Rudá Ricci
As possibilidades da aliança Marina/Campos escantearem o PSDB da
liderança das oposições ao lulismo são gigantescas. Exponho os motivos
para fazer esta afirmação:
1) Aécio está preso ao discurso passadista. Foca os olhos na defesa
da gestão de FHC e insiste na agenda das privatizações. Parece colado
ao seu irmão siamês, o PT, já que as discussões sobre a criação do PS,
no final de 1970, juntavam futuros petistas e tucanos nas mesmas rodas
de discussão política. Briga de irmão é sempre mais renhida. Como só
olha para o lado, o senador mineiro esquece que grande parte do
eleitorado estava na pré-adolescência (ou até na infância) durante a
gestão FHC. Já teremos, no próximo ano, 12 anos de gestão lulista. É só
fazer as contas: os eleitores na faixa dos 20 anos estavam entrando na
puberdade no final da gestão fernandista;
2) O PSDB, ancorado no DEM e PPS, não dialoga com os jovens
manifestantes nem com o eleitorado mais pobre. Caiu na armadilha de
tentar garantir o que parecia seu eleitorado cativo, cada vez mais
elitizado e com pouca capacidade de influenciar a massa de eleitores.
Não dialoga com organizações de massa e se enreda, para piorar o
cenário, numa disputa intestina entre tucanos mineiros e paulistas;
3) A aliança Marina/Campos possui predicados evidentes. Sai do
interior do lulismo, o que diminui a desconfiança do eleitor de baixa
renda que imagina que uma gestão tucana pode retirar os benefícios que
recebeu nos últimos anos. Marina dialoga com dois polos de oposição
(real ou latente) ao lulismo: os evangélicos e, de outro, a juventude
engajada em projetos que para muitos parecem utópicos. Acredito que
Marina seja a novidade real para as eleições de 2014 (assim como as
manifestações que ocorrerão durante a Copa do Mundo). Mas Campos cria um
lastro para Marina: não é outsider como a líder sonhática, tem boas
relações com o alto empresariado e é filho do nordeste. Campos, na
verdade, é mais do mesmo em relação à tradição partidária nacional. É
uma estampa nova, mas não necessariamente com propostas novas. O que dá
equilíbrio à aliança que acaba de nascer;
4) A questão que fica é se a aliança Marina/Campos terá fôlego para
se manter e se enraizar até 2014. Convencer o eleitor do real potencial
de realização nunca é tarefa fácil. Mas mesmo que não saia vitoriosa (o
que parece, sob os dados de hoje, o mais provável), creio que esta
aliança eclipsará a hegemonia oposicionista do PSDB. Tenho para mim que
os erros mais recentes dos tucanos fizeram a corrente da bicicleta se
soltar. Este tempo perdido parece fatal frente às novidades políticas em
curso. Imagino, portanto, que Marina/Campos poderão liderar PSDB, DEM e
PPS no próximo período. O poder de fogo e a capacidade de diálogo com
setores mais amplos da sociedade parecem maiores para Marina/Campos;
5) Teremos, assim, uma nova composição oposicionista mais potente,
no meu entender, a partir do pleito eleitoral de 2016. Seria ainda mais
potente se Marina conseguisse dialogar com os partidos mais à esquerda,
com presença significativa entre sindicatos de funcionalismo público (o
que mais cresce no país) e juventude rebelde. Mas não parece tarefa
fácil. Heloísa Helena, aliada de primeira hora de Marina, saiu do PSOL
às turras. Há fortes críticas, pela esquerda, ao conservadorismo
religioso de Marina. Mas as ruas, durante a Copa, podem conciliar, ao
menos em parte, os outsiders de várias colorações. Talvez. Parece
difícil, mas se ocorrer, tucanos perderão de vez seu viço, revelando
suas dificuldades de origem para ampliar sua base eleitoral. E o PT terá
que colocar suas barbas de molho.
Por Gil
COMENTÁRIOS:
Até quando esse perfil “sonhático” de Marina vai resistir ao
debate, principalmente quando exposta sua visão neoliberal, resultado do
doutrinamento de economistas como André Lara Rezende, Eduardo Giannetti
da Fonseca, e outros da Casa das Garças. E a ligação da mesma com
algumas grandes empresas, e estou me referindo não eleitor típico, mas
esse novo eleitorado citado pelo autor.
Concordo plenamente com: “Convencer o eleitor do real potencial de
realização nunca é tarefa fácil”. E principalmente para um candidato de
oposição, pois quem esta situação tem o que mostrar, como o Mais Médicos
ou o Minha Casa Minha Vida.
O conservadorismo religioso de Marina ajuda de um lado e atrapalha
de outro, pois em eleições majoritárias a melhor opção de um candidato é
a neutralidade, mesmo que a religião do candidato seja majoritária, o
que não é o caso.
Também concordo plenamente com o título do texto: “PSDB eclipsado”
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