segunda-feira, 28 de março de 2011

POLÍTICA - Quem é o autor do slogan "Lula-Lá"?

Balaio do Kotscho - Balaio do Kotscho

O assunto foi tratado pela primeira vez aqui no Balaio no dia 26 de maio de 2010, no início da campanha presidencial, quando a Folha publicou matéria com o título “Marina recorre a inventor do `Lula-Lá ´”.

No mesmo dia, publiquei post contestando a informação da Folha, pois trabalhei na campanha de Lula em 1989 e sabia como e por quem o jingle havia sido criado: “Folha errou: `Lula-Lá ´é de Hilton Acioly”.

Dizia a matéria da Folha: “PV recruta Paulo de Tarso, mas diz rejeitar marqueteiro profissional. Autor do jingle petista nas eleições de 1989 já prepara senadora para eventos. Contrato ainda estaria em negociação”.

Se o PV rejeita marqueteiro profissional, então é porque está recrutando um marqueteiro amador, se é que isso ainda existe (além do falecido Carlito Maia, criador do slogan “Lula-Lá”, não conheço nenhum). Se é amador, para que negociar contrato? Não fica claro.

A verdade é que a Folha confundiu slogan com jingle e errou duas vezes: o publicitário Paulo de Tarso não é autor de nenhum dos dois. Foi apenas o marqueteiro que levou o slogan de Carlito, criado no ano anterior, como sugestão para o compositor Hilton Acioli usar no jingle da campanha de 1989, que acabou virando um hino.

Pensei que o assunto estivesse esclarecido e morto, quando na semana retrasada me ligou uma repórter da Folha querendo checar uma informação publicada sobre o assunto na coluna da minha amiga Monica Bergamo. Repeti-lhe o mesmo que está escrito no meu post de maio do ano passado.

Dias depois, o sr. Paulo de Tarso Santos enviou um comentário desvairado ao meu blog, que nem me dei ao trabalho de responder.

Só agora entendi o motivo: a família de Carlito Maia resolveu contestar a versão dada por Paulo de Tarso e encampada pela Folha, reinvindicando a autoria do slogan.

Maurício Maia, filho de Carlito, enviou-me neste final de semana a longa troca de correspondência que manteve com a Folha.

Ao final da leitura das mensagens, que reproduzo abaixo, não tenho a menor dúvida, diante da cronologia dos fatos e das notas publicadas em jornais, inclusive na própria Folha, de que a autoria do slogan é mesmo do meu querido amigo Carlito Maia e o jingle da campanha foi criado por Hilton Acioly.

O slogan de Carlito é bem anterior à montagem da estrutura de comunicação da campanha, em meados de 1989. Só eu e o colega Sergio Canova começamos a trabalhar mais cedo, cuidando da área de imprensa, no início daquele ano.

Sei por experiência própria que a Folha tem grande dificuldade em reconhecer erros históricos que comete, preferindo reescrever a história, mas neste caso não dá para ficar calado diante de um episódio do qual fui testemunha.

Peço aos leitores deste Balaio que porventura também tenham trabalhado na primeira campanha presidencial de Lula, em 1989, ou guardem consigo qualquer lembrança ou documento daquela época que, por favor, ajudem a esclarecer esta polêmica sobre um fato ocorrido 21 anos atrás.

Transcrevo abaixo a correspondência com a Folha que me foi enviada por Maurício Maia:

***

Prezado Ricardo Kotscho,

Como imaginava, a Folha de S. Paulo ignorou meus protestos contra as notas publicadas pela colunista Mônica Bergamo, em que atribui ao publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos a autoria da frase “Lula lá”. Só resta recorrer à blogosfera para mostrar que o jornal Folha de S. Paulo errou em algum momento nesta história. Ou em 1989, quando publicou diversas notas em que a autoria da frase era atribuída a Carlito Maia; ou agora, quando endossa a versão do publicitário Paulo de Tarso.

Esse problema não se resume apenas ao “Lula lá”. Ele mostra como existe uma parcela do jornalismo que se acha imune às críticas. Lembro-me de uma frase sua que sempre foi um norte para o exercício da profissão (“O trabalho do jornalista é essencialmente crítico e a gente tem que começar a criticar o nosso próprio trabalho para poder melhorar”). Ao contrário do que escreveu a colunista Mônica Bergamo (“Sua carta foi encaminhada ao Painel do Leitor e seguramente será publicada”), o jornal parece não ter considerado relevante minha argumentação. A carta não saiu no Painel do Leitor e a ombudsman nem se deu ao trabalho de responder as mensagens que lhe enviei.

Apresentei à Folha de S. Paulo diversas evidências de que a autoria da frase é de Carlito Maia e que caberia ao publicitário Paulo de Tarso demonstrar que teve antes a ideia. A expressão se tornou pública em nota que saiu na coluna de Zózimo do Amaral em dezembro de 1988. Esta e todas outras notas que encontrei publicadas na imprensa ao longo da campanha eleitoral de 1989 seguem logo abaixo para que se possa montar uma linha do tempo. Em anexo, mando facsímilie das colunas “Tenho Dito”, publicadas na Gazeta de Pinheiros. Amanhã cedo, pedirei ao Centro de Documentação do Jornal do Brasil cópia da coluna do Zózimo. As notas da Folha de S. Paulo podem ser verificadas no sítio virtual do jornal.

A colunista Mônica Bergamo insiste que não há documentos para provar a autoria da frase. Os jornais da época seriam o que, então? Obras de ficção? Como ela se apega às declarações de suas fontes, procurei algumas pessoas ouvidas pelo jornal.

O vereador José Américo Dias (PT-SP), que coordenou a comunicação de rádio e de TV da campanha eleitoral de 1989, reconhece que não havia estrutura alguma montada em 1988. Aguardo nota que ele se comprometeu a me enviar com data aproximada da primeira vez que ouviu a expressão “Lula lá” (o vereador é uma das fontes ouvidas pela Folha de S. Paulo que referendaram a versão de que a ideia seria de Paulo de Tarso).

O compositor Hilton Acioli diz que recebeu a frase das mãos do publicitário Paulo de Tarso entre o final de janeiro e começo de fevereiro de 1989 num encontro de publicitários realizado em Cajamar. Ainda não localizei nenhuma referência a essa reunião. De qualquer modo, ela é bem posterior à nota publicada no Jornal do Brasil. Acioli não se lembra exatamente quando entregou as duas versões da música (um samba e a composição consagrada na campanha) aos coordenadores da campanha. Garante, no entanto, que é fantasiosa a versão apresentada no livro “Notícias do Planalto”, do jornalista Mário Sergio Conti, que relata ligações telefônicas de madrugada (telefonemas que nunca existiram, afiança Acioli).

O livro de Conti, publicado no final de 1999, parece ser o primeiro momento em que o publicitário Paulo de Tarso assume publicamente a autoria do “Lula lá”. Vem dessa época a estranha versão de uma ideia surgida simultaneamente na cabeça de dois publicitários. Essa história foi repetida no livro “Partido dos Trabalhadores – Trajetórias”, editado em 2000 pela Fundação Perseu Abramo. Na época, procurei Zilah Abramo para que a fundação corrigisse o erro. Nada foi feito.

Recorro agora a você para que essa história seja passada a limpo definitivamente. Seu testemunho pode ajudar a esclarecer alguns pontos obscuros dessa história. É espantoso, por exemplo, que o publicitário Paulo de Tarso não tenha procurado a Folha de S. Paulo ainda em 1989, caso as notas publicadas pelo Painel estivessem atribuindo à pessoa errada a criação do “Lula lá”. Gostaria muito que você fizesse um esforço de memória para tentar identificar a data em que os jingles foram apresentados aos coordenadores da campanha eleitoral. Se foi em fins de maio ou começo de junho, como sugere a nota publicada pela Folha de S. Paulo a 3 de junho, como o publicitário Paulo deTarso explicaria a nota de 16 de abril, quando a campanha não contava com canção alguma? Será que Paulo de Tarso não lia a Folha de S. Paulo? O Jornal do Brasil, pelo visto, não fazia parte de seus hábitos de leitura.

Desde já, grato pela atenção.

Maurício Maia

Dia 7/12/1988:
Jornal do Brasil, Caderno B, Coluna de Zózimo Barrozo do Amaral:
“Carlito Maia, filósofo popular de São Paulo, faz tanta fé no PT que acaba de criar um slogan para a campanha de Luiz Inácio da Silva à presidência da República. Lula lá. Parece canção de ninar”.

Dia 5/2/1989:
Gazeta de Pinheiros, coluna Tenho Dito, de Carlito Maia:
“(…) Logo mais teremos Lula lá e PT saudações. A continuação da virada…”

Dia 16/4/1989:
Folha de S. Paulo, Painel, p. A4:
“O publicitário Carlito Maia está tentando convencer Rita Lee a fazer um rock para a campanha de Lula, baseada no slogan que criou – Lula lá”

Dia 1º/5/1989:
Folha de S. Paulo, Painel do Leitor, p. A3:
[carta do leitor Sidney Lopes, provavelmente enviada em reação à nota do dia 16 de abril]
“Lula lá nunca, se Deus quiser”.

Dia 7/5/1989:
Gazeta de Pinheiros, coluna Tenho Dito, de Carlito Maia:
“(…) Então – Lula lá!”

Dia 3/6/1989:
Folha de S. Paulo, Painel, p. A4:
“Lula-lá – O compositor Hilton Accioly, autor da música ‘Disparada’ com Geraldo Vandré, fez duas versões para o jingle de campanha de Lula, a partir do slogan criado pelo publicitário Carlito Maia”.

Dia 21/3/2011:

Folha de S. Paulo, p.E2

LULA LÁ 1

Quem é o verdadeiro autor do “Lula Lá”, que embalou as campanhas presidenciais de Lula nas últimas décadas? Mais de 20 anos depois da eleição de 1989, Tereza Rodrigues, viúva do publicitário Carlito Maia, insiste em dizer que saiu da cabeça de seu marido. Tereza escreveu à coluna para protestar por causa de um texto em que a criação do “Lula lá” foi atribuída ao publicitário paulista Paulo de Tarso Santos.

Folha de S. Paulo, 21/3/2001, p. E2

LULA LÁ 2

Já Paulo de Tarso diz que teve a ideia num encontro do PT. Escreveu a frase num papel e a mostrou para o compositor Hilton Acioli. “Ele sacou que a frase era musical e a usou no jingle. A razão da frase é a musicalidade”, diz. “Admito que o Carlito Maia possa ter tido essa ideia ao mesmo tempo que eu, mas isso nunca chegou a nós durante o desenvolvimento do trabalho”. Testemunhas que coordenaram e participaram da campanha confirmam a versão de Tarso.

Enviada em: segunda-feira, 21 de março de 2011 12:52
Para: Monica Bergamo
Assunto: Lula lá

Prezada sra. Mônica Bergamo,

Sou filho de Carlito Maia e há anos venho me batendo contra a versão farsesca da autoria do “Lula lá”. Como o tema voltou à sua coluna, na edição de hoje, aproveito para demonstrar que o publicitário Paulo de Tarso mente quando diz que a ideia foi dele. Trata-se de simples cronologia. A expressão veio a público em nota que apareceu na coluna de Zózimo Barroso ainda em dezembro de 1988. A estrutura publicitária da campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva só foi montada em meados de 1989, conforme depoimento de vários participantes daquela disputa eleitoral. Sugiro contato com o compositor Hilton Acioli para confirmar quando ele recebeu a sugestão do “Lula lá”.
Reproduzo abaixo o texto que publicamos no sítio virtual em homenagem a Carlito Maia que, depois de morto, tem sido bombardeado com acusações de ter plagiado suas próprias ideias (o “Lula lá” é apenas um caso, há quem tem a cara de pa u de dizer que não era dele a criação da “Jovem Guarda” de Roberto Carlos e cia.).
Duvido que o sr. Tarso tenha prova material de ter se encontrado com o compositor Acioli ainda em 1988 – ou antes de maio de 1989.
Atenciosamente,

Maurício Maia

http://www.carlitomaia.etc.br/home.html

A participação política foi um dever de cidadania para Carlito Maia, traduzida de diversas maneiras: escrevendo cartas indignadas para jornais, colaborando na criação das campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores, principalmente nas disputas de Eduardo Suplicy e com a parceria de companheiros de longa data, como Erazê Martinho. Também emprestava seu nome para manifestos políticos e movimentos sociais. O Movimento dos Sem-Terra foi ardorosamente defendido por ele.

Em 1983, criou o Tribunal Tiradentes, que julgou e condenou a Lei de Segurança Nacional. Também instituiu um prêmio simbólico para personalidades que se destacassem na luta pela Paz, pela Justiça e pela Liberdade. Os vencedores seriam aqueles que, na opinião de 1.062 amigos de Carlito (muitos dos quais ele sequer conhecia pessoalmente), fossem os mais votados pelo que fizeram ao longo de 1981. A premiação, que consistia apenas no anúncio dos vencedores e nada mais, seria feita em 1o de janeiro de 1982, Dia da Confraternização Universal. O Prêmio Mahatma Ghandi da Paz foi concedido a Dom Paulo Evaristo Arns, que recebeu 366 votos; o Prêmio Bertrand Russell da Justiça foi dado ao advogado Heráclito Sobral Pinto (que obteve 297 indicações); e, por fim, o pensador Alceu Amoroso Lima foi o vencedor do Prêmio Charles Chaplin da Liberdade, com 314 votos.

Duas das maiores criações de Carlito, no entanto, foram feitas para o PT: “optei” e “Lula lá”. Houve quem quisesse dividir a paternidade do “Lula lá”, mas registros jornalísticos não deixam dúvida de quem foi o criador da expressão que consagrou as campanhas eleitorais de Lula para a presidência da República. O publicitário Paulo de Tarso Santos, por duas vezes (em entrevistas publicadas nos livros “Notícias do Planalto” e “Partido dos Trabalhadores – Trajetórias”), insistiu em dizer que também era autor do “Lula lá”. Na lembrança de Paulo de Tarso, “Lula lá” teria surgido nas primeiras reuniões da equipe de criação da campanha de TV do candidato
petista (ocorridas provavelmente em meados do primeiro semestre de 1989). Mas a expressão já havia sido cunhada por Carlito muito antes do processo eleitoral. A referência mais remota aparece em nota publicada no Jornal do Brasil, a 7 de dezembro d e 1988:

“Carlito Maia, filósofo popular de São Paulo, faz tanta fé no PT que acaba de criar um slogan para a campanha de Luis Inácio da Silva à presidência da República. Lula lá. Parece canção de ninar”

Ao contrário do que supunha o jornal carioca, o mote tornou-se um dos mais belos jingles das campanhas políticas com a música de Hilton Acioli. Carlito era um entusiasta propagador da idéia, como mostra sua coluna “Tenho Dito”, da Gazeta de Pinheiros. Na edição de 5 de fevereiro de 1989, ele escrevia:

“Brasil: vote-o ou fique-o! Logo mais teremos Lula lá e PT saudações. A continuação da virada…”. Três meses depois, em 7 de maio, arrematava assim seu texto dirigido aos eleitores de 16 anos: “Então, Lula lá!”.

Em 21/03/2011 13:07, Monica Bergamo escreveu:

Olá, Mauricio, tudo bem?

Agradeço a sua mensagem.

Na nota que publicamos, o Paulo de Tarso não acusa o Carlito de plágio. Ele diz inclusive que admite que o Carlito possa ter tido a ideia do Lula lá.

Mas diz que também não pode ser acusado de plágio pois não sabia, nunca tinha ouvido ou lido nada a respeito.

Procuramos registrar a posição da família sem deixar de dar voz ao publicitário, que nos deu a explicação agora publicada.

Um grande abraço, muito obrigada

Mônica

Enviada em: segunda-feira, 21 de março de 2011 21:59
Para: Monica Bergamo
Assunto: RE: RES: Lula lá

Prezada Mônica,

Curiosa essa situação. Apresentei-lhe dois registros jornalísticos – públicos, portanto – da expressão “Lula lá”. Um deles, por sinal, impresso numa das colunas mais lidas da imprensa brasileira de então, publicada por Zózimo Barrozo do Amaral no Jornal do Brasil. Ambos são bem anteriores às primeiras reuniões da campanha publicitária do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Na nota publicada hoje, a última palavra ficou com o sr. Paulo de Tarso e sua equipe de campanha. Ponto para o jornalismo declaratório e azar da apuração da verdade fática.
Caso sua coluna não volte ao caso, enviarei carta ao Painel do Leitor. É sempre bom que os leitores da Folha de S. Paulo não sejam ludibriados com apurações incompletas.
Atenciosamente,

Maurício Maia

Enviada em: terça-feira, 22 de março de 2011 11:11
Para: leitor@uol.com.br; Monica Bergamo; Ombudsman Folha de S.Paulo
Assunto: Lula lá: quando a Folha errou?

Prezados senhores,

Na edição de ontem, 21 de março, a colunista Mônica Bergamo voltou a insistir que o publicitário Paulo de Tarso é autor do slogan “Lula lá”, um dos fatos mais marcantes da campanha eleitoral de 1989. Ou a Folha de S. Paulo erra agora ou errou em sua edição de 3 de junho de 1989, quando publicou nota no Painel em que atribui a autoria do “Lula lá” a Carlito Maia, meu pai (FSP, 3/6/1989, p. A4).
Ontem mesmo, enviei à colunista da Ilustrada outros elementos que provam que o publicitário Paulo de Tarso tenta de apropriar de criação alheia. Em dezembro de 1988, o Jornal do Brasil publicou na coluna do Zózimo nota em que dizia: “Carlito Maia, filósofo popular de São Paulo, faz tanta fé no PT que acaba de criar um slogan para a campanha de Luis Inácio da Silva à presidência da República. Lula lá. Parece canção de ninar”.
Não bastasse essa prova pública de autoria, que circulou numa das colunas mais lidas do jornalismo brasileiro dos anos 80, Carlito Maia ainda voltou ao tema em sua coluna no jornal Gazeta de Pinheiros a 5 de fevereiro de 1989 (“Brasil: vote-o ou fique-o! Logo mais teremos Lula lá e PT saudações. A continuação da virada…”) e a 7 de maio (“Então, Lula lá!”).
A colunista Mônica Bergamo não é a primeira pessoa a dar crédito à versão mentirosa do publicitário Paulo de Tarso. O jornalista Mario Sérgio Conti, em seu livro “Notícias do Planalto” (lançado em 1999) deu crédito à fantasia de Paulo de Tarso. O livro “Partido dos Trabalhadores – Trajetórias” repete o erro. Nas duas vezes, a autoria de “Lula lá” é atribuída tanto a Carlito Maia como a Paulo de Tarso. Este último, em concessão generosa, admite que a ideia possa ter saído de duas cabeças ao mesmo tempo. O caso é de dar inveja à polêmica entre os irmãos Wright e Santos Dumont. Cabe a ele, portanto, provar que se encontrou com o compositor Hilton Acioli em dezembro de 1988 ou, então, explicar porque não protestou quando a Folha de S. Paulo publicou a nota de junho de 1989.
Não custa lembrar que a fantasiosa versão de simultânea autoria do “Lula lá” só começou a circular depois que Carlito Maia não podia se defender. Vítima de doença neurológica, deixou de publicar cartas e protestos desde 1999. Desde então venho tentando devolver a Carlito o que é de Carlito.
Como a colunista Mônica Bergamo optou pelo jornalismo declaratório (“checando” sua informação com “testemunhas que coordenaram e participaram da campanha [de Lula]” e que “confirmam a versão de Tarso”), rogo a publicação desta carta para que os leitores da Folha de S. Paulo tenham acesso a informações documentais que derrubam a farsa do publicitário Paulo de Tarso.
Em tempo: um dos maiores orgulhos que tenho de meu pai é que ele nunca ganhou um centavo por algumas de suas maiores criações publicitárias (como, por exemplo, “Optei” e “Lula lá”).
Atenciosamente,

Maurício Maia

Em 22/03/2011 20:36, Monica Bergamo escreveu:

Maurício,

Tudo bem?

Como eu já disse a você num outro e-mail, diante da acusação que a família de Carlito Maia faz ao Paulo de Tarso de que ele plagiou o slogan, nós o procuramos para que falasse a respeito.

Ele disse que teve a ideia e que, até então, nunca tinha ouvido falar que Carlito criara frase idêntica, nem lera nada a respeito.

Ele diz que nunca leu esta nota que você cita do Jornal do Brasil, publicada, segundo você, muito antes da campanha.

Nós registramos tanto as afirmações da família quanto a do publicitário.

Hilton Acioli, citado por você, também foi procurado por nós, entre outros que participaram daquela campanha.

Ele diz que recebeu a frase do Paulo de Tarso.

Diz que depois disso teve alguns encontros com Carlito Maia e que Carlito Maia nunca reivindicou a autoria da frase.

Hilton Acioli me contou que certa vez, num comício, Carlito Maia chegou a perguntar a ele: “Quem te passou essa frase?”

Acioli respondeu: “O Paulo de Tarso”. Carlito mais uma vez nada disse sobre ser o autor do slogan, segundo Acioli. Comentou apenas que a canção só poderia ser coisa “de um petista apaixonado”.

Acioli explicou a ele então que não era petista.

E nada mais, segundo ele, foi dito.

Enviado: terça-feira, 22 de março de 2011 21:34
Para: Monica Bergamo
Assunto: Re: RES: Lula lá: quando a Folha errou?

Prezada Mônica,

São surpreendentes as declarações que você relata quando cotejadas com o material publicado na imprensa em 1989. Só hoje tive acesso à nota publicada no Painel da Folha de São Paulo que trata justamente da autoria da frase e das duas versões da composição musical de Acioli.
Caso não tenha recebido cópia da carta que encaminhei ao Painel do Leitor, transcrevo a nota – que você pode acessar no banco de dados que a Folha de S. Paulo gentilmente colocou à disposição dos leitores. Trata-se de ferramenta fundamental para evitar os riscos de memórias construídas.
Se quiser, posso lhe mandar também cópia fac-similar da nota publicada por Zózimo.
São provas incontestáveis de autoria e mostram que a criação musical de Acioli é de junho de 1989, quando a criação de Carlito Maia já havia sido publicada em dezembro de 1988 no Jornal do Brasil.
Não se trata de guerra de versões. A frase é de Carlito Maia. O resto é invencionice.
Faço questão que o jornal publique esses dados, essenciais para que os leitores do jornal saibam de que lado está a verdade. Suas notas de segunda-feira, por sinal, têm um viés claramente favorável ao publicitário Paulo de Tarso, quando trata da “insistência” da viúva e de que integrantes da campanha confirmam a versão do publicitário Paulo de Tarso.
Resta à Folha de S. Paulo dizer a seus leitores se errou em 1989 ou se erra em 2011.
Grato pela atenção.

Maurício Maia

Painel – FSP, 3 de junho de 1989

Lula-lá

O compositor Hilton Accioly, autor da música “Disparada” com Geraldo Vandré, fez duas versões para o jingle de campanha de Lula, a partir do slogan criado pelo publicitário Carlito Maia.

Em 22/03/2011 23:03, Monica Bergamo escreveu:

Maurício,

Sua carta foi encaminhada ao Painel do Leitor e seguramente será publicada.

Sobre a apuração da coluna, eu quero apenas lhe dizer que não foi feita em cima apenas de declarações do Paulo de Tarso, mas sim de apuração com outras fontes.

Em nenhum momento dissemos que a frase não é do Carlito Maia.

Relatamos que a família, vinte anos depois, insiste, e é fato, em dizer que ela é dele.

E que o publicitário Paulo de Tarso admite que Carlito Maia possa ter tido a ideia.

Ninguém desmente a família.

Mas Paulo de Tarso afirma que teve a mesma ideia e que não sabia que Carlito Maia também tinha tido.

O fato de uma nota ter sido publicada no JB não prova que ele sabia.

Ele diz que não leu a nota do JB, que não sabia de nada.

Qual é a prova de que ele leu, sabia e copiou:

Outras fontes, da coordenação da campanha, dão o crédito ao Paulo de Tarso. Não se referem a nota no JB nem a informações anteriores de que o slogan é do Carlito Maia, embora não coloquem em dúvida a palavra da família.

Você citou o compositor Acioli e por isso eu relatei na mensagem anterior o que ele disse à Folha.

Um abraço, obrigada

Mônica

Enviada em: quarta-feira, 23 de março de 2011 09:49
Para: Monica Bergamo
Assunto: Re: RES: RES: Lula lá: quando a Folha errou?

Prezada Mônica,

Volto, então, ao ponto mais surpreendente dessa história. Até agora, você não relatou em momento algum a nota que encontrei ontem, publicada no Painel a 3 de junho de 1989. A clareza da nota é meridiana (repito: “Lula-lá: O compositor Hilton Accioly, autor da música”Disparada” com Geraldo Vandré, fez duas versões para o jingle de campanha de Lula, a partir do slogan criado pelo publicitário Carlito Maia”). Ou vocês me dizem que essa nota estava errada, ou houve um problema sério de apuração em sua nota publicada na última segunda-feira.
O publicitário Paulo de Tarso primeiro diz ser criador da frase “Lula lá” (apropriando-se decriação de Carlito Maia) e agora diz “que não sabia” da ideia de Carlito Maia (toma de empréstimo a famosa frase do Lula presidente?). Convenhamos, é muita cara de paulo (estou tomando de empréstimo frase de meu pai quando se referia a Paulo Maluf).
Volto a insistir: há um problema técnico em sua apuração, apoiada em declarações que se chocam com farto material publicado entre 1988 e 1989. Caso Acioli negue a nota publicada pela Folha de S. Paulo em junho de 1989, é razoável que o jornal comunique a seus leitores que errou naquele momento.
Continuo aguardando a publicação da carta que enviei ao jornal. Gostaria, no entanto, que sua coluna se manifestasse sobre todas as evidências que lhe mandei desde segunda-feira.
A nota na coluna do Zózimo, publicada em 1988, pode não provar que o publicitário Paulo de Tarso fosse leitor habitual do JB, mas prova que a ideia é de Carlito Maia, da qual nenhum aventureiro tem o direito de lançar mão.
Quando houve a polêmica entre os irmãos Wright e Santos Dumont, um oceano separava os inventores da aviação. A disputa pela autoria do “Lula lá” se dá n um universo infinitamente menor e todas as evidências da época que recolhi até agora mostram como é difícil acreditar na coincidência có smica da mesmíssima ideia ter surgido simultaneamente na cabeça de duas pessoas distintas.
Repito: o publicitário Paulo de Tarso assumiu a “paternidade” do “Lula lá” publicamente apenas em 1999, na entrevista a Mário Sérgio Conti, quando meu pai já estava seriamente comprometido por problemas neurológicos.
Como diria meu pai, continuo aguardando.
Atenciosamente,

Maurício Maia

Em 23/03/2011 12:30, Monica Bergamo escreveu:

Maurício,

Eu não posso responder pela nota de 1989. Não apurei, não sei como foi feita.

Mas sei como a Folha funciona.

Certamente o jornalista que assinava a coluna naquele momento ouviu a história de uma fonte fidedigna, ou não teria publicado.

Ele fez a nota baseado na declaração que alguém deu a ele. Confiou e publicou.

Não tinha como ser de outra forma. Não há documentos para provar nada. Só testemunhos, ou seja, declarações.

E eu fiz a minha nota baseada em declarações da família, do Paulo de Tarso e de coordenadores e participantes daquela campanha.

Em nenhum momento a minha nota desmente a nota de 1989.

Em nenhum momento diz que Carlito Maia não teve aquela ideia.

Diz, isso sim, que a família insiste em dizer que a ideia foi dele e que o Paulo de Tarso admite que isso pode ter acontecido.

Mas que não sabia. E sustenta que teve a ideia do “Lula lá” de sua própria cabeça e a levou para a campanha.

Você acha que o Paulo de Tarso é farsesco, é mentiroso, é aventureiro e etc.

É um direito seu.

Eu, como jornalista, não posso entrar nesse julgamento subjetivo.

Um abraço, muito obrigada

Mônica

Para: Monica Bergamo ,ombudsman@uol.com.br
Assunto: Re: RES: RES: RES: Lula lá: quando a Folha errou?
Enviada: 24/03/2011 08:45

Prezada Mônica,

Você há de concordar que a nota publicada pela Folha de S. Paulo a 3 de junho de 1989, atribuindo a autoria do mote “Lula lá” a Carlito Maia, prova que foi em meados do ano que o compositor Hilton Acioli fez o jingle da campanha de Lula. Se você consultar todas as suas fontes, creio que nenhuma deixará de confirmar ter sido nessa época que Acioli fez sua composição.
O publicitário Paulo de Tarso pode não ter lido a coluna de Zózimo, que na edição de 7 de dezembro de 1988 publicou a nota “Carlito Maia , filósofo popular de São Paulo, faz tanta fé no PT que acaba de criar um slogan para a campanha de Luis Inácio da Silva à presidência da República. Lula lá. Parece canção de ninar”. Muito menos as duas edições da Gazeta de Pinheiros em que “Lula lá” aparecia na coluna “Tenho Dito”, de Carlito Maia (dias 5/2/1989 e 7/5/1989).
Encontrei hoje, no entanto, outra nota publicada na seção Painel, da editoria de política da Folha de S. Paulo, que torna evidente que a criação do “Lula lá” é exclusivamente de Carlito Maia. Publicada a 16 de abril, no mesmo Painel (página A-4), a nota relata: “O publicitário Carlito Maia está tentando convencer Rita Lee a fazer um rock para a campanha de Lula, baseada no slogan que criou – Lula lá”. Será que Paulo de Tarso também não era leitor da Folha de S. Paulo?
Essa última evidência mostra que, antes mesmo da entrada em cena de Acioli, “Lula lá” já circulava publicamente em São Paulo, a ponto de causar reações indignadas entre aqueles que tinham aversão ao PT, como o leitor Sidney Lopes, que teve sua carta publicada no Painel do Leitor a 1º de maio de 1989 (“Lula lá nunca, se Deus quiser” – p. A-3).
Em respeito à cronologia dos fatos, rogo mais uma vez que você repare o erro cometido em sua coluna na última segunda-feira. A autoria de “Lula lá” é única e exclusivamente de Carlito Maia.
Desculpe-me a insistência. Não há subjetividade alguma nos elementos que lhe apresento.
Leitor voraz, meu pai costumava distribuir aos amigos os belos textos que encontrava pela frente. Fazia questão de colocar em destaque as fontes de onde retirava tudo o que compartilhava entre os seus. O respeito ao direito autoral é um dos mais importantes fundamentos da civilização moderna.

Maurício Maia

Para: ombudsman@uol.com.br
Assunto: Fwd: RES: RES: RES: Lula lá: quando a Folha errou?
Enviada: 25/03/2011 12:28

Prezada ombudsman,

Desde segunda-feira aguardo publicação de carta que enviei ao jornal para corrigir erro publicado na coluna de Mônica Bergamo. Até ontem, mantive esperança que a colunista reparasse o erro diante da várias mensagens que trocamos desde então. Hoje, tenho certeza que ela não pretende voltar ao assunto. Pelo visto, o Painel do Leitor também não se interessou por minha carta (que a colunista Mônica Bergamo disse que “seguramente” seria publicada).
Pois bem. Minha última esperança é que a representante dos leitores trate do assunto em sua coluna dominical. O jornal Folha de S. Paulo sempre foi muito cioso em questões de direitos autorais (vide a polêmica que resultou no desligamento de professor da USP que plagiou trabalho alheio).
Como lhe enderecei toda a minha argumentação relativa ao episódio da criação do “Lula lá”, não vou esmiuçar todos os pontos que apresentei. Só quero voltar a uma questão, fundamenta l no meu entendimento.
A colunista Mônica Bergamo insiste em dizer que a história se encerra em versões distintas e que não há “documentos” para provar ter sido de Carlito Maia a autoria da frase.
Pois bem, a cronologia mostra que meu pai teve a ideia em dezembro de 1988, quando foi tornada pública na coluna de Zózimo do Amaral. Voltou à ela, publicamente, em outras tantas oportunidades ao longo de 1989. Como a representantes dos leitores pode verificar no acervo da Folha de S. Paulo, o publicitário Paulo de Tarso não rebateu em 1989 nenhuma das notas publicadas sobre o “Lula lá”, nas quais a autoria era atribuída a Carlito Maia. Muito menos apresentou qualquer evidência que tenha dado publicidade à “sua” ideia.
Se essa documentação não é suficientemente sólida, estamos definitivamente diante do fim da História.
Aguardo sua manifestação pública sobre esse episódio. Por mais que a colunista Mônica Bergamo negue, estamos numa encruzilhada: ou a Folha de S. Paulo errou em 1989 ou erra agora.

Maurício Maia

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