terça-feira, 28 de abril de 2009

MÍDIA - Jornalismo de espetáculo.

Mário Augusto Jakobskind

Rio - O Brasil merecia coisa melhor do que a “farra” das passagens aéreas dos parlamentares. Convenhamos, a mídia poderia se interessar também por pautas checando como se comportam e votam os representantes do povo. E mais: relacionar os votos com os apoiadores de campanha. Aí sim, o povo brasileiro teria maiores elementos para analisar quem é quem no Legislativo.

Exemplo concreto, o deputado do PMDB fluminense, Marcelo Itagiba, que, segundo o Deputado Chico Alencar, recebeu apoio de um sócio do banqueiro Daniel Dantas. Pergunta-se: qual o grau de imparcialidade deste senhor para presidir ou relatar Comissões Parlamentares de Inquérito envolvendo o sócio de um de seus financiadores? E qual a moral de parlamentares que receberam grana em suas campanhas do capital financeiro ou de empresas do setor imobiliário na hora de votarem questões pertinentes a esses setores? De que forma tais fatos influirão no voto de matérias relevantes para os cidadãos brasileiros?

Estas questões são bem mais graves do que a “farra” das passagens de aviões. Não, entendam bem os mais açodados, que não se deva condenar os parlamentares que cometeram irregularidades, mas porque deixar em segundo plano os Itagibas da vida e outros? Que o Fernando Gabeira, hoje um arauto da moralidade, admita que errou ao ceder passagens à filha surfista, tudo bem. Ele está dando uma satisfação aos eleitores, alguns deles netos ou bisnetos dos udenistas (adeptos de um partido que pregava a moralidade e conspirava na porta dos quartéis antes de 64 e deu no que deu). Mas porque não informar como Gabeira votou nos últimos anos na Câmara? E Rodrigo Maia, líder do Demo, além das passagens por que não checar que tipo de projetos ele tem defendido e votado?

Por que também não informar quem são os parlamentares proprietários de veículos de comunicação e como procedem na hora de debater ou votar questões pertinentes à renovação dos canais de televisão e rádio? Ao não fazer a cobrança e apenas se deter na “farra”, a mídia não está fazendo um serviço completo de utilidade pública. Demonstra que a prioridade é o jornalismo de espetáculo.

Outra questão que continua a ocupar amplos espaços midiáticos é o pega ocorrido no Supremo Tribunal Federal entre os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Mendes já recebeu o apoio da direita parlamentar representada pelo Partido Democratas (DEM, também abreviado de DEMO), o que não chega a ser uma surpresa para quem conhece o currículo de Mendes.

Joaquim Barbosa ao desabafar na sessão do STF interpretou o pensamento de milhões de brasileiros que há tempos estão contrariados com a arrogância de Mendes, hoje um verdadeiro quadro da direita. Circulando pelo centro do Rio, Barbosa foi aplaudido e até atendeu a solicitação de pedidos de autógrafo.

Como Joaquim Barbosa colocou uma questão grave em relação ao presidente do STF ao afirmar textualmente que “Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar, o senhor me respeite”, não seria o caso de se investigar, senhores editores da mídia impressa e eletrônica, o motivo da fala do Ministro? Afinal, se eles existem quem seriam os “capangas” de Mendes?

Não é de hoje que circulam na Internet 27 perguntas não totalmente respondidas e que poderiam esclarecer muitas dúvidas que questionam a honorabilidade de Gilmar Mendes. Por que nenhum repórter perguntou a Mendes qual a natureza da participação dele em campanhas eleitorais do irmão para a prefeitura de Diamantino em 2000 e 2004 , quando ocupava o cargo de advogado geral da União e posteriormente foi nomeado por Fernando Henrique Cardoso Ministro do STF?

Não seria o caso de perguntar também a Mendes se tem alguma idéia do porquê de mais de 30 ações impetradas contra o irmão, de nome Chico Mendes (não confundir com o seringaleiro assassinado), ao longo dos anos jamais terem chegado sequer à primeira instância?

Não seria o caso de perguntar também se Mendes conhece alguma Suprema Corte do mundo que haja concedido à mesma pessoa dois habeas corpus em menos de 48 horas, como aconteceu com Daniel Dantas?Ao não fazer a cobrança e apenas se deter na “farra”, a mídia não está fazendo um serviço completo de utilidade pública. Demonstra que a prioridade é o jornalismo de espetáculo.

E, finalmente, o presidente do STF poderia dizer se é correta a informação publicada na pagina 40 da Revista Época de 22 de abril de 2002, de que a chefia da então Advocacia Geral da União, ou seja, se ele próprio pagou R$ 32.400,00 ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual é um dos proprietários - para que seus subordinados lá fizessem cursos? E se considera ético tal procedimento?

Por enquanto é só, embora faltem muitas perguntas a serem formuladas a Gilmar Mendes. Mas que a Justiça brasileira merecia coisa melhor, disso não há dúvida.

EM TEMPO: Em tempo: Mais uma vez caiu a máscara da Rede Globo, emissora que divulgou falsa versão que incriminava o MST em um incidente na fazenda de Daniel Dantas, no interior do Pará. Victor Haor, repórter da TV Liberal, afiliada da TV Globo, prestou depoimento ao delegado de Polícia de Interior do Estado do Pará. Ele negou que os profissionais do jornalismo tenham sido usados como escudo humano pelos sem-terra, bem como desmentiu a versão - propagada pelas TVs Liberal, Globo e Cia. -de que teriam ficado em cárcere privado.

Victor demonstra concretamente que nem todos os profissionais se dispõem a compactuar com a manipulação do patronato na defesa dos seus interesses. No caso, a Globo participa diretamente do esquema do agronegócio, como comprova o próprio site da entidade que reúne os grandes proprietários do setor.

O que teriam a dizer agora os diretores desta rede de televisão que há anos engana o povo brasileiro diante da farsa desmontada?
Fonte:Direto da Redação.

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