sexta-feira, 23 de novembro de 2018

POLÍTICA - Sobre Cuba, um depoimento de quem morou lá.



“Morei em Cuba por 7 anos da minha vida, estudei lá, lá tenho pessoas que considero meus familiares. Cuba é um país pequeno, sem recursos naturais (como minério, petróleo) nenhum rio caudaloso (não pode ter hidroelétrica que é a energia mais barata), tem somente 25% do solo fértil (o Brasil tem 85%), vive um bloqueio econômico cruel onde não pode comercializar com os EUA nem com ninguém que comercializa com eles, ou seja TODO O MUNDO, teve que se militarizar pois já foi invadido, teve mais de 2000 bombas em locais vitais colocadas pelos EUA, teve ataques biológicos (confirmados por organismos internacionais) contra a suas plantações, implantação de doenças contra animais de criação e contra humanos. Sobrepassando todas estas coisas, Cuba tem uma saúde pública muito melhor que a nossa, sua educação é de excelência, é um país super seguro onde as pessoas andam pela madrugada na capital sem NENHUM medo, é o único país das Américas onde a droga já não é um problema (quase não existe), o povo participa muito mais das decisões do estado, sejam nas assembleias dos bairros, quanto nas eleições (SIM EM CUBA EXISTE ELEIÇÕES), e inclusive agora na constituinte onde existe debate e propostas em cada escola, fábrica, universidade e em cada bairro. O maior problema de longe de Cuba é o econômico, que o único responsável é os Estados Unidos, tendo muitos papagaios de pirata que repetem o mesmo discurso do opressor, que a culpa é de Cuba, seria como você colocar concreto no pé de alguém e jogar-lo ao mar e culpar aquele por não saber nadar, para estes repito o desafio que Cuba sempre fez aos EUA, retirem o Bloqueio por um ano, e se Cuba não avançar economicamente a culpa será toda de Cuba. Porque será que os EUA nunca o fez? Compare Cuba com os países próximos: Honduras, Jamaica, Guatemala, Rep. Dominicana, Haiti, México e veja quem manda mais imigrantes aos EUA e que pais tem melhor qualidade de vida e Índice de Desenvolvimento Humano.

Cuba tem em sua constituição a solidariedade internacional, que além de ser lei é um valor moral, e isso fez que há mais de 50 anos, Cuba, mesmo sendo um país pobre, enviasse contingentes numerosos de médicos aos países que sofriam com catástrofes naturais ou guerras, somando já mais de 120 países e estando neste momento em mais de 60 países. A maior parte destas missões não tem custo aos países que as recebem, porém a menos de duas décadas Cuba iniciou a troca de médicos por recursos que não podia ter acesso pelo bloqueio, e percebeu como poderia ser uma saída econômica importante, a exportação de serviços de saúde já que Cuba não é bem industrializada e não tem minérios exportáveis.
É importante que se entenda que cada ministério em Cuba tenta ser autônomo, ou seja dispor dos recursos que necessita, no caso a maior parte do recurso recebidos pelo Programa Mais Médicos vão direto à saúde pública, que é 100% gratuita, universal e de qualidade, e ao contrário do Brasil, percebe-se que a corrupção não o desfacela. Prova disso é que ao iniciar o Programa Mais Médicos o governo cubano aumentou os salários de mais de 300.000 profissionais de saúde na ilha.
Sempre no início de cada ciclo do Programa Mais Médicos são convocados os médicos brasileiros, as vagas sobrantes, são disponibilizadas aos brasileiros formados no exterior, as próximas sobrantes aos estrangeiros de outras nacionalidades e ao final para ocupar o espaço que nenhum médico quis, chegam os cubanos, por isso que eles atendem a 90% das comunidades indígenas, os 700 municípios que antes do programa não tinham sequer nenhum médico e as periferias mais perigosas e intrínsecas. Na maioria destes lugares, as pessoas viram um médico pela primeira vez na sua vida, e estes falavam portunhol e tinham a mesma cor que os que ali moravam. E para confirmar de forma científica dezenas de universidades do Brasil e do Exterior estudaram os efeitos deste programa e constataram que estes médicos reduziram a mortalidade infantil e materna, e salvaram milhares de vidas em todo nosso país.
O médico cubano que vem ao Brasil ele é funcionário do Ministério de Saúde Pública de Cuba, o qual conheceu os termos do contrato, e decidiu por o aceitar antes de vir ao Brasil, com isso estes recebem o salário que recebiam em Cuba de forma integral (são repassados para suas famílias), assim como as garantias previdenciárias, e no Brasil recebem quase R$4.000 de salário, mais ajuda de custo de moradia e alimentação que em geral superam os R$2.000, junto com uma passagem aérea anual, e a garantia de que não gastará NADA com a educação, saúde e segurança de toda a sua família, qual seria a porcentagem de brasileiros que dispõem destas condições??
Bolsonaro que desde a criação do Programa vem fazendo diuturnamente ataques ao mesmo, dizendo que não são médicos, que são espiões, com ataques ao governo cubano e que se ganhasse os mandaria de volta. Todas estas opiniões são irresponsáveis e irrespeitosas, e vindo de um futuro chefe de estado, pior ainda. Sua avalanche de ataques fio contra as 63 milhões de pessoas que foram atendidos por este programa e contra os quase 10 mil médicos cubanos que aqui se encontram e contra todo o povo cubano, que tem uma dignidade poucas vezes vista na história da humanidade, os cubanos lutaram por 100 anos contra a Espanha armados de facões contra canhões, e lutam a mais de 50 anos contra o império mais poderoso da história da humanidade. Cuba nunca se ajoelhará ante ninguém, tenha o poder que tiver. Não digo que o Brasil não tenha a soberania de rediscutir um contrato internacional, porém isso deve ser feito com respeito e respeitando a soberania dos povos, como reza a carta das Nações Unidas o documento mais importante da diplomacia mundial que Bolsonaro vem pisando a cada dia.
Eu como médico do Programa Mais Médicos, formado em Cuba e já revalidado e especializado aqui, vi como este programa melhorou a vida do nosso povo pobre ao aplicar o que aprendemos na formação em Cuba, a solidariedade, o humanismo, o compartilhar a dor do outro, pois somos iguais e não superiores.
Escravos são aqueles mercadores da saúde que se vendem por dinheiro, nós somos médicos de ciência e consciência, que priorizamos a vida do próximo antes de qualquer coisa.
Agradeço de coração a Cuba e aos seus médicos por trazer a esperança a muitos que já a haviam perdido. O que poderá substituir o cuidado e amor que estes médicos deram ao nosso povo??”

Leandro Nascimento Bertoldi

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