Lula defende que movimentos sociais tenham sua própria mídia
Publicado em 28-Fev-2013
Por ser absolutamente precisa, por colocar o dedo no foco central dessa questão do tratamento que a mídia dá ao governo e aos movimentos sociais - que, via de regra, tenta criminalizar -, dispensa análise e eu me limito a publicar aqui o pronunciamento feito pelo ex-presidente Lula ao participar das comemorações de 30 anos de fundação da CUT, no Novotel Jaraguá, na capital paulista.
Tomara que seja seguido o conselho dado pelo ex-chefe do governo aos sindicalistas para que tomem iniciativas e organizem sua própria mídia, já que a velha e conservadora imprensa não lhes dá espaço e, quando dá, é apenas para atacá-los e aos movimentos sociais. O ex-presidente lembrou que os formadores de opinião no Brasil nunca quiseram que ele chegasse ao poder.
"Essa gente - acentuou o ex-presidente - nunca quis que eu ganhasse as eleições. Nunca quis que a Dilma ganhasse as eleições. Aliás, eles não gostam de gente progressista." Por isso, ele acha que os sindicalistas devem organizar sua própria mídia. "Eu estou naquela fase que eu quero parar de reclamar que os que não gostam de mim não me dão espaço. Por que então a gente não organiza o nosso espaço? Por que a gente não começa a organizar a nossa mídia?"
"Os do andar de cima nunca vão deixar você chegar lá..."
O ex-presidente Lula criticou, ainda, seus "adversários" assinalando que seu sucesso lhes incomoda. "A bronca que eles (adversários) tinham de mim era o meu sucesso, e agora é o sucesso da Dilma." Nesse trecho, contou até uma uma conversa que teve com o publisher (diretor proprietário) da Folha de S.Paulo, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007).
"O velho Frias, que era a melhor pessoa que eu conheci na Folha - lembrou o presidente Lula -, me dizia assim: 'Lula, os do andar de cima nunca vão deixar você chegar lá. Eles vão sempre trabalhar para você ficar no andar de baixo'. Eu dizia 'Frias, nós vamos chegar no andar de cima'. Nós chegamos, e gostamos. E provamos que sabemos morar no andar de cima e fazer mais coisas do que eles. Agora estamos no andar de cima olhando para o povão que está lá embaixo, e queremos que eles subam também os degraus da vida neste país."
Na crítica aos adversários, o ex-presidente defendeu o PT, há uma década à frente do governo federal, seus dois governos e este primeiro conduzido pela presidenta Dilma Rousseff. "Sinto orgulho em saber que este país mudou. Ainda falta fazer muita coisa, obviamente que falta. Mas um país que passou 500 anos sufocando os pobres não vai se recuperar disso em 10 anos. Mas não reconhecer que esse país mudou? Mudou e muito".
O ex-presidente lembrou seu tempo e o do ex-presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln (1861-1865). "Esses dias, eu estava lendo um livro sobre Lincoln e fiquei impressionado como a imprensa batia nele igualzinho batia em mim. E o coitado não tinha computador para ver a notícia, tinha que ir para o telex, para o telégrafo. Ficava numa sala esperando. Nós aqui podíamos xingar o outro em tempo real. Quantos não já estão aí: 'O Lula está falando demais, o Lula está falando demais, para. Quantos já estão tuitando aí?".