Fidel deve estar torcendo para o Obama vencer, já que é o único dos candidatos que fala em conversar com os inimigos, ou com os países do "eixo do mal", como gosta de dizer o Bush. Se ganhar o MCCAIN, vai aumentar a pressão sobre esses países. O complexo industrial-militar, que tem grande influência sobre qq governo americano, não pode viver sem uma guerra. Se tem um assunto que permite à um dos candidatos se diferenciar dos outros, é o que diz respeito ao sistema de saúde americano. Nesse caso, o Obama está se diferenciando. Existe um novo documentário do Michael Moore sobre este assunto, que depois vou publicar neste blog. Quanto ao muro que separa o México dos Estados Unidos, todos são a favor. O Fidel está analisando as implicações de uma improvável vitória do candidato republicano, não só sobre Cuba mas sobre o mundo em geral. Se não me engano, tal análise se divide em quatro partes, e estou enviando a primeira. SDS Dória
Fonte: Digital Granma Internacional
REFLEXÕES DO PRESIDENTE FIDEL CASTROO candidato republicano(Primeira Parte)
• ESTAS reflexões se explicam por si próprias.
Na já famosa superterça, um dia da semana em que numerosos Estados da União elegiam o candidato da sua preferência para a Presidência dos Estados Unidos, entre um grupo de candidatos. Um dos possíveis candidatos para substituir George W. Bush podia ser John McCain, por sua imagem projetada de herói e sua aliança com fortes adversários, como o ex-governador de Nova Iorque, Rudy Giuliani, outros aspirantes já lhe deram com prazer seu apoio. A intensa propaganda de fatores sociais, econômicos e políticos de grande peso em seu país, e seu estilo de atuação o tornavam o candidato com mais possibilidades. Apenas a extrema direita republicana, representada por Mitt Romney e Mike Huckabee, inconformada com algumas concessões intranscendentais de McCain, ainda ofereciam-lhe resistência em 5 de fevereiro. Depois Romney também depôs a aspiração em favor de McCain. Huckabee a mantém.
A luta pelo candidato é, no entanto, muito intensa no Partido Democrata. Ainda que, como é habitual, uma parte ativa da população dos Estados Unidos com direito de votar seja minoritária, escutam-se já todo tipo de opiniões e conjeturas sobre as consequências que terá para o país e para o mundo o resultado final da contenda eleitoral, se a humanidade escapa das aventuras bélicas de Bush.
Não me cabe falar da história de um candidato à Presidência dos Estados Unidos. Jamais fiz. Talvez, não o teria feito nunca. Por que desta vez?
McCain afirmou que alguns colegas dele foram torturados por agentes cubanos em Vietnã. Seus apologistas e especialistas em publicidade geralmente sublinham que o próprio McCain sofreu tais torturas por parte dos cubanos.
Espero que os cidadãos dos Estados Unidos compreendam que sou obrigado à análise pormenorizada deste candidato republicano e lhe replique. Vou fazê-lo a partir de considerações éticas.
No histórico de McCain aparece que foi prisioneiro de guerra no Vietnã desde 26 de outubro de 1967.
Como ele próprio conta, tinha naquela data 31 anos e levava a cabo a missão de ataque número 23. Seu avião, um A4 Skyhawk, foi interceptado sobre Hanói por um míssil antiaéreo. Devido ao impacto, perdeu o controle e se catapultou, caindo sobre o lago Truc Bach, no meio da cidade, com frcturas em ambos os braços e num joelho. Uma multidão patriótica, ao ver cair um agressor, recebeu-o com hostilidade. O próprio McCain exprime seu alívio naquele momento ao ver chegar um pelotão do exército.
O bombardeio sobre o Vietnã iniciado em 1965, era um fato comovente para a opinião internacional, muito sensibilizada com os ataques aéreos da superpotência contra um pequeno país do Terceiro Mundo, que foi tornado colônia da França a milhares de milhas da distante Europa. O povo de Vietnã lutou contra os ocupantes japoneses durante a Segunda Guerra Mundial e, já no fim, a França retomou o controle. Ho Chi Minh, o líder modesto e querido por todos, e Nguyen Giap, seu chefe militar, eram personagens admirados internacionalmente. A famosa Legião Francesa foi derrotada. Para tentar evitá-lo, as potências agressoras por um triz usa a arma nuclear em Diem Bien Phu.
Perante a opinião pública norte-americana, os nobres anamitas, como carinhosamente os chamou José Martí, de cultura e valores milenares, deviam ser apresentados como um povo bárbaro e indigno de existir. Em matéria de suspense e publicidade comercial, ninguém pode ganhar dos especialistas dos Estados Unidos. A especialidade foi utilizada sem limite algum para exaltar o caso dos prisioneiros de guerra, nomeadamente o de McCain.
Seguindo essa corrente, McCain afirmou depois que, o fato de que seu pai fosse almirante e comandante-em-chefe das forças estadunidenses no Pacífico, fez com que a resistência vietnamita lhe oferecesse uma libertação antecipada se reconhecia ter cometido crimes de guerra, o qual tinha rejeitado alegando que o Código Militar estabelece que os prisioneiros são libertados na ordem em que são capturados, e que isso significou cinco anos de prisão, golpes e torturas numa área do cárcere identificada pelos norte-americanos como "Hanoi Hilton".
A retirada final do Vietnã foi desastrosa. Um exército de meio milhão de homens treinados e armados até os dentes não pôde resistir o avanço dos patriotas vietnamitas. Saigão, a capital colonial, atual Ho Chi Minh, foi abandonada de forma vergonhosa pelos ocupantes e seus cúmplices, alguns deles, pendurados dos helicópteros. Os Estados Unidos perderam mais de 50 mil filhos valiosos, sem contar os aleijados. Gastaram US$500 bilhões naquela guerra sem impostos, sempre, de por si, desagradáveis. Nixon renunciou unilateralmente aos compromissos de Bretton Woods e criou as bases da atual crise financeira. Tudo que conseguiram foi um candidato para o Partido Republicano, 41 anos depois.
McCain, um dos numerosos pilotos norte-americanos abatidos e feridos nas guerras declaradas ou não de seu país, foi condecorado com a Estrela de Prata, a Legião de Emérito, a Cruz de Aviação por serviço destacado, a Estrela de Bronze e o Coração Púrpura.
Um filme para a televisão, baseado em suas memórias sobre as experiências como prisioneiro de guerra, foi exibido no Memorial Day de 2005 e se tornou famoso por seus vídeos e discursos em torno ao tema.
A pior afirmação que fez quanto a nosso país foi que interrogadores cubanos torturaram sistematicamente prisioneiros norte-americanos.
Perante as alucinantes palavras de McCain, interessei-me pelo assunto. Quis saber donde vinha essa lenda tão estranha. Pedi para que se procurassem os antecedentes da imputação. Informaram-me que existia um livro bem promovido, baseado no qual se fez o filme, escrito por McCain e seu assessor administrativo no Senado, Mark Salter, que continua trabalhando e redigindo com ele. Solicitei que fosse traduzido textualmente. Foi feito, como noutras ocasiões, em breve tempo, por pessoal qualificado. Título do livro: Faith of My Fathers, 349 páginas, publicado em 1999.
Sua acusação contra os revolucionários internacionalistas cubanos, utilizando a alcunha de Fidel para identificar um deles capaz de "torturar um prisioneiro até a morte", carece da mais mínima ética.
Gostaria lembrar-lhe, senhor McCain: Os mandamentos da religião que você pratica proíbem a mentira. Os anos de prisão e as feridas que recebeu como consequência dos seus ataques contra Hanói não o dispensam do dever moral da verdade. informar-lhe. Em Cuba foi levada a cabo uma rebelião contra um déspota imposto pelo governo dos Estados Unidos ao povo de Cuba em 10 de março de 1952, quando você estava a ponto de fazer 16 anos, e o governo republicano de um militar ilustre, Dwight D. Eisenhower — que por acaso foi a primeira pessoa a falar do complexo militar-industrial —, reconheceu e apoiou logo aquele governo. Eu era um um pouco mais velho que você, completaria em agosto, mês em que você também nasceu, 26 anos. Ainda Eisenhower não tinha terminado seu período presidencial, iniciado na década de 1950, alguns anos depois da fama ganhada pelo desembarque aliado no norte da França, com o apoio de 10 mil aviões e as mais poderosas forças navais conhecidas até essa data.
Tratava-se de uma guerra, formalmente declarada pelas potências que enfrentavam a Hitler, iniciada de surpresa pelos nazistas, que atacaram sem aviso nem prévia declaração de guerra. Um novo estilo de provocar grandes chacinas foi imposto à humanidade.
Em 1945 se utilizaram contra a população civil de Hiroshima e Nagasaki duas bombas de quase 20 quilotons cada uma. Visitei numa ocasião a primeira daquelas cidades.
Na década de 1950, o governo dos Estados Unidos chegou a construir tais armas de ataque nuclear, que uma delas, o MR17, chegou a pesar 19,05 toneladas, e media 7,49 metros, a qual podia transportar em seus bombardeiros e desencadear uma explosão de 20 megatons, equivalente a mil bombas como a que lançou sobre a primeira daquelas duas cidades em 6 de agosto de 1945. É um dado que faria enlouquecer Einstein, que, no meio de suas contradições, não manifestou muitas vezes remorsos pela arma que, sem pretendê-lo, ajudou a fabricar com suas teorias e descobertas científicas.
Quando triunfa a Revolução Cubana em 1º de janeiro de 1959, quase 15 anos depois da eclosão das primeiras armas nucleares, proclama a Lei de Reforma Agrária baseada no princípio de soberania nacional, consagrado pelo sangue dos milhões de combatentes que morreram naquela guerra, a resposta dos Estados Unidos foi um programa de atos ilegais e atentados terroristas contra o povo cubano, aprovados pelo próprio presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower.
O ataque pela Baía dos Porcos ocorreu seguindo instruções precisas do presidente dos Estados Unidos e os invasores foram escoltados por unidades navais, inclusive um porta-aviões de ataque. O primeiro assalto aéreo com aviões B-26 do governo norte-americano, que partiram de bases clandestinas, foi por surpresa, com o emprego de insígnias cubanas, mostrando-o à opinião mundial como uma sublevação da força aérea nacional.
O Sr. acusa os revolucionários cubanos de serem torturadores. Exorto-o seriamente a que apresente, pelo menos, um dos mais de mil prisioneiros apreendidos nos combates da Baía dos Porcos que tenha sido torturado. Eu estava ali, não protegido num longínquo posto geral de comando. Capturei pessoalmente, com alguns ajudantes, numerosos prisioneiros; passei diante de esquadras armadas, ainda ocultas por trás da vegetação da floresta, que paralisaram diante da presença do chefe da Revolução no lugar. Lamento ter que mencionar isto, que pode parecer altanaria, o qual detesto sinceramente.
Os prisioneiros eram cidadãos nascidos em Cuba, organizados por uma poderosa potência estrangeira, para lutarem contra seu próprio povo.
O Sr. se confessa partidário da pena capital para os delitos muito graves. Que atitude teria assumido ante tais atos? Quantos teria sancionado por essa traição? Em Cuba foram julgados alguns dos invasores que cometeram antes, sob as ordens de Batista, horrendos crimes contra os revolucionários cubanos.
Visitei os prisioneiros da Baía dos Porcos, como vocês chamam a invasão de Girón, em mais de uma ocasião, e falei com eles. Gosto de saber as motivações dos homens. Mostravam assombro e expressavam seu reconhecimento pelo respeito pessoal com que foram tratados.
O Sr. deveria saber que, enquanto se negociava a libertação mediante indenização com alimentos para crianças e medicamentos, o governo dos Estados Unidos organizava planos de assassinato contra minha pessoa. Há constatação disso nos escritos de pessoas que participaram da negociação.
Não me referirei pormenorizadamente à longa lista de centenas de tentativas de assassinato contra minha pessoa. Não se trata de uma invenção. Aparece em documentos oficiais divulgados pelo governo dos Estados Unidos.
Que ética subjaz em tais fatos, defendidos poelo Sr. com veemência, como questão de princípios?
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