sábado, 20 de março de 2010

POLÍTICA - Aproximações e distanciamentos.

Por Mauro Santayana



O provável acordo entre Fernando Pimentel e Patrus Ananias, em Minas, talvez não seja o esperado pelo presidente Lula, que, ao incentivar arranjo eleitoral com Hélio Costa, pretendia o “palanque único” para a sua candidata no estado. A ideia do palanque único se associa à estratégia da eleição plebiscitária, com a divisão maniqueísta da sociedade política, mas não é conveniente à democracia. A democracia reclama, por definição, o pluripartidarismo. É certo que, em nosso sistema, o processo acaba sempre na escolha plebiscitária dos chefes de governo, seja com a eleição decidida no primeiro turno, seja na segunda rodada de votações. Mas há que se respeitar a existência de tantos partidos quantos se organizarem, de acordo com as regras da lei. E todos eles têm o direito e o dever de apresentar seus candidatos a todos os cargos em disputa.

O ministro Hélio Costa dispõe de boa base eleitoral em Minas. Ele a conquistou com a popularidade de homem da televisão, quando correspondente da Rede Globo nos Estados Unidos. Mas, da mesma forma que muitos outros membros do atual PMDB de Minas, pouca afinidade tem com a visão montanhesa da política.

Como todos os outros partidos, e em todos os estados, o PMDB de Minas tinha, em seus quadros, políticos menos qualificados, e homens públicos de grande nível. Se a morte dos grandes líderes da resistência democrática foi desalentadora para todos os brasileiros, em Minas o golpe foi mais duro. Isso não significa que o partido tenha minguado de votos: a sua força remanescente se expressa nos municípios mineiros, alguns deles de forte densidade eleitoral e importância econômica. Parcela ponderável do partido se somou ao governador Aécio Neves, desde as eleições de 2002, para derrotar Newton Cardoso, oficialmente candidato do partido. Em 2006, um grupo do PT se somou a Newton Cardoso, apoiando sua candidatura ao Senado, depois que ele, ressentido pela vitória de Aécio em 2002, derrotou a indicação de Itamar Franco como candidato ao Senado, na convenção do PMDB, com seus métodos próprios de fazer política. A ala do PT comandada por Nilmário Miranda apoiou a candidatura de Newton, e Itamar e Aécio apoiaram e elegeram Eliseu Resende. Nas eleições para prefeito de Belo Horizonte, em 2008, grande parte do PT acompanhou Fernando Pimentel na aliança com Aécio a fim de eleger o candidato do Partido Socialista Brasileiro, Márcio Lacerda, com o assentimento de Lula. O candidato adversário, do PMDB, recebeu alguns votos petistas, mas nenhum deles vindo dos correligionários de Patrus Ananias, embora o ministro não se sentisse representado no acordo municipal. Hoje, as nuvens já se deslocaram e formam desenhos diferentes, o que explica o entendimento atual entre o ministro Patrus e Pimentel.

Para quem conhece os segredos de Minas, a aproximação entre Patrus, Pimentel, Alencar e Aécio é muito mais provável do que um acerto entre o vice-presidente e os dois petistas com o ministro Hélio Costa. Quando Aécio diz que uma aliança entre ele e o PMDB será bem aceita, sabe bem a que PMDB se dirige. Não é exatamente o PMDB que apoia Hélio Costa. O que está ocorrendo em Minas ocorrerá necessariamente em outros estados importantes. Não é só a realidade local, com os interesses e as afinidades pessoais atuando, mas também o sentimento político de cada povo, em sua forma de ver o mundo, que conduzem o processo das alianças e coligações.

O fato é que, por isso mesmo, ao cidadão comum é difícil aceitar certos atos de conveniência política, como o apoio de Fernando Collor a Lula e à ministra Dilma Rousseff, candidata à sucessão. Apesar de isso ser comum, na vida política, esse ir e vir choca, principalmente, as pessoas mais humildes. Quando alguém acusa o adversário de atos ignominiosos, sobretudo quando não há nenhum interesse público nessas acusações, não é de esperar-se reconciliação tão fácil. Também nunca se entendeu que Mangabeira Unger tenha pedido o impeachment de Lula e depois ocupado o cargo de ministro em seu governo, e agora tenha sido chamado por Temer para fazer projeto de governo para Dilma.

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