sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

POLÍTICA - Filme sobre o golpe exibido em Berlim.


“Uma mulher ao meu lado repetia ‘unglaublich’ (inacreditável)”: como foi a exibição do filme sobre o golpe em Berlim

Antonio Salvador, brasileiro residente em Berlim, narrou em sua página no Facebook como foi a exibição do documentário “O Processo” na capital da Alemanha. 
O filme “O Processo” de Maria Augusta Ramos, sobre o impeachment da Presidenta Dilma, foi ovacionado ontem no Festival de Berlim. Sala lotada. Nem sombra de ingressos, desde segunda-feira.
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Percorrendo os corredores sombrios do Congresso Nacional, o filme consegue a proeza de penetrar as dramáticas personagens da História brasileira recente e exibí-las para além de suas personas.
As lentes e, mais propriamente, o olho da diretora souberam captar a fragilidade, o terror, os pensamentos hediondos, o humano, enfim. O resultado é, estética e dramaturgicamente, perfeito.
Em termos históricos, a diretora produziu o documento cinematográfico mais relevante do nosso tempo.
A reação do público foi uma narrativa à parte. Apenas para se ter uma ideia, o alemão não costuma aplaudir. Quando o faz, é discreto e não se demora. Gritos, nem pensar. Ao final das sessões da Berlinale, há em geral um bate-papo rápido com os diretores.
Pois bem. Eu nunca havia presenciado tamanha explosão no Festival. E não apenas ao final do filme, mas também durante. Houve de tudo: gritos, palmas, gargalhadas. Na fileira em que eu estava, só havia alemães.
Eles tem a mania de dar um tapa no ar, quando consideram algo absurdo ou ridículo. Era essa a reação frequente tão logo assomasse na tela a cara de Janaína Paschoal, Aécio, Cunha, Aloysio.
Uma mulher ao meu lado repetia incessantemente “unglaublich…” (inacreditável). Fiquei cismado sobre se as pessoas compreendiam o enredo kafkiano do processo. Ao final, perguntei à mulher e ela evocou os olhos dos julgadores! “Schau mal die Augen!” Só compreendi depois. Com efeito, assim é o cinema… Amplia-se um olho e ele logo contradiz a boca. Assim é a vida.
O estertor de aplausos foi demorado. Os gritos de “bravo!”, idem. Muitos críticos, jornalistas de todo o mundo, gente de cinema.
Salvo engano, foi em 2012 que conheci Maria Augusta. Aqui e acolá nos encontramos. Em comum, o fato de pertencermos à diáspora de artistas brasileiros.
Quando tudo acabou, ela me disse: “Parece que eles entenderam, não?”.
Visivelmente.

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