segunda-feira, 1 de junho de 2020

POLÍTICA - A PM tem lado e não é o nosso.

TROPA DE CHOQUE DE DORIA ATACA ATO PRÓ-DEMOCRACIA

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A mesma Polícia Militar de São Paulo que dava segurança às carreatas da morte nas manifestações pró-Bolsonaro das últimas semanas, impedindo o acesso a hospitais, ocupou neste domingo a avenida Paulista com a tropa de choque, para dispersar um ato pró-democracia e contra o governo convocada por torcidas organizadas de CorinthiansPalmeiras, Santos e São Paulo.
Uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha, rojões, pedras, pedaços de pau e lixeiras cobriu a avenida numa violência que não se via desde as jornadas de junho de 2013.
Quando a tropa de choque chegou, no começo da tarde, já tinha terminado um breve enfrentamento entre manifestantes contra e a favor de Bolsonaro, que estavam em número bem menor, e logo se dispersaram.
Duas colunas de policiais militares tentaram evacuar a avenida, mas as torcidas uniformizadas reagiram e a tropa-de-choque foi avançando sobre os manifestantes que gritavam palavras de ordem em defesa da democracia.
Do lado oposto ao Masp, em frente à Fiesp, os manifestantes pró-Bolsonaro com camisas amarelas e bandeiras do Brasil voltaram a se concentrar, atrás da tropa-de-choque, mas não foram importunados pela PM.
Não é verdade, como informou o governo paulista, que a PM procurou apenas separar os dois grupos para evitar um confronto. A ação policial tomou claramente um lado, em defesa do grupo a favor do governo, e avançou sobre as torcidas uniformizadas que defendiam a democracia, com palavras de ordem contra o fascismo.
Não é segredo para ninguém nos órgãos de segurança que, desde a campanha eleitoral, policiais militares de todos os estados formam a base de apoio mais fiel a Bolsonaro. Se o governador João Doria não tomar providências e recuperar o comando da PM, em breve vai ver a sua polícia se voltar contra ele mesmo.
Em Brasília, durante mais um protesto contra o STF, com a participação do presidente Jair Bolsonaro, que chegou de helicóptero e montou num cavalo da polícia, apareceu uma faixa em que se lia: “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, o lema das passeatas que precederam o golpe de 1964.
Esse era o cenário que, há tempos, o presidente vem tentando criar para justificar o avanço do autoritarismo contra as instituições, o Estado de Direito e a democracia.
No Rio, em Copacabana, a PM também só atacou os manifestantes em defesa da democracia e contra o governo, que lá estavam em menor número, e deixou o espaço livre para os bolsonaristas.
Na semana em que o STF e a Polícia Federal fecharam o cerco ao “gabinete do ódio” do Palácio do Planalto, o Fla-Flu saiu das redes sociais para as ruas, nas primeiras manifestações pró-democracia. Ficou claro que nessa guerra a PM tem lado.
ÀS 15h20, na hora em que escrevo, a avenida Paulista ainda lembrava uma praça de guerra, com focos de incêndio e depredações.
A crise política, sanitária e econômica que assola o país há meses escalou neste domingo um novo patamar, com o povo na rua, apesar da quarentena.
Isso não vai acabar bem. Não tem como.
Vida que segue

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