sexta-feira, 29 de maio de 2015

POLÍTICA - A destruição dos mitos.

    

Aprovação do financiamento empresarial de campanhas destrói mitos 

   

O golpe perpetrado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nesta quarta-feira (27), quando conseguiu tornar constitucional a contribuição empresarial para as campanhas eleitorais, depois de o mesmo tema no dia anterior ter sido rejeitado, deve servir ao menos para destruir certos mitos incansavelmente divulgados por nossa mídia hegemônica. Ao final destas Notas Vermelhas, veja uma tabela com a posição de cada partido na votação da matéria. 


Mito de que a corrupção está no governo e no PT

Impedir os grandes empresários de, na prática, comprarem mandatos e mais tarde exigirem benefícios ilegais era uma medida reclamada pela maioria da população. No entanto, a proposta que permite e, mais do que isso, torna constitucional a “doação empresarial” foi aprovada na Câmara. De quem é a culpa? Quem defende princípios elevados na prática política ou quem é apenas hipócrita? Os mesmos que esbravejam contra a corrupção nas CPIs, TVs e páginas da mídia amiga, foram os que votaram a favor de receber o rico dinheiro que vem dos bancos e grandes empresas para suas campanhas milionárias. Um antigo ditado diz que um gesto vale mais do que mil palavras. Os principais partidos da oposição de direita, PSDB e DEM, votaram em peso a favor da medida. O DEM com 100% dos votos de sua bancada e o PSDB com 98%. Quem votou contra o dinheiro das empresas nas campanhas foi principalmente a esquerda do campo governista, mais precisamente o PT e o PCdoB, ambos com suas bancadas dando 100% de votos contrários. Na oposição de direita, apenas o moribundo PPS resolveu excepcionalmente se comportar de forma coerente com o discurso em defesa da ética.

Mito de que as legendas menores são o problema

Este é um dos mitos mais comuns. Os partidos pequenos seriam, invariavelmente, organizações de aluguel e culpados pela baixa política. Mas uma análise da votação desta quarta-feira nos mostra que foram os grandes partidos que garantiram 77% dos votos necessários à aprovação do nefando projeto de legalizar as doações empresariais. Aliás, dos partidos com grandes bancadas, só um votou contra esta proposta, o PT. Existem partidos menores que são, de fato, legendas de aluguel. Porém, é mais comum encontrar partidos grandes que fazem aluguel, leasing e toda sorte de transação comercial. Na verdade, independente do fato de ser grande ou pequena, deve-se buscar fazer a distinção entre as organizações com real conteúdo programático e ideológico daquelas que, vamos dizer, “estão no mercado”. Como votou cada legenda na questão da doação empresarial para as campanhas é um excelente indicativo neste sentido.

O mito de uma extrema-direita honesta

A atual ofensiva da direita fez surgir, em certos círculos, um discurso neofascista que, mesmo apresentado por rostos jovens e adornado por gestos enfáticos, não consegue esconder sua essência esclerosada e bolorenta. Os personagens mais famosos desta corrente são militares saudosos da ditadura, pastores evangélicos fanáticos, jovens liberais que dormem com um retrato de Hitler embaixo do travesseiro, todos unidos pelo slogan da bancada da bala: “bandido bom é bandido morto”. Ao proferir suas sandices fazem pose de bravos cavaleiros da ética enfrentando o dragão da corrupção. Mas na hora de dizer não ao dinheiro de bancos, empreiteiras e grandes empresários nas suas campanhas, os deputados federais Jair Bolsonaro, Marcos Feliciano, Alberto Fraga, Capitão Augusto, Eduardo Bolsonaro, Heráclito Fortes e outros ilustres representantes do fascismo pátrio, quase ficaram roucos: “Sim, Sim, Sim, queremos este dinheiro”, clamavam em uníssono enquanto apertavam convulsivamente o botão verde de votação. Certamente existem pessoas de extrema-direita que são honestas. Mas a ideologia que os move reúne sempre e invariavelmente em seu proscênio o que existe de mais corrupto e sujo na vida política. O slogan “bandido bom é bandido morto” é um excelente biombo para esconder toda sorte de patife. Na votação da doação empresarial das campanhas, o biombo ficou pequeno para esconder o tamanho da safadeza.

O mito de uma mídia independente

Uma intensa campanha midiática instrumentalizou as denúncias de corrupção, conseguindo inculcar em parte da população uma fórmula tão simples como falsa – o PT é corrupto e toda a política é suja. Talvez alguns destes que foram tão vilmente manipulados, já estejam se dando conta de que a imensa maioria da mídia hegemônica, Globo à frente, trabalhou pela legalização das doações dos grandes empresários às campanhas eleitorais. Eduardo Cunha, na manhã e tarde de quarta-feira, antes de iniciar a fatídica sessão que aprovou este descalabro, fez uma maratona de reuniões para reverter a derrota da véspera. Advinha-se bem os métodos usados, que fizeram oito partidos (PRB, PV, PTN, PTdoB, PMN, PRTB, PSL e PTC) mudarem os votos que tinham dado um dia antes contra o financiamento empresarial das campanhas. O assunto não foi alvo de manchetes ou investigações jornalísticas. Afinal, a mídia hegemônica apoiou Cunha em sua caminhada à presidência da Câmara por dois motivos: “para derrotar Dilma” e justamente para fazer coisas como as que ele fez na quarta-feira.

O mito de que o “Brasil acordou”

Nem todo movimento significa consciência. Uma pessoa em coma pode ter convulsões. As passeatas de junho de 2013, “contra a corrupção, contra os partidos” e contra mais um monte de coisas, ainda merece uma análise mais apurada, mas é inescapável que deixou como saldo um crescimento da direita nas eleições presidenciais e um Congresso que, desde a redemocratização, em 1985, é o que mais tem a marca da baixa política e do reacionarismo. Símbolo maior deste fenômeno é justamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha e a manobra imoral que conduziu para aprovar o financiamento empresarial das eleições só foi possível neste ambiente. Um ambiente tão contaminado que o grave atentado à democracia perpetrado na quarta-feira, apesar do protesto da esquerda, até agora pouca ou nenhuma repercussão alcançou entre o povo. Embora isso se deva também ao fato de que a mídia blinda o parlamentar fluminense e garante-lhe um salvo conduto quase total, que irá vigorar enquanto ele provar ser uma peça útil, é notório que o avanço da consciência política entre os trabalhadores, depois de 12 anos de governos de esquerda, é claramente insuficiente, cabendo à força principal que conduz a coalização a grande responsabilidade por este déficit. Devemos recuperar o tempo perdido neste aspecto e travar a batalha da comunicação tendo constantemente em vista elevar a politização e valorizar o debate de ideias, com destemor e deixando de lado uma defensiva que não tem razão de ser e só fragiliza os setores progressistas. A análise de como votou cada partido em relação ao financiamento de campanhas, por exemplo, é um bom instrumento para mostrar ao povo quem verdadeiramente está ao lado dos seus interesses.

Veja abaixo a relação dos Partidos que APOIARAM o financiamento empresarial das campanhas. Entre parênteses o percentual da bancada que votou a favor da proposta.

1º - PMDB – 56 votos (92%)
2º - PSDB – 46 votos (98%)
3º - PP – 32 votos (86%)
4º – PSD – 29 votos (97%)
5º – PR – 27 votos (93%)
6º - PTB – 24 votos (100%)
7º - DEM – 20 votos (100%)
7º - PRB – 20 votos (100%)
9º - PSB – 16 votos (53%)
10º - SD – 14 votos (94%)
11º - PSC – 11 votos (92%)
12º - PV – 06 votos (75%)
13º - PHS – 05 votos (100%)
14º - PMN – 03 votos (100%)
14º - PRP – 03 votos (100%)
16º - PEN – 02 votos (100%)
16º - PSDC – 02 votos (100%)
16º - PTdoB – 02 votos (100%)
19º - PRTB – 01 voto (100%)
19º - PSL – 01 voto (100%)
19º - PTC – 01 (100%)

Agora, a relação dos Partidos que foram CONTRA o financiamento empresarial das campanhas. Entre parênteses o percentual da bancada que votou contra a proposta.

1º - PT – 62 votos (100%)
2º - PDT – 14 votos (88%)
3º - PCdoB – 13 votos (100%)
4º - PPS – 11 votos (100%)
5º - PROS – 07 votos (58%)

O PSOL (quatro parlamentares) não participou da votação. Com posição contrária ao financiamento empresarial, se declarou em obstrução, recurso legislativo que busca impedir o prosseguimento da sessão.

Na bancada de quatro parlamentares do PTN, dois votaram a favor, e dois votaram contra. Na votação anterior três parlamentares do PTN haviam votado contra o financiamento das campanhas pelas empresas.

 


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