Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
sexta-feira, 30 de setembro de 2022
Brasil de Fato: Sem medo de ser feliz.
por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile
30 de setembro de 2022
Sem medo de ser feliz
Olá! Temos o direito de sonhar, enquanto Bolsonaro, Ciro e a Faria Lima vivem dias de pesadelo.
.Chega a coçar o dedo. Independente do resultado, será um domingo inesquecível. Venceremos o inominável no primeiro turno? As pesquisas indicam que esta possibilidade continua crescendo, com Lula chegando a 49% dos votos válidos na Exame/Ideia, 50% na Datafolha e 52% na Ipec. Além disso, a rejeição ao petista continua caindo, segundo a PoderData, enquanto a de Bolsonaro aumenta. Parte deste desempenho e o clima favorável à candidatura deve-se ao forte engajamento das celebridades e do mundo artístico nas redes sociais até as declarações de ex-adversários e desafetos, como Joaquim Barbosa, estrategicamente deixados para a reta final. Outra parte deve-se à tendência ao voto útil. Exatamente por isso, é provável que Lula saia gigante desta eleição, enquanto Bolsonaro e Ciro Gomes se tornam nanicos. O intransigente Ciro conseguiu o feito de afundar-se em seu estado natal, fraturar seu partido, perder o apoio da própria família e, agora, corre o risco de ficar atrás de Simone Tebet. Apesar de tudo isso, a equipe de Lula vê o cenário atual com um misto de euforia e preocupação, e não pretende ser pega de surpresa. Por isso, trabalha com um plano B caso a disputa vá para o segundo turno. É que há ainda uma incógnita: ninguém sabe qual será o tamanho da abstenção eleitoral este ano. O índice ficou acima de 20% em 2018 e superou 23% nas eleições municipais de 2020, provavelmente agravado pela pandemia. Pior, a abstenção tende a afetar mais Lula do que os outros candidatos, pois quem costuma ausentar-se majoritariamente das urnas é a população mais pobre, justamente onde o petista tem maior intenções de votos.
.Brochável. Para Bolsonaro, as preliminares eleitorais foram em vieram num clima de nervosismo e desespero, prenunciando seu pior pesadelo: um coito interrompido já no primeiro turno. Afinal, até o líder do governo, Ricardo Barros, sabe que o capitão não será capaz de chegar aos finalmentes e alguns ministros já consideram Lula um candidato mais potente. O sinal de que todas as armas se tornaram ineficazes é que só restou a Bolsonaro nesta reta final fazer acusações contra Lula. E até as ameaças golpistas se tornaram algo cômicas: agora o capitão apela para que as Forças Armadas garantam o direito dos eleitores irem votar vestidos de verde a amarelo. Cômica também é a escalação de Paulo Guedes para conter a debandada do empresariado, prometendo até a privatização das praias num circuito de entrevistas para canais favoráveis. No desespero, vale até convocar três dias de jejum entre os evangélicos para virar voto pela oração e escalar padre de festa junina para ajudar no debate. O problema não é apenas a incapacidade do capitão conseguir votos. É que o clima nas instituições nacionais e internacionais também mudou e vai ganhando contornos decisivos. O bolsonarismo se tornou alvo da CPI do Capitólio nos Estados Unidos e, mais uma vez, o governo e o Congresso norte-americano deixaram claro que reconhecerão de imediato o resultado das eleições brasileiras. Em casa a situação não é melhor. A PF investiga movimentações financeiras suspeitas feitas por membros do gabinete presidencial. E o TSE fecha o cerco contra o golpismo, apurando ameaças baseadas em fake news divulgadas pelo vice-presidente do PL, e estudando a possibilidade de fechamento dos clubes de tiros no dia das eleições. Com tudo isso, a hipótese de que Bolsonaro sairá da cadeira presidencial direto para o xilindró vai ganhando adeptos. Mas nada disso significará o fim do bolsonarismo, como o próprio Lula admite. É que, ainda que seja pequeno para vencer as eleições, o eleitorado do capitão é fiel e continua acreditando em fake news como a de que Lula fechará as igrejas evangélicas.
.A Faria Lima logo ali na esquina. Um bom termômetro da possibilidade real de vitória de Lula no primeiro turno é o comportamento do mercado financeiro na última semana e de seus porta-vozes. Colunistas do Estadão e do Globo acusaram o petista de esconder seu plano econômico e de não revelar o que pretende na área, justamente no dia em que ia se encontrar com o grupo de empresários do Esfera, entidade pouco afeita ao lulismo. O medo dos empresários é que, “empoderado” por uma vitória de primeiro turno, Lula não precise ceder ou negociar com eles. Ideologicamente conservadores, à vontade com o discurso homofóbico e misógino, a Faria Lima preferia um Bolsonaro com focinheira. Prova disso é o que se viu nas eleições anteriores: em 2002, antes da primeira vitória de Lula, a bolsa caiu e o dólar disparou. Em 2018, com um candidato preso e outro esfaqueado, a Faria Lima achava que o clima era de estabilidade, a bolsa subiu e o dólar caiu. Na prática, depois de dois anos tentando emplacar uma terceira via que só interessava a eles mesmos, o empresariado, inclusive os bolsonaristas, chegam atrasados para desembarcar numa candidatura que parece ter assegurada a vitória já no ano passado. Ainda assim, querem sentar na janelinha e exigir que Lula se comprometa com a manutenção do teto de gastos, a independência do Banco Central e com um nome do mercado financeiro no Ministério da Economia.
.Paz e amor. Mesmo sabendo que pode confiar no empresariado tanto quanto no centrão, Lula prefere a tática de evitar o confronto, em partes concordando com a autonomia do BC, mas exigindo preocupação com políticas de geração de emprego e não apenas com o controle da inflação, e propondo a substituição do teto de gastos por outra regra de responsabilidade fiscal. Para tranquilizar os humores, ele tem escalado o ex-ministro Alexandre Padilha e o seu vice Geraldo Alckmin para os diálogos com o setor, enquanto conta com o apoio público de Henrique Meirelles e André Lara Resende, além de um manifesto de economistas não-petistas, para quebrar as resistências. Mais do que ganhar votos, o comportamento de um futuro governo petista merece atenção. Todos os indicadores internacionais apontam para uma recessão global, com alta inflacionária em todo mundo e tendência de aumento de taxas de juros nos países centrais, o que torna o Real menos atraente e mais desvalorizado. Ou seja, ao contrário de 2002, Lula não contará nem com liquidez internacional, nem com uma alta dos commodities agrícolas, para impulsionar a economia local. Neste caso, o primeiro dilema do novo governo será justamente escolher entre políticas que freiem a inflação ou produzam crescimento e emprego. Como crescer num cenário desfavorável? Para Hélio Schwartsman e Thomas Traumann, não haverá surpresas. Lula deve escolher um ministro capaz de garantir credibilidade e diálogo na economia, enquanto o governo faz acenos à esquerda, mas manter o pragmatismo para garantir uma coalizão política. Aliás, esta é a astúcia política que marcou a trajetória de Lula, como descreve o historiador John D. French em sua biografia.
.Depois vem a ressaca. A reação para reconstruir a economia num cenário desfavorável passa ainda necessariamente por lidar com um novo Congresso nacional. Já se sabe que duas políticas serão centrais num provável governo petista. Uma delas é a questão ambiental, considerada central para recuperar a credibilidade internacional, e a outra é o combate à fome. Ambas esbarram no desmonte e nos cortes de recursos que as áreas sofreram no governo Bolsonaro. Para o próximo orçamento já aprovado, por exemplo, os programas alimentares estão com recursos praticamente zerados. Não há como um governo Lula respirar sem lidar com o engessamento das emendas parlamentares e do orçamento secreto. A expectativa do PT, neste caso, é contar que o STF enterre o orçamento secreto de uma vez por todas logo após as eleições. O que pode não ser suficiente. Por isso, as atenções também estão voltadas para os resultados das eleições parlamentares e estaduais. Ao que tudo indica, a Câmara deve ter baixa renovação, menos de 34% dos cargos, e com o PL de Jair Bolsonaro largando na frente como maior bancada, seguida pelo PT. Outros partidos do centrão e da direita também devem aumentar suas bancadas. Além disso, o número de candidatos identificados como policiais e militares bateu um novo recorde este ano, superando os índices de 2018, e a maior parte deles é bolsonarista. E se forem eleitos, tentarão levar adiante o legado de seu mito. No Senado, a situação é um pouco melhor, com a possibilidade de eleição de 11 novos senadores comprometidos com Lula entre os 27 cargos em disputa. Mas, nos governos estaduais, Lula dificilmente terá aliados no norte e no centro-oeste, estados que devem eleger maioria bolsonarista, assim como no sul. No sudeste, Fernando Haddad é a jóia da coroa petista, mas as candidaturas lulistas estão tendo desempenho abaixo do esperado em Minas e no Rio de Janeiro. Já no nordeste, o fator Lula pode levar a uma virada no Ceará e na Bahia.
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Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.