segunda-feira, 21 de março de 2011

POLÍTICA - De Eisenhower a Obama.

Por Eliakim Araujo

“Enquanto os japoneses lutam para evitar o derretimento dos reatores nucleares de Fukushima, na tentativa de evitar desastres semelhantes aos que ocorreram em Hiroshima e Nagasaki, e os líbios enfrentam as primeiras bombas e foguetes da "coalizão", que alega estar cumprindo determinação da ONU, o Rio testemunha o mais poderoso esquema de segurança já acionado para proteger um chefe de Estado em visita à cidade.

Dizem que a única vantagem de quem tem DNA (data de nascimento avançada) é ter vivenciado muitos fatos históricos e ter mais histórias para contar, meu caso e do meu colega e amigo Roberto Porto, verdadeira enciclopédia viva do jornalismo esportivo carioca que nos brinda, a cada a semana, com uma deliciosa crônica.

Por isso mesmo, meu DNA me levou ao distante ano de 1960, quando, no alvorecer da idade, vi a passagem de outro presidente americano pelas ruas do Rio. Refiro-me a Dwight Eisenhower, um general de cinco estrelas, que trazia no curriculum missões como a de ter comandado o exército dos EUA e mais tarde todas as forças aliadas na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele passou três dias no Brasil (Brasília e Rio) e o aparato da segurança praticamente não existiu, se comparado ao que vemos hoje à disposição de Obama.

Ike, como era conhecido, desfilou de carro aberto pelas ruas do Rio, com direito a papel picado jogado do alto dos edifícios da Avenida Rio Branco (foto). O carro, o velho Rolls Royce que serviu durante décadas aos presidentes brasileiros, enfeitado com as bandeiras americana e brasileira, era protegido apenas por alguns seguranças a pé e por batedores da antiga Polícia Especial. Nada de carros e helicópteros blindados trazidos especialmente da terra do visitante.

O cortejo de Eisenhower seguiu até a Rua São Clemente, onde ficava a residência do embaixador americano no Brasil –as embaixadas ainda continuavam no Rio, apesar da recente inauguração de Brasília– e lá, pouco antes de atravessar o portão de ferro, Ike pediu para dar uma paradinha quando ouviu um coral juvenil que cantava a “Aleluia”, de Haendel, em sua homenagem. Eisenhower colocou a mão na orelha, em forma de concha, sorriu e acenou para os integrantes do coral, onde este colunista era um dos “baixos”.

Os tempos eram outros. O sentimento antiamericano, que acho que já nasceu com o mundo, era tão forte quanto o de hoje. Mas as manifestações na época não passavam de românticos protestos com bandeiras americanas queimadas e cartazes em que se podia ler “go home, Ike” e um ou outro entrevero com os policiais militares na Cinelândia, como enfrentei mais tarde em manifestações de apoio à recente, na época, revolução cubana . Os manifestantes não tinham o poder de fogo de hoje nem os atentados terroristas tinham ramificações no mundo inteiro. E, principalmente, no caso dos estudantes cariocas, o Brasil não estava ainda sob o domínio da ditadura militar.

Cinquenta anos depois, a barra está muito mais pesada para os presidentes norte-americanos. As razões são praticamente as mesmas daquela época: a política imperialista e cruel do capitalismo dos EUA e seu antipático papel de “polícia do mundo”. Não houve guerra neste mundo de Deus, nos últimos cem anos, que não tenha tido a participação direta dos militares norte-americanos. Claro, é preciso manter viva a poderosa indústria bélica do país.

É nesse contexto que entra a figura –por que não?- simpática de Obama. Poucos presidentes americanos pegaram abacaxi tão grande para descascar. O homem leva cacete interna e externamente. Não tirou o país do atoleiro econômico em que se encontrava quando recebeu o governo do insuportável Bush, nem cumpriu as promessas básicas e prioritárias de campanha. Só podia dar no que deu, perdeu as eleições de meio mandato. Externamente, é visto como presidente beligerante, que manteve as guerras declaradas por seu antecessor e ainda incrementou-as enviando mais soldados para o Afeganistão.

A propósito, falando de guerra, não consigo digerir com facilidade o ataque da chamada “coalizão” à Líbia. Como todo mundo, temo o que Khadafi fez e ainda faria com os rebeldes aos quais prometeu aniquilar “sem misericórdia”. Por outro lado, considero a invasão de um país por um grupo de nações, capitaneadas pelos EUA, intromissão indevida na vida de um país, com o perigoso risco de virar regra. Todo cuidado é pouco com os atuais dirigentes de França, Inglaterra e EUA.”

Fonte: Direto da Redação.

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