domingo, 31 de maio de 2015

FUTEBOL - Teixeira, homem-bomba da Globo.

Ricardo Teixeira, homem-bomba da Globo

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

Anos 2000. A International Sport and Leisure (ISL) corre o risco de falir. A empresa havia sido criada por Horst Dassler, o magnata alemão herdeiro da Adidas. Foi o homem que ajudou a inventar o marketing esportivo: assumir um evento, empacotar comercialmente e vender a emissoras de televisão, já com os patrocinadores definidos.
Hoje sabemos que a ISL dominou o mercado à custa de dezenas de milhões de dólares em propinas. O homem da mala de Dassler era Jean Marie Weber. O encarregado de molhar a mão da cartolagem e garantir os direitos de TV e de marketing que eram das federações.

Foi o esquema da ISL que enriqueceu João Havelange e Ricardo Teixeira. Na casa dos milhões e milhões de dólares. Mostramos no Brasil - modéstia à parte, pela primeira vez - a relação entre as datas de pagamento das propinas e o enriquecimento de Teixeira. Está tudo em O Lado Sujo do Futebol.

Voltemos à ISL. Fustigada por concorrentes, deu passo maior que as pernas, sem contar a drenagem do dinheiro que destinava à corrupção. No desespero, fez um pedido à Globo Overseas, dos irmãos Marinho. Queria um empréstimo. A Globo concordou em fazer um adiantamento de uma parcela devida, relativa a direitos de TV da Copa do Mundo, com 13% de desconto. Assim foi feito.

Mas, a FIFA chiou, já que não recebeu da ISL o repasse que lhe era devido. Foi à Justiça. O caso resultou numa ação contra seis executivos da ISL, inclusive o homem da mala. A Globo foi ouvida no caso. No dia 26 de agosto de 2001, o todo-poderoso do futebol global, Marcelo Campos Pinto, deu depoimento.

Não era objeto daquele caso investigar a Globo. Como não é agora, com os cartolas presos em Zurique. Mas aquele primeiro caso colocou a bola para rolar. Foi resultante dele a investigação subsequente, do promotor Thomas Hildbrand, que acabou com um acordo envolvendo Teixeira e Havelange. Eles devolveram parte do dinheiro recebido como propina e ficou por isso mesmo. Não admitiram culpa, mas o meticuloso trabalho de Hildbrand seguiu o dinheiro e constatou sem sombra de dúvidas o propinoduto na casa das dezenas de milhões de dólares.

O que há em comum entre o caso suiço e o de agora, nos Estados Unidos? A escolha arbitrária, pela cartolagem, de intermediários que facilitam o enriquecimento pessoal. Por que a FIFA não vendeu os direitos diretamente às emissoras de TV? Por que a CBF não vendeu os direitos da Copa do Brasil diretamente às emissoras de TV? Porque os intermediários levam a bolada de onde sai a propina.

Foi assim com a ISL, foi assim com a Traffic de J. Háwilla. Exemplo? Contrato da Nike com a CBF. De acordo com a promotoria dos Estados Unidos, Háwilla recebeu pelo menos U$ 30 milhões da Nike na Suiça, dos quais repassou 50% a Ricardo Teixeira. Só aí são, em valores de hoje, por baixo, R$ 45 milhões de reais para o cartola! Considerando o valor total do contrato, dá uma taxa de cerca de 20% de propina.

Como sabemos que Teixeira está sendo investigado pelo FBI? Porque na página 74 do indiciamento feito nos Estados Unidos é mencionado que, no dia 11 de julho de 1996, houve a assinatura do contrato entre a Nike e a CBF em Nova York. Quem assinou em nome da CBF foi o co-conspirador de número 11. Como quem assinou em nome da CBF foi Ricardo Teixeira, ele é o co-conspirador número 11 (num documento paralelo, a plea bargain de J. Háwilla, Teixeira é o co-conspirador número 13).

Também é possível identificar J. Háwilla, neste documento, como o co-conspirador número 2. Foi ele quem, em abril de 2014, teve uma conversa um tanto bizarra com José Maria Marin na Flórida. Marin tinha ido a Miami tratar da Copa América Centenário, que será disputada em 2016 nos Estados Unidos. Mas falou com Háwilla sobre pagamentos devidos a ele e ao co-conspirador número 12 (presumivelmente Marco Polo Del Nero, o atual presidente da CBF) no esquema da Copa do Brasil.

Háwilla provavelmente usava uma escuta ambiental, já que o diálogo é transcrito ipsis literis pelos promotores (ver abaixo).



Em resumo, Háwilla perguntou se deveria continuar pagando propina ao antecessor de José Maria Marin, Ricardo Teixeira, no esquema da Copa do Brasil. Marin respondeu mais ou menos assim: “Tá na hora de vir para nós. Verdade ou não?”.

Háwilla: “Certo, certo, certo, o dinheiro tinha de ser dado a você”. Marin: “É isso, certo”.

Disso podemos tirar duas conclusões:

— Tudo indica que o FBI usou escutas ambientais em mais de um dos quatro acusados que fizeram confissão de culpa. Em Chuck Blazer, conhecido como Mr. 10%, o fez com certeza. Como nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, não há vazamentos seletivos para a imprensa, só saberemos exatamente quando e se as gravações forem mostradas no julgamento.

— Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero estão sob investigação da polícia federal dos Estados Unidos.

Uma autoridade norte-americana disse ao New York Times que deverá acontecer uma segunda rodada de indiciamentos. O mais provável é que a promotoria aguarde a extradição dos presos em Zurique para tentar obter a colaboração de mais algum deles.

Marin está com 83 anos de idade. Vai passar o resto da vida na cadeia ou fazer acordo com os promotores?

O foco parece ser, acima de tudo, a FIFA e sua cartolagem graúda, ainda em atividade. São aqueles que conhecem com intimidade os bastidores e as negociatas do futebol, tanto quanto ou mais que J. Háwilla. Gente que pode denunciar esquemas, identificar negócios ilícitos, enfim, colaborar com a promotoria em troca de leniência.

Neste sentido, pela longevidade no poder, Ricardo Teixeira tem muito a contar.

Tanto quanto o FBI, ele parece gostar de gravações.

Narramos em nosso livro um episódio intrigante, sobre o dia em que a blindagem de Teixeira no noticiário da TV Globo foi brevemente rompida:
Isso durou até 13 de agosto, um sábado. Nesse dia, 12 policiais civis de Brasília cumpriram mandado de busca e apreensão no apartamento de Vanessa Almeida Precht, no Leblon, no Rio de Janeiro. O endereço era a sede da Ailanto, a empresa de Vanessa e Sandro Rosell acusada de desviar dinheiro do amistoso entre Brasil e Portugal.

Diante de novas denúncias, a polícia obteve na Justiça autorização para vasculhar a empresa em busca de documentos e computadores. A busca foi noticiada no “Jornal Nacional”.

Teixeira enfureceu-se. Na quinta-feira subsequente, veio a vingança. O colunista Ricardo Feltrin publicou uma suposta ameaça de Teixeira ao diretor da Globo Esportes, Marcelo Campos Pinto. Segundo Feltrin, o dirigente estava disposto a revelar gravações, em seu poder, que mostrariam a forma como a Globo manipulou horário de partidas de clubes e da seleção. E mais: outras gravações evidenciariam a prepotência da cúpula da Globo Esportes e o desprezo por concorrentes. A pessoas próximas, Teixeira teria dito estar perplexo com “a cacetada da Globo” e se sentindo traído. Sua maior revolta se devia ao fato de, poucos meses antes, ter ajudado a Globo a manter os direitos de transmissão do futebol.

O recado de Teixeira, via imprensa, inibiu a Globo de avançar no noticiário. Mas o cartola percebeu que alguma coisa estava fora da ordem. Mesmo a contragosto, a Globo havia noticiado alguma coisa contra ele. Era o sinal mais claro de que a informação no Brasil não tinha mais dono.

Um fenômeno causado tanto pela disseminação do acesso à internet quanto pela redução relativa do alcance de veículos tradicionais. Em 1989, por exemplo, quando o cartola tomou posse na CBF, a média de audiência do Jornal Nacional era de 59 pontos. Em 2013, foi de 26. Ou seja, quase 6 em cada 10 telespectadores do Jornal Nacional mudaram de canal. E grande parte deles estava se informando sobre as denúncias contra Teixeira.


Agora, o ex-presidente da CBF perdeu seu refúgio na Flórida. Ele não obteve a cidadania definitiva que buscava no refúgio fiscal de Andorra, onde ficaria livre de extradição. Como definiu meu colega Leandro Cipoloni, Teixeira se parece com aquele rei que, no xadrez, anda de lado uma casa por vez, para escapar do xeque-mate que fatalmente virá.

Se for indiciado nos Estados Unidos e, consequentemente, acossado por autoridades brasileiras, vai respeitar a lei do silêncio?

ECONOMIA - Manipulação e a especulação financeira.

Manipulação e a especulação financeira

Por Mauro Santayana, em seu blog:

A informação, recentemente divulgada, de que o Real teve sua cotação descaradamente manipulada, por bancos que acabam de ser multados em 5,6 bilhões de dólares por fraude cambial nos Estados Unidos, corrobora aquilo que sempre se afirmou nos meios mais nacionalistas, e que é ridicularizado e tratado como uma fantasia esquerdista pelo público conservador e de extrema direita: A economia brasileira é constantemente pressionada e manipulada, institucionalmente, por parte do chamado sistema financeiro internacional.

Dele fazem parte jornais, revistas e outros meios de comunicação "especializados", sediados em Londres e em Nova Iorque. Veículos "normais", muitos deles ligados a instituições financeiras, com edições em português e já instalados no Brasil, como o El Pais (que conta entre seus acionistas, com o Santander e o HSBC). E os "analistas" de sempre, as agências de "classificação", os escritórios de "auditoria", bancos estrangeiros e mega especuladores de toda ordem. 

Temos nossas vidas diuturnamente controladas e diretamente influenciadas por um esquema "azeitado", integrado e estreitamente coordenado em que espertos fazem verdadeiras fortunas, da noite para o dia, manipulando fatores de variação, muitas vezes "cruzados", da taxa SELIC, da cotação da moeda, do valor das principais commodities brasileiras e das ações de empresas brasileiras no Bovespa e em bolsas do exterior. 

Muitos podem alegar que não há nada a fazer, já que o que acabamos de descrever não passa de um bem acabado retrato da sociedade capitalista atual, que a cada dia gera novos escândalos, como foi o caso do relacionado ao próprio HSBC, estranhamente "desaparecido" dos meios de comunicação nas últimas semanas, ou da manipulação da taxa LIBOR, que envolveu também bancos agora denunciados no esquema de manipulação cambial. 

Mas o mundo já não é bem assim. Há países como a China, em que as autoridades, e a população de modo geral, dormem e acordam literalmente se lixando para o que dizem o Financial Times, a The Economist, o Wall Street Journal, o Miami Herald, e outros que tais. Países em que o estado soberanamente controla a cotação de sua moeda, para que outros não o façam, e que optaram por não atrelar, umbilicalmente, suas economias ao sistema financeiro "ocidental", com tal sucesso, que se transformaram, para outras nações, em uma alternativa ao próprio sistema financeiro internacional como se viu pelos acordos assinados na recente visita do primeiro-ministro chinês ao Brasil, há poucos dias. 

O exemplo chinês mostra, de forma cabal, que a Europa e os EUA devem ser vistos, principalmente, como mercados, e não, como ocorre no Brasil, como matrizes e oráculos da estratégia econômica nacional, já que eles defendem seus próprios interesses, e há em jogo também os interesses particulares dos especuladores, que dominam e controlam as organizações financeiras privadas e os meios de comunicação". 

Precisamos de menos, e não de mais, dependência do exterior, e há caminhos para isso, entre eles, o do fundo de reservas e o do Banco dos BRICS. Assim como precisamos de mais pensamento estratégico e de menos, e não de mais, ortodoxia econômica, e de mais, e não de menos, empregos, produção e renda. É importante – mas não a custo de recessão – estender a outros fundamentos da economia a diminuição da dívida líquida pública e a recuperação das reservas internacionais alcançadas nos últimos anos, reservas que se mantêm acima de 370 bilhões de dólares, e fazem, hoje, do Brasil, com todos nossos "problemas", o terceiro maior credor do tesouro norte-americano. 

O Brasil é um dos maiores mercados do mundo e a sétima maior economia do planeta. A China, que só cresceu depois que fechou, durante certo tempo, sua economia, para "liberalizá-la" depois, aos poucos, seletiva e estrategicamente - o que continua fazendo até agora - dificilmente teria chegado até onde chegou, se tivesse feito o contrário, abrindo de qualquer maneira suas fronteiras às empresas, importações e especuladores estrangeiros, e levado ao pé da letra, como muitas vezes já se fez aqui, as considerações dos editoriais de jornais e revistas ingleses e norte-americanos, dos "analistas" da FOX e da CNN ou os ditames do FMI. 

A manipulação da moeda brasileira por bancos como Barclays, o Citibank, o JP Morgan, o Royal Bank of Scotland, o UBS e o Bank of America, e os outros esquemas parecidos que, com certeza continuam a ocorrer neste momento, se inserem, como outros fatos recentes – incluída a campanha contra a Petrobras, aqui e no exterior – em um contexto mais amplo. 

O Brasil precisa escolher entre autonomia e dependência, soberania ou submissão. Como o viajante, diante da esfinge, a grande pergunta que temos que responder ao Século 21 é que país queremos ser e que futuro queremos ter, como Nação.

FUTEBOL - J.. Hawilla e a Globo.

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As ligações entre J. Hawilla e a Globo

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:

As reações de personagens que de alguma forma rodeiam o mundo Fifa são extraordinárias.

Del Nero, presidente da CBF, deu o fora da Suíça, em meio ao congresso da Fifa que vai eleger provavelmente Blatter para mais um mandato.

Ele viu o que aconteceu com seu amigo e antecessor Marin, e achou melhor não dar chances para o azar.
Del Nero tem aparecido na mídia, nos últimos tempos, ao lado de mulheres que poderiam ser suas netas.

Para que correr o risco de trocar a companhia delas pela de presidiários, nos últimos anos que lhe restam de vida?

Notável, também, é o comportamento da Globo.

O réu confesso J. Hawilla é apresentado no noticiário das mídias escritas da empresa como “acionista” da TV TEM, uma das afiliadas da Globo.

Isso na última linha, ou nas últimas. É aquele espaço tradicional que você sabe que o leitor não vai alcançar. No jargão dos jornalistas, é o “pé” do texto. “Corta pelo pé” é uma clássica ordem dos editores quando um artigo estoura o espaço previsto.

Você pode imaginar também nos textos aquela ressalva da Reuters que virou histórica. “Podemos tirar, se achar melhor”, estava numa reportagem que tratava da Petrobras.

O repórter colocou aquilo para o editor, e a frase foi inadvertidamente publicada. Tirar, no caso, era uma afirmação de um delator segundo a qual a corrupção na Petrobras começara na gestão FHC.



Com Serra: relações na política

Vamos colocar as coisas como são: Hawilla é dono de uma das maiores afiliadas da Globo, com imensa penetração no rico interior de São Paulo.

Segundo uma reportagem de algum tempo atrás da Exame, “a TV Tem cobre 318 cidades paulistas numa região com participação de 5,5% do PIB e 2,1 milhões de domicílios com aparelhos de televisão”.

Como afiliado, é sócio da Globo.

Hawilla, mais que tudo, é filho da Globo. Ele foi um dos principais jornalistas esportivos da casa. Chegou a ser apresentador do Globoesporte, e de lá saiu para montar seu próprio negócio.

A Globo foi uma mãe, uma inspiração, uma escola para Hawilla.

Como a Globo, Hawilla fez do futebol brasileiro uma máquina de fazer dinheiro numa relação cruelmente iníqua. Enquanto ele, como a Globo, florescia, o futebol brasileiro mergulhava na miséria conhecida de todos.

Na emissora construiu os contatos com a CBF que lhe trariam uma fortuna escusa tão imponente que ele, no acordo de leniência e delação com as autoridades americanas, devolveu quase meio bilhão de reais.

Num artigo antes do escândalo, quando era tratado como “Dono do Futebol” no Brasil, numa completa injustiça com a Globo, Hawilla afirmou o seguinte ao repórter, que tocou nas controvérsias que cercam seu nome.

“Mesmo que você trabalhe honestamente, com transparência e dignidade, como sempre foi feito aqui, falam de você. Uma meia dúzia de jornalistas esportivos. Acho que é mais inveja e rancor.”

Para usar a expressão de Hawilla, no Brasil falam de você, mas não fazem nada. Quer dizer, a imprensa, a polícia e a justiça tratam pessoas como ele - e Marin, e Ricardo Teixeira, e os Marinhos - como se fossem intocáveis.

Por que Moro, para ficar num caso, não investigou Marin, se queria combater verdadeiramente a corrupção?

As coisas, para os intocáveis, se complicam apenas quando entram em cena coisas sobre as quais não têm domínio.

Por exemplo: a polícia e a justiça dos Estados Unidos.

Com todo o seu poder avassalador no Brasil, nos Estados Unidos a Globo não manda em ninguém.

A casa só caiu para a CBF por causa dos investigadores americanos.

Se eles chegarem à Globo, acontecerá aquilo com que Brizola tanto sonhou: uma praga nacional chegará ao fim.

CUBA - Estudantes dos EUA nas escolas de medicina de Cuba.

Estudantes dos EUA nas escolas de Medicina de Cuba

 
Adital

José Jasán Nieves Cárdenas
Progreso Semanal (Miami)


Já parecem cubanos pelo efeito do sol sobre a pele. À simples vista só os delata o inconfundível acento gringo em sua fala, por muito que os cubanismos mais rotundos façam parte habitual dos seus diálogos.
Cerca de 250 estudantes norte-americanos transitam pelas escolas de Medicina e pelo sistema sanitário desse arquipélago desde o ano 2000 e constroem com sua presença uma das páginas mais reveladoras de convivência proveitosa entre ambas as nações.
Os primeiros doutores surgidos de um programa sonhado entre o Caucus Negro Congressional (CNC) do Congresso estadunidense e o ex-presidente Fidel Castro, e canalizado depois pela organização Pastores pela Paz (IFCO), já estão voltando para as comunidades do seu país, enquanto que nas aulas caribenhas ainda se formam várias dezenas e a cada ano chegam novos alunos.
Na interação são quebrados preconceitos e estereótipos. Assumirem-se iguais e diferentes parece o ensino maior.
Cassandra
 
O ritmo asfixiante da havaneira rua Monte desaparece enquanto se sobem as escadas até a casa. Na sala se entretém com a avó o desperto Atuey Fénix (cujo nome de aborígene rebelde os pais registraram sem H, para que soe foneticamente igual em espanhol e inglês) enquanto o computador reproduz antigos capítulos da série Vila Sésamo.
É a paisagem do lar de Cassandra Cusack Curbelo, uma das poucas cubano-americanas beneficiadas com bolsas gratuitas para formar-se doutora no país de sua mãe.
"Sou bastante cubana como para não ser extraterrestre aqui, mas bastante americana como para que me vejam como uma louca”, diz sorrindo enquanto prepara para Atuey hambúrgueres vegetarianos feitos de grãos moídos.
Nascida em Hialeah, mas criada em Chicago, aos 30 anos Cassandra decidiu sair do seu trabalho de relações públicas em uma organização de ativistas.
"Eu queria fazer algo sustentável. Os conhecimentos da Medicina nunca estarão fora de moda nem se fossilizarão”, recorda enquanto evoca um amigo da família que lhe facilitou obter uma vaga entre as capacidades outorgadas aos grupos de solidariedade pelo Ministério de Relações Exteriores de Cuba.
Ao chegar, em 2008, a situaram como todos os estadunidenses na Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), em Praia Baracoa, a oeste de Havana ("no fim do mundo”, gargalha Cassandra) e daí passou a completar matérias no hospital mais próximo, Salvador Allende, ainda nomeado segundo a virgem catalã de seus construtores: "La Covadonga”.
"Não gosto da Medicina elitista e, nos Estados Unidos, os médicos quase todos são brancos, de famílias ricas, que estudam em idades precoces, não querem ter trabalho e, geralmente, não te escutam, nem te olham, nem te tocam e cobram 100 dólares só para aparecer (…). Encanta-me a forma como falam os médicos daqui. Meus professores são muito naturais e amistosos”, assegura.
"O programa não obriga a fazer nada a ninguém”, responde Cassandra à pergunta sobre a possível exigência de um gesto político em troca do seu título. Não seria extraordinário nem raro para os costumes de Cuba: pedir, como pagamento pela ensino gratuito, um tempo de dedicação a uma zona desfavorecida. Mas Cassandra insiste em negar.
"Entre nós há pessoas que não interessa servir ninguém. Dizem: saio daqui, faço minha residência e depois "o bilhete” [a carteira]. Mas outros, a maioria, temos sonhos. Eu quero montar com amigos uma clínica em Nova Orleans, e outros pensam em Detroit e, inclusive, temos pensado em colocar uma clínica em um terceiro país pobre, pela qual passemos em nossas férias e possamos ajudar um pouco”.
Joanna
Quem a conheceu em Havana a recorda por seu espírito inquieto e vocação de serviço. Foi uma ativa e reconhecida estudante em seus anos cubanos. Portanto, não surpreendeu seus professores e amigos saberem que apenas conseguiu entrar no difícil sistema de especialidades médicas do seu país, Joanna Mae Sauers se alistou como voluntária para combater o Ebola na África.
Ao Cooper Hospital, de Monróvia, na Libéria, chegou Sauers depois de tratar de inserir-se na brigada médica cubana que trabalhou lá.
"Estive interessada em trabalhar voluntariamente com os doutores cubanos, mas me disseram que não estavam recebendo nenhum graduado da Elam, dadas as circunstâncias da epidemia. Sem dúvidas, é o exemplo deles e a minha experiência em Cuba o que me inspirou a fazer este trabalho”, assegura direta em nossa troca de mensagens.
A ideia de integrar-se a uma brigada cubana não era nova para Joanna, aluna de especialistas que viajaram para lugares tão diferentes, como Paquistão, Angola, Venezuela ou Haiti, e em alguns casos inseriram médicos nativos graduados em Cuba como parte da sua "missão”. A ela, ademais, a proximidade com o arquipélago caribenho chegou desde sempre através da solidariedade.
"Escutei sobre o programa por um amigo e solicitei as bolsas através do IFCO/Pastores pela Paz. Existem alguns requisitos básicos para entrar, por exemplo, um pagamento pela solicitação, uma entrevista e uma orientação. Primeiro, deve ser aprovado pela organização e depois aceito dentro do programa pela Escola. O que se busca, sobretudo, são solicitantes que tenham uma provada dedicação para servir aos necessitados”.
"A maioria das pessoas que me conhecia nos Estados Unidos se surpreenderam muito quando souberam que eu iria estudar em Cuba. Não sabiam que fosse possível e se assombravam mais quando descobriam que o programa é uma bolsa completamente gratuita, garantida pelo governo cubano. Todos ficavam intrigados de que uma oportunidade assim existisse”.
Mae Sauers viveu no campus da Elam quase como todos os estudantes estrangeiros de primeiro a terceiro ano, mas logo buscou alugar perto do hospital "La Covadonga”. Conhecer a fundo a cultura dos cubanos e também os valores de outros amigos, provenientes da África, América do Sul e do Caribe, foi para ela uma aprendizagem tão importante quase como o próprio treinamento médico..
"Não havia nada melhor do que visitar meus amigos nas províncias e compartilhar com eles uma boa comida típica cubana, sobretudo, esse prato de "yuca” [tubérculo] com molho, arroz com feijão, banana frita, salada e porco assado… Me dá água na boca quando penso nisso!”, confessa.
reproducao
Instrumentos para a normalização
Cassandra e Joanna são, como seus compatriotas graduados e por graduar, pequenas superfícies de interação entre dois países com um antigo enfrentamento ideológico. Elas vivem a experiência de conviverem sem traumas e mostram que é possível manter relações de mútuo benefício.
Por exemplo, o fechado sistema médico estadunidense (qualificado por muitos como endogâmico e elitista) começa a aceitar os diplomados em Cuba, como atesta Joanna, um dos mais recentes 13 estadunidenses da Elam que passaram nas provas para cursar especialidades médicas em seu país.
"Para mim, não foi particularmente difícil conseguir a residência nos Estados Unidos”, assegura Mae Sauers. "Tive que seguir os passos dos exames USMLE, que é exigido para qualquer estudante de Medicina e requer conhecimentos rigorosos. Fiz tudo o que pude para conseguir tanta experiência clínica nos Estados Unidos, como a que pude experimentar em Cuba. Isso supôs passar boa parte das minhas férias de verão em observações e rotações clínicas no meu país. Tive muitos programas de especialidades competitivas interessados em mim como bolsista, porque a Elam já é reconhecida pelos vários graduados que regressaram antes do que eu, y aqueles que conhecem sobre nós e sobre o sistema médico cubano valorizam muito a nossa formação”.
Essa percepção positiva também se nota, inclusive, no Estado da Flórida, acredita, por sua parte, Cusack Cuberlo, que afirma conhecer hospitais nortistas interessados em captar doutores como ela. "Eu sei do Baptist Hospital e do Miami Jackson”, revela.
Jogando essas cartas, a maioria dos nortistas retornam ao terminar o sexto ano, de dezembro de 2014 para cá a meio caminho entre receosos das promessas e esperançosos com a possibilidade de contar por fim com sua própria embaixada.
"Eu como americana sou muito cínica, e digo que enquanto nada esteja escrito, nada está acontecendo, e pode se falar tudo o que se fala, mas tudo pode ser apenas palavras”, se arrisca a dizer Cassandra: "Esta é a virgem do Caribe e todos os lobos estão salivando para entrar”, acrescenta.
"Penso que a aproximação é útil para os dois países”, termina Joanna. "Cuba é um exemplo para o mundo em atendimento e educação médica de alto nível. Os Estados Unidos e boa parte do mundo têm uma necessidade desesperada de doutores para a atenção primária. Como graduados desse programa, nós podemos prover serviços de saúde para os necessitados e compartilhar nossa experiência com o restante do mundo”. Da experiência sai também um novo tipo de médico. E uma nova fonte de interação.

POLÍTICA - Huck, Angélica e a vida depois do SUS.

HUCK, ANGÉLICA E A VIDA DEPOIS DO SUS

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Vivemos num país onde não faltam pastores de boas almas. Você sabe quem são essas pessoas.
Adoram explicar que o brasileiro não gosta de colocar a mão no bolso para a filantropia. Reclamam da falta de solidariedade na vida cotidiana. Falam de egoísmo como uma doença incurável. Detestam o Bolsa Família porque preferem esmolas. Falam mal do Mais Médicos e adoram Médicos sem Fronteiras. Criticam universidades públicas porque são a favor de ensino superior privado - como nos Estados Unidos - reservando bolsas apenas para alunos pobres que têm um desempenho próximo da genialidade.
Pois o acidente de Luciano Huck, Angélica, seus três filhos e duas babás criou uma oportunidade rara para se debater essa situação - e as responsabilidades de cada um na solução dos problemas que afligem a maioria dos brasileiros.
Há pelo menos 20 anos que a saúde pública é o principal problema do país, dizem os brasileiros nas pesquisas de opinião. Às vezes está em primeiro lugar. Outra, em segundo. Raramente, em terceiro.
Mas Luciano Huck e Angélica não tem do que reclamar neste aspecto. Saíram do Hospital mantido pelo SUS no Mato Grosso do Sul distribuindo elogios rasgados ao atendimento. Mesmo brasileiros que reservam uma parcela importante do salário para pagar um plano de saúde privado não costumam ficar tão satisfeitos quando são atendidos.
Olha só: num país onde a TV só mostra reportagens com pacientes desmaiados no chão, crianças chorando e idosos em total abandono, as estrelas da TV não tinham do que reclamar. Só falaram bem. E fizeram isso motivado pelo maior dos valores, a honestidade de quem fala por experiência própria.
 
Nós sabemos que o atendimento do SUS costuma surpreender - positivamente - quem precisa de seus serviços. A maioria dos usuários tem mais elogios do que críticas ao atendimento. Isso mostra que o SUS deve ser ampliado e fortalecido. Mas essa situação não deve nos iludir nem pode ajudar a encobrir carências e dificuldades de toda ordem.
Eu, você, os dois e os 200 milhões de brasileiros sabemos que esse atendimento não é para qualquer um. É triste mas é verdade. Vivemos numa sociedade de desiguais, onde o atendimento médico, mesmo num hospital público, varia conforme o prestígio e o poder de cada paciente. Não é preciso lembrar a lista de celebridades - dos negócios, da política, etc - que frequenta nossos grandes hospitais privados.
E se algum dia você viu um amigo, parente ou simples conhecido recebendo um bom atendimento na rede pública, em especial para os chamados casos de 'maior complexidade' – aqueles que matam, certo? - terá o direito de perguntar se ele teve ajuda de um bom pistolão para conseguir tal proeza.
Só podemos, portanto, ficar felizes que pelo menos uma família conseguiu um primeiro atendimento adequado - e nós sabemos como o primeiro atendimento costuma ser decisivo após uma tragédia. Em geral, define o que vem depois.
Mas nós sabemos, também, porque isso acontece. Fama, prestígio, receio de uma denúncia. Você sabe com quem está falando?, poderia perguntar o antropólogo Roberto da Matta.
Falta muita coisa na vida real de nossos hospitais: boa gestão, médicos cumpridores de seus plantões, instituições bem equipados. Mas falta, basicamente, dinheiro. Faça uma lista dos problemas e você logo verá que tudo começa e termina na falta de recursos.
Esse quadro se agravou a partir de 2007, quando a oposição derrubou a CPMF no Senado. Faltaram quatro votos. A vontade de retirar uma bolada estimada em R$ 30 bilhões anuais da saúde era tamanha que os presentes sequer atenderam a um apelo do veterano Pedro Simon, senador da oposição, para que a decisão fosse adiada, permitindo novos debates, mais reflexão. Em vão. Nem quiseram saber que a CPMF era um imposto progressivo, aquele que cobra mais de quem tem mais.
Oito anos depois, Angélica e Luciano Huck elogiam o SUS. Eles podem fazer isso. É verdade que muitos brasileiros já puderam usar os serviços do SUS e foram bem servidos. Conheço casos assim e sei que são importantes.
Mas, para muitos brasileiros o SUS sempre será o que sempre foi. Motivo de decepção, raiva e poucas surpresas agradáveis.
Não precisamos reformar as almas.
Mas podemos pensar em responsabilidades. Depois de receber um atendimento tão especial, nossos apresentadores poderiam fazer o possível para que mais brasileiros pudessem ser atendidos nas mesmas enfermarias, pelos mesmos profissionais, com a mesma atenção, que eles receberam no Mato Grosso do Sul.
Poderiam assumir uma campanha pelo retorno da CPMF, que está na base de tudo. Seria uma grande homenagem para a equipe médica, para os enfermeiros, para o pessoal da limpeza. Acima de tudo, seria um gesto de solidariedade para ajudar milhões de brasileiros a ter um atendimento digno. Não quero ser mal educado nem ressentido. Longe de mim fazer o papel de desmancha-prazeres tão bem apontado por Mário de Andrade. Mas acho que Luciano e Angélica entendem de dinheiro. Sabem seu valor, sua importância, seu caráter decisivo. Sabem que nenhum país pode atender as doenças de 200 milhões de habitantes com um dos mais baixos gastos em saúde publica da América do Sul, com tantos subsídios diretos e indiretos ao sistema privado.
Os brasileiros humildes também querem falar bem do SUS. Querem ter orgulho de sua saúde pública. Sabem que isso é parte da cidadania.
A outra opção é esperar que tudo volte a ser como antes daquele desastre do avião. Pode acontecer com qualquer um, inclusive com quem não é qualquer um.
Alguma dúvida?

ECONOMIA - Quem diria, tão atacada pelo PIG!

Bolívia liderará expansão econômica na América do Sul em 2015, diz Cepal

Bolívia registra um dos melhores desempenhos econômicos da América Latina em diversos setores (EFE)

Redação | Opera Mundi

País liderado por Evo Morales terá crescimento de 5% do PIB; apesar disso, Comissão precisou rebaixar projeção de crescimento anual para região
A Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) anunciou  que a Bolívia é um dos países que vai liderar a expansão econômica da América do Sul em 2015, com crescimento previsto de 5% do PIB (Produto Interno Bruto).
No continente latino-americano, o órgão ressalta outros países que terão prognóstico de alta no PIB: Panamá (6%), Antigua e Barbuda (5,4%) e República Dominicana (5%). Contudo, em comunicado divulgado à imprensa, a Cepal explica que precisou revisar a projeção de crescimento anual para a região neste ano, reduzindo de 2,2% a 1%.
De acordo com a organização, a subregião mais afetada é a América do Sul, com projeção de crescimento próximo de zero, em virtude, sobretudo, à queda do preço das commodities, motor de várias economias locais.
“Ao menor crescimento da economia mundial soma-se uma maior volatilidade financeira internacional, produto de uma política monetária muito expansiva na Europa e no Japão, ao mesmo tempo em que se antecipa uma elevação das taxas de juros nos Estados Unidos", comenta o órgão em relatório.
No início de janeiro deste ano, o Banco Central da Bolívia anunciou que o país registrou um incremento de 50% das reservas internacionais em 2014. Em outubro do ano passado, o FMI (Fundo Monetário Internacional) já havia publicado um informe que apontava que a Bolívia seria “o país que mais crescerá na América Latina, junto com a Colômbia”.
"Há vários anos, o desempenho macroeconômico da Bolívia tem sido muito bom. Essa performance, ativamente apoiada em políticas sociais, ajudou a aumentar em quase três vezes a renda média da população e reduziu a pobreza e a desigualdade", disse a economista do FMI Ana Corbacho, em coletiva de imprensa concedida no início de 2014.

PETROBRAS - PSDB e o pré-sal.

PSDB quer votar projeto que tira a Petrobras do pré-sal



Serra
No Senado, o tucano José Serra manobra para atropelar debates sobre o tema

Por Alessandra Murteira

Do Brasil de Fato


No momento em que a Petrobras se recupera da crise gerada pela operação Lava Jato, um projeto de lei de autoria do senador José Serra (PSDB/SP) ameaça acabar com a obrigatoriedade legal que garante a exploração do pré-sal à empresa. A petrolífera já produz diariamente cerca de 800 mil barris de petróleo e gás. Em março deste ano, o parlamentar tucano ingressou no Senado com o Projeto de Lei 131, que se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), aguardando parecer do relator.
Para agilizar a tramitação desse projeto, José Serra vem tentando articular uma votação conjunta com outras duas comissões do Senado: a de Assuntos Econômicos e a de Serviços de Infraestrutura. Se isso acontecer e o texto for aprovado em consenso, a decisão será terminativa. Ou seja, ele sequer será submetido ao plenário da Casa e seguirá direto para a Câmara dos Deputados.

Pré-sal

Por lei, a Petrobras tem a exclusividade na exploração do pré-sal e participação mínima de 30% em cada bloco licitado. O PSDB, no entanto, quer alterar essas regras e acabar com o regime de partilha de produção, em que o Estado brasileiro fica com parte do petróleo do pré-sal, gerando um Fundo Social Soberano para investimentos em saúde e educação. Além da proposta do senador José Serra, outros dois Projetos de Lei do PSDB também correm em paralelo na Câmara dos Deputados, com o objetivo de abrir o pré-sal para as multinacionais.
"Mexer no regime de partilha é retirar do povo brasileiro a garantia de que a riqueza produzida pelo pré-sal seja investida no Brasil", afirma o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel. "O pré-sal garantiu ao nosso povo uma importante fronteira para a educação e a saúde e está consolidando a Petrobras como uma grande empresa de energia, fortalecendo a indústria nacional, para que possamos ter empregos e renda aqui no nosso país", ressalta Rangel, declarando que os petroleiros continuarão se mobilizando, junto com os movimentos sociais para garantir essas conquistas.

sábado, 30 de maio de 2015

POLÍTICA - Intentona conservadora?

Intentona conservadora: indignação ou medo da mudança?

Cássio Garcia Ribeiro* e Mário Tiengo*, Pragmatismo Político

Quem são os barulhentos manifestantes que protestam pelas ruas, varandas e redes virtuais brasileiras em 2015? Defendem que tipo de Estado? Qual seu grau de politização? Como se informam sobre o que está acontecendo no Brasil? O que pensam sobre a desigualdade social no Brasil? Defendem políticas afirmativas? Qual sua visão sobre o “Bolsa Família”? Advogam a favor da criação de um imposto sobre grandes fortunas, reforma tributária que elimine a regressividade da carga tributária brasileira? São partidários da reforma agrária? O que pensam sobre as ciclofaixas e faixas exclusivas para ônibus, no Brasil e no exterior? Como se posicionam acerca da união civil homoafetiva? Qual seu parecer sobre a regulação da imprensa? Possuem alguma posição a respeito da reforma política?
Não é difícil perceber que as respostas para cada uma dessas perguntas nos permitirão traçar um perfil conservador. São avessos a reformas estruturais, tanto na economia, quanto na sociedade. Estão indignados, mas sua indignação seleciona seus alvos. Defendem a alternância no poder, mas, descaradamente, mantém os tucanos no poder em São Paulo há duas décadas – e essa afirmação pode ser comprovada com base nas pesquisas feitas nas manifestações de ruas, em que a grande maioria declarou voto nesse partido, mesmo que tenham suas ressalvas. Assim, o discurso de ódio propagado por parte da imprensa encontra terreno fértil entre essas pessoas.
De acordo com relatos, não foram poucos os episódios de desrespeito e intolerância presenciados nas passeatas que ocorreram em diversas cidades brasileiras neste ano. Há aqui um caldo de cultura perigoso, que flerta com o fascismo. Embora possamos traçar diferenças com as jornadas de junho de 2013, principalmente na sua origem, os “apolíticos” que tomaram conta daquele movimento e gritavam “sem bandeiras” e rejeitavam (muitas vezes violentamente) os militantes dos partidos de esquerda, voltaram com força, agora mais homogêneos, já que sem a presença de grupos identificados com as esquerdas – se naquela época, bandeiras e referências partidárias eram rechaçadas, hoje, qualquer camiseta vermelha torna o cidadão passível de ser agredido. Aqueles que foram aos estádios para cantar o hino nacional e em seguida ofender a presidenta da República diante do mundo descobriram que também podem ir às ruas; diante disso corremos o risco de ver a barbárie se instalar perigosamente em nossa sociedade.
Não raro, quando expomos nossas vozes ou nos exprimimos, por qualquer meio, ponderando o perigo do maniqueísmo e da disseminação de ódio, dialogando com a história de nosso próprio país, somos acusados, entre outras coisas, de sermos cegos aos fatos que abnegadamente tentam nos mostrar. Rebatidos, no campo individual, longe das turbas raivosas que descontam todas as suas frustrações na figura de uma pessoa, de um partido, ou de uma comunidade específica, dizem-se a favor do diálogo.
Mas como dialogar com um grupo que considera necessário combater os que pensam distintamente e que possuem outras visões de mundo? Que inferioriza o diferente? Que vocifera contra a legalização e formalização de direitos trabalhistas de empregadas domésticas, que vê na inclusão de toda ordem um mal e destila ódio e animosidade quando vê que perdeu sua (quase) exclusividade no uso de aeroportos? O que leva alguém a se indignar com programas de erradicação à pobreza, programas de inclusão nas universidades, programas que levam médicos a lugares carentes e aos rincões do país? Programas que tem sua iniciativa e execução elogiados (e até copiados) por toda parte, de países em desenvolvimento aos desenvolvidos? Quando são acusados de disseminarem o ódio, dizem que é indignação. Mas essa mesma indignação nos casos (e não são poucos) de corrupção envolvendo outros partidos que não o da presidenta e do seu criador e ex-presidente? Contra a corrupção sistemática no(s) Estado(s) brasileiro, a estrutura viciada da nossa administração pública, os nossos legislativos e judiciários? Da imensa sonegação de impostos colocada em prática por empresas privadas do país? Dos repetidos casos de trabalho escravo flagrado nas indústrias, nas grandes fazendas?
É preciso cuidado para que não se transforme em hegemonia a ideia de que o povo seja apenas uma agregação qualquer de homens ou uma sociedade mantida junta, com algum vínculo jurídico. Precisamos ir além disso, necessitamos de uma sociedade com relações mais humanas, que priorize a convivência em harmonia, recheada de empatia, e para isso é essencial que as disparidades e distorções produzidas por séculos sejam atacadas.
Desigualdade só se combate tratando os desiguais na medida de sua desigualdade. É pouco compreensível que aqueles que mais possuam, se incomodem ao ver ascender aqueles que, historicamente, pouco tiveram; é pouco aceitável que desconheçam, ou ignorem, propositalmente, a história da formação da sociedade brasileira. É como se o valor de seus bens (físicos, financeiros, culturais, etc) estivesse referenciado na exclusividade de possuí-los. As respostas às perguntas feitas acima podem nos dar um direcionamento nesse sentido, mas, vale pensar também, quem alimenta nossas insatisfações? Ou, o que as alimentam?
*Cássio Garcia Ribeiro é professor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Mário Tiengo é especialista em Governança Pública e colaboram para Pragmatismo Político.

FUTEBOL - Quem "dedurou"?

De dono do futebol a delator do escândalo da Fifa, a trajetória de J. Hawilla


Ronaldo e Hawilla
Ronaldo e Hawilla
Por Bruno Bonsanti, no Trivela.
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Quando os agentes do FBI invadiram o hotel Baur au Lac, em Zurique, os executivos da Fifa que estavam prestes a serem presos devem ter se perguntado: “Quem nos dedurou?”. Um deles era muitíssimo conhecido porque, entre outros, cuidou da comercialização de direitos internacionais da Copa do Mundo de 2014, por meio da empresa que comprou nos anos 1980. José Hawilla, dono da Traffic, chegou a ser um dos homens mais poderosos do futebol brasileiro, e hoje, tornou-se um dos delatores premiados do mega esquema da Justiça americana contra a corrupção na Fifa.
J. Hawilla, como ficou conhecido pelo grande público, 71 anos, confessou extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro, obstrução da justiça e concordou em devolver U$ 151 milhões (cerca de R$ 475 milhões). Segundo a Folha de S. Paulo, vive em liberdade nos EUA por causa do acordo que firmou com o governo. Aparece envolvido na negociação dos direitos comerciais dos torneios, como a Copa do Brasil, um dos primeiros que adquiriu em 1990 e manteve até agora.
Hawilla nasceu em São José do Rio Preto e ganhou a chance de mudar de vida na cidade grande por meio do futebol. Era radialista e gerenciava a Rádio de Votuporanga quando foi convidado a trabalhar na Rádio Bandeirantes. Virou repórter de campo da Rede Globo, chegou a apresentar o Globo Esporte e liderar uma greve que causou seu afastamento da emissora por cem dias. Durante o desemprego, perdeu a vontade de trabalhar para os outros. Comprou a Traffic, em 1980, à época uma empresa de anúncios de ponto de ônibus (daí o nome “tráfego”). O embrião da maior empresa de marketing esportivo do Brasil.
Mas como um jornalista do interior de São Paulo, muitas vezes chamado pela imprensa de dono do futebol brasileiro, conseguiu ganhar tanta influência a ponto de negociar os direitos de transmissão dos torneios da CBF, dos amistosos da seleção brasileira, da Libertadores, da Copa do Mundo, intermediar o milionário contrato do time então tetracampeão do mundo com a Nike, participar da criação do primeiro Mundial de Clubes da Fifa e ser considerado pela World Soccer o 56º homem mais influente do futebol? Fórmula bem simples: levando um sopro de profissionalismo a um esporte constrangedoramente amador.
É nesse vácuo que forasteiros costumam entrar no futebol. Ninguém comercializava direito as placas de publicidade em volta dos gramados dos estádios até J. Hawilla usar a sua empresa para fazer isso, e nada agrada mais os dirigentes brasileiros do que terceirizar o trabalho e apenas recolher os lucros. Sugeriu, em 1982, a Giulitte Coutinho que a CBF vendesse todos esses espaços nos torneios organizados por ela. Foi a sua porta de entrada à entidade.
A Copa do Brasil mal havia nascido, e Hawilla já havia garantido os direitos comerciais da competição. Ricardo Teixeira um dia afirmou que José Hawilla foi o primeiro a conseguir levar patrocínios a CBF que não fossem governamentais, e o contrato de dez anos em 1996 com a Nike foi o ápice disso. Os US$ 160 milhões que a empresa americana desembolsou naquela época foram o impulso financeiro que levou a entidade a se tornar milionária de uma vez por todas. Segundo a investigação americana, a brincadeira rendeu US$ 15 milhões a Teixeira e US$ 40 milhões à Traffic. Esse negócio foi alvo de uma CPI do Congresso brasileiro, mas a investigação terminou em pizza.
Ainda mais dinheiro entrou na conta corrente da empresa em 1999, quando a Hicks, Muse, Tate & Furst, parceira do Corinthians, comprou 49% da empresa brasileira. O grande negócio de Hawilla naquela época foi ajudar na criação e na divulgação do primeiro Mundial de Clubes da Fifa, realizado no Rio de Janeiro. Era detentora dos direitos de exibição da competição ao lado da TV Bandeirantes, que havia se tornado a sua parceira em 1998. Os tentáculos da Traffic estendiam-se do marketing esportivo para direitos de transmissão, organização de torneios e intermediação de contratos.
Quando o panorama do mercado de direitos comerciais começou a mudar e a concorrência cresceu, isso tudo aliado a uma profissionalização maior dos clubes, a empresa enfrentou alguns problemas e teve que se reinventar. Entrou no ramo de agenciar jogadores. O Desportivo Brasil foi fundado em 2005 para registrar os jogadores que a empresa contratava e emprestava às vitrines dos grandes clubes. Firmou uma parceria mais ativa, em 2007, com o Palmeiras, que culminou com o título do Campeonato Paulista do ano seguinte. Chegou a agenciar aproximadamente 90 jogadores, entre eles Darío Conca e Hernanes. Em 2010, colocou o pé na Europa ao comprar o Estoril Praia, de Portugal.
Novamente, pegava o vácuo do profissionalismo, mas o cenário novamente mudou. O polpudo contrato de televisão que os clubes assinaram em 2011 encheu os seus cofres, e o investimento da Traffic não era mais tão necessário. Mais uma reinvenção foi necessária, mas Hawilla já estava perdendo fôlego. Deixou o Brasil para morar nos Estados Unidos, em 2013, e deixou os seus negócios nas mãos dos filhos. Entre eles, além dos clubes e dos jogadores, as vendas dos camarotes do Allianz Parque e a comercialização dos direitos de torneios como a Libertadores e a Copa do Brasil.
Alguns anos antes, em 17 de maio de 2010, quando organizou uma festa gigante para comemorar os 30 anos da Traffic, foi tietado por Pelé, Ronaldo e Ricardo Teixeira. Recebeu a presença de Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab e Aloysio Nunes, à época a cúpula do PSDB paulista. Faturava nas centenas de milhões de dólares e estava com mais influência do que nunca. Mal sabia que os dias de glória estavam chegando ao fim. Com Hawilla exposto, assim como suas práticas, e a multa de quase R$ 500 milhões, é perfeitamente possível questionar qual será o futuro da Traffic, ou mesmo se ela ainda tem um. Querendo ou não, é um dos personagens mais presentes do futebol brasileiro nas últimas décadas.

ALGUNS PENSAMENTOS SOBRE DEUS.

O Mundo no Seu Dia-a-Dia




Alguns pensamentos interessantes sobre DEUS

Todos tem o direito de expressar suas crenças em Deuses e Divindades bem como as suas descrenças. Mas independentemente de nossas opções de acreditar ou de não acreditar, é sempre bom conhecer argumentos sólidos e inteligentes para nos fazer pensar e refletir.

Aceitar uma lei ditada no Monte Sinai é uma demissão humana. Não esperemos por uma verdade revelada para saber como nos comportar. Cabe a nós decidir em comum o que fazer e o que não é necessário fazer. - Albert Jacquard , in Petite philosophie à l'usage des non-philosophes, 1997 -



Deus é o nome que desde o início dos tempos até aos nossos dias serviu para os homens designarem a sua ignorância.
- Max Nordeau, escritor húngaro, 1849-1923 -



Os monoteísmos detestam todos aqueles que não se sacrificam ao seu próprio Deus. Intolerantes, invejosos, exclusivos, arrogantes, seguros deles mesmos, erigem uma lei para o outro. Daí vem sempre a sua cumplicidade para com os guerreiros, os soldados, os militares: do sicário pago pelas tribos primitivas ao terrorista da Net, passando pelos exércitos regulares dos Estados.
- Michel Onfray, in La philosophie féroce / 2004 -



Deus mata tudo o que lhe resiste. Em primeiro lugar, a razão, a inteligência , o espírito crítico.
- Michel Onfray, in Traité d'athéologie, 2005 -



Mata-se um homem e chamam-nos assassinos. Matam-se milhões de homens e chamam-nos conquistadores. Matam-se todos, e chamam-nos Deus.
- Jean Rostand , in Pensées d'un biologiste -



Declaro, pesando muito bem nas palavras, que a religião cristã, tal como está estabelecida nas igrejas, foi e é o principal inimigo do progresso moral do mundo.
- Bertrand Russell, in Porque não sou cristão, 1927 -



O homem é uma curiosidade maravilhosa. Pensa que é o animal de estimação do criador. E mais do que isso, acredita que o criador o ama, que está apaixonado por ele, que acorda à noite para o admirar, o proteger e defendê-lo dos perigos. Para isso faz orações que é suposto Deus entender. Não acham tudo isso um pitoresco pensamento?
- Mark Twain, in Lettres de la Terre -



Deus é o Prêmio Nobel da Guerra.
- Jean Cabut, Cabu, num seu desenho no Charlie Hebdo, 16 de Outubro de 2002 -



Os dogmas são monopólios.
- Georges Clemenceau / 1841-1929 -



A sabedoria começa onde termina a crença em Deus.
- André Gide, in Journal 1889-1939 -



A crueldade é o primeiro atributo de Deus.
- André Gide, Les Faux-Monnayeurs -



Deus é o sonho dos pobres, e o diabo é a loucura dos poderosos.
- Henri Gougaud, inL'Inquisiteur -



Jesus anunciou a chegada do Reino de Deus,
e o que afinal apareceu foi a Igreja.
- Alfred Loisy / 1857-1940 -



O ateu segue apenas as ordens da sua própria consciência.
- Sylvain Maréchal / 1750-1803 -



A oração apenas serve para suplicar pela existência de Deus.
- Jean Martet, In Au pense-petit -



Deus é uma palavra para exprimir, não as nossas ideias, mas justamente a falta delas.
- John Stuart Mill / 1806-1873 -



Deus é de tal modo perfeito que não precisa de existir.
- Robert Nozick, in Philosophical Explanations, 1981 -



A ciência só progrediu quando eliminou Deus.
- Pierre-Joseph Proudhon , in Etude de philologie sacrée -

POLÍTICA - As grandes frentes de luta.

As grandes frentes de luta: por uma esquerda ampla, contra as desigualdades e em defesa da nação


"A médio prazo, há o projeto estratégico da construção de uma aliança das esquerdas, como propõe Tarso Genro no Brasil, com a possível iniciativa de um PT renovado. Um desafio ainda ao nível das intenções. Porém já está ocorrendo na Espanha por fora do PSOE, com a emergência de grupos políticos renovadores. Mais adiante, num novo ciclo histórico, essas alianças das esquerdas, poderiam desdobrar-se numa frente para a construção de um novo socialismo democrático e libertário", escreve Luiz Alberto Gómez de Souza, sociólogo e Diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Candido Mendes.
Eis o artigo.
Está circulando um Manifesto pela mudança na política econômica e contra o ajuste, assinado por muitas entidades (CUT, MST, CPT, CIMI...) e personalidades como Tarso Genro, Marcio Pochmann, Luiz Gonzaga Belluzzo, Samuel Pinheiro Guimarães, Nancy Cardoso, José Gomes Temporão entre outros. A política questionada faz parte de um modelo que vem sendo chamado neo-liberal, mas antes de tudo um modelo conservador, imposto no passado por Thatcher e Reagan, pelo chamado consenso de Washington e agora por Angela Merkel e a “troika” composta pelo FMI, Banco Mundial e União Europeia. Modelo aplicado na Itália, Espanha e Portugal. A resistência está vindo da Grécia, que seguiu a risca essa política até o ano passado e cada vez piorava mais, impondo sacrifícios intoleráveis à população.
Agora, em janeiro, com a vitória da Coligação da Esquerda Radical (Syriza) - frente de esquerdas! -, tenta resistir, com o primeiro ministro Alexis Tsipras e seu valente ministro das finanças, Yanis Varoufakis. Eles se recusam a aceitar o peso imposto da dívida grega, pedem uma auditoria da mesma e inclusive chegam a exigir reparações de guerra da Alemanha, o país hoje mais inflexível na aplicação de receitas econômicas, com uma dureza que faria vagamente lembrar o tempo de seu regime autoritário. Há um movimento nacional para não pagar ao FMI um empréstimo de 1,6 milhões que vence em junho. O ministro das finanças declarou no fim da última semana, que entre saldar esse empréstimo ou pagar pensões e salários, escolheria esta última medida. A situação não está definida, há divergências dentro de Syryza e setores mais radicais já falam de sair da zona do euro.
Essas resistências gregas criam um precedente que assusta os operadores do modelo vigente. Há uma forte queda de braço nas reuniões da União Europeia, com Varoufakis enfrentando o violento ministro alemão. Se a Grécia conseguir romper esse cerco asfixiante – o que não será fácil,- o modelo poderá ser contestado em outros lugares, inclusive entre nós, o que representaria uma ameaça para o setor dominante internacional. Trata-se de enfrentar a receita amarga e injusta do grande capital especulativo internacional, sujeito dirigente do sistema capitalista em sua fase atual.
Esse sistema chega até nós e quer impor suas regras. Há dias esteve aqui a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, que declarou: “Não se pode ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo”. É a velha receita da política do governo militar: primeiro crescer, mesmo com sacrifícios, para depois talvez distribuir.
O mais contraditório, triste e irônico ao mesmo tempo, é que esse modelo está sendo posto em prática por um governo brasileiro que se propôs políticas alternativas. Vivíamos, ao final do século XX, um “discurso único” dos setores dominantes, que proclamavam não haver saída possível da receita econômica hegemônica. O Forum Social Mundial de Porto Alegre, em 2001, criado por dois brasileiros, Francisco Whitaker e Oded Grajew, lançou a ideia: “um outro mundo é possível”. Então poderemos dizer: uma outra política econômica é possível. Desafio ciclópico para a pequena Grécia, que no passado já foi inspiradora.
No Brasil, infelizmente, vivemos uma situação esquizofrênica. Há que defender o governo da presidenta Dilma, diante de alguns dos ataques mais virulentos que se tem visto, fazendo pensar na campanha lacerdista de 1954 contra Vargas. Mas, ao mesmo tempo, não há como negar que o governo sucumbe diante do modelo hegemônico, em nome de uma contraditória governabilidade, numa aliança com partidos fisiológicos, especialmente o PMDB, que mais do que aliado é chantageador.
Nos dois governos Lula e no primeiro Dilma, houve avanços inquestionáveis com programas sociais de inclusão social. Mas essas políticas vão chegando a um esgotamento. Há que passar de políticas compensatórias a políticas redistributivas. Isso contra os interesses aparentemente inegociáveis do capital financeiro. E o governo Dilma cedeu, entregando a política econômica a Joaquim Levy, arauto do modelo dominante, nas antípodas de seu homólogo grego. Os meios de comunicação do sistema e seus articulistas a soldo, incensam sem parar esse ministro. O “mercado”, isto é, a articulação do capital financeiro especulativo, respira aliviado e ameaça se Levy se afastar.
E assistimos a um momento de enorme farisaísmo político. Quando o governo apresentou as medidas provisórias 664 e 665 de ajuste fiscal ortodoxo, veio um bombardeio demagógico e eleitoreiro. Setores da direita, como Paulinho da Força, Aécio pelo PSDB, os suspeitos presidentes do Senado e da Câmara, todos se arvoraram em pseudo defensores dos setores populares e introduziram emendas que, de fato, diminuem o impacto das propostas na população. Mas fazendo isso sabiam que o governo, para manter o modelo, seria obrigado a introduzir um alto corte orçamentário e aumentar impostos. O que interessa para o sistema é o resultado final de contas equilibradas, e para isso veio a proposta de um arrocho de 80 bilhões de reais (o Manifesto lembra que a taxação das grande fortunas renderia 100 bilhões, mais do que essa soma). Cortam-se programas fundamentais de governo. Mas ele próprio, heterogêneo, por pressões internas, reduziu levemente a soma a 69,9 bilhões (parece a cifra enganosa das propagandas de rebaixamento de preços). Porém mesmo isso provocou o mau humor vigilante de Joaquim Levy, que parece aplacado pelos cuidados de Mercadante e de Temer.
A equipe governamental parece desconexa. Se de um lado a presidenta impõe Kátia Abreu na área rural, de outro nomeia, em posição oposta, Patrus Ananias, para o desenvolvimento agrícola. Patrus, por seu itinerário, traz a obrigação de realizar um processo de transformação e de reforma agrária, até agora tímido ou quase inexistente nos governos petistas. Vejamos se terá meios para tal.
E como entender a presença estapafúrdia e mirabolante de Mangabeira Unger, num chamado ministério de políticas estratégicas, com seu carregado sotaque gringo, escudado para os incautos numa cátedra em Harvard? Aliás, é difícil entender como esse personagem conquistou um Brizola vigilante, que o chamava reverente de professor e captou a admiração de um explosivo Ciro Gomes, que quis fazer seu discípulo na universidade americana. Lula entregou-lhe a política amazônica, o que foi a gota d’água para a saída do governo de Marina Silva. E em declaração intempestiva recente, Mangabeira Unger propôs congelar as relações com o Mercosul e com os BRICs, para centrar-se numa parceria bilateral desigual com seu país de adoção e de coração.
Faz pensar na doutrina do “satélite privilegiado” de Golbery no governo militar. Isso, no momento em que se abrem novas e promissoras perspectivas de acordos com a China, a primeira economia do mundo. E ele deixou escapar a desmedida ambição de também assessorar a campanha de Hillary Clinton à presidência dos Estados Unidos.
Mas então, que governo é esse? Tarso Genro, um dos mais lúcidos analistas políticos, assinante do Manifesto acima referido, sugere olhar mais à frente. Aliás, já durante o escândalo do chamado “mensalão”, como presidente interino do PT, ele propôs a refundação do partido, com a volta a suas origens, no então novo sindicalismo, movimentos sociais e movimentos pastorais da Igreja Católica, setores da esquerda política durante o regime militar e com figuras do nível de Mário Pedrosa, Florestan Fernandes ou Antônio Cândido.
Tarso perdeu a presidência e foi congelado pelo setor aparelhista do partido. Hoje é um dos líderes da segunda maior tendência do PT, segundo a imprensa, com 20,5% de delegados ao próximo congresso petista. Agora chegou ao Rio de Janeiro, do seu Rio Grande de origem, não com motivos eleitoreiros, mas por sentir que daqui, centro social, cultural e de pensamento, poderia surgir um movimento mais amplo, de “saída pela esquerda”.
Porém é preciso, antes de tudo, qualificar o que se entende por esquerda, nome desgastado pelo PSOE na Espanha, um setor do trabalhismo da Inglaterra ou o socialismo na França. O que distinguiria uma posição de esquerda? Poderíamos inspirar-nos nas sábias reflexões de Norberto Bobbio (“Destra e sinistra”, 1994). Na esquerda, é central a luta pela igualdade de oportunidades e pela justiça social distributiva, que deveriam ser vistas como uma tendência histórica a construir. Além disso, eu complementaria, a esquerda deveria estar articulada com os valores de liberdade, de paz, de defesa da espécie humana e do planeta terra. Não se trata de um igualitarismo uniformizado por baixo, devendo respeitar o direito à diferença e ao pluralismo, longe de qualquer fundamentalismo. Uma frente de esquerdas deveria comportar diferentes tendências, mas sempre numa perspectiva de lutar contra as desigualdades sociais. Isso a distinguiria de posições de direita ou de um centro ambíguo.
Vejamos o caso da Espanha. Ali o PSOE, fundado em 1879 por militantes históricos como Pablo Iglesias, sucumbiu à corrupção no governo Felipe González (1982-1996). Voltou mais adiante, com Rodríguez Zapatero (2004-2011), mas não se sustentou por mais tempo. O movimento de alianças à esquerda, nas atuais eleições municipais, se está fazendo à sua margem, em torno a grupos como Podemos, saído de movimentos populares como os Indignados e o 15 M e criado por outro Pablo Iglesias. Barcelona e Madri poderão talvez ser governadas por essas alianças de uma heterogênea frente de esquerda. O partido Podemos não apresentou candidatos próprios nessas cidades, mas indicou lideranças que vem das bases, como Ada Colau em Barcelona, vinda das lutas contra as remoções habitacionais ou Manuela Carmena do Agora Madri. Uma lição para o PT, que se não se transformar, poderá ficar prisioneiro de alianças centristas, não colaborando na construção uma frente de esquerda. Aliás, no passado, o PT teve dificuldade em costurar alianças à esquerda além do PC do B, prisioneiro de um acordo fisiológico com o PMDB, com a finalidade de chegar ao poder.
Outro exemplo a examinar. A França de um medíocre François Hollande, deixou atrás aquele belíssimo momento cheio de simbolismo, da vitória de François Mitterrand, em 1981, quando este entrou no Panthéon com duas rosas vermelhas, para Jean Jaurès e Jean Moulin, líder da Resistência. Aliás, Jean Jaurès pode ser um bom exemplo a recuperar. Veio de uma tradição de lutas em favor dos mineiros e de outros setores populares, fora das ortodoxias marxistas em voga, defensor de um socialismo democrático, fiel ao pacifismo internacional, assassinado por essa última posição às vésperas da primeira guerra mundial. Para ele, fundador do jornal L’Humanité, a esquerda não era uma opção ideológica no mundo abstrato das ideias, mas uma prática concreta a partir das lutas populares e sindicais (Max Gallo, Le grand Jaurès, 1984). Isso nos faz voltar a pensar o que é ser de esquerda: ter uma doutrina que escorrega para uma ideologia de teses dogmáticas pré-determinadas, ou partir de posições enraizadas na realidade? Tenho lembrado que Marx, nisso nada “marxista”, para a análise política partia da crítica às posições concretas dos partidos de seu tempo (Programas de Gotha, de Erfurt). Para ele, havia que subir do mundo abstrato das ideias para o concreto da práxis e dos programas. Uma saída pela esquerda é uma posição estratégica a ser construída a meio termo, com posições plurais, a partir de desafios concretos.
No caso do Brasil, há desafios que já supõem dois movimentos táticos imediatos. O primeiro, que está implícito nessa posição estratégica, é a luta contra uma ortodoxia dominante que prioriza as exigências do capital financeiro especulativo sobre as necessidades da cidadania. Uma aliança nessa direção terá de impor a necessidade de lutar contra as desigualdades, numa das sociedades mais desiguais do mundo. Na lista dos países por desigualdade social, em 2004, o Brasil estava em 116ª posição entre 126 países. Houve melhorias inquestionáveis nas condições de vida de milhões de brasileiros, com as políticas sociais nos últimos anos, mas ainda persistem grandes diferenças deles com os mais ricos.
Atualmente, as medidas econômicas e as políticas públicas tendem a punir os setores mais pobres, através de ajustes e arrochos. Com uma drástica reforma tributária, várias medidas se impõem, eliminando impostos indiscriminados que penalizam proporcionalmente mais as classes subalternas. Teria de haver um sistema tributário mais progressivo e distributivo. Hoje temos também uma enorme desoneração fiscal das grandes empresas. O imposto sobre a renda recai basicamente sobre setores médios e assalariados. Haveria que taxar as grandes fortunas, tarefa difícil, que levanta fortíssimas resistências do sistema e que tem derrotado Obama quando tenta propor medidas nessa direção.
Comparado com as despesas das políticas de inclusão social, o lucro dos Bancos tem sido enorme. Num momento de desaceleração da economia, eles vão tendo, de um ano a outro, lucros crescentes. Os quatro maiores bancos tiveram um lucro de US$ 20,5 bilhões em 2013, maior do que o PIB estimado de 83 países. Os três maiores bancos privados cresceram 27% em 2014. Segundo o analista de uma agência classificadora de risco (Austin Rating), a nota do Brasil foi por isso melhorada e, eufórico, indicou que “os bancos tiveram lucro exuberante em 2014 e vão elevar ainda mais em 2015”. Como medida paliativa, Dilma está editando uma nova medida provisória que aumenta a contribuição social dos bancos sobre seu lucro líquido, dos atuais 15 para 20%, arrecadando cerca de R$4 bilhões ao ano. Apenas um tímido começo.
Mas há uma segunda ação tática com lutas urgentes. Em artigo de dezembro eu indicava a necessidade de “passar do social ao nacional”. Haveria aí uma aliança mais ampla e urgente do que a das esquerdas. Minha geração viveu intensamente os tempos de construção da nação, de Vargas a Kubitschek. Uma bandeira: “o petróleo é nosso”. Ali se encontravam setores políticos de diferentes horizontes e o próprio Clube Militar se dividia em nacionalistas e “entreguistas”. Num primeiro momento, no passado, escutavam-se afirmações de que o país não possuía petróleo no subsolo, ou esse era insignificante. Foi quando, em 1936, começou a jorrar petróleo em Lobato, na Bahia. Na ocasião, o governo do Estado Novo chegou a destruir poços. Diante das evidências, o discurso dos setores dominantes mudou. Para eles não tínhamos tecnologia para a prospecção e a extração, que deveriam estar nas mãos da Standard Oil ou da Shell. Mas o movimento nacionalista se impôs e, em 1953, foi aprovada a lei 2004 que criou o monopólio estatal.
É curioso um paralelismo histórico. Em 1951, no Irã, o primeiro- ministro Mossadegh nacionalizou o petróleo, extinguindo a colonial Anglo-Iranian Company. Houve intensa mobilização das grandes empresas petroleiras e, com a colaboração da CIA, o primeiro-ministro foi deposto em 1953 e voltou-se ao regime privatista, com o Xá aliado dos Estados Unidos (nota à margem: essa intervenção externa levaria em boa parte, em 1979, a uma revolução que criou a república teocrática islâmica).
Nesse mesmo contexto internacional, o governo Vargas, entre 1951 e 1953, talvez conhecendo nos bastidores a força das petroleiras e seus aliados internos, para não enfrentar diretamente grandes interesses aparentemente insuperáveis, apresentou o projeto de uma lei de um regime misto de exploração do petróleo. Há que convir também que o governo Vargas, como este agora, tinha um espectro contraditório, que ia de seus assessores nacionalistas como Rômulo de Almeida e Jesus Soares Pereira, ao chanceler de 1951 a 1953, João Neves da Fontoura, alinhado incondicional com os Estados Unidos.
Aqui temos um dos paradoxos da história, que mostra que as posições e acordos táticos podem ser mais amplos e movediços do que se pensa: o udenista Bilac Pinto, liberal de oposição férrea ao governo, apresentou um substitutivo ao projeto, propondo diretamente o monopólio estatal. De acordo com Tancredo Neves, Getúlio não incluíra a estatização no projeto, por receio de que a oposição, por pirraça e postura ideológica, arquivasse logo a proposta. Setores da UDN, ao mesmo tempo que se opuseram ao governo, como sistematicamente faziam, foram ainda mais longe na sua proposta, tentando apagar sua imagem reacionária. Comentário de Tancredo: “A malícia do presidente era realista”. Foi uma jogada brilhante de quem, favorável à estatização, fez o adversário tirar as castanhas do fogo (Ver Lira Neto, Getúlio, 1945-1954, pp.217-218).
Num primeiro momento pareceria haver um certo paralelismo com a postura oportunista da oposição frente às MPs. Só que agora o governo realmente acredita nas medidas que propôs e lutou por elas. Mas o debate serviu para visibilizar uma esquerda crítica dentro do PT. Em outras ocasiões, rebeldia petista como a que houve no parlamento, era punida com expulsão. Agora, ao que tudo indica, esta tem raízes mais fortes nas bases do partido.
Voltando a 1953, houve acordo dos dois lados e nasceu a Petrobras. O Jornal Ultima Hora dirá em manchete: “Venceu o povo”. O Correio da Manhã, semelhante à linha atual de O Globo ou Veja, criticou “uma aventura de nacionalistas rasteiros”, que defendiam “monstruosidades como o monopólio estatal”. Para Assis Chateaubriand, dos Diários Associados, tratava-se de “capricho caro". Porém a Petrobras ia tornar-se uma das empresas mais rendosas e exitosas a nível mundial, a nona entre as petroleiras.
Há que assinalar que o determinante na criação da Petrobras foi a enorme mobilização da sociedade civil pelo monopólio estatal. O andar de cima da sociedade política refletiu um trabalho nas bases da sociedade. É o que se espera agora, diante da atual ofensiva contra a Petrobras e o pré-sal.
Durante a “privataria tucana”, em 1997, uma lei rompeu o monopólio e abriu as atividades petroleiras a um regime de concessões. Porém mais adiante, no governo Lula, descobriu-se a potencialidade enorme do pré-sal. Então, pela lei 12.351 de 2010, o estado passou a ser, nessa área, o operador único, ainda que aberto a um regime de partilha operacional com empresas.
E estamos então numa luta com semelhanças no passado. Chega uma enorme pressão para entregar o pré-sal a um regime de concessões. Os interesses do grande capital estão ávidos para entrar num loteamento apetitoso. Um editorial de O Globo (16/12/2014) indicava que “o monopólio de fato do pré-sal não faz sentido”. Pensando no mote dos anos 50, poderíamos agora dizer: “o pré-sal é nosso”.
Para conseguir hoje os resultados entreguistas, haveria que sangrar a Petrobras. E para isso contribuíram criminosamente as máfias que dentro dela, como em tantas empresas, fizeram negociatas enormes. “Nunca houve corrupção como agora”, proclama doutoralmente FHC. A verdade é que essa gatunagem atravessou seu governo e vem de atrás. A diferença é que agora está havendo liberdade de investigar e denunciar. Pela primeira vez chegam também os corruptores das grandes empreiteiras. Uma observação à operação Lava Jato: as informações de delação premiada, que deveriam ficar sigilosas enquanto se apuram as denúncias dos corruptos e corruptores, algumas talvez de má fé, vão sendo soltadas gota a gota pelo juiz Moro, numa sequência pelo menos suspeita, que alimenta a imprensa a serviço de uma possível privatização. Aquela abre espaços diários sobre “escândalos em série” e uma manchete proclama, “Petrobras derrete” (O dia, 16/12/2014).
Que falta faz uma Última Hora hoje, diante do quase monopólio dos meios de comunicação! Essas denúncias alarmistas e seletivas escondem dados reais sobre a Petrobras. Assim, a produção nas bacias de Campos e Santos, como foi anunciado em 12 de maio, atingira na véspera a marca dos 800.000 barris por dia. Se fraudes e superfaturamentos lesaram a Petrobras em cerca R$6 bilhões em 2014, os resultados do primeiro trimestre de 2015 indicam que obteve lucro líquido de R$5,3 bilhões, com um lucro operacional de R$13,3 bilhões, 76% superior ao primeiro trimestre de 2014 . A Petrobras encerrou o primeiro trimestre deste ano com R$68,2 bilhões em caixa. As quantias são enormes e mostram a dimensão da empresa, que resiste à enorme corrupção. Estava em 10º lugar na lista Forbes das grandes empresas internacionais em 2012, ainda que tenha caído um ano depois para o 30% posto pela crise destes anos. Com a produção do pré-sal e a profilaxia interna que está lancetando os desvios e crimes, voltará a melhores posições.
Resumindo, a médio prazo, há o projeto estratégico da construção de uma aliança das esquerdas, como propõe Tarso Genro no Brasil, com a possível iniciativa de um PT renovado. Um desafio ainda ao nível das intenções. Porém já está ocorrendo na Espanha por fora do PSOE, com a emergência de grupos políticos renovadores. Mais adiante, num novo ciclo histórico, essas alianças das esquerdas, poderiam desdobrar-se numa frente para a construção de um novo socialismo democrático e libertário.
Mas como bandeiras tática imediatas, uma está posta: a luta contra a escandalosa desigualdade, com uma corajosa política redistributiva, corolário para a estratégia acima referida. E seria necessária uma outra aliança tática ainda mais ampla, de defesa da nação, contra os interesses colonizadores do grande capital especulativo globalizado, talvez até com o apoio de alguns setores de um capital nacional. Fico pensando no que fariam Brizola e Darci Ribeiro hoje. Na proposta de Tarso Genro, haveria quer construir um diálogo do PT com o PC do B, setores do PSB de Roberto Amaral e de Luiza Erundina, do PSOL de Chico Alencar, Jean Wyllys ou Marcelo Freixo, do PDT de Cristovam Buarque, talvez a Rede de Marina, partidos menores, independentes como Bresser-Pereira, numa grande aliança, para defender os interesses da nação ameaçados de vários lados. A exemplaridade se daria em torno à Petrobras. FHC proclamou com segundas intenções, “o fim da era Vargas”, isto é, do processo de construção da nação, ainda inacabado, com enormes potencialidades pela frente.
O Brasil tem um grande futuro, se enfrentarmos com coragem e eficácia esses desafios estratégicos e táticos. Para isso, o grande sujeito principal não serão os políticos e partidos elencados, mas o dinamismo de uma cidadania ativa, à qual eles devem estar a serviço. Digo isso com a distância de quem não tem militância partidária, mas aposta nas mobilizações e nos movimentos que sobem da base da sociedade e desafiam partidos e políticos. A partir de carências concretas em saúde, educação, habitação, transportes, ou segurança, articulada em torno a lutas particulares contra todo tipo de discriminações, com o dinamismo da juventude rebelde e da capacidade de indignação, há que esperar que do fundo da sociedade vá subindo uma força com reações mais ou menos espontâneas, que nos irão desafiando para encontrar caminhos inéditos e novas formas de compromissos societários e políticos.