terça-feira, 18 de dezembro de 2018

POLÍTICA - Tio Rei faz umas continhas para tentar explicar o patrimônio dos Bolsonaros.




Se os Bolsonaros tivessem guardado, ao longo da vida, 100% de seus salários, soma ainda seria menor do que o patrimônio

Por: Reinaldo Azevedo
Publicada: 12/01/2018 - 8:33


Eduardo, Flávio, Jair e Carlos: o Brasil não conhece seus projetos, mas a família está milionária

Do ponto de vista político, a “Família Bolsonaro” só não é uma piada pronta porque ainda está em construção — embora a coisa já seja antiga. Ficou feio para a turma. A Folha fez um levantamento objetivo, sem juízo de valor, sobre o patrimônio dos valentes, que têm apenas uma atividade conhecida: a política. Do ponto de vista pessoal, os Bolsonaros não podem reclamar do Brasil… Integram a diminuta categoria dos multimilionários. Seu patrimônio em imóveis, em valores de mercado, chega a R$ 15 milhões. Veículos motorizados, para ser genérico, somam mais R$ 1,7 milhão, totalizando, então, R$ 16,7 milhões.
Tive a pachorra de fazer uma conta, que serve apenas como ilustração: se Jair e seus três filhos políticos — Flávio, Eduardo e Carlos — tivessem guardado CEM POR CENTO DO SALÁRIO LÍQUIDO RECEBIDO COM A ATIVIDADE POLÍTICA, TERIAM CONSEGUIDO JUNTAR POUCO MAIS DE…R$ 15 milhões! Vale dizer: menos do que seu patrimônio — já explico a conta e os critérios. Pergunta-se: quem consegue guardar a totalidade do que ganha?
“Ah, não trapaceie, Reinaldo, eles não têm R$ 15 milhões no banco, mas em patrimônio, sujeito a variações de mercado, como valorização e coisa e tal…” Eu sei. O que quero demonstrar é que os vencimentos do quarteto não justificam seu milagre imobiliário. Outra explicação há de haver.
Em abril do ano passado, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) fizeram um levantamento e concluíram que, no mês anterior, só 15% dos consumidores guardaram parte do salário!!! Nada menos de 46% gastaram tudo o que receberam, e 32% viram sair mais dinheiro do que entrar: ficaram no vermelho.
Poupar não é um hábito nacional — a não ser, claro!, na família Bolsonaro. Estudo do economista José Roberto Afonso, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), com base em dados coletados pelo Banco Mundial, aponta que, no Brasil, só 4,7% dos 60% mais ricos — camada em que se encontram Jair e seus filhos — guardam dinheiro. E, entre os 40% mais pobres, a participação cai a menos da metade: 2,1%.
Mais dados para provar que estamos diante do Milagre Bolsonaro da Multiplicação de Patrimônio? Pois não! Em 2014, a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida quis saber a percentagem de poupança naquela parcela diminuta da população que consegue guardar algum dinheiro. Atenção! 52% dos gatos pingados que conseguem reter uma graninha guardam até 10% do que recebem; outros 26%, entre 10% e 20%. O topo da poupança é de 40%: apenas 2% (ENTRE OS QUE POUPAM: 0,3%, pois) alcançam tal proeza.
Tão logo a Folha publicou as informações — e não as opiniões — sobre o patrimônio da Família Bolsonaro, sua turma na Internet se saiu com as grosserias de hábito. O jornal passou a ser chamado de “Foice de São Paulo” — porque seria comunista… Deus do Céu! Gritavam seus sectários: “Por que não fazer tal levantamento sobre outros presidenciáveis?” Não vejo por que o jornal não possa fazê-lo. Pergunto: eventual patrimônio inexplicável de adversários do deputado deve ser tomado como justificativa para o injustificável?
A conta
Os números a seguir, reitero, apenas ilustram o que não tem explicação. Quando entrou na política, Bolsonaro era um homem pobre. É deputado federal desde 1989. Só para facilitar o cálculo — e isso também dá a medida do absurdo! —, vou fazer de conta que ele recebeu, mensalmente, ao longo de 28 anos, R$ 25.010,69 (ganho líquido de hoje). Seus 336 salários teriam somado, pois, R$ 8.403.591,84. Eduardo está na Câmara desde 2015. Foram 36 salários, totalizando R$ 900.384,84. Carlos Bolsonaro é vereador na cidade do Rio faz tempo: desde 2000, o que totaliza 204 vencimentos, com valor líquido de R$14.266,40. No total, R$ 2.910.354,60. E ainda há Flávio, o deputado estadual (RJ), no posto desde 2003. Em 14 anos, foram 168 vencimentos líquidos de R$ 18.786,88: ou seja, R$ 3.156.195,84.
Tudo somado, chega-se a R$ 15.370.527,12, um valor inferior ao patrimônio de R$ 16,7 milhões!
Notem que tomo todos os salários a valor presente. Notem que, nessa hipótese, os Bolsonaros não moram, não comem, não vestem, não usam papel higiênico (alimentam-se de luz!). Notem que se trata de uma ordem de grandeza que apenas dá materialidade à espantosa evolução patrimonial do quarteto. Digamos que eles fizessem parte daqueles 2% dos 15% — ou 0,3%!!! — que conseguem guardar 40% do que recebem: estaríamos falando de R$ 6.148.210,84, não de mais de R$ 16 milhões. E se forem como os 52% dos 15% (7,8%) que conseguem poupar apenas 10% do que recebem? Bem, nesse caso, teriam guardado R$ 1.537.052,71. Convenham: o valor está um tantinho abaixo dos R$ 16,7 milhões, não é mesmo?
Violência retórica e falta de explicação
Bolsonaro concedeu uma entrevista à Folha, com a delicadeza habitual. Desqualifica o jornal e os jornalistas (farei um post a respeito).
O político que, segundo seus acólitos, desafia o “statu quo” acha ofensivo que alguém pergunte como conseguiu amealhar patrimônio tão vistoso.
Na condição de homem público, acha que não tem de dar explicações. E prefere o lucrativo — até agora ao menos — caminho da ofensa.
Como eles conseguiram um patrimônio de R$ 16,7 milhões? Não sei! Vai acima uma conta que serve de ilustração do espanto.
Para encerrar este post: ao longo de todos esses anos, quais foram mesmo as respectivas contribuições de Jair, Eduardo, Flávio e Carlos? A Família Bolsonaro se mostrou um prodígio em benefício da… Família Bolsonaro!

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