projetou a vitória de Brizola sobre Moreira Franco, com mais de 100 mil votos de vantagem, desde o término da votação, no dia 15 de novembro.

A fala de Brizola na Rede Globo teve um efeito tão fulminante que a emissora se viu obrigada a suspender, no outro dia, 19 de novembro de 1982, toda a programação eleitoral, que incluía inserções quase de hora em hora sobre a marcha da apuração, a partir de um grande aparato, em que havia até computadores dentro do estúdio, para manuseio dos apresentadores. Os resultados eleitorais passaram então a ser divulgados, agora com correção, dentro dos telejornais.”

Comentário, rigorosamente verdadeiro, de Helio Fernandes:
Na TV Globo, o comando era de Roberto Marinho, através de Armando Nogueira. No Jornal do Brasil e Rádio Jornal do Brasil, o trabalho jornalístico era feito por Pedro do Coutto e Paulo Henrique Amorim, que mais tarde passou para a própria Globo.

Como não gostava de perder, Roberto Marinho demitiu Armando Nogueira, que era Diretor de Jornalismo da televisão, ficou no ostracismo. Anos mais tarde, entrou na SporTV, cuidando apenas de fatos esportivos.

***

PS – Quem lançou Armando Nogueira no jornalismo foi este repórter. Dei a ele o primeiro emprego, na seção de esportes do Diário Carioca. Eu era chefe de Redação, acumulando com o comando da página de esportes.

PS2 – Eu e o Horacinho de Carvalho (dono do jornal), íamos fazer uma revista de esportes, eu já havia até registrado do título, XUTE, assim mesmo, sempre gostei de revistas com 4 letras no título: Life, Time, por aí.

PS3 – Tenho os dois livros do Armando Nogueira, com dedicatórias enormes, “Meu mestre, meu máximo mestre”, e vai por aí. O que aconteceu com ele, e com outros, (como Evandro Carlos de Andrade), é que entravam para a Organização Globo, me evitavam, com receio do doutor Roberto Marinho, que eu combati a vida inteira.

PS4 – Basta isso, poderia ir muito mais longe, não entro nesse Maracanã de lamento sem lamentação mas lamentável.

POLÍTICA - Ainda há tempo para mudanças.

Por Mauro Santayana


Hoje é o último dia para que os ocupantes de cargos executivos, que não disputam a reeleição, se desincompatibilizem, se quiserem candidatar-se em outubro. É ainda muito cedo para que o pleito seja visto como decidido. É provável que esta manhã haja quem tenha, depois de consultado o travesseiro, resolvido não trocar o certo pelo duvidoso. A vida de um homem é uma sucessão de instantes, entre o primeiro e o último, e as grandes decisões, ainda que sejam longamente meditadas, são tomadas no último momento.

Estamos no último dia de março. As candidaturas postas deverão afrontar os tempestuosos tempos do outono e do inverno, com a guerra de dossiês, as acusações de lado a lado, a exasperação dos candidatos, sob o fogo impiedoso dos adversários. Coincidirão, esses meses, com o desenvolvimento de processos contra personalidades públicas nos tribunais superiores. Tudo isso alimentará o clima que antecede as convenções partidárias. Nada garante que esses encontros, órgãos de absoluta soberania, irão ratificar os nomes tidos como competidores definitivos. O aparecimento de candidaturas dissidentes é uma tradição no Brasil, e nem mesmo o governo militar foi capaz de impedi-las. É conhecida a rasteira que Paulo Maluf passou em Laudo Natel, na convenção estadual da Arena, em junho de 1978. O sistema militar, sob o comando do general Geisel, tinha horror a Maluf, porque ele vinha apostando na linha dura de Sílvio Frota. Geisel decidiu apoiar o ex-governador Laudo Natel, que governara o grande estado entre 1971 e 1975. Maluf visitou todos os delegados convencionais, um a um, e, na convenção da Arena, obteve 617 votos contra 589: a vitória foi apertada, mas Geisel se viu obrigado a engolir a derrota, em nome das próprias regras que o regime impusera. Na época, escrevendo para um jornal de São Paulo, resumi o assunto, dizendo que Maluf, sabendo que a convenção, dentro das circunstâncias antidemocráticas da época, era um assalto, assaltou o assalto. O fato lembrou aquelas cenas de faroeste antigas, quando um bando que assalta a diligência é cercado por outro, e perde o butim.

“Bater chapa” é uma tradição na vida partidária brasileira. Na convenção do PMDB, em 1989, o mais ilustre de seus líderes vivos, Ulysses Guimarães, não se sentiu diminuído com a decisão de Waldir Pires, Álvaro Dias e Íris Resende em disputar -lhe a indicação do PMDB à candidatura presidencial. Vencendo a convenção, com poucos votos de diferença, chamou Waldir a fim de compor a chapa como seu vice. Em São Paulo, em 1982, para assegurar a coesão partidária, Mário Covas desistiu da candidatura a vice, com Montoro, em favor de Orestes Quércia. Jânio Quadros venceu Juraci Magalhães, na convenção da UDN, em 1960. De certa forma, “bater chapa” é a manifestação de democracia no interior dos partidos políticos.

Não será surpresa se, durante as convenções estaduais e nacionais dos vários partidos, surgirem candidaturas de última hora. De acordo com a legislação e conforme os estatutos do partido, qualquer filiado, em dia com suas obrigações partidárias, e no gozo de seus direitos políticos, pode pleitear a indicação e dirigir-se aos delegados, apresentando seu programa e pedindo os votos. Quem obtiver a maioria, leva. E como é da tradição, cabe ao vencedor compor-se com os vencidos, para a reconstrução da unidade partidária. No passado, isso era comum, e não seria novidade em junho próximo. Passadas as convenções, e iniciada oficialmente a campanha, seria conveniente que a escolha não fosse plebiscitária. Um segundo turno é conveniente, a fim de que haja composições políticas capazes de matizar o resultado eleitoral, e assegurar o direito das minorias partidárias na medida do possível.

Um homem de jornal

Registro, com atraso, meu pesar pela morte de Armando Nogueira. Estive com ele poucas vezes, sempre por acaso, e não fomos além dos cumprimentos e de rápidos comentários sobre os assuntos do dia. Tivemos, no entanto, muitos amigos comuns, entre eles Araújo Neto, que me davam notícias de sua grandeza. Como era de hábito entre seus colegas de geração, admirava-lhe o estilo leve e sério, o texto correto, a elegante criatividade da frase, que coincidiam com a sua reconhecida dignidade pessoal.

POLÍTICA - A hora de Serra e Lula.

Do blog ENTRELINHAS.

José Serra vai bem, obrigado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também vai muito bem, obrigado. É o que revela a presquisa Datafolha publicada neste final de semana. A popularidade do governo Lula bateu recorde histórico - não apenas em relação à performance do próprio Lula, mas de todos os presidentes pesquisados pelo instituto. E Serra abriu uma confortável vantagem de 9 pontos sobre Dilma Rousseff.


Afinal, o que esses números querem dizer?

A interpretação de pesquisas é sempre complicada, mas no que diz respeito a Lula e Serra, talvez as coisas sejam mais simples do que parecem. Lula vai bem porque a economia vai muito bem - empregos estão sendo gerados, a renda vai subindo, há crédito na praça. Em outras palavras, o povão está satisfeito porque o dinheiro está entrando e as possibilidades de consumo estão se ampliando. O Brasil é um país muito desigual e a carência de consumo das classes mais pobres é enorme. Para esta parcela da população, Lula resolveu muitos problemas, sobretudo o principal: deu condições para os pobres consumirem mais. Só que o governo também é aprovado por parcela do topo da pirâmide e da classe média, do contrário não chegaria aos quase 80% de aprovação verificados pelo Datafolha - e vale lembrar que este instituto não pesquisa a popularidade pessoal do presidente, apenas a do governo. A aprovação no topo e na classe média é mais sutil - no topo, ela se dá porque o presidente manteve um pragmatismo absoluto em relação os planos iniciais de seu partido, e na classe média, porque, ao contrário do que muita gente diz e pensa, ela também vem sendo beneficiada economicamente pelo atual governo.

E Serra? Por que o governador vai tão bem nas pesquisas? O que está provocando tamanha resiliência, que o mantém em primeiro lugar há tantos meses? Não, definitivamente, já não pode ser apenas o efeito do "recall", há algo mais e a base governista sabe disto. Serra não tem carisma algum, e se está na frente, não é apenas porque a imprensa adota uma postura simpática e até parcial em relação à candidatura tucana, como querem muitos petistas. Serra está na frente por uma razão muito simples: não é Lula quem está do outro lado. Se fosse, é óbvio que o governador paulista teria seus 25% ou até mesmo 30%, mas Lula teria certamente mais de 50%, com folga. O problema tem nome e sobrenome: Dilma Rousseff. A escolha do presidente, ele mesmo sabe disto, é uma aposta de alto risco. Lula nunca deixou outra liderança se sobressair durante seu governo e sua história partidária, ele sempre foi o líder e comandante. Escolheu uma mulher forte e determinada, mas que jamais disputou eleição, a primeira será para presidência da República.

Não é fácil carregar uma candidata assim. Claro que a campanha nem começou e Dilma tende a subir quando o povão perceber que ela é a candidata de Lula, e não Serra. Só que em política as coisas não são tão simples, transferir votos é possível, mas sempre difícil. Serra já cedeu e não vai tentar fazer um Aloysio Nunes Ferreira candidato ao governo porque sabe que Geraldo Alckmin é muito mais forte, tem vôo próprio e votos, especialmente no interior de São Paulo... O PT tinha outros nomes mais vinculados a Lula e ao PT - Eduardo e Marta Suplicy, Jaques Wagner, Tarso Genro e até mesmo José Dirceu - este fora da disputa pelas regras impostas por sua cassação do mandato de deputado federal. Lula, porém, optou por uma solução diferente: se vencer com Dilma, a vitória é exclusivamente sua; se perder, a derrota será exclusivamente dela, e o diálogo com Serra não é algo que vá dar muita dor de cabeça para o atual presidente, embora, é óbvio, este não seja o cenário com o qual ele trabalhe.

Dilma pode ganhar a eleição? Sim, pode, mas o favorito é José Serra. Este blog acha mais provável uma vitória da ministra, mas o governador de São Paulo é muito forte e deverá fazer bonito na eleição, mesmo que perca. A menos que Marina Silva tenha uma performance pífia e Ciro Gomes desista da candidatura, a eleição deverá ser decidida no segundo turno. E aí tudo tende a esquentar bastante, os erros e acertos das equipes de marketing político vão contar muito e poderão ser fundamentais em uma eleição que tende a ser bastante acirrada.

A postura do presidente de deixar de lado a hipótese de um terceiro mandato deveria ser hoje objeto de louvação dos oposicionistas, porque sem dúvida alguma nove entre dez analistas políticos vaticinariam a vitória de Lula já no primeiro turno, fosse ele hoje o candidato petista e qualquer que fosse o adversário. Mas Lula preferiu deixar o barco correr e refutou a hipótese de mais uma reeleição. Não é pouca coisa, e a verdade é que a grande chance de Serra reside justamente na falta de "persona" de sua adversária. É evidente que quando a campanha começar, o "fator Lula" deve pesar bastante. Serra sabe disto e já sinalizou que em Lula, não baterá. Vai tentar se eleger mostrando aos brasileiros que sua biografia é mais confiável do que a de Dilma. Resta saber se isto é suficiente...

ANOS DE CHUMBO - Chomsky e o golpe de 64.


Chomsky diz que o barbarismo do nosso tempo começou com o golpe de 1964 no Brasil

Ao receber o prêmio Erich Fromm 2010, no último dia 23 de março, em Stuttgart, na Alemanha, Noam Chomsky procedeu à leitura de seu discurso “The evil scourge of terrorism”: Reality, construction, remedy” (O perverso flagelo do terrorismo: Realidade, construção e remédio).

Em vigorosa explanação, ele detalha o mecanismo do terrorismo atual, a partir e após o governo Reagan, vasculhando também nos governos Eisenhower e Kennedy.

Os golpes, invasões, as mazelas da CIa e inteligência militar usadas contra Cuba, Nicarágua, El Salvador, Líbia, Irã, Afeganistão,Teologia da Libertação, Argentina, Chile, Brasil, são expostos como partes da estratégia e campanha dos governos norte americanos de deter a conscientização dos povos para a libertação do seu domínio. Campanha esta que teria terminado somente alguns dias depois da queda do muro de Berlim, em 1989, com o assassinato de jesuítas em El Salvador.

Aqui tradução livre de alguns trechos que nos tocam diretamente:

“À parte Cuba, a praga do estado de terror no hemisfério ocidental foi iniciada com o golpe basileiro em 1964, instalando a primeira de uma série de Estados neo-nazi de Segurança Nacional e inciando uma praga de repressão sem precedente no hemisfério, sempre fortemente apoiados por Washington, fonte de uma particularmente forma de estado-dirigente de terrorismo insternacional. A campanha foi em substancial medida, uma guerra contra a Igreja. Foi mais do que simbólico que culminou no assassinato de seis intelectuais dirigentes latino americanos, padres jesuítas, em Novembro de 1989, poucos dias depois da gueda do muro de Berlim. Eles foram mortos por uma elite do batalhão salvadorenho, recentemente retreinados na Escola de Forças Especiais John F.Kennedy, na Carolina do Nort. Como foi aprendida no último Novembro, mas aparentemente não despertou interesse, a ordem para o assassinato foi assinada pelo chefe do staff e seus associados, todos eles tão estritamente conectados com o Pentágono e a Embaixada dos Estados Unidos, que se tornou muito difícil imaginar que Washington estava alheio aos planos de seu batalhão modelo. A força de elite já tinha deixado um rastro de sangue das vítimas usuais através de hedionda década de 1980 em El Salvador, que se iniciou com o assassinato do Arcebispo Romero, “a voz dos sem voz”, pelas mesmas mãos.

O assassínio dos padres jesuítas foi um duro golpe para a teologia da libertação, o notável reviver do Cristianismo iniciado pelo Papa João XXIII, no Vaticano II, que ele iniciou em 1962, no evento que “introduziu uma nova era na história da Igreja Católica”, nas palavras do renomado teólogo e historiador do cristianismo Hans King. Inspirado pelo Vaticano II, os Bispos da América Latina adotaram “a opção preferencial pelos pobres”, reavivando o pacifismo radical dos Evangelhos que tinham sido eliminados quando o Imperador Constantino estabeleceu o cristianismo como a religião do Império Romano – “a revolução” que converteu “a igreja perseguida” para uma “igreja perseguida”, nas palavras do Rei. No pós-Vaticano II, atentos para reviver o Cristianismo do período pré-Constantino, padres, freiras e leigos levaram a mensagem dos Evangelhos para os pobres e os perseguidos, trouxeram-nos juntos em “bases comunitárias” e os encorajaram a levar seus destinos com suas próprias mãos e trabalharem juntos para acabar a miséria da sobrevivência em brutais domínios de poder dos Estados Unidos.

A reação para essa grave heresia, não estava longe de vir. A primeira desculpa foi o golpe militar no Brasil em 1964, derrubando um governo algo democrático social e instituindo um regime de tortura e violência. A campanha terminou com o assassínio dos jesuítas intelectuais 20 anos atrás. Tem havido muito debate sobre quem merece crédito pela queda do muro de Berlim, mas não há nenhum sobre a responsabilidade pela brutal demolição da tentativa para reviver a igreja dos Evangelhos. A Escola de Washington das Américas, famosa por seu treinamento de matadores latino americanos, orgulhosamente anunciou uma vez, entre os seus itens listados, que a teologia da libertação foi derrotada com a assistência da armada dos Estados Unidos — dado uma mão, sem dúvida ao Vaticano, usando os mais gentis meios de expulsão e supressão.

Como recordam, o último novembro foi dedicado à celebração do 20º aniversário da liberação do leste da Europa da tirania russa, uma vitória das forças do “amor, tolerância,não violência, o espírito humano e perdão”, como Vaclav Havel declarou.Menos atenção – de fato, virtualmente zero – foi devotada para o brutal assassinato de seus contrapartes salvadorenhos, poucos dias depois que o muro de Berlim caiu. E eu duvido que alguém poderia mesmo achar uma alusão para o que aquele brutal assassinato significou: o fim de uma década de terror vicioso na América Central e o triunfo final do “retorno ao barbarismo do nosso tempo”, que se iniciou com o golpe brasileiro de 1964, deixando muitos mártires religiosos em sua vigília e terminando a heresia iniciada no Vaticano II – não exatamente uma era de “amor, tolerância, não violencia, o espírito humanitários e perdão.”

O GUERREIRO OBAMA E O PEIXE FORA D'ÁGUA.

Do blog Provos.Brasil.

Frei Betto


O guerreiro Obama e o peixe fora d'água

Obama é uma decepção! Recebeu imerecidamente o Nobel da Paz - um presidente que guerreia o Iraque, o Afeganistão e o Paquistão - e, em discurso de agradecimento, pronunciou a palavra "guerra" 49 vezes!

Obama apoiou o governo golpista de Micheletti em Honduras e, agora, ocupa militarmente o Haiti, sob pretexto de socorrer as vítimas do terremoto, e militariza a América do Sul através da implantação de sete novas bases usamericanas na Colômbia, onde já operam seis.

Só mesmo um ingênuo acredita que os 800 soldados e os 600 civis made in USA que se instalam na Colômbia têm por objetivo combater o narcotráfico e o terrorismo. Desde 1952 os EUA se fazem presentes na Colômbia sob o mesmo pretexto; nem por isso houve redução do tráfico de drogas, consumidas em grande quantidade pela população usamericana.

O objetivo da IV Frota é desestabilizar o governo Chávez, manter sob vigilância o Equador governado por Rafael Correa, dificultar as vias aéreas e terrestres entre Venezuela, Equador, Bolívia e Paraguai, e controlar as fronteiras com o Brasil.

O governo usamericano empenha-se em reforçar sua hegemonia no planeta. Hoje, ele mantém 513 bases militares na Europa; 248 na Ásia; 36 no Oriente Médio; 21 na América Latina; 5 na África. Total: 823, que ocupam uma superfície de 2.863.544 km2.

Sabem quantas bases militares estrangeiras há nos EUA? Nenhuma.

As tropas estadunidenses gozam de imunidade judicial e tributária nos países que operam e dispõem da mais moderna tecnologia bélica, desde aeronaves não tripuladas, conhecidas por UAS (Unmanned Aircraft System) aos aviões F15 Strike Eagle com velocidade de 2.660 km/h, autonomia de voo de 5h15min e capacidade de voar a 18 mil metros de altura.

Porém, não é só com equipamento bélico que os EUA cuidam de dominar o mundo. Utilizam, sobretudo, recursos ideológicos, como as produções cinematográficas hollywoodianas tipo "Avatar", que visam a nos convencer de que a salvação vem de fora e vem de quem possui mais tecnologia e ciência...

Na última semana de janeiro estive no Equador participando de um evento que reuniu povos indígenas de quase toda a América Latina. Eles se sentem ameaçados, inclusive pelos novos governos democráticos-populares. À exceção de Evo Morales, difícil para os demais governantes reconhecerem que os povos indígenas têm direito à língua, cultura, sistemas econômico e escolar, métodos de produção e terra próprios.

Isso lembra uma antiga parábola oriental: ao observar que o macaco tirou o peixe da água e o colocou no cimo da árvore, a águia perguntou-lhe por que fizera aquilo. O macaco respondeu: "Para que possa respirar melhor e não morrer afogado."

É esse nosso colonialismo entranhado, essa nossa subserviência aos "valores" consumistas do mundo ocidental, essa reverência ao "american way of life", essa convicção de que a felicidade reside na posse de bens finitos e não de valores infinitos, que nos faz tirar o peixe do rio para que possa respirar melhor...

ELEIÇÕES - O crescimento de Serra não quer dizer muita coisa.

Pedro do Coutto

O crescimento da candidatura José Serra sobre Dilma Roussef, apontado na pesquisa do Datafolha publicada no sábado e comentada por Fernando Rodrigues, não representa qualquer mudança substancial no comportamento do eleitorado em matéria de intenções de voto. A diferença no início das pesquisas era muito maior e, em relação à última representou um avanço de cinco pontos. Efeito típico de finalmente ele ter se decidido a anunciar sua candidatura, posta sob dúvida em face de suas vacilações.

O quadro não mudou. Ciro Gomes ficou com 11%, Marina Silva em 8%. Desceu o número de indecisos que há um mês era de 22% para 18 pontos. Está neste patamar o avanço de Serra. Tanto é assim que não se registrou recuo de Dilma. Ela estava no 27º andar e nele permaneceu. Na simulação para o segundo turno, a vantagem de 9 pontos para Serra, 48 a 39, conseqüência do fenômeno registrado na pesquisa para o primeiro turno.

Eleitores de Serra, apesar do apoio de FHC, finalmente decidiram marchar com o candidato na fase inicial da campanha. Afinal, no próximo dia 2, o primeiro deixará o governo de São Paulo, a segunda a chefia da Casa Civil. Não houve qualquer afirmação nova. Tudo ficou como dantes, exceto a disposição de Serra de novamente enfrentar as urnas.

Não se conhece a plataforma de nenhum dos dois. Serra não se sabe. Em seu governo, ele tentou vender a Cesp e não conseguiu. Quanto à política de terceirização, as posições de Dilma parecem infinitamente mais claras. Pois a desestatização leva à demissão dos terceirizados que na Petrobrás são 192 mil. Um milhão de votos.

No caso de distribuição das cestas básicas, as afirmativas de Serra não têm o poder de convencimento quanto à continuidade de programa. Não quero dizer com isso que o programa seja excelente. Estou querendo dizer que ele rende votos na urna e sem votos na urna ninguém chega ao poder.

Relativamente à política salarial, a de Lula, que não é das melhores, é menos ruim do que a de Fernando Henrique, que foi das piores. Além disso, FHC se passa como autor do plano Real, quando a autoria efetivamente pertence a Itamar Franco. O setor elétrico do PSDB foi uma calamidade, culminando com uma elevação de 20% nas tarifas. Um desastre.

Mas estes são outros assuntos. Sobretudo porque nem Lula nem FHC são candidatos. Mas estão, Serra e Dilma vinculados às suas origens. O primeiro deixou o governo embaixo de enorme impopularidade. O segundo apresenta uma aprovação de 76 pontos contra uma rejeição singular de apenas 4%. A transferência de votos será inevitável quando a campanha esquentar.

De qualquer forma, porém, o avanço de Serra foi positivo para esquentar o embate e mostrar que Ciro Gomes tira mais votos de Serra do que de Dilma. Isso talvez o mantenha na campanha para adicionar reforços que impeça a decolagem do candidato do PSDB. Apenas esta é sua importância no pleito. Ele não terá outra função. Será mais um aliado de Dilma num embate que parece previamente decidida. Não mais do que isso. Os tucanos já avaliaram o quadro. Pela primeira vez, em minha opinião, uma mulher, pelo voto chegará à presidência do Brasil.

MÍDIA - Papa, Lula, Serra e o poder da imprensa.

Primeiro ministro das Comunicações do governo Lula, o jornalista e deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) nem terminava de ouvir as queixas que o presidente e seus colegas de gabinete lhe faziam contra a imprensa. Com bom humor, apontava para mim, e encerrava a discussão:

“A culpa é do Kotscho!”. Na época, eu era o responsável pela área de imprensa do governo.

Toda vez que nos encontrávamos, era esta a saudação que ele me fazia, e faz até hoje. Lembrei-me destas brincadeiras do Miro ao ler as queixas do papa Bento 16, do presidente Lula e do governador José Serra contra a cobertura que a imprensa lhes dedica. Os motivos são diferentes, mas a bronca é a mesma.

Criticado por acobertar a prática da pedofilia envolvendo padres da sua igreja, Bento 16 aproveitou a missa do Domingo de Ramos no Vaticano para desabafar e garantiu que não se deixará intimidar por “fofocas de opiniões dominantes”.

O presidente Lula, que vive às turras com a chamada grande imprensa desde o início do seu governo, subiu o tom nos últimos dias e acusou de “má-fé” orgãos de imprensa que dão mais destaque a problemas do que às grandes obras do seu governo.

Na mesma linha, o governador Serra, que já bateu de frente com repórteres da TV Record e da TV Brasil, cobrou publicamente, na semana passada, mais destaque na cobertura jornalística das suas obras na área de saúde e qualificou de levianas algumas informações publicadas.

Que se passa para juntar no mesmo balaio figuras públicas tão diversas?

Não há nas reações de Bento 16, Lula e Serra nenhuma grande novidade. Sempre foi assim, desde que comecei a trabalhar em jornal, já faz quase meio século. Tanto nas igrejas como nos governos, ninguém gosta de ser criticado, e confunde-se habitualmente jornalismo com propaganda.

A partir do momento em que a imprensa começou a ser chamada de quarto poder, alguns coleguinhas, de fato, se empolgaram com seu papel, e passaram a agir como se fossem, ao mesmo tempo, policiais, promotores e juízes, dando-se o direito supremo e único de denunciar, julgar e condenar qualquer pessoa, entidade ou instituição.

Sem entrar no mérito das queixas dos três personagens citados neste texto, o fato é que há algo de muito estranho acontecendo no nosso país quando a presidenta da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Maria Judith Brito, se sente no direito de afirmar, como fez em recente encontro promovido em São Paulo, segundo o jornal O Globo:

“A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”.

Como assim? Quer dizer que, se os partidos de oposição estão fragilizados, cabe aos orgãos de imprensa representados pela ANJ assumirem a tarefa de enfrentar o governo?

Está aí uma coisa que muita gente já vinha desconfiando, mas ninguém ainda da alta cúpula da mídia havia admitido assim, publicamente, com tanta franqueza: em lugar do PSDB, DEM e PPS, a oposição oficial, agora era a mídia, que deveria assumir esta responsabilidade.

Em seus encontros anteriores, como a do Instituto Millenium, os donos da mídia e seus homens de confiança, ao contrário de Brito, acusavam o governo exatamente de ameaçar a liberdade de uma imprensa que sempre fez questão de se dizer independente, apartidária, plural, neutra, objetiva, isenta e tal, que se limita a apurar e publicar fatos.

De outro lado, não acredito que seja tarefa de governantes criticar coberturas jornalísticas e dizer como o trabalho da imprensa deveria ser feito. Não ganham nada com este papel de ombudsman e só pioram a relação com a mídia. Já tive a oportunidade de dizer isso várias vezes ao meu amigo presidente Lula, quando trabalhei com ele, e até agora. Cabe, sim, à imprensa fiscalizar e criticar os governos de qualquer latitude.

A confusão começa, porém, quando esta mesma imprensa deixa de lado os cuidados com seus deveres de bem informar a sociedade para agir como partido político. Se cada um cuidasse apenas da parte que lhe cabe na grande orquestra da democracia, todos sairiam ganhando.

Sobre este mesmo tema, meu colega Luciano Martins Costa, escreveu no Observatório da Imprensa: “O risco maior para a imprensa vem da própria imprensa, quando os jornais se associam para agir como um partido político (…) Quando a imprensa abandona seu eixo, todos saem perdendo. Principalmente a imprensa”.

Se até o Papa, que é o Papa, já anda reclamando das “fofocas” da imprensa, posso imaginar como se sente diante deste poder o cidadão comum, que hoje não tem nem direito a resposta em nosso país.

terça-feira, 30 de março de 2010

MÉXICO - O último rosto do subcomandante Marcos.


O último rosto do subcomandante Marcos

É um rosto, finalmente descoberto, que vem do passado de todos os remorsos dos opressores e de todas as ilusões dos oprimidos, a face certamente "barbuda", guevarista, romântica do companheiro Zero, do "Subcomandante Marcos", que, desde 1994, mantém vivo nas florestas entre o México e a Guatemala o mito da grande revolta agrícola e indígena.

A reportagem é de Vittorio Zucconi, publicada no jornal La Repubblica, 28-03-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A foto "desencapuchada", sem a balaclava e o cachimbo que foram, por quase 20 anos, a marca e a imagem do último revolucionário mexicano, foi publicada em um jornal progressista do México, La Reforma, aparentemente fornecida por um traidor da causa.

E se não for talvez a primeira foto do ex-professor Ralf Sebastian Guillen, da Universidade Autônoma, como parece ser o seu verdadeiro nome, já vista em seu documento de identidade, esta parece ser mais verdadeira porque corresponde finalmente àquilo que todos os admiradores, os seguidores, os visitadores que desembarcaram na floresta de Chiapas em peregrinação de todo o mundo, os "sandalistas", como eram chamados ironicamente pelos locais e militantes armados do seu Exército de Libertação Zapatista, imaginavam que ele fosse.

Ela pertence, com esse olhar escuro e intenso enquadrado por uma barba fechada e muito preta, à iconografia clássica do "rebelde", do Caribe à Patagônia, do intelectual, do burguês - como eram Fidel, o advogado instruído pelos jesuítas, e "el Che", o médico argentino -, que joga sua própria condição de privilégio social às urtigas e se inclina, com fuzil na mão, do lado dos rejeitados. Entre misticismo e ideologia, missionários da libertação dos pobres, dos indígenas pisoteados e repisoteados antes pelos conquistadores ferozes do império espanhol e depois pelos proprietários de terra e pelos criadores sem coração.

O mito e a figura do "Delegado Zero", um zero, como se autodefinia por humildade de revolucionário confirmada pelo cargo não de comandante, que o Che havia adquirido na Serra cubana, mas de "subcomandante", explodiram em 1994, quando as suas pequenas tropas de indígenas maias com AK-47 surgiram da estupenda floresta centro-americana e apareceram na pequena capital de Chiapas, a cidadezinha colonial de San Cristobal de Las Casas.

Sob a evidente proteção oficiosa do "santo bispo", como os locais consideravam Dom Ruiz Garcia, um dos últimos latino-americanos ainda fiéis à teologia da libertação e ao Cristo dos últimos, o Subcomandante, os seus pequenos militantes, em sua maioria mulheres, a sua mística revolucionária, mas não violenta e certamente nunca sanguinária ou corrompida como a dos terroristas do Sendero Luminoso ou dos guerrilheiros colombianos, acreditaram no mistério daquela balaclava e daquela nuvem de tabaco do cachimbo.

San Cristobal, as suas "posadas", os albergues modestos mas bonitos, a catedral da qual o "santo bispo", tolerado por uma hierarquia católica sensível ainda no desespero temporal dos perdedores, pregava maldizendo a pobreza, os restaurantes improvisados administrados por italianos fugitivos perseguidos por mandatos de captura por grupos armados mas convertidos às massas da cozinha para nós, jornalistas italianos, cansados de guacamole e tortillas, se tornaram o refúgio dos últimos sonhos pós-leninistas e pós-soviéticos.

No encantamento traidor e de fábula de uma floresta ainda virgem, atravessada pelo "caminho" sobre o qual desciam velozmente as multidões de lenhadores maias em carrinhos de madeira sem freios e sem medo, o ex-professor da maior universidade mexicana, a Autônoma, entre bases do Exército impotente, postos de bloqueio da polícia local corrupta, bandos de estrada e os "macacos brancos", os zapatistas aninhados em seus vilarejos inencontráveis, atraíram a simpatia de diferentes personagens como Fausto Bertinotti. Ou Massimo Moratti, o petroleiro proprietário da Inter [de Milão, equipe de futebol], que avaliou a possibilidade de fazer com que seu próprio clube milionário se apresentasse justamente em Chiapas, em solidariedade com o movimento de resgate dos maias oprimidos.

Marcos se tornou o cordeiro mascarado com bandoleira a tira-colo para a Zapata que lavava os pecados de egoísmo do mundo rico, um símbolo, mais do que uma verdadeira e temível força política, capaz de fazer tremer um governo central que negociou e tratou com ele tréguas e reconhecimentos, até a marcha triunfal, "de pop star", como batizou a BBC, que o conduziu entre multidões de San Cristobal à capital, a Cidade do México.

Hoje, 16 anos depois da sua explosão no palco do mundo, com a morte do "santo bispo" no ano 2000, a queda da "teologia da libertação", a vitória política e cruel de líderes como Chávez na Venezuela, o sonho da floresta Lacandona perdeu a sua cor. O "desencapuchamiento" do subcomandante sem rosto é um pouco a normalização de um sonho.

A opressão dos indígenas, principalmente dos maias desaparecidos do Yucatán à Guatemala, continua. Mas é o terror dos grupos do narcotráfico, com os seus 2.600 assassinados apenas em 2009 para garantir o mercado da droga para o grande Norte, é que atormenta o México.

segunda-feira, 29 de março de 2010

POLÍTICA INTERNACIONAL - Paz Mundial.

Do BLOG DO EMIR.

Quem coloca em risco a paz mundial?

O Irã tornou-se a bola da vez da “guerra ao terror”. “Um Irã falido, corrupto e desestabilizador obriga países a levarem a sério suas responsabilidades” – diz o chanceler britânico, David Miliband, do alto da moral de um governo que mentiu para levar a Inglaterra a invadir o Iraque. Obama e Hillary reiteram ameaças e prazos. Israel tem a bala na agulha para bombardear o Irã. O mundo de ponta cabeça, como diria Eduardo Galeano.

Quem representa risco para a paz mundial? O Irã, que talvez chegue a ter armas nucleares, mas não atacou a nenhum país, não ocupa nenhum país? Ou Israel, que confessadamente tem a bomba atômica, ocupa territórios palestinos, cometeu genocídio em Gaza e continua bloqueando os acessos a essa região para que possa minimamente ser reconstruída?

Ou os Estados Unidos, que possuem o maior arsenal de armamentos convencionais e nucleares da história da humanidade? Que, contra decisão da ONU, invadiu e destruiu o Iraque? Que continua ocupando e destruindo o Afeganistão? Que possui mais de 100 bases militares pelo mundo afora? Que ocupa, há mais de um século, a base militar de Guantanamo, em Cuba, para onde leva presos acusados de “terrorismo”, mantendo-os fora de qualquer legalidade, torturando a prisioneiros sem qualquer defesa e controle. Que instala 9 bases militares na Colômbia, com funções expressas de realizar atividades de vigilância, controle e ações sobre a região. Que tem um histórico interminável de invasões de países de continente – os últimos, o Panamá e Granada, além do cerco terrorista à Nicaragua e o bloqueio de cinco décadas a Cuba.

O Tratado de não Proliferação de Armas Nucleares significa simplesmente que quem tem esse armamento, continuará a ter o direito de mantê-lo e desenvolvê-lo. Entre eles estão os maiores fabricantes de armamentos do mundo, os que limpam os negócios escusos de abastecer com armas a todos os conflitos bélicos do mundo nos “paraísos fiscais”, os que invadem países e ameaçam a outros.

O verdadeiro tratado para a paz mundial deveria ser o de desarmamento, de liquidação de todos os armamentos nucleares, a começar pelos que possuem arsenais monumentais. Que moral têm os EUA, a Inglaterra e outras potências, que possuem armamento nuclear e ocupam e destróem outros países, para exigir algo do Ira?

O Brasil atua corretamente, defendendo o direito do Irã de desenvolver pesquisas na área da energia nuclear, contanto que sejam para fins pacíficos, como é o caso do Brasil. Nenhuma pressão externa vai fazer com que a política externa soberana do Brasil se some às maiores potências bélicas da humanidade, que apóiam a Israel e lhe fornecem armamento nuclear, que continuam ocupando o Iraque e o Afeganistao. Trabalhar para a paz mundial é intermediar os conflitos no Oriente Médio, é propor um desarmamento amplo e irrestrito a todas as potências bélicas. É centrar a luta no mundo pelo desenvolvimento, o combate à fome e a favor da solidariedade e da cooperação, como tem feito o Brasil.

ELEIÇÕES - Lições para a campanha da Dilma.




A manipulação da última pesquisa do Databranda, publicada na FSP (Forca Serra Presidente), confirmando que A FOLHA MENTE, não deixa de colocar problemas para a campanha da Dilma. A "sem gracice" com que repercute a “pesquisa” no próprio jornal da família Frias revela que sentiram que foram pegos na tramóia, por tão óbvia, e que fazem parte do comando da campanha do governador de São Paulo, como Diário Tucano que são.

Mas não deixam de colocar para a campanha da Dilma problemas que apenas começam a aflorar em toda a sua dimensão. Em princípio, um governo cuja popularidade continua a bater recordes numa pesquisa após a outra – isso nem a Databranda consegue esconder -, numa situação econômica muito favorável – em que nem parece que até um ano atrás enfrentávamos os efeitos da pior crise do capitalismo desde a de 1929 -, tem condições muito favoráveis para eleger seu sucessor.

Ainda mais que a oposição tem dificuldades para definir seu perfil. Nem Serra se sente à vontade no figurino que a oposição gostaria de ter em um candidato, nem a oposição adora o Serra – preferiria muito mais um Alckmin. Mas diante do risco do PT renovar seu ciclo de governo, com mais 4 ou 8 anos, tem que se resignar a se unir em torno daquele que tem mehor colocação nas pesquisas, deixando para um hipotético depois a disputa ferrenha pelos cargos e orientações de um eventual novo governo dos tucanalhados-demoníacos.

Mas a campanha de Dilma corre riscos reais. Depois de se recuperar de uma grave crise como a de 2005, e do extraordinário apoio que o governo Lula conquistou em todas as regiões do pais e em todas as camadas da população, as condições de derrota de uma candidatura para a sua sucessão tem que contar com erros graves na condução dessa campanha. É certo que o poder econômico e o monopólio brutal da mídia contam fortemente como os dois pontos centrais de apoio da candidatura de oposição, contra os quais a candidatura da Dilma tem que lutar. Mas a campanha de 2006 demonstra que se pode ganhar.

Neste episódio ficou claro que as pesquisas são um forte instrumento nas mãos da oposição, que demonstra disposição de se valer da capacidade de manipulação e de iniciativa que elas permitem com todo seu peso. Contando com o Databranda e o Ibope e a difusão e repercussão que suas divulgações têm no conjunto da mídia monopolista, podem conseguir efeitos que não devem ser subestimados.

Diante dessas duas empresas, claramente alinhadas com o candidato opositor, o efeito das pesquisas da Vox Populi e da Sensus tem se demonstrado menor. A Vox Populi não divulga há tempos pesquisas nacionais, apenas ótimas análises de Marcos Coimbra sobre aspectos da campanha, e a Sensus faz a cada dois meses pesquisa para uma entidade empresarial, longe da dinâmica que podem impor as duas outras empresas.

Ter ficado esperando que a FSP (Forca Serra Presidente) desse de presente a esperada superação de Serra por Dilma nas vésperas do lançamento da candidatura deste, foi uma grande ingenuidade. Perdeu-se capacidade de iniciativa e sem dúvida se sofreu um golpe psicológico, com efeitos políticos. Um gol ilegal, validado pelo juiz, vale e altera o marcador.

Pode ter sido resultado de um certo salto alto, conforme a subida da Dilma aparece como irreversível, apontando até párea a possibilidade de uma vitória no primeiro turno. Sabe-se da falta de limites para o que a oposição e, em particular, sua imprensa, podem fazer. Mas de repente parece que nos esquecemos disso e ficamos relativamente inertes diante das suas manobras.

Há outros obstáculos para a campanha da Dilma. Um deles é a de que, apesar dela ter menor rejeição que o Serra, há resistências maiores entre as mulheres, aparentemente como resultado do preconceito feminino de confiar em uma mulher para governar, acostumadas tradicionalmente a delegar nos homens as responsabilidades políticas.

Outro problema é a já tradicional resistência dos estados de São Paulo para o sul, com um preconceito “anti-petista”, que tem que ser compreendido nos seus mecanismos, para poder ser combatido com eficiência.

No resto, são os problemas que podem advir em setores mais atrasados das tentativas de desqualificação da trajetória militante da Dilma. E, claro, as manobras de invenção que devem surgir durante a campanha.

No seu conjunto, uma condução vitoriosa da campanha tem que contar com profissionalismo, rapidez, criatividade e capacidade de envolvimento da maior quantidade possível de militância.

A vitória é possível, talvez provável, mas não comecará a se configurar até que as pesquisas apontem a ascensão da Dilma ao primeiro lugar.

EUA - Direita radicaliza.

Publicada em:28/03/2010


DIREITA RADICALIZA NOS EUA



O grande perigo que ronda hoje a sociedade norte-americana é a radicalização de processo político. Essa radicalização germinou e cresceu durante os quatorze meses de debates e manifestações públicas sobre o projeto de reforma do sistema de saúde no país, uma das prioridades do governo Obama.

O projeto passou finalmente na última quinta-feira, depois de tantas idas e vindas da Câmara para o Senado e vice-versa, num processo legislativo tão confuso que até os comentaristas da TV tinham dificuldade em explicar.

Uma coisa é certa. Os democratas venceram, mas a direita radical republicana saiu bastante fortalecida e disposta a encarar desafios maiores, inclusive o de recuperar a maioria no Legislativo nas eleições de novembro deste ano, o que será desastroso para o governo Obama.

No dia seguinte à aprovação do projeto da saúde, pedras foram atiradas contra vidraças de escritórios democratas em algumas cidades do país, uma delas levava uma mensagem assustadora: “o extremismo em defesa da liberdade não é ilegal”, frase pronunciada pelo candidato republicano à presidência em 1964, Barry Goldwater. Ameaças de morte gravadas em secretárias eletrônicas e até atos de vandalismo praticados em casas de parlamentares ou de seus parentes estão sendo investigados pelo FBI.

Segurar essa direita radical que está incendiando o país é tarefa urgente que tem que partir dos republicanos mais moderados, mas o partido parece anestesiado por figuras radicais como a ex-candidata a vice na chapa de McCahn, Sarah Palin. Ambiciosa, Palin não se cansa de pregar atitudes mais agressivas, como neste sábado quando participou de uma concentração e discursou para uma multidão de seguidores em Nevada, pedindo a demissão de Obama, de Nancy Pelosi (a presidente da Câmara dos Deputados) e de Harry Reid, líder do governo no Senado e natural daquele Estado: “eles estão demitidos, vamos tomar deles o que é nosso, dos verdadeiros americanos”, gritou ela para uma multidão de fanáticos seguidores.

Um outro episódio que revela o nivel de sectarismo que tomou conta de certas figuras republicanas aconteceu esta semana no Canadá, onde Ann Coulter, comentarista da Fox News, o braço dos setores radicais republicanos na mídia, foi hostilizada e impedida de falar por estudantes na Universidade de Ontario.

A indignação dos estudantes contra Coulter não foi gratuita. Um dia antes, em palestra em outra universidade canadense, a estudante de origem muçulmana Fatima Daher - citando declaração anterior de Coulter de que "muçulmanos deveriam ser proibidos de viajar de avião e deveriam voar em um tapete mágico” - perguntou à palestrante como poderia voar já que não possuia um tapete mágico. “Pegue um camelo”, respondeu Coulter.

Imediatamente a estudante ofendida abandonou a sala, no que foi acompanhada pela maioria dos colegas presentes.

No dia seguinte, Coulter declarou que tudo não passou de uma brincadeira, que ela costuma fazer em seus comentários ácidos na TV. Mas a desculpa não colou e os estudantes de Ontario vingaram a colega ofendida manifestando-se contra a presença dela. A direção da escola achou por bem suspender a palestra para evitar maiores problemas.

Mas Coulter não estava brincando, não. Ela é conhecida por frases agressivas que insuflam a violência. Na época dos atentados terroristas de 2001, ela comentou que os Estados Unidos “deveriam invadir os países muçulmanos, matar todos os seus líderes e converter as populações ao cristianismo".

Em outra ocasião, ela lamentou que “Timothy McVeigh não tenha explodido o prédio do New York Times”. McVeigh foi aquele que colocou uma bomba num prédio do governo em Oklahoma City, em 1995, matando 168 pessoas.

Palin e Coulter, ambas contratadas da Fox News, são o melhor retrato do radicalismo que tomou conta do Partido Republicano. Elas têm carisma e contam com generosos espaços na TV para fazer a cabeça de milhões de americanos que não enxergam adiante do próprio umbigo e são capazes de qualquer loucura quando guiados por falsos líderes para o fanatismo.

A história do país está repleta de exemplos.