Globo deflagra estratégia para manter Cardozo na Justiça
Cardozo e Daniello: a garantia de que os vazamentos não serão coibidos.
Reportagem de O Globo de hoje sustenta que o Ministro da
Justiça José Eduardo Cardozo e o delegado geral da Polícia Federal
Leandro Daniello deverão ser mantidos nos respectivos cargos por Dilma
Rousseff.
As alegações são risíveis.
"Dilma também teria decidido manter Cardozo no cargo porque o
ministro tem tido papel importante na linha de defesa do governo contra
denúncias que surgem na Lava-Jato. O ministro foi o primeiro a contestar
publicamente a suspeita de que parte do dinheiro de um dos empreiteiros
investigados abasteceu a campanha da presidente em 2010. Em meio a
críticas da oposição, o ministro alegou que a doação foi devidamente
registrada. Disse também que o dinheiro foi para o PT, e não para a
campanha da presidente".
Cardozo não tomou nenhuma atitude em relação aos vazamentos da
Lava Jato, sequer daquele que resultou da capa falsa de Veja e que
poderia ter decidido as eleições; não mantém nenhuma influência sobre a
Polícia Federal, nenhuma interlocução com o Ministério Público e o
Supremo Tribunal Federal. Deixou o governo sem defesa em inúmeros
episódios, sob a alegação de sua falta de iniciativa devia-se ao
espírito "republicano". Nas poucas vezes em que saiu em defesa do
governo, precisou ser empurrado para o centro do ringue - em uma delas,
pela própria Dilma.
Há quase consenso no Palácio sobre o papel inócuo de Cardozo, não
apenas na defesa do governo como no dia-a-dia da pasta, mesmo por parte
de auxiliares que o tratam com carinho.
Por seu turno, Daniello é um delegado discreto, mas ferozmente
crítico em relação ao abandono da PF pelo governo federal e,
especialmente, pelo Ministro da Justiça
Para se preservar no cargo e não entrar em dividida, Cardozo adotou
uma estratégia dúbia. Não leva para a presidente nenhuma demanda da PF
porque sabe que Dilma, assoberbada por uma infinidade de problemas, não
gosta de auxiliares que lhe tragam mais um.
Para compensar essa falta de iniciativa, Cardozo entrega à PF o que
ela não necessita: palavras, elogios, retórica, declarações de apoio
inócuas e liberdade absoluta para vazar dados, mesmo de de depoimentos
sob sigilo judicial, alimentar o noticiário contra seu governo. Para os
agentes - e para a mídia - é jogo sem riscos.
O grande projeto de uma Polícia Federal de primeiro mundo implodiu
quando, pressionando pelos grupos de mídia e pelo Ministro Gilmar
Mendes, Lula tirou o delegado Paulo Lacerda do comando e colocou o
substituto Luiz Fernando com a incumbência de esvaziar a Satiagraha.
Vazamentos, empenho da PF em buscar provas contra Dilma e Lula têm como
espoleta a maneira como o governo desmoralizou as investigações da
Satiagraha e o abandono a que a PF foi relegada na gestão Cardozo.
A volta de Lacerda para o comando da PF poderia ser um ato de
ousadia do governo Dilma. Mas é tão improvável quanto qualquer
iniciativa de regulação de mídia.
De qualquer modo, mantidos Cardozo e Daniello, o cenário da Lava
Jato será o mais adequado para a oposição, deixando o governo sem sua
última linha de defesa.
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