Le Monde expõe Bolsonaro em plano para matar Lula “por meio de um elemento químico ou biológico”
O jornal Le Monde desta sexta-feira (27/12) publica uma matéria sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022, analisando o relatório de 884 páginas da Polícia Federal, considerado "explosivo" pelo correspondente Bruno MeyerfeldCOMPARTILHE: O jornal Le Monde descreve como "desconcertante" e "gravíssimo" os resultados das investigações sobre um projeto de golpe da extrema direita brasileira que visavam assassinar autoridades para que se perpetuasse no poder o ex-presidente que se tornou o primeiro chefe de Executivo federal a não conseguir se reeleger para o cargo ao ser derrotado em 2022 para Lula, e que também perdeu direitos políticos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral, o inelegível até 2030 Jair Bolsonaro (PL). Os alvos seriam o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, o Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o vice-Presidente da República Federativa do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB). O jornal francês destaca que o líder da extrema direita brasileira rejeitou a derrota, isolando-se no Palácio da Alvorada após os resultados, o que gerou pedidos de intervenção federal entre seus apoiadores, influenciados por militares que admiram o golpe de 1964. Em grupos de WhatsApp, a noção de "guerra civil" contra a posse de Lula ganhou força. "Enquanto a transição começava, nos bastidores, a contraofensiva era lançada", relata a matéria, conforme transcreveu o RFI. Na sede do governo, Bolsonaro recebeu militares de alta patente, dispostos a participar do projeto de golpe, como o general Estevam Cals Theophilo, chefe do Comandante de Operações Terrestres do Exército, juristas, como Amauri Feres Saad, do prestigioso escritório de advocacia Siqueira Castro, além de fiéis apoiadores, como seu assessor Filipe Martins, descrito pelo jornal como "um supremacista branco próximo de trumpistas". "Todos favoráveis a uma ruptura constitucional", publica Le Monde. Na "cúpula" do projeto de golpe, especulou-se até mesmo a utilização do artigo 142 da Constituição brasileira, que segundo a extrema direita autorizaria as Forças Armadas a intervir por ordem do presidente para garantir o poder constitucional. O documento com os detalhes do chamado "Punhal Verde e Amarelo" chegou a ser impresso na sede da presidência, apontando para a necessidade de um “arsenal com alto poderio bélico” para colocar o plano em prática. O método para assassinar Lula também foi pensado: envenenamento, "por meio de um elemento químico ou biológico", diz o documento da PF citado no Le Monde. O correspondente do diário no Brasil também descreve a convocação do alto comando militar para uma reunião com Bolsonaro no início de dezembro de 2022. No entanto, o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, não aderiu à ideia de golpe, o que teria irritado lideranças das Forças Armadas. Ainda assim, o plano entra em execução em 15 de dezembro, sob o comando do general Walter Braga Netto. A matéria descreve a troca de mensagens dos chamados "kids pretos" por meio de celulares descartáveis e os codinomes de países: Alemanha, Argentina, Gana, Japão. Mas Le Monde lembra que o grupo resolveu abortar a operação, provavelmente por uma mudança no cronograma do STF. A sequência da história foi relatada por jornais do mundo inteiro: Bolsonaro deixa o Brasil, em direção dos Estados Unidos, e a posse de Lula é sucedida pela invasão do Congresso, do Palácio do Planalto e da sede do STF por militantes da extrema direita. A novela parece se encaminhar para o fim com a revelação do relatório da Polícia Federal e com o indiciamento de 37 homens, entre eles, 24 militares, suspeitos de terem participado do plano de golpe. Le Monde ressalta que um dos indiciados é o próprio Bolsonaro, cuja participação no projeto foi "direta e efetiva", afirma o relatório da PF. O ex-presidente pode ser condenado a até 28 anos de prisão. Já o "Brasil escapou do pior", conclui o jornal. |
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