sábado, 15 de dezembro de 2018

POLÍTICA - "As eleições presidenciais" foram fraudadas.



O professor Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, não tem dúvida de que as últimas eleições foram fraudadas. Coimbra participou, nesta sexta-feira, dia 14, do Seminário Mídias Sociais e Comunicação Digital, organizado em Belo Horizonte, pelo PT MG e pela Secretaria de Organização Nacional do Partido dos Trabalhadores. Também participaram do evento o ex-ministro Franklin Martins e o coletivo Mídia Ninja.
Coimbra revela que a denúncia foi levada à presidente do STF, Rosa Weber. A ministra, de acordo com o seu relato, não deu atenção ao caso. De acordo com interlocutores que apresentaram a denúncia, Weber não entendeu a dimensão da ameaça à democracia ou se omitiu, alegando que a grande preocupação do STE era com relação à confiabilidade nas urnas eletrônicas.

Marcos Coimbra defende que a esquerda não deve deixar o assunto de lado, pois “se isso ocorrer, estará normalizada uma poderosa distorção na democracia brasileira, fazendo com que as futuras eleições não passem de rituais, com o final conhecido anteriormente”. É urgente, para o professor, que o PT e o conjunto da esquerda façam uma autocrítica.

Entretanto, esclarece, não a autocrítica que a mídia, Globo à frente, cobra da esquerda. Para ele o que deve ser feito é um balanço e erros e acertos, para indicar as estratégias de atuação em um mundo que inegavelmente mudou.
Para comprovar a sua afirmação, o pesquisador apresentou gráficos, que contêm os resultados dos principais institutos de pesquisa do país. O comportamento das curvas, que representam a evolução da intenção de votos em Jair Bolsonaro, indicam com bastante clareza uma súbita elevação da sua média histórica, que oscilava entre 20% a 25% da preferência do eleitorado.

Segundo os gráficos, a cerca de uma semana antes da realização do primeiro turno, os números mudaram de uma maneira que foge do padrão histórico das movimentações da opinião pública. Haddad, que vinha em um consistente movimento de crescimento, sofreu um baque e teve sua trajetória interrompida. Enquanto isso, Bolsonaro iniciava um avanço atípico, em um padrão que nunca fora registrado antes no histórico das pesquisas de opinião realizadas no Brasil.

O que explica isso, para Marcos Coimbra, foi a ilegal utilização das redes sociais, principalmente o WhatsApp, para disseminar mentiras e calunias contra Fernando Haddad e o PT. O professor apresentou um exemplo da artificialidade desse movimento nas redes sociais.

A partir de dados que chegaram a ele, somente uma página da Internet, com endereço no mesmo local onde funcionava o site Bolsonaro Presidente, disparou em um só dia mais de 600 mil mensagens com informações falsas e caluniosas contra Haddad, todas elas abordando a questão moral, como o kit gay, um suposto estupro cometido pelo candidato, estímulo a jovens para se relacionarem com outros do mesmo sexo e coisas nessa linha.

Coimbra alerta que esta foi apenas uma das páginas envolvidas na operação de desconstrução de Fernando Haddad. De acordo com dados que chegaram a ele, a operação foi em grande escala, “apenas um dos contratos com empresas responsáveis por disparos em massa de WhatsApp, que foram alvo da reportagem da Folha de S. Paulo, atingia R$ 12 milhões”.

Os disparos não foram realizados ao acaso, informa o professor, “o alvo foi preciso, pessoas de baixa renda da região sudeste, focalizando principalmente no público evangélico”. As curvas dos gráficos da evolução da intenção de votos dos principais institutos do Brasil sugerem uma grande possibilidade de que esta tese seja real.

O professor revela que muitas outras empresas ou esquemas desconhecidos envolvendo mercenários ou robôs estavam envolvidos na operação, o que “custa muito dinheiro, não é barato”. Ele vê crimes eleitorais nesse episódio, destacando especialmente dois: o abuso do poder econômico, com a doação de empresas, o que é proibido; e a disseminação de calúnias e informações falsas.

Franklin Martins

O ex-ministro da comunicação social do governo Lula ressaltou a importância das novas mídias digitais. Segundo ele, as novas tecnologias digitais vieram para o bem e para o mal. Se por um lado, a Internet democratiza a comunicação e permite mais emissores no ambiente da comunicação social, por outro lado, grandes empresas como o Facebook ou o Twitter tem ampla capacidade de intervir no universo digital e intervir na comunicação.
Franklin adverte, no entanto, que a questão central é o conteúdo e a disputa pela agenda do que a sociedade vai debater.

Ele lembra que sempre que uma nova mídia surge, há mudança de paradigmas. Quem sai na frente na utilização das novas mídias leva vantagem; “Franklin Delano Roosevelt foi pioneiro no rádio, enquanto seus adversários tinham apoio dos grandes jornais impressos; Kennedy soube utilizar o potencial da recém-nascida TV, enquanto seu oponente, Nixon, ainda estava na era radiofônica”.

Mas, tanto Roosevelt, quanto Kennedy, introduziram novas agendas que sensibilizaram o eleitorado.
O mesmo ocorreu no Brasil. FHC foi eleito com a agenda do combate à inflação, lembra Martins. E continua, “a agenda que levou Lula ao Planalto, na sua primeira eleição, foi a inclusão social. Depois, ao longo do seu mandato Lula agregou o crescimento econômico, que foi a plataforma que elegeu Dilma, na sua primeira eleição”.
Sem condições de disputar no campo da agenda da inclusão e do crescimento, porque não concorda com isso, a oposição tentou impor o seu tema clássico, que é a corrupção, recorda Franklin. Mas, ele avalia que a reeleição de Lula e a primeira eleição de Dilma, revelaram que a oposição estava perdendo a disputa pela agenda.
Inexplicavelmente, logo que assumiu a presidência, Dilma assumiu a agenda do adversário e iniciou uma cruzada de “limpeza”. Para o ex-ministro, a presidenta deixa de lado as conquistas dos governos petistas e, de maneira que merece profundas análises, passa a priorizar a agenda que interessava à oposição.
A surpresa ainda é maior, porque Dilma faz a opção pela agenda da corrupção e deixa em segundo plano a inclusão e o crescimento no momento que o país estava em uma posição econômica invejável, com os fundamentos econômicos sólidos, programas sociais consistentes e o menor desemprego da história, em torno de 4%.

Nas últimas eleições, Franklin Martins reconhece que houve a fraude com uso da internet, mas considera que “o PT não priorizou a luta pela imposição da sua agenda, com isso houve espaço para o crescimento da agenda de quem não quer debater a inclusão, a qualidade de vida da população e o crescimento com distribuição de renda”.

A extrema direita, sabendo que o seu verdadeiro programa seria fatalmente derrotado, porque não interessa à maioria, conseguiu impor uma agenda que a favorecia, o comportamento e os costumes.
Martins observa que a agenda do comportamento também pavimentou o terreno para os ataques e calúnias moralistas contra a figura do candidato Fernando Haddad.
Franklin, conclui dizendo que a questão da internet é fundamental, como ocorre em todo avanço tecnológico nas comunicações, o assunto tem que ser debatido e o meio precisa ser priorizado pela esquerda, pelo seu potencial democratizante; mas o que é decisivo, para a disputa política na sociedade é a agenda.

Nenhum comentário: