Martha Grevatt.
Na semana de 17 de Novembro, os administradores executivos (CEOs) da General Motors, Ford e Chrysler, juntamente com o presidente da United Auto Workers [o sindicato, UAW] Ron Gettelfinger, testemunharam perante o Congresso a necessidade de um balão de oxigénio do governo dos EUA para a indústria automóvel. Pediram 25 mil milhões dos 700 mil milhões de dólares do Programa de Recuperação de Fundos Ameaçados (TARP, na sigla inglesa).
Sem ajuda, asseguraram, uma ou mais das suas companhias irão à falência, provavelmente antes do final do ano. Esta situação ameaça 200.000 trabalhadores da indústria automóvel nos EUA e cerca de 700.000 que produzem componentes para veículos. Há quem afirme que 2,5 milhões de postos de trabalho podem desaparecer se um dos “Três Grandes” falir.
O secretário do Tesouro Henry Paulson recusou a proposta. Argumentou que o dinheiro foi disponibilizado para os bancos – que ele representa. Falando em nome do seu partido, o senador republicano Spencer Bachus declarou: «os meus eleitores não compreenderiam que os seus impostos fossem canalizados para apoiar negócios pouco eficientes».
O senador democrata Christopher Dodd, presidente do comité do Senado para acompanhamento das instituições financeiras, propôs que as companhias declarassem primeiro a bancarrota antes de receberem ajuda do TARP.
Por fim, o Congresso instou os CEOs a apresentar um plano até 2 de Dezembro, explicando como seriam usados os milhares de milhões de dólares e demonstrando a viabilidade das empresas a longo prazo e a sua capacidade para pagar o empréstimo.
Rick Wagoner da GM, Alan Mulally da Ford, e Bob Nardelli da Chrysler estão todos bem protegidos pelos seus elevados salários de executivo, jactos privados e outras mordomias, mas o verdadeiro alvo do compromisso bipartidário era o sindicato. A carta assinada pela presidente do Senado, Nancy Pelosi, e pelo líder da maioria, Harry Reid, pedindo «grandes sacrifícios e profundas mudanças na forma de fazer negócio» (Detroit News, 21 de Novembro) exige na verdade mais cedências por parte dos trabalhadores.
Quando interrogada sobre a UAW, Pelosi disse: «penso que toda a gente tem de participar para garantir a viabilidade da indústria automóvel» (Detroit Free Press, 22 de Novembro). Os colunistas da imprensa, de Detroit a Washington, têm como alvo o sindicato. Daniel Howes, ao serviço do Detroit News, atacou o presidente da UAW Ron Gettelfinger por insistir que o sindicato não faria mais concessões na tabela para 2010.
O ideólogo conservador George Will quer que as companhias declarem bancarrota para poderem destruir «os contratos de trabalho imprevidentes» (Washington Post, 18 de Novembro). O primeiro alvo seria o que é conhecido como “banco de emprego”. Desde 1990, o banco de emprego garante em certa medida uma segurança aos trabalhadores da indústria automóvel que de outra forma seriam despedidos. No “banco” realizam trabalho “não convencional”, frequentemente para obras sociais, e recebem 40 horas de pagamento. Isto foi originalmente uma concessão por parte do sindicato. Este esquema permitia às empresas eliminar postos de trabalho “tradicionais” através do recurso à alta tecnologia quando os contratos impediam o layoff. Quando um contrato de três ou quatro anos cessa, os trabalhadores no banco de emprego deixam de estar protegidos. Ainda que de uma forma mitigada, o banco de emprego protegia os direitos dos trabalhadores. Agora o banco de emprego é apresentado como «um símbolo do excesso e da ineficácia» (Detroit Free Press, 22 de Novembro).
Actualmente, as três companhias têm em conjunto 3500 trabalhadores no “banco”, mas este número pode aumentar. Os trabalhadores contratados vão para o “banco de emprego” após 48 semanas de layoff.
Os meios de comunicação dominantes tentam responsabilizar os trabalhadores da indústria automóvel pela crise, dizendo que são pagos em excesso. A realidade é justamente ao contrário. As pessoas deixaram de comprar carros por duas razões: elevado desemprego e baixos salários. Ambas são o resultado final da política capitalista para aumentar os lucros baixando o preço da mão-de-obra através da redução do número de horas necessárias para a fabricação do produto – o que dá origem ao layoff – ou baixando os custos por via dos salários e benefícios. Estas medidas levam à perda do poder de compra dos trabalhadores. Cada vez mais trabalhadores deixam de poder pagar a hipoteca da casa, o empréstimo do carro e os cartões de crédito.
A destruição deliberada da tabela salarial negociada com o sindicato levou a economia capitalista a um excesso de produtos que apenas alguns podem comprar, mesmo a crédito. A indústria automóvel vive o pico mais baixo de vendas dos últimos 25 anos e os trabalhadores pagam agora o preço com a perda dos seus postos de trabalho.
Está para se ver se as três companhias serão salvas da insolvência. Completamente fora do debate está a noção de que o emprego, a saúde, a segurança na terceira idade não são luxos mas direitos básicos dos trabalhadores. O que é central agora para a UAW é saber como se reestruturar a si própria para se tornar de novo num motor de luta capaz de impor o direito dos seus associados ao trabalho.
Fonte: Site Informação Alternativa.
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
domingo, 30 de novembro de 2008
EUA, AMÉRICA LATINA E A CRISE.
Aos 31 anos, o indiano Parag Khanna chegou aonde poucos chegaram. Pesquisador da Fundação Nova América, foi um dos conselheiros de política externa da campanha vitoriosa de Barack Obama. Em 2007, concluiu uma volta ao mundo que durou dois anos, passou por 50 países e rendeu o livro Segundo Mundo - Impérios e Influência na Nova Ordem Global (560 páginas, editora Atlas), que será lançado amanhã no Brasil.
Khanna diz que vivemos em um mundo multipolar dominado por três impérios: EUA, Europa e China, que tentam construir suas esferas de influência. O jogo será decidido por uma amálgama de nações emergentes - Índia, Rússia e Brasil, entre outras -, que serão o fiel da balança em um novo equilíbrio de poder.
(…) Você escreveu seu livro antes da crise financeira dos EUA e da vitória russa na guerra da Ossétia. Sua visão da geopolítica mundial ainda é a mesma?
É. A Rússia não faz parte do “G-3″. De jeito nenhum. Ela representa uma fração mínima da economia mundial e sua saúde financeira piorou após a invasão da Geórgia. (…) A Rússia nunca mais será uma superpotência.
E a crise americana alterou sua opinião em alguma medida?
Não. Há algum tempo venho enfatizando a falência da economia americana. Com o crescimento de outros modelos capitalistas na Europa e na China, o fim da hegemonia dos EUA era inevitável.
(…) Você acha que o novo governo se reaproximará da América Latina?
Os EUA terão de se aproximar da América Latina. Principalmente se quiserem competir com a Ásia. Isso ocorrerá quando Washington acordar para a necessidade de obter energias alternativas e novas parcerias industriais.
(…) Como será a relação de Obama com Cuba?
Obama deixou claro que haverá mudanças. Acho que EUA e Cuba estão mais próximos do diálogo do que do isolamento. O mesmo vale para o Irã.
Que papel terá o Brasil nessa nova ordem?
Estou muito otimista quanto ao Brasil por causa de sua economia diversificada, de seu corpo diplomático altamente treinado e muitas outras razões. Acho que o Brasil será protagonista em muitas áreas, como meio ambiente, comércio e desenvolvimento.
Fonte:Blog do Desemprego Zero.
Khanna diz que vivemos em um mundo multipolar dominado por três impérios: EUA, Europa e China, que tentam construir suas esferas de influência. O jogo será decidido por uma amálgama de nações emergentes - Índia, Rússia e Brasil, entre outras -, que serão o fiel da balança em um novo equilíbrio de poder.
(…) Você escreveu seu livro antes da crise financeira dos EUA e da vitória russa na guerra da Ossétia. Sua visão da geopolítica mundial ainda é a mesma?
É. A Rússia não faz parte do “G-3″. De jeito nenhum. Ela representa uma fração mínima da economia mundial e sua saúde financeira piorou após a invasão da Geórgia. (…) A Rússia nunca mais será uma superpotência.
E a crise americana alterou sua opinião em alguma medida?
Não. Há algum tempo venho enfatizando a falência da economia americana. Com o crescimento de outros modelos capitalistas na Europa e na China, o fim da hegemonia dos EUA era inevitável.
(…) Você acha que o novo governo se reaproximará da América Latina?
Os EUA terão de se aproximar da América Latina. Principalmente se quiserem competir com a Ásia. Isso ocorrerá quando Washington acordar para a necessidade de obter energias alternativas e novas parcerias industriais.
(…) Como será a relação de Obama com Cuba?
Obama deixou claro que haverá mudanças. Acho que EUA e Cuba estão mais próximos do diálogo do que do isolamento. O mesmo vale para o Irã.
Que papel terá o Brasil nessa nova ordem?
Estou muito otimista quanto ao Brasil por causa de sua economia diversificada, de seu corpo diplomático altamente treinado e muitas outras razões. Acho que o Brasil será protagonista em muitas áreas, como meio ambiente, comércio e desenvolvimento.
Fonte:Blog do Desemprego Zero.
ADAM SMITH E MARX DIALOGAM SOBRE O DESMONTE DO CAPITALISMO FINANCEIRO.
"O que aconteceu nos últimos 30 anos no mundo vai contra tudo o que tu e eu, como economistas e como filósofos morais, queríamos", diz Adam Smith a Karl Marx", num diálogo imaginado pelo professor Antoni Domènech, professor de Filosofia da Universidade de Barcelona. No diálogo, eles conversam sobre a situação do capitalismo, defendem a atividade econômica geradora de riqueza e criticam os parasitas rentistas que buscam o lucro a qualquer preço.
Antoni Domènech - Sin Permiso
O professor Antoni Domènech, catedrático de Filosofia Moral na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Barcelona e editor da revista SinPermiso, produziu um diálogo fictício entre Adam Smith e Karl Marx sobre a crise atual do capitalismo.
Karl Marx: Viste, velho, que esse menino, Joseph Stiglitz, anda dizendo por aí que o colapso de Wall Street equivale à queda do Muro de Berlim e do socialismo real?
Adam Smith: Não é para ficar contente, nem eu nem tu. E tu, menos ainda que eu, Carlos.
Karl Marx: Cara, por conta do suicídio do capitalismo financeiro, meu nome voltou a estar na moda; meus livros, segundo informa o The Guardian, se esgotam. Até os mais conservadores, como o ministro das finanças da Alemanha, reconhecem que em minha teoria econômica há algo que ainda vale à pena levar em conta...
Adam Smith: Não me venhas agora com vaidades acadêmicas mesquinhas post mortem, Carlinhos, já que em vida jamais te abandonaste a esse tipo de coisa. Eu falo num sentido mais fundamental, mais político. Nenhum dos dois pode estar contente e, te repito, tu menos ainda que eu.
Karl Marx: Sim, e aí?
Adam Smith: O “socialismo real” que se construiu em teu nome e não tinha nada a ver contigo. Pelo menos tu, sim, te identificaste como “socialista”. Eu, por outro lado, nem sequer jamais chamei a mim mesmo de “liberal”! Isso de “liberalismo” é uma coisa do século XIX (a palavra, como tu sabes, foi inventada pelos espanhóis em 1812), e vão e a atribuem a mim, um cara que morreu oportunamente em 1793. É ridículo!Como isso foi me acontecer?
Karl Marx: Já vejo por onde estás indo. Queres dizer que nem a queda do Muro de Berlim nem o colapso do capitalismo financeiro em 2008 têm muito a ver nem contigo nem comigo, mas que, ainda assim, nos jogam as responsabilidades?
Adam Smith: Exatamente. Mas em teu caso é pior, Carlos. Porque tu, sim, te disseste socialista. A mim pouco importa o “liberalismo”, qualquer liberalismo. Não há o que explicar a ti, precisamente um de meus discípulos mais inteligentes, que nem minha teoria econômica nem minha filosofia moral tinham nada a ver com o tipo de ciência econômica, positiva e normativa, que começou a impor-se nos teus últimos anos de vida, isso a que tu ainda chegaste a chamar “economia vulgar” e que tanto agradou aos liberais de tipo decimonônico.
Karl Marx: Claro, tu e eu ainda fomos clássicos. Depois veio essa caterva vulgar de neoclássicos, incapazes de distinguir qualquer coisa.
Adam Smith: Por exemplo, entre atividades produtivas e improdutivas, entre atividades que geram valor e riqueza tangível e atividades econômicas que se limitam a obter rendas não resultantes de trabalho (rendas derivadas da propriedade de bens imóveis, rendas derivadas dos patrimônios financeiros, rendas resultantes de operações em mercados não-livres, monopólicos ou oligopólicos). Nunca deixou de me impressionar a agudeza com que elaboraste criticamente algumas dessas minhas distinções, por exemplo, nas teorias da mais-valia.
Karl Marx: É evidente. Tu falaste repetidas vezes da necessidade imperiosa de intervir publicamente em favor da atividade econômica produtiva. Isso é o que para ti significava “mercado livre”; nada a ver com o imperativo de paralisia pública dos liberais e dos economistas vulgares, incapazes de distinguir entre atividade econômica geradora de riqueza e atividade parasitária visando ao lucro.
Adam Smith: Em meu mercado livre os lucros das empresas verdadeiramente competitivas e produtivas e os salários dos trabalhadores dessas empresas nem sequer teriam que ser tributados. Em troca, para manter um mercado livre no sentido em que defendo, os governos deveriam matar de impostos os lucros imobiliários, financeiros e todas as rendas monopólicas...
Karl Marx: Quer dizer, a tudo o que, depois de terem dado a mim por morto, e em teu nome, Adam, em teu nome!, se fez com que deixassem de pagar impostos nos últimos 25 anos. Haja saco!
Adam Smith: Haja saco, Carlos! Porque o que eu disse é que uma economia verdadeiramente livre, na medida em que estimulasse a riqueza tangível podia gerar - graças, entre outras coisas, a um tratamento fiscal agressivo do parasitismo rentista e da pseudo-riqueza intangível - amplos recursos públicos que poderiam ser destinados a serviços sociais, à promoção da arte e da ciência básica – que é, como a arte, incompatível com o lucro privado -, a estabelecer uma renda básica universal e incondicional de cidadania, como queria meu conterrâneo Tom Paine, etc. Vês, já, Carlos: eu, que não passei de um modesto republicano whig (1) de meu tempo, agora, se quatro preguiçosos, ainda que ignorantes, professorzinhos não me falseassem, e se lessem com conhecimento histórico de causa, até poderia passar por um perigosíssimo socialista dos teus. E te direi, e há de ficar entre nós, que, considerando o que temos visto, a tua companhia resulta bastante grata a mim...
Karl Marx: Na realidade, todo o teu conhecimento, como o de tantos republicanos atlânticos de tua geração, foi posto a serviço do princípio enunciado pelo grande florentino mal-afamado, a saber: que a liberdade republicana não pode florescer em nenhum povo que consinta com a aparição de magnatas e senhores [gentilhuomini], capazes de desafiar a república. E só assim se vê como a falsificação, em teu caso, é pior que no meu: o “socialismo real” abusou aberrantemente da palavra “socialismo”, dando cabimento ao regozijo de meus inimigos; mas tu nem chegaste a te inteirar sobre o que era esse tal de “liberalismo”!
Adam Smith: Quem não se consola é porque não quer, Carlos. O certo é que o que aconteceu nos últimos 30 anos no mundo vai contra tudo o que tu e eu, como economistas e como filósofos morais, queríamos. Olha esses pobres espanhóis, inventores do termo “liberalismo”. A ti e a mim importava sobretudo a distribuição funcional do produto social (isso a que agora tratam como PIB): pois bem, a proporção da massa salarial em relação ao PIB não parou de baixar, na Espanha, e seguiu baixando inclusive depois que o partido até há muito pouco tempo se dizia marxista voltou a assumir o governo em 2004...
Karl Marx: Sim, sim, um horror...Mas é que quando esses meninos supostamente me abandonaram por ti e passaram a se chamar “social-liberais” no começo dos anos 80, o que fizeram foi uma coisa que também teria te deixado de cabelo em pé. Observa que não só retrocedeu a proporção da massa salarial em relação ao PIB, senão que, na Espanha do pelotazo (2) e do enrichisez-vous (3) de Felipe González, o mesmo que na Argentina da “pizza e do champanhe” de Menem e em quase todo o mundo, os lucros empresariais propriamente ditos também começaram a retroceder também em relação aos rendimentos imobiliários, financeiros e as rendas monopólicas, no PIB...
Adam Smith: Como nos arrebentaram, Carlos!
Karl Marx: Não te desesperes, Adam. A história é caprichosa e, quem sabe seja melhor, agora, que comecem a nos levar a sério. Observa que acabaram de dar o Prêmio Nobel a um menino bem danado, que há anos estuda a competição monopólica e resgata Chamberlain e Keynes, esses caras que ao menos se esforçaram para nos entender, a ti e a mim, nos anos 30 do século XX, e que queriam promover a “eutanásia do rentista”...
Adam Smith: - Eu fui um republicano whig bastante cético, Carlos. Não vivi o movimento dos trabalhadores dos séculos XIX e XX e a epopéia de sua luta pela democracia. Não posso entregar-me tão facilmente ao Princípio Esperança (4) daquele famoso discípulo teu, agora, certamente, quase esquecido.
Tradução: Katarina Peixoto
Notas
(1) O Whig Party era o partido que reunia as tendências liberais no Reino Unido e se contrapunha ao Tory Party, dos conservadores. Whig (ou Whigs) é uma expressão de origem popular que se tornou termo corrente na designação do partido liberal no Reino Unido. Esta corrente contribuiu para a formação do atual Partido Democrata Liberal – Liberal Democrats. Também está presente em algumas vertentes do Partido Trabalhista inglês-Labour Party. É profundamente relacionado ao protestantismo calvinista, na sua forma presbiteriana, das sociedades escocesa inglesa. Tem origem nas forças políticas escocesas e inglesas que lutaram a favor de um regime parlamentar protestante: o Whig Party.
O Whig Party foi um dos partidos mais influentes no sistema parlamentar britânico até o fim da Primeira Guerra Mundial, alternando com os Tories na formação do governo britânico. Depois da Primeira Guerra, o partido perdeu importância e foi praticamente substituído pelo partido trabalhista (Labour Party) na alternância do poder político no Reino Unido com os Tories.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Whig_(Reino_Unido) N.deT.
(2) A cultura do pelotazo, na Espanha, refere-se ao enriquecimento rápido e sem esforço.
(3) Expressão atribuída historicamente a uma suposta afirmação do historiador e político francês François Guizot (1787-1874). Num contexto de restauração de forças conservadoras no poder francês, teria Guizot, segundo consta na tradição do anedotário político, expressado seu entendimento da agenda revolucionária de 1789. Consta que, logo após ter assumido a chefia efetiva do governo, por volta de 1840, ele pronunciou: “Esclareçam-se, enriqueçam, melhorem a condição moral e material da nossa França”. Para outros, Guizot disse isto: “Enriqueçam para o trabalho e para a indulgência e serão eleitores”, respondendo aos detratores do voto censitário. A expressão passou então a ser usada como descrição de um comportamento cínico e privatista, como parece ser o caso nesse diálogo. N.deT.
(4) O Princípio Esperança (editado no Brasil pela Contraponto) é o trabalho mais famoso de Ernst Bloch, de 1959. Sobre Bloch, são dignas de reprodução as seguintes considerações de Michael Löwy: “Teólogo da revolução” e filósofo da esperança, amigo de juventude de Lukács e Walter Benjamin, Ernst Bloch designa a si próprio como um pensador romântico revolucionário. Nascido na cidade industrial de Ludwigschafen, sede da IG Farben (Importante Empresa Química), olhava com espanto e admiração a cidade vizinha, Manheim, velho centro cultural e religioso; como dirá mais tarde numa entrevista autobiográfica, esse contraste entre “a aparência feia, despida e sem delicadeza do capitalismo tardio” - símbolo do “caráter-de-estação-de-trens” (Bahnfof-shaftigkeit) de nossa vida moderna e a antiga cidade do outro lado do Reno, símbolo da “mais radiante história medieval” e do “Santo Império Romano Germânico”, deixou uma profunda marca em seu espírito.
Leitor entusiasta de Schelling desde a adolescência, aluno do sociólogo neo-romântico (judeu) Georg Simmel, em Berlim, Bloch irá participar durante alguns anos (com Lukács) do Círculo Max Weber de Heidelberg, um dos principais núcleos do romantismo anticapitalista nos meios universitários alemães. Testemunhos da época o descrevem como um “judeu apocalíptico catolicizante”, ou como “um novo filósofo judeu...” que se acreditava, com toda evidência, precursor de um novo Messias./ Por essa época (1910-17), havia uma profunda comunhão espiritual entre Bloch e Lukács, de que é possível acompanhar os vestígios em seus primeiros escritos. Segundo Bloch (na entrevista que me concedeu em 1974), “éramos como vasos comunicantes; a água encontrava-se sempre à mesma altura nas duas colunas”. Foi graças a Lukács que ele se iniciou no universo religioso de Mestre Eckhart, Kierkegaard e Dostoiévski – três fontes decisivas para sua evolução espirital. ”In: Redenção e Utopia: o judaísmo libertário na Europa central (Um estudo de afinidade eletiva)”. Trad. Paulo Neves, São Paulo, SP, Companhia das Letras, 1989, p. 120). N. de T.
Fonte:Agência Carta Maior.
Antoni Domènech - Sin Permiso
O professor Antoni Domènech, catedrático de Filosofia Moral na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Barcelona e editor da revista SinPermiso, produziu um diálogo fictício entre Adam Smith e Karl Marx sobre a crise atual do capitalismo.
Karl Marx: Viste, velho, que esse menino, Joseph Stiglitz, anda dizendo por aí que o colapso de Wall Street equivale à queda do Muro de Berlim e do socialismo real?
Adam Smith: Não é para ficar contente, nem eu nem tu. E tu, menos ainda que eu, Carlos.
Karl Marx: Cara, por conta do suicídio do capitalismo financeiro, meu nome voltou a estar na moda; meus livros, segundo informa o The Guardian, se esgotam. Até os mais conservadores, como o ministro das finanças da Alemanha, reconhecem que em minha teoria econômica há algo que ainda vale à pena levar em conta...
Adam Smith: Não me venhas agora com vaidades acadêmicas mesquinhas post mortem, Carlinhos, já que em vida jamais te abandonaste a esse tipo de coisa. Eu falo num sentido mais fundamental, mais político. Nenhum dos dois pode estar contente e, te repito, tu menos ainda que eu.
Karl Marx: Sim, e aí?
Adam Smith: O “socialismo real” que se construiu em teu nome e não tinha nada a ver contigo. Pelo menos tu, sim, te identificaste como “socialista”. Eu, por outro lado, nem sequer jamais chamei a mim mesmo de “liberal”! Isso de “liberalismo” é uma coisa do século XIX (a palavra, como tu sabes, foi inventada pelos espanhóis em 1812), e vão e a atribuem a mim, um cara que morreu oportunamente em 1793. É ridículo!Como isso foi me acontecer?
Karl Marx: Já vejo por onde estás indo. Queres dizer que nem a queda do Muro de Berlim nem o colapso do capitalismo financeiro em 2008 têm muito a ver nem contigo nem comigo, mas que, ainda assim, nos jogam as responsabilidades?
Adam Smith: Exatamente. Mas em teu caso é pior, Carlos. Porque tu, sim, te disseste socialista. A mim pouco importa o “liberalismo”, qualquer liberalismo. Não há o que explicar a ti, precisamente um de meus discípulos mais inteligentes, que nem minha teoria econômica nem minha filosofia moral tinham nada a ver com o tipo de ciência econômica, positiva e normativa, que começou a impor-se nos teus últimos anos de vida, isso a que tu ainda chegaste a chamar “economia vulgar” e que tanto agradou aos liberais de tipo decimonônico.
Karl Marx: Claro, tu e eu ainda fomos clássicos. Depois veio essa caterva vulgar de neoclássicos, incapazes de distinguir qualquer coisa.
Adam Smith: Por exemplo, entre atividades produtivas e improdutivas, entre atividades que geram valor e riqueza tangível e atividades econômicas que se limitam a obter rendas não resultantes de trabalho (rendas derivadas da propriedade de bens imóveis, rendas derivadas dos patrimônios financeiros, rendas resultantes de operações em mercados não-livres, monopólicos ou oligopólicos). Nunca deixou de me impressionar a agudeza com que elaboraste criticamente algumas dessas minhas distinções, por exemplo, nas teorias da mais-valia.
Karl Marx: É evidente. Tu falaste repetidas vezes da necessidade imperiosa de intervir publicamente em favor da atividade econômica produtiva. Isso é o que para ti significava “mercado livre”; nada a ver com o imperativo de paralisia pública dos liberais e dos economistas vulgares, incapazes de distinguir entre atividade econômica geradora de riqueza e atividade parasitária visando ao lucro.
Adam Smith: Em meu mercado livre os lucros das empresas verdadeiramente competitivas e produtivas e os salários dos trabalhadores dessas empresas nem sequer teriam que ser tributados. Em troca, para manter um mercado livre no sentido em que defendo, os governos deveriam matar de impostos os lucros imobiliários, financeiros e todas as rendas monopólicas...
Karl Marx: Quer dizer, a tudo o que, depois de terem dado a mim por morto, e em teu nome, Adam, em teu nome!, se fez com que deixassem de pagar impostos nos últimos 25 anos. Haja saco!
Adam Smith: Haja saco, Carlos! Porque o que eu disse é que uma economia verdadeiramente livre, na medida em que estimulasse a riqueza tangível podia gerar - graças, entre outras coisas, a um tratamento fiscal agressivo do parasitismo rentista e da pseudo-riqueza intangível - amplos recursos públicos que poderiam ser destinados a serviços sociais, à promoção da arte e da ciência básica – que é, como a arte, incompatível com o lucro privado -, a estabelecer uma renda básica universal e incondicional de cidadania, como queria meu conterrâneo Tom Paine, etc. Vês, já, Carlos: eu, que não passei de um modesto republicano whig (1) de meu tempo, agora, se quatro preguiçosos, ainda que ignorantes, professorzinhos não me falseassem, e se lessem com conhecimento histórico de causa, até poderia passar por um perigosíssimo socialista dos teus. E te direi, e há de ficar entre nós, que, considerando o que temos visto, a tua companhia resulta bastante grata a mim...
Karl Marx: Na realidade, todo o teu conhecimento, como o de tantos republicanos atlânticos de tua geração, foi posto a serviço do princípio enunciado pelo grande florentino mal-afamado, a saber: que a liberdade republicana não pode florescer em nenhum povo que consinta com a aparição de magnatas e senhores [gentilhuomini], capazes de desafiar a república. E só assim se vê como a falsificação, em teu caso, é pior que no meu: o “socialismo real” abusou aberrantemente da palavra “socialismo”, dando cabimento ao regozijo de meus inimigos; mas tu nem chegaste a te inteirar sobre o que era esse tal de “liberalismo”!
Adam Smith: Quem não se consola é porque não quer, Carlos. O certo é que o que aconteceu nos últimos 30 anos no mundo vai contra tudo o que tu e eu, como economistas e como filósofos morais, queríamos. Olha esses pobres espanhóis, inventores do termo “liberalismo”. A ti e a mim importava sobretudo a distribuição funcional do produto social (isso a que agora tratam como PIB): pois bem, a proporção da massa salarial em relação ao PIB não parou de baixar, na Espanha, e seguiu baixando inclusive depois que o partido até há muito pouco tempo se dizia marxista voltou a assumir o governo em 2004...
Karl Marx: Sim, sim, um horror...Mas é que quando esses meninos supostamente me abandonaram por ti e passaram a se chamar “social-liberais” no começo dos anos 80, o que fizeram foi uma coisa que também teria te deixado de cabelo em pé. Observa que não só retrocedeu a proporção da massa salarial em relação ao PIB, senão que, na Espanha do pelotazo (2) e do enrichisez-vous (3) de Felipe González, o mesmo que na Argentina da “pizza e do champanhe” de Menem e em quase todo o mundo, os lucros empresariais propriamente ditos também começaram a retroceder também em relação aos rendimentos imobiliários, financeiros e as rendas monopólicas, no PIB...
Adam Smith: Como nos arrebentaram, Carlos!
Karl Marx: Não te desesperes, Adam. A história é caprichosa e, quem sabe seja melhor, agora, que comecem a nos levar a sério. Observa que acabaram de dar o Prêmio Nobel a um menino bem danado, que há anos estuda a competição monopólica e resgata Chamberlain e Keynes, esses caras que ao menos se esforçaram para nos entender, a ti e a mim, nos anos 30 do século XX, e que queriam promover a “eutanásia do rentista”...
Adam Smith: - Eu fui um republicano whig bastante cético, Carlos. Não vivi o movimento dos trabalhadores dos séculos XIX e XX e a epopéia de sua luta pela democracia. Não posso entregar-me tão facilmente ao Princípio Esperança (4) daquele famoso discípulo teu, agora, certamente, quase esquecido.
Tradução: Katarina Peixoto
Notas
(1) O Whig Party era o partido que reunia as tendências liberais no Reino Unido e se contrapunha ao Tory Party, dos conservadores. Whig (ou Whigs) é uma expressão de origem popular que se tornou termo corrente na designação do partido liberal no Reino Unido. Esta corrente contribuiu para a formação do atual Partido Democrata Liberal – Liberal Democrats. Também está presente em algumas vertentes do Partido Trabalhista inglês-Labour Party. É profundamente relacionado ao protestantismo calvinista, na sua forma presbiteriana, das sociedades escocesa inglesa. Tem origem nas forças políticas escocesas e inglesas que lutaram a favor de um regime parlamentar protestante: o Whig Party.
O Whig Party foi um dos partidos mais influentes no sistema parlamentar britânico até o fim da Primeira Guerra Mundial, alternando com os Tories na formação do governo britânico. Depois da Primeira Guerra, o partido perdeu importância e foi praticamente substituído pelo partido trabalhista (Labour Party) na alternância do poder político no Reino Unido com os Tories.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Whig_(Reino_Unido) N.deT.
(2) A cultura do pelotazo, na Espanha, refere-se ao enriquecimento rápido e sem esforço.
(3) Expressão atribuída historicamente a uma suposta afirmação do historiador e político francês François Guizot (1787-1874). Num contexto de restauração de forças conservadoras no poder francês, teria Guizot, segundo consta na tradição do anedotário político, expressado seu entendimento da agenda revolucionária de 1789. Consta que, logo após ter assumido a chefia efetiva do governo, por volta de 1840, ele pronunciou: “Esclareçam-se, enriqueçam, melhorem a condição moral e material da nossa França”. Para outros, Guizot disse isto: “Enriqueçam para o trabalho e para a indulgência e serão eleitores”, respondendo aos detratores do voto censitário. A expressão passou então a ser usada como descrição de um comportamento cínico e privatista, como parece ser o caso nesse diálogo. N.deT.
(4) O Princípio Esperança (editado no Brasil pela Contraponto) é o trabalho mais famoso de Ernst Bloch, de 1959. Sobre Bloch, são dignas de reprodução as seguintes considerações de Michael Löwy: “Teólogo da revolução” e filósofo da esperança, amigo de juventude de Lukács e Walter Benjamin, Ernst Bloch designa a si próprio como um pensador romântico revolucionário. Nascido na cidade industrial de Ludwigschafen, sede da IG Farben (Importante Empresa Química), olhava com espanto e admiração a cidade vizinha, Manheim, velho centro cultural e religioso; como dirá mais tarde numa entrevista autobiográfica, esse contraste entre “a aparência feia, despida e sem delicadeza do capitalismo tardio” - símbolo do “caráter-de-estação-de-trens” (Bahnfof-shaftigkeit) de nossa vida moderna e a antiga cidade do outro lado do Reno, símbolo da “mais radiante história medieval” e do “Santo Império Romano Germânico”, deixou uma profunda marca em seu espírito.
Leitor entusiasta de Schelling desde a adolescência, aluno do sociólogo neo-romântico (judeu) Georg Simmel, em Berlim, Bloch irá participar durante alguns anos (com Lukács) do Círculo Max Weber de Heidelberg, um dos principais núcleos do romantismo anticapitalista nos meios universitários alemães. Testemunhos da época o descrevem como um “judeu apocalíptico catolicizante”, ou como “um novo filósofo judeu...” que se acreditava, com toda evidência, precursor de um novo Messias./ Por essa época (1910-17), havia uma profunda comunhão espiritual entre Bloch e Lukács, de que é possível acompanhar os vestígios em seus primeiros escritos. Segundo Bloch (na entrevista que me concedeu em 1974), “éramos como vasos comunicantes; a água encontrava-se sempre à mesma altura nas duas colunas”. Foi graças a Lukács que ele se iniciou no universo religioso de Mestre Eckhart, Kierkegaard e Dostoiévski – três fontes decisivas para sua evolução espirital. ”In: Redenção e Utopia: o judaísmo libertário na Europa central (Um estudo de afinidade eletiva)”. Trad. Paulo Neves, São Paulo, SP, Companhia das Letras, 1989, p. 120). N. de T.
Fonte:Agência Carta Maior.
GASTRONOMIA - Retalhos de Viagem.
Lecticia Cavalcanti
Oliver Roellinger, um dos maiores chefs da França, passou toda a vida em busca das três estrelas do Guia Michelin - a maior distinção, para qualquer chef do mundo. Assim deixaria seu nome na história da culinária francesa, junto a Paul Bocuse, Pierre Troigros, Michel Guérard, Joël Robuchon. Em 2006, afinal realizou seu sonho. E ganhou ainda mais clientes. Só que tudo tem seu preço. E, junto com honra e fama, vieram também estresse, fadiga, insônia, úlcera.
Agora, sábado 8 de novembro, o Le Fígaro deu em manchete que Roellinger decidiu fechar seu restaurante especializado em frutos do mar. O Maison de Bricourt, em Concale (Noroeste da França), passará a ser só mais uma saborosa lembrança. "Depois de 26 anos de felicidade à frente dos fogões, todo dia me custa mais assumir fisicamente minhas tarefas cotidianas", confessou ele.
Não será o primeiro a abandonar as cobiçadas estrelas. Antes dele vieram Joël Robuchon (em 1996) considerado o "chef do século"; seguido por Alain Senderens (em 2005) e Alain Westermann (em 2006). "Vou escrever um novo capítulo de minha vida", assim encerrou a entrevista. Os clientes vão reclamar. Mas seu retrato, no jornal, era o de um homem feliz.
***
Le Relais de Venice, mais conhecido como L'Entrecôte, é um charmoso restaurante de Paris - 271, Boulevard Pereire. É muito especial e diferente de todos os outros. Porque, desde 1959, serve apenas um prato - entrecôte (contra-filé) com molho de estragão acompanhado de batatas fritas crocantes e douradas. Como entrada, salada verde com molho vinagrete e nozes.
A garçonete, ao lhe servir, fará só duas perguntas. Uma no começo, sobre o ponto da carne - bleu (muito mal passada), saignant (mal passada), à point (ao ponto) e bien cuit (bem passada). Outra, no fim, para escolher a sobremesa - profiterolles au chocolat, gâteau du relais, semi freddo au Grand Marnier, tulipe de pêches et abricots Melba, creme brûllé du jour, sorbet au cassis.
O restaurante abre todos os dias, com horário bem rígido: almoço, das 12h às 14h; e jantar, das 19h às 22:45 h. Não aceita reservas. E tem, invariavelmente, filas enormes. Para conseguir sentar em uma de suas mesas pequenas e bem apertadas tem antes que esperar em pé na fila. Democraticamente. O segredo de tanto sucesso está na carne, muito macia; e, sobretudo, no molho, muito especial - invenção de Paul Gineste de Saurs, primeiro dono do restaurante.
A receita é guardada cuidadosamente, num cofre, por seus descendentes. O Le Monde até arriscou um palpite; dizendo ter, entre seus ingredientes, fígado de galinha e grande quantidade de manteiga. Tudo, claro, logo negado por Mme. Godilot, herdeira e atual proprietária do restaurante. Para completar, ele não é caro. Quando for a Paris não perca esse jantar.
***
Um dos melhores restaurantes de Lisboa é a Adega de Tia Matilde - Rua da Beneficência, 77, Praça de Espanha. Lá, além dos pratos, há a vantagem insuperável de ter poucos turistas. Você, quase certamente, vai encontrar o ex-jogador Eusébio, freqüentador assíduo do lugar. No início, era apenas uma taverna onde trabalhadores se reuniam depois do expediente. Tudo começou com Dona Matilde, claro. Depois que morreu, assumiu seu filho Emílio e a nora Dona Isabel Andrade - uma exímia cozinheira.
Aos poucos, aquela taverna simples se converteu em restaurante de prestígio. Acontece que comida e paixão, tantas vezes, andam juntas. E o galante Emílio acabou se apaixonando por uma das ajudantes de cozinha. Dona Isabel, coitada, não resistiu e morreu. De desgosto, segundo dizem. Mas o restaurante sobreviveu. Hoje, a cozinha é comandada por três cozinheiras que aprenderam tudo com ela. Emílio continua recebendo os clientes; e sua filha, também Matilde, toma conta do caixa.
O ambiente é simples e a comida muito especial. Como entrada, recomenda-se patanisca, gambas cozidas, amêijoa à Bulhões Pato, carapauzinhos fritos. Como prato principal, bacalhau assado com batatas ao murro, garoupa no tacho, arroz de Tamboril, isca de porco a portuguesa, febras de porco na grelha, bife à tia Matilde. Finalmente, como sobremesa, torta folhada de maçã, marmelo assado, arroz doce, montanha russa, trouxa de ovos. É visita obrigatória.
***
RECEITA: BACALHAU ASSADO COM BATATAS AO MURRO
INGREDIENTES:
4 postas de bacalhau demolhado
2 cebolas
4 dentes de alho
300 ml de azeite
1 kg de batatas
1 raminho de salsa
100 g de azeitonas pretas
Sal grosso
PREPARO:
- Em um refratário, coloque as postas de bacalhau demolhado, as cebolas cortadas e os alhos picados. Regue com azeite. Leve ao forno, até que o bacalhau esteja cozido e dourado (aproximadamente 40 minutos).
Em outro refratário, coloque as batatas (com casca) polvilhadas com sal grosso e azeite. Leve ao forno. Quando estiverem cozidas, retire do forno e dê um murro (literalmente) em cada uma. Coloque essas batatas junto ao bacalhau. Regue com azeite. Decore com a salsa e as azeitonas. E sirva logo.
Lecticia Cavalcanti coordena o caderno Sabores da Folha de Pernambuco, escreve na Revista Continente Multicultural e no site pe.360graus.
Fale com Lecticia Cavalcanti: lecticia.cavalcanti@terra.com.br
Fonte:Site Terra Magazine.
Oliver Roellinger, um dos maiores chefs da França, passou toda a vida em busca das três estrelas do Guia Michelin - a maior distinção, para qualquer chef do mundo. Assim deixaria seu nome na história da culinária francesa, junto a Paul Bocuse, Pierre Troigros, Michel Guérard, Joël Robuchon. Em 2006, afinal realizou seu sonho. E ganhou ainda mais clientes. Só que tudo tem seu preço. E, junto com honra e fama, vieram também estresse, fadiga, insônia, úlcera.
Agora, sábado 8 de novembro, o Le Fígaro deu em manchete que Roellinger decidiu fechar seu restaurante especializado em frutos do mar. O Maison de Bricourt, em Concale (Noroeste da França), passará a ser só mais uma saborosa lembrança. "Depois de 26 anos de felicidade à frente dos fogões, todo dia me custa mais assumir fisicamente minhas tarefas cotidianas", confessou ele.
Não será o primeiro a abandonar as cobiçadas estrelas. Antes dele vieram Joël Robuchon (em 1996) considerado o "chef do século"; seguido por Alain Senderens (em 2005) e Alain Westermann (em 2006). "Vou escrever um novo capítulo de minha vida", assim encerrou a entrevista. Os clientes vão reclamar. Mas seu retrato, no jornal, era o de um homem feliz.
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Le Relais de Venice, mais conhecido como L'Entrecôte, é um charmoso restaurante de Paris - 271, Boulevard Pereire. É muito especial e diferente de todos os outros. Porque, desde 1959, serve apenas um prato - entrecôte (contra-filé) com molho de estragão acompanhado de batatas fritas crocantes e douradas. Como entrada, salada verde com molho vinagrete e nozes.
A garçonete, ao lhe servir, fará só duas perguntas. Uma no começo, sobre o ponto da carne - bleu (muito mal passada), saignant (mal passada), à point (ao ponto) e bien cuit (bem passada). Outra, no fim, para escolher a sobremesa - profiterolles au chocolat, gâteau du relais, semi freddo au Grand Marnier, tulipe de pêches et abricots Melba, creme brûllé du jour, sorbet au cassis.
O restaurante abre todos os dias, com horário bem rígido: almoço, das 12h às 14h; e jantar, das 19h às 22:45 h. Não aceita reservas. E tem, invariavelmente, filas enormes. Para conseguir sentar em uma de suas mesas pequenas e bem apertadas tem antes que esperar em pé na fila. Democraticamente. O segredo de tanto sucesso está na carne, muito macia; e, sobretudo, no molho, muito especial - invenção de Paul Gineste de Saurs, primeiro dono do restaurante.
A receita é guardada cuidadosamente, num cofre, por seus descendentes. O Le Monde até arriscou um palpite; dizendo ter, entre seus ingredientes, fígado de galinha e grande quantidade de manteiga. Tudo, claro, logo negado por Mme. Godilot, herdeira e atual proprietária do restaurante. Para completar, ele não é caro. Quando for a Paris não perca esse jantar.
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Um dos melhores restaurantes de Lisboa é a Adega de Tia Matilde - Rua da Beneficência, 77, Praça de Espanha. Lá, além dos pratos, há a vantagem insuperável de ter poucos turistas. Você, quase certamente, vai encontrar o ex-jogador Eusébio, freqüentador assíduo do lugar. No início, era apenas uma taverna onde trabalhadores se reuniam depois do expediente. Tudo começou com Dona Matilde, claro. Depois que morreu, assumiu seu filho Emílio e a nora Dona Isabel Andrade - uma exímia cozinheira.
Aos poucos, aquela taverna simples se converteu em restaurante de prestígio. Acontece que comida e paixão, tantas vezes, andam juntas. E o galante Emílio acabou se apaixonando por uma das ajudantes de cozinha. Dona Isabel, coitada, não resistiu e morreu. De desgosto, segundo dizem. Mas o restaurante sobreviveu. Hoje, a cozinha é comandada por três cozinheiras que aprenderam tudo com ela. Emílio continua recebendo os clientes; e sua filha, também Matilde, toma conta do caixa.
O ambiente é simples e a comida muito especial. Como entrada, recomenda-se patanisca, gambas cozidas, amêijoa à Bulhões Pato, carapauzinhos fritos. Como prato principal, bacalhau assado com batatas ao murro, garoupa no tacho, arroz de Tamboril, isca de porco a portuguesa, febras de porco na grelha, bife à tia Matilde. Finalmente, como sobremesa, torta folhada de maçã, marmelo assado, arroz doce, montanha russa, trouxa de ovos. É visita obrigatória.
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RECEITA: BACALHAU ASSADO COM BATATAS AO MURRO
INGREDIENTES:
4 postas de bacalhau demolhado
2 cebolas
4 dentes de alho
300 ml de azeite
1 kg de batatas
1 raminho de salsa
100 g de azeitonas pretas
Sal grosso
PREPARO:
- Em um refratário, coloque as postas de bacalhau demolhado, as cebolas cortadas e os alhos picados. Regue com azeite. Leve ao forno, até que o bacalhau esteja cozido e dourado (aproximadamente 40 minutos).
Em outro refratário, coloque as batatas (com casca) polvilhadas com sal grosso e azeite. Leve ao forno. Quando estiverem cozidas, retire do forno e dê um murro (literalmente) em cada uma. Coloque essas batatas junto ao bacalhau. Regue com azeite. Decore com a salsa e as azeitonas. E sirva logo.
Lecticia Cavalcanti coordena o caderno Sabores da Folha de Pernambuco, escreve na Revista Continente Multicultural e no site pe.360graus.
Fale com Lecticia Cavalcanti: lecticia.cavalcanti@terra.com.br
Fonte:Site Terra Magazine.
NATAL - Congresso reúne 150 papais noéis em Berlim.
Marcio Damasceno
De Berlim para a BBC Brasil
Um evento anual em Berlim, na Alemanha, reuniu cerca de 150 Papais Noéis para estimular e padronizar a atividade de quem trabalha como "bom velhinho".
O encontro é organizado anualmente por uma agência ligada às universidades berlinenses e tem o objetivo de treinar e motivar quem visita as casas alemãs como Papai Noel.
Veja aqui algumas fotos do evento
Durante o evento, a agência ainda avalia a vestimenta usada por cada participante. Por isso, os participantes que não comparecem com a fantasia completa são obrigados a retornar no próximo dia.
Entre os quesitos obrigatórios, estão a roupa vermelha e branca, feita de seda, malha ou pelúcia, um saco com presentes e um “livrinho de ouro”, com canções de Natal e conselhos para as crianças.
Pelo padrão adotado pela agência, o Papai Noel sem muitos cabelos brancos deve usar uma peruca. Além disso, eles não devem usar celulares, tênis, ou relógios de pulso e precisam bater na porta três vezes antes de entrar nas casas. A performance também inclui leitura de versos e canções para as crianças.
Prática
Entre os participantes da reunião deste ano estavam não só estudantes, mas pessoas de todas as idades, entre homens, mulheres e até crianças. As meninas podem acompanhar os Papais Noéis como anjos.
Durante o encontro, os Papais Noéis entoaram canções tradicionais de Natal e ouviram conselhos dos instrutores sobre como devem proceder durante suas visitas. Entre os exercícios, o grupo simulou situações no palco com a ajuda de voluntários da platéia e de um boneco.
Segundo dados da Studentenwerk de Berlim – agência ligada às faculdades de Berlim que oferece o serviço de Papai Noel - apenas na capital alemã, cerca de cinco mil famílias contratam anualmente os serviços dos Papais Noéis no período natalino.
Cada visita dura cerca de 20 minutos e custa aproximadamente 30 euros, caso não inclua a presença de anjinhos. Os Papais Noéis de Berlim conseguem ganhar entre 300 e 400 euros durante um dia de trabalho, indo de casa em casa.
Neste mês, nove agências de Papais Noéis da capital se reuniram para convencionar um código de conduta da categoria, com os mandamentos e proibições da classe.
O documento, que proíbe que seus membros fumem e blasfemem durante o trabalho, visa criar um 'selo de qualidade' e preservar as tradições na prestação de serviços natalinos.
Fonte:BBC BRASIL.
De Berlim para a BBC Brasil
Um evento anual em Berlim, na Alemanha, reuniu cerca de 150 Papais Noéis para estimular e padronizar a atividade de quem trabalha como "bom velhinho".
O encontro é organizado anualmente por uma agência ligada às universidades berlinenses e tem o objetivo de treinar e motivar quem visita as casas alemãs como Papai Noel.
Veja aqui algumas fotos do evento
Durante o evento, a agência ainda avalia a vestimenta usada por cada participante. Por isso, os participantes que não comparecem com a fantasia completa são obrigados a retornar no próximo dia.
Entre os quesitos obrigatórios, estão a roupa vermelha e branca, feita de seda, malha ou pelúcia, um saco com presentes e um “livrinho de ouro”, com canções de Natal e conselhos para as crianças.
Pelo padrão adotado pela agência, o Papai Noel sem muitos cabelos brancos deve usar uma peruca. Além disso, eles não devem usar celulares, tênis, ou relógios de pulso e precisam bater na porta três vezes antes de entrar nas casas. A performance também inclui leitura de versos e canções para as crianças.
Prática
Entre os participantes da reunião deste ano estavam não só estudantes, mas pessoas de todas as idades, entre homens, mulheres e até crianças. As meninas podem acompanhar os Papais Noéis como anjos.
Durante o encontro, os Papais Noéis entoaram canções tradicionais de Natal e ouviram conselhos dos instrutores sobre como devem proceder durante suas visitas. Entre os exercícios, o grupo simulou situações no palco com a ajuda de voluntários da platéia e de um boneco.
Segundo dados da Studentenwerk de Berlim – agência ligada às faculdades de Berlim que oferece o serviço de Papai Noel - apenas na capital alemã, cerca de cinco mil famílias contratam anualmente os serviços dos Papais Noéis no período natalino.
Cada visita dura cerca de 20 minutos e custa aproximadamente 30 euros, caso não inclua a presença de anjinhos. Os Papais Noéis de Berlim conseguem ganhar entre 300 e 400 euros durante um dia de trabalho, indo de casa em casa.
Neste mês, nove agências de Papais Noéis da capital se reuniram para convencionar um código de conduta da categoria, com os mandamentos e proibições da classe.
O documento, que proíbe que seus membros fumem e blasfemem durante o trabalho, visa criar um 'selo de qualidade' e preservar as tradições na prestação de serviços natalinos.
Fonte:BBC BRASIL.
COMPORTAMENTO - Britânico tenta viver um ano sem gastar ou receber dinheiro.
Mark Boyle.
Boyle vai viver em um trailer emprestado no oeste da Inglaterra.
Um economista britânico começou neste sábado um experimento social para tentar passar um ano sem gastar ou ganhar dinheiro.
Mark Boley, de 29 anos, faz parte de uma espécie de movimento conhecido na Grã-Bretanha como “Freeconomist” (economista livre, em tradução literal).
Durante os próximos doze meses, ele pretende morar em um trailer emprestado em uma floresta nas proximidades da cidade de Bristol, no oeste da Inglaterra.
O trailer é equipado com um painel solar e um fogão à lenha e o banheiro será um buraco no chão.
"Quero ver como é a vida sem ganhar dinheiro na civilização ocidental", diz Boley, que diz estar cansado do "destrutivo sistema capitalista" e acredita que pode fornecer seu conhecimento para conseguir o que precisar sem receber dinheiro em troca.
Para garantir a alimentação, Boley vai depender da comida que conseguir encontrar ou plantar, além de doações.
"Tenho me preparado bastante nos últimos dois meses, mas o desafio vai ser em relação às coisas para as quais não posso planejar - um braço quebrado, exaustão ou, no pior dos casos, luto na família", disse o britânico.
Boley já tentou fazer um outro experimento, de andar até a Índia sem gastar dinheiro, mas a tentativa terminou em Calais, na França, onde não conseguiu explicar o projeto no idioma do país e teve de voltar para Bristol.
Fonte:BBC BRASIL
Boyle vai viver em um trailer emprestado no oeste da Inglaterra.
Um economista britânico começou neste sábado um experimento social para tentar passar um ano sem gastar ou ganhar dinheiro.
Mark Boley, de 29 anos, faz parte de uma espécie de movimento conhecido na Grã-Bretanha como “Freeconomist” (economista livre, em tradução literal).
Durante os próximos doze meses, ele pretende morar em um trailer emprestado em uma floresta nas proximidades da cidade de Bristol, no oeste da Inglaterra.
O trailer é equipado com um painel solar e um fogão à lenha e o banheiro será um buraco no chão.
"Quero ver como é a vida sem ganhar dinheiro na civilização ocidental", diz Boley, que diz estar cansado do "destrutivo sistema capitalista" e acredita que pode fornecer seu conhecimento para conseguir o que precisar sem receber dinheiro em troca.
Para garantir a alimentação, Boley vai depender da comida que conseguir encontrar ou plantar, além de doações.
"Tenho me preparado bastante nos últimos dois meses, mas o desafio vai ser em relação às coisas para as quais não posso planejar - um braço quebrado, exaustão ou, no pior dos casos, luto na família", disse o britânico.
Boley já tentou fazer um outro experimento, de andar até a Índia sem gastar dinheiro, mas a tentativa terminou em Calais, na França, onde não conseguiu explicar o projeto no idioma do país e teve de voltar para Bristol.
Fonte:BBC BRASIL
UMA VISÃO (NOVA) SOBRE A CRISE MUNDIAL.
:: Izabel Telles ::
Será apenas para relembrar que vou escrever isso. Sei que você já sabe: No ideograma chinês que qualifica a experiência, crise significa perigo e oportunidade.
Todo nosso Planeta está em perigo.
Todo nosso Planeta está adentrando os portais de uma nova oportunidade.
Perdemos o balanço, o ritmo, a proporção e o equilíbrio em quase tudo. E estes quatro movimentos são as colunas mestras para uma mente saudável.
Os seres que manipulam a economia na Terra foram longe demais. Perderam as medidas, puxaram as bordas dos limites e desafiaram a lei de causa e efeito. Este é o perigo!
Resultado: vão ter que repensar os modelos usados até aqui e criar novas formas de sustentar a vida: esta é a oportunidade!
Nada será como antes. Um novo ciclo se abre para que possamos exercitar nossa criatividade, nossa vivacidade, nossa capacidade de sair da depressão, do automatismo onde todos estávamos vivendo de forma anestesiada e repetitiva.
Final de um tempo. De um mundo velho e desgastado onde os seres são usados para mover o gigantesco circo de interesses.
Finalmente, descobrimos que somos todos um. E que o egoísmo e o interesse pessoal de pequenos grupos não podem ser mais fortes que a vontade da imensa multidão dos seres que formam o Todo. Vamos ter que mudar. E esta é a grande notícia que fecha 2008.
No meu entender, boa notícia! Você está louca? Dirão alguns... Então, não vê que esta crise está gerando desemprego, desespero, aflição e angústia?
E quem disse que podemos fazer mudanças sem tudo isso e mais o medo, a incerteza, e uma infinidade de pequenos e grandes sentimentos que incomodam?
Fomos avisados pelo Grande Céu que esta mudança teria sido mais fácil se tivesse sido feita com amor. Mas tínhamos nossos olhos voltados para o material, o concreto, o imediato, o prazer rápido e passageiro. Há séculos, buscamos o ouro como uma forma tangível de tocar o paraíso, a luz, o infinito! E agora vamos sabendo que também este metal não faz milagres!
Mudar dói, perturba, tira a gente do conhecido e confortável (ou desconfortável). Mas é a energia dos novos ventos que estamos recebendo agora. E temos que abrir as pás dos nossos moinhos e agir, buscar com consciência, entrar dentro do velho jogo e deletar as regras antigas e, com coragem, recriá-las com balanço, ritmo, proporção e equilíbrio. Girar e gerar uma nova oportunidade de experimentar nosso corpo, nossas emoções e sentimentos, nossa alma, abraçando, finalmente, a verdadeira luz que emana de nosso espírito.
Zapeando pela TV, ouço assim, de repente, um trecho de um dos discursos de Barack Obama quando da indicação de um dos seus assessores econômicos; ele disse: “Pode ser que a gente erre em algumas medidas novas. OK.
Vamos olhar para o erro e dizer erramos, vamos agora tentar de outra forma. Mas a antiga maneira de fazer as coisas não pode mais ser usada. Tem que ser banida do Universo”.
Juro que ouvir isso me deu forças para sair da minha passividade, andar até o computador e escrever um artigo, coisa que há muito tempo já não fazia por não ter nada de novo para comunicar.
Percebi em mim o quanto estava anestesiada por tudo que vinha acontecendo no mundo e por mais que acreditasse que cada um pode fazer sua parte compreendia que o maremoto gerava uma energia tão desequilibrada que estava difícil ensinar a pescar. Pelo menos para mim.
Mas receber este impacto de mudança foi tão renovador que não pude resistir em compartilhar com você esta minha percepção.
O perigo trouxe a oportunidade! Somar ao meu mundo particular, povoado de imagens de meus clientes, para entrar novamente na grande rede e chegar à sua casa levando algo que sinto pode contribuir para este nosso momento.
Há um pensamento oriental que afirma:
Certas situações têm que chegar ao seu limite para virar ao contrário.
Sempre gostei muito deste aviso. A diferença é que hoje sinto o que ele quer dizer. Sinto e vejo, farejo e verifico.
E é isso que me faz agradecer tudo que estudo e pratico no campo da espiritualidade. O Grande Universo já havia nos avisado de tudo que começou a acontecer.
Aceite o convite e mude aquilo que ainda povoa seu mundo, mas pertence ao velho modo de agir. Olhe para frente, para o sol, para a luz e busque na natureza o exemplo e a força que precisa para alimentar suas sementes e florir em alegria e abundância.
Lembre-se que desde sempre somos informados também que representamos o microcosmo espelhando os ciclos e processos do macrocosmo.
E se as mangueiras já estão carregadas de pequenas mangas que vão se tornar grandes, saborosos e coloridos frutos em dezembro, o que nos faz duvidar que também iremos chegar ao Natal repletos de boas oportunidades e com um 2009 realmente NOVO.
Fonte:Site de Izabel Telles.
Será apenas para relembrar que vou escrever isso. Sei que você já sabe: No ideograma chinês que qualifica a experiência, crise significa perigo e oportunidade.
Todo nosso Planeta está em perigo.
Todo nosso Planeta está adentrando os portais de uma nova oportunidade.
Perdemos o balanço, o ritmo, a proporção e o equilíbrio em quase tudo. E estes quatro movimentos são as colunas mestras para uma mente saudável.
Os seres que manipulam a economia na Terra foram longe demais. Perderam as medidas, puxaram as bordas dos limites e desafiaram a lei de causa e efeito. Este é o perigo!
Resultado: vão ter que repensar os modelos usados até aqui e criar novas formas de sustentar a vida: esta é a oportunidade!
Nada será como antes. Um novo ciclo se abre para que possamos exercitar nossa criatividade, nossa vivacidade, nossa capacidade de sair da depressão, do automatismo onde todos estávamos vivendo de forma anestesiada e repetitiva.
Final de um tempo. De um mundo velho e desgastado onde os seres são usados para mover o gigantesco circo de interesses.
Finalmente, descobrimos que somos todos um. E que o egoísmo e o interesse pessoal de pequenos grupos não podem ser mais fortes que a vontade da imensa multidão dos seres que formam o Todo. Vamos ter que mudar. E esta é a grande notícia que fecha 2008.
No meu entender, boa notícia! Você está louca? Dirão alguns... Então, não vê que esta crise está gerando desemprego, desespero, aflição e angústia?
E quem disse que podemos fazer mudanças sem tudo isso e mais o medo, a incerteza, e uma infinidade de pequenos e grandes sentimentos que incomodam?
Fomos avisados pelo Grande Céu que esta mudança teria sido mais fácil se tivesse sido feita com amor. Mas tínhamos nossos olhos voltados para o material, o concreto, o imediato, o prazer rápido e passageiro. Há séculos, buscamos o ouro como uma forma tangível de tocar o paraíso, a luz, o infinito! E agora vamos sabendo que também este metal não faz milagres!
Mudar dói, perturba, tira a gente do conhecido e confortável (ou desconfortável). Mas é a energia dos novos ventos que estamos recebendo agora. E temos que abrir as pás dos nossos moinhos e agir, buscar com consciência, entrar dentro do velho jogo e deletar as regras antigas e, com coragem, recriá-las com balanço, ritmo, proporção e equilíbrio. Girar e gerar uma nova oportunidade de experimentar nosso corpo, nossas emoções e sentimentos, nossa alma, abraçando, finalmente, a verdadeira luz que emana de nosso espírito.
Zapeando pela TV, ouço assim, de repente, um trecho de um dos discursos de Barack Obama quando da indicação de um dos seus assessores econômicos; ele disse: “Pode ser que a gente erre em algumas medidas novas. OK.
Vamos olhar para o erro e dizer erramos, vamos agora tentar de outra forma. Mas a antiga maneira de fazer as coisas não pode mais ser usada. Tem que ser banida do Universo”.
Juro que ouvir isso me deu forças para sair da minha passividade, andar até o computador e escrever um artigo, coisa que há muito tempo já não fazia por não ter nada de novo para comunicar.
Percebi em mim o quanto estava anestesiada por tudo que vinha acontecendo no mundo e por mais que acreditasse que cada um pode fazer sua parte compreendia que o maremoto gerava uma energia tão desequilibrada que estava difícil ensinar a pescar. Pelo menos para mim.
Mas receber este impacto de mudança foi tão renovador que não pude resistir em compartilhar com você esta minha percepção.
O perigo trouxe a oportunidade! Somar ao meu mundo particular, povoado de imagens de meus clientes, para entrar novamente na grande rede e chegar à sua casa levando algo que sinto pode contribuir para este nosso momento.
Há um pensamento oriental que afirma:
Certas situações têm que chegar ao seu limite para virar ao contrário.
Sempre gostei muito deste aviso. A diferença é que hoje sinto o que ele quer dizer. Sinto e vejo, farejo e verifico.
E é isso que me faz agradecer tudo que estudo e pratico no campo da espiritualidade. O Grande Universo já havia nos avisado de tudo que começou a acontecer.
Aceite o convite e mude aquilo que ainda povoa seu mundo, mas pertence ao velho modo de agir. Olhe para frente, para o sol, para a luz e busque na natureza o exemplo e a força que precisa para alimentar suas sementes e florir em alegria e abundância.
Lembre-se que desde sempre somos informados também que representamos o microcosmo espelhando os ciclos e processos do macrocosmo.
E se as mangueiras já estão carregadas de pequenas mangas que vão se tornar grandes, saborosos e coloridos frutos em dezembro, o que nos faz duvidar que também iremos chegar ao Natal repletos de boas oportunidades e com um 2009 realmente NOVO.
Fonte:Site de Izabel Telles.
O QUE O LULA DEVERIA FALAR (E FAZER).
Emir Sader.
O capital financeiro é o maior inimigo do crescimento econômico do país. Remunerado pelas mais altas taxas de juros reais do mundo, é um capital parasita, sanguessuga, que vive às custas do endividamento das pessoas, do Estado e das empresas (especialmente das pequenas e médias empresas). Seus balanços são um acinte pelo nível de lucros que seguem acumulando, sem criar empregos (ao contrário, despedindo trabalhadores), sem criar riqueza, sem financiar as pesquisas, os investimentos produtivos e o consumo. Deve ser combatido frontalmente, para o quê o governo precisa impor um plano rigoroso de diminuição radical e imediata das taxas de juros e submeter o Banco Central às diretrizes gerais do governo, eleito para promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil e não o enriquecimento dos banqueiros.
Para que diminua a desigualdade e a injustiça social no Brasil, precisamos adotar um modelo econômico que privilegie a produção, a criação de empregos, o fortalecimento do mercado interno de consumo popular, para o que medidas fundamentais que terminem com a hegemonia do capital financeiro – que entre nós é fundamentalmente um capital especulativo.
Para que tenhamos um Brasil realmente para todos, precisamos terminar com a farra especulativa do sistema financeiro, que já demonstrou seu caráter anti-social, para que seja possível utilizar os recursos do Estado brasileiro para estender os direitos sociais, econômicos e culturais para todos, superando o estigma de país mais desigual do mundo, em grande parte porque remunera o capital financeiro da maneira mais generosa e submete a massa da população a políticas de crédito que só os enriquecem, em lugar de favorecer o crescimento econômico e social do país.
- No Brasil, quem paga impostos são os cidadãos e os trabalhadores comuns. Grandes empresas e, sobretudo, os bancos e o sistema financeiro, sempre encontram formas de driblar o fisco. Por isso o Brasil precisa urgentemente de uma grande reforma tributaria, com um profundo caráter social e redistributivo, em que quem ganha mais e tem mais, paga mais. Só assim o Estado brasileiro deixará de transferir renda do mundo do trabalho para o mundo financeiro.
- Os capitais financeiros são verdadeiros urubus, que voam para onde encontram maiores ganhos, com maior liquidez e pouco ou nenhum imposto. Não têm nacionalidade, nem compromisso com os interesses do país e da massa da população. Por isso a circulação do capital financeiro precisa ser controlada, tributada, orientada para as necessidades de financiamento dos setores que o crescimento econômico e social impõem. A entrada e saída de capitais do país será tributada, com impostos que servirão para estender os direitos de cidadania da grande massa pobre do país.
- O governo não concederá nenhuma isenção fiscal ou favores afins, sem contrapartidas concretas de parte das empresas, centralmente extensão dos empregos formais, melhoria das condições de trabalho, respeito estrito às condições meio ambientais, pagamento rigoroso de todas as tributações governamentais.
- A crise atual demonstra a fragilidade do sistema financeiro internacional. Por essa razão o Brasil propugnará para que o Banco do Sul seja o depositário fundamental das reservas do nosso país e de todos os outros da região. Se determinará a centralização do câmbio, porque a política monetária é uma variável com inúmeras conseqüências sobre a economia e por essa razão não pode estar simplesmente determinada pelos vai-e-vens do mercado.
- Como as grandes empresas privadas da mídia brasileira são propriedade de algumas poucas grandes famílias, que pretendem impor seus pontos de vista à grande maioria da população, o governo passará a atuar para fortalecer de forma decididas as mídias públicas, assim como todas as formas alternativas de mídia – de radio comunitárias a internet -, utilizando para isso, de forma clara, os recursos da publicidade governamental.
O povo decidiu, nas duas últimas eleições presidenciais, que não está de acordo com a grande mídia privada e que, ao contrário, elegeu e reelegeu o candidato que essa mídia oligárquica ataca sistematicamente. Essas eleições são a maior e a mais verdadeira pesquisa de opinião. E o povo disse que quer uma mídia democrática, pluralista, de raízes nacionais, identificada com as grandes políticas governamentais que favorecem o povo. Por isso atuaremos firmemente na direção da democratização profunda da mídia brasileira, sem a qual nunca teremos uma democracia real no país.
- O Brasil precisa engajar-se prioritariamente no fortalecimento da economia familiar, das pequenas e medias empresas e das cooperativas que são as que realmente produzem para o mercado interno e geram ocupação e renda no campo para a grande massa de trabalhadores. Para isso incentivará a produção desses setores com créditos e toda forma de apoio técnico, combatendo ao mesmo tempo a produção com trangênicos por parte das empresas de agronegócios.
- O governo incentivará todas as formas de mobilizações populares na luta pelos interesses da massa da população, sem a qual não será possível combater e superar os enormes obstáculos à construção de um Brasil para todos. Foi assim que se conseguiu, no segundo turno das eleições presidenciais de 2006, derrotar à direita e seu candidato neoliberal, apesar de todo o empenho da mídia. É assim que será possível construís no Brasil uma democracia com alma social.
- O governo se empenhará fortemente na construção, junto a todas as forças do campo popular, de uma plataforma anti-neoliberal, para que o candidato que suceda a este governo possa consolidar os avanços conseguidos, combater as forças conservadoras e fazer o país avançar na direção de uma sociedade justa e solidária.
Fonte: Agência Carta Maior.
O capital financeiro é o maior inimigo do crescimento econômico do país. Remunerado pelas mais altas taxas de juros reais do mundo, é um capital parasita, sanguessuga, que vive às custas do endividamento das pessoas, do Estado e das empresas (especialmente das pequenas e médias empresas). Seus balanços são um acinte pelo nível de lucros que seguem acumulando, sem criar empregos (ao contrário, despedindo trabalhadores), sem criar riqueza, sem financiar as pesquisas, os investimentos produtivos e o consumo. Deve ser combatido frontalmente, para o quê o governo precisa impor um plano rigoroso de diminuição radical e imediata das taxas de juros e submeter o Banco Central às diretrizes gerais do governo, eleito para promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil e não o enriquecimento dos banqueiros.
Para que diminua a desigualdade e a injustiça social no Brasil, precisamos adotar um modelo econômico que privilegie a produção, a criação de empregos, o fortalecimento do mercado interno de consumo popular, para o que medidas fundamentais que terminem com a hegemonia do capital financeiro – que entre nós é fundamentalmente um capital especulativo.
Para que tenhamos um Brasil realmente para todos, precisamos terminar com a farra especulativa do sistema financeiro, que já demonstrou seu caráter anti-social, para que seja possível utilizar os recursos do Estado brasileiro para estender os direitos sociais, econômicos e culturais para todos, superando o estigma de país mais desigual do mundo, em grande parte porque remunera o capital financeiro da maneira mais generosa e submete a massa da população a políticas de crédito que só os enriquecem, em lugar de favorecer o crescimento econômico e social do país.
- No Brasil, quem paga impostos são os cidadãos e os trabalhadores comuns. Grandes empresas e, sobretudo, os bancos e o sistema financeiro, sempre encontram formas de driblar o fisco. Por isso o Brasil precisa urgentemente de uma grande reforma tributaria, com um profundo caráter social e redistributivo, em que quem ganha mais e tem mais, paga mais. Só assim o Estado brasileiro deixará de transferir renda do mundo do trabalho para o mundo financeiro.
- Os capitais financeiros são verdadeiros urubus, que voam para onde encontram maiores ganhos, com maior liquidez e pouco ou nenhum imposto. Não têm nacionalidade, nem compromisso com os interesses do país e da massa da população. Por isso a circulação do capital financeiro precisa ser controlada, tributada, orientada para as necessidades de financiamento dos setores que o crescimento econômico e social impõem. A entrada e saída de capitais do país será tributada, com impostos que servirão para estender os direitos de cidadania da grande massa pobre do país.
- O governo não concederá nenhuma isenção fiscal ou favores afins, sem contrapartidas concretas de parte das empresas, centralmente extensão dos empregos formais, melhoria das condições de trabalho, respeito estrito às condições meio ambientais, pagamento rigoroso de todas as tributações governamentais.
- A crise atual demonstra a fragilidade do sistema financeiro internacional. Por essa razão o Brasil propugnará para que o Banco do Sul seja o depositário fundamental das reservas do nosso país e de todos os outros da região. Se determinará a centralização do câmbio, porque a política monetária é uma variável com inúmeras conseqüências sobre a economia e por essa razão não pode estar simplesmente determinada pelos vai-e-vens do mercado.
- Como as grandes empresas privadas da mídia brasileira são propriedade de algumas poucas grandes famílias, que pretendem impor seus pontos de vista à grande maioria da população, o governo passará a atuar para fortalecer de forma decididas as mídias públicas, assim como todas as formas alternativas de mídia – de radio comunitárias a internet -, utilizando para isso, de forma clara, os recursos da publicidade governamental.
O povo decidiu, nas duas últimas eleições presidenciais, que não está de acordo com a grande mídia privada e que, ao contrário, elegeu e reelegeu o candidato que essa mídia oligárquica ataca sistematicamente. Essas eleições são a maior e a mais verdadeira pesquisa de opinião. E o povo disse que quer uma mídia democrática, pluralista, de raízes nacionais, identificada com as grandes políticas governamentais que favorecem o povo. Por isso atuaremos firmemente na direção da democratização profunda da mídia brasileira, sem a qual nunca teremos uma democracia real no país.
- O Brasil precisa engajar-se prioritariamente no fortalecimento da economia familiar, das pequenas e medias empresas e das cooperativas que são as que realmente produzem para o mercado interno e geram ocupação e renda no campo para a grande massa de trabalhadores. Para isso incentivará a produção desses setores com créditos e toda forma de apoio técnico, combatendo ao mesmo tempo a produção com trangênicos por parte das empresas de agronegócios.
- O governo incentivará todas as formas de mobilizações populares na luta pelos interesses da massa da população, sem a qual não será possível combater e superar os enormes obstáculos à construção de um Brasil para todos. Foi assim que se conseguiu, no segundo turno das eleições presidenciais de 2006, derrotar à direita e seu candidato neoliberal, apesar de todo o empenho da mídia. É assim que será possível construís no Brasil uma democracia com alma social.
- O governo se empenhará fortemente na construção, junto a todas as forças do campo popular, de uma plataforma anti-neoliberal, para que o candidato que suceda a este governo possa consolidar os avanços conseguidos, combater as forças conservadoras e fazer o país avançar na direção de uma sociedade justa e solidária.
Fonte: Agência Carta Maior.
NA MÃO DO AGIOTA.
Por: Rogério Lessa*
Quando lhes convém, a imprensa grande e os politiqueiros são campeões em didática. Um bom exemplo é a um tanto forçada comparação entre as contas nacionais e a economia familiar: “O governo deve fazer como as donas-de-casa, que não gastam mais do que ganham”. Como se elas pudessem evitar o crediário para adquirir um simples DVD. Como se o Estado, ao gastar mais, também não arrecadasse mais em impostos no futuro, além de gerar empregos.No momento em que o Banco Central, depois de retomar a trajetória de alta da taxa de juros a pretexto de controlar uma suposta inflação de demanda, toma caminho inverso do mundo inteiro e mantém a Selic nas alturas, expondo o Brasil ao vexame no G20, não caberia perguntar se uma pessoa, empresa ou país podem se desenvolver estando na mão do agiota?
Yes, cada vez mais, nós só temos bananas. Cada vez mais nos especializamos em exportar produtos básicos para financiar importações de bens de maior valor agregado.
De acordo com o economista Miguel Bruno, da Escola Nacional de Estatística (Ence/IBGE), que agora está também no IPEA, os juros já representam 29% da renda nacional, ficando os bancos com 7% e o restante sendo destinado a segmentos privilegiados da sociedade. Já Marcio Pochmann, presidente do mesmo IPEA, constatou que apenas 20 mil clãs familiares (um milhão de pessoas) se apropriam de 75% da renda de juros pagos pelos títulos públicos do governo. Por outro lado, enquanto em 1994 a especulação com títulos públicos correspondia a 4% das receitas dos bancos, no final de 1998 essa especulação chegava a 43%.
Esse um milhão de privilegiados denunciados por Pochmann constitui uma nova Casa Grande, no país em que o salário mínimo seria insuficiente para sustentar um escravo. Metade da força de trabalho amarga na informalidade, mas na Casa Grande ninguém perdeu nada com a crise, pois os títulos públicos são garantidos pelo governo.
Mas se os juros baixarem, todos os “bons fundamentos” da nossa economia vão por terra, pois a pequena elite correrá para outros ativos, no Brasil e no exterior. Para agradá-la, vale inventar inflação, arrombar as contas externas e arrasar as exportações da indústria com o real sobrevalorizado. Aí está a explicação para tanta dificuldade de tirar o país do primeiro lugar no ranking mundial da taxa de juros: nossas reservas são três vezes menores que o dinheiro que pode sair do país (ou do Tesouro) a qualquer momento.
O Passivo Externo Líquido (PEL) brasileiro - medida bem mais abrangente que a dívida externa para medir os compromissos líquidos com o exterior - cresceu 49,3% entre dezembro de 2006 e dezembro de 2007, quando atingiu US$ 574 bilhões. Somente o estoque de investimento estrangeiro de portfólio (ações e títulos públicos) correspondia a 2,8 vezes as reservas cambiais, também em dezembro de 2007 - a coisa piorou em 2008.
Para agradar o agiota vale também inventar déficit na Previdência, falar das despesas, “esquecer” as receitas. Tudo com apoio da mídia. Assim, a previdência privada tornou-se a principal fonte de lucro dos bancos, ao lado dos juros extorsivos e das tarifas inacreditáveis. Para o IBGE, o brasileiro vive cada vez mais (quase 73 anos em média), enquanto pesquisa do próprio Ministério da Saúde revela que 41% de nós não chegamos aos 60 anos.
Já dizia Celso Furtado que um projeto de desenvolvimento precisa da mídia para motivar o povo. Aqui no Brasil ela joga contra, pois é aliada da Casa Grande e do capital estrangeiro.
Sabemos que FHC vendeu as jóias da coroa a preço de banana (olha ela aí outra vez), deixou o caixa (reservas) zerado e aumentou a dívida. Sabemos também que ele pôs a leilão o petróleo encontrado pela Petrobras, quase dobrou o desemprego e fez subir acentuadamente a renda de juros, em detrimento da participação da renda do trabalho no PIB. Mas confesso que fiquei pasmo (outra vez) ao ler estudo de Fabio Konder Comparato, “A desnacionalização da economia brasileira e suas conseqüências políticas”, mostrando que, antes de FHC, os estrangeiros participavam com 7,1% do comércio varejista brasileiro e hoje já controlam 60% desse mercado. Na siderurgia, os gringos saíram praticamente do zero para abocanharem uma fatia de 34% do setor. Pior o caso dos bancos: de uma participação de 9%, os estrangeiros passaram a controlar metade do mercado. E vejam que FHC posa de austero criador da Lei de “Responsabilidade” Fiscal.É fácil entender porque a pequena Singapura produz mais patentes que o Brasil.
O capital estrangeiro inicia o novo século XXI controlando 90% do setor eletro-eletrônico no país; 89% do setor automotivo; 86% do setor de higiene, limpeza e cosméticos; 77% da tecnologia da computação; 74% das telecomunicações; 74% do farmacêutico; 68% da indústria mecânica; 58% do setor de alimentos; e 54% do setor de plásticos e borracha. Nos últimos cinco anos, o número de bancos estrangeiros saltou de 2% para 17% do total das agências existentes.
E há quem consiga dormir com um barulho desses.
*Rogério Lessa Benemond: Jornalista do Monitor Mercantil, colaborador da revista Rumos do Desenvolvimento. Prêmio Corecon- RJ de jornalismo econômico 2006. Meus Artigos.
Fonte: Blog do Desemprego Zero.
Quando lhes convém, a imprensa grande e os politiqueiros são campeões em didática. Um bom exemplo é a um tanto forçada comparação entre as contas nacionais e a economia familiar: “O governo deve fazer como as donas-de-casa, que não gastam mais do que ganham”. Como se elas pudessem evitar o crediário para adquirir um simples DVD. Como se o Estado, ao gastar mais, também não arrecadasse mais em impostos no futuro, além de gerar empregos.No momento em que o Banco Central, depois de retomar a trajetória de alta da taxa de juros a pretexto de controlar uma suposta inflação de demanda, toma caminho inverso do mundo inteiro e mantém a Selic nas alturas, expondo o Brasil ao vexame no G20, não caberia perguntar se uma pessoa, empresa ou país podem se desenvolver estando na mão do agiota?
Yes, cada vez mais, nós só temos bananas. Cada vez mais nos especializamos em exportar produtos básicos para financiar importações de bens de maior valor agregado.
De acordo com o economista Miguel Bruno, da Escola Nacional de Estatística (Ence/IBGE), que agora está também no IPEA, os juros já representam 29% da renda nacional, ficando os bancos com 7% e o restante sendo destinado a segmentos privilegiados da sociedade. Já Marcio Pochmann, presidente do mesmo IPEA, constatou que apenas 20 mil clãs familiares (um milhão de pessoas) se apropriam de 75% da renda de juros pagos pelos títulos públicos do governo. Por outro lado, enquanto em 1994 a especulação com títulos públicos correspondia a 4% das receitas dos bancos, no final de 1998 essa especulação chegava a 43%.
Esse um milhão de privilegiados denunciados por Pochmann constitui uma nova Casa Grande, no país em que o salário mínimo seria insuficiente para sustentar um escravo. Metade da força de trabalho amarga na informalidade, mas na Casa Grande ninguém perdeu nada com a crise, pois os títulos públicos são garantidos pelo governo.
Mas se os juros baixarem, todos os “bons fundamentos” da nossa economia vão por terra, pois a pequena elite correrá para outros ativos, no Brasil e no exterior. Para agradá-la, vale inventar inflação, arrombar as contas externas e arrasar as exportações da indústria com o real sobrevalorizado. Aí está a explicação para tanta dificuldade de tirar o país do primeiro lugar no ranking mundial da taxa de juros: nossas reservas são três vezes menores que o dinheiro que pode sair do país (ou do Tesouro) a qualquer momento.
O Passivo Externo Líquido (PEL) brasileiro - medida bem mais abrangente que a dívida externa para medir os compromissos líquidos com o exterior - cresceu 49,3% entre dezembro de 2006 e dezembro de 2007, quando atingiu US$ 574 bilhões. Somente o estoque de investimento estrangeiro de portfólio (ações e títulos públicos) correspondia a 2,8 vezes as reservas cambiais, também em dezembro de 2007 - a coisa piorou em 2008.
Para agradar o agiota vale também inventar déficit na Previdência, falar das despesas, “esquecer” as receitas. Tudo com apoio da mídia. Assim, a previdência privada tornou-se a principal fonte de lucro dos bancos, ao lado dos juros extorsivos e das tarifas inacreditáveis. Para o IBGE, o brasileiro vive cada vez mais (quase 73 anos em média), enquanto pesquisa do próprio Ministério da Saúde revela que 41% de nós não chegamos aos 60 anos.
Já dizia Celso Furtado que um projeto de desenvolvimento precisa da mídia para motivar o povo. Aqui no Brasil ela joga contra, pois é aliada da Casa Grande e do capital estrangeiro.
Sabemos que FHC vendeu as jóias da coroa a preço de banana (olha ela aí outra vez), deixou o caixa (reservas) zerado e aumentou a dívida. Sabemos também que ele pôs a leilão o petróleo encontrado pela Petrobras, quase dobrou o desemprego e fez subir acentuadamente a renda de juros, em detrimento da participação da renda do trabalho no PIB. Mas confesso que fiquei pasmo (outra vez) ao ler estudo de Fabio Konder Comparato, “A desnacionalização da economia brasileira e suas conseqüências políticas”, mostrando que, antes de FHC, os estrangeiros participavam com 7,1% do comércio varejista brasileiro e hoje já controlam 60% desse mercado. Na siderurgia, os gringos saíram praticamente do zero para abocanharem uma fatia de 34% do setor. Pior o caso dos bancos: de uma participação de 9%, os estrangeiros passaram a controlar metade do mercado. E vejam que FHC posa de austero criador da Lei de “Responsabilidade” Fiscal.É fácil entender porque a pequena Singapura produz mais patentes que o Brasil.
O capital estrangeiro inicia o novo século XXI controlando 90% do setor eletro-eletrônico no país; 89% do setor automotivo; 86% do setor de higiene, limpeza e cosméticos; 77% da tecnologia da computação; 74% das telecomunicações; 74% do farmacêutico; 68% da indústria mecânica; 58% do setor de alimentos; e 54% do setor de plásticos e borracha. Nos últimos cinco anos, o número de bancos estrangeiros saltou de 2% para 17% do total das agências existentes.
E há quem consiga dormir com um barulho desses.
*Rogério Lessa Benemond: Jornalista do Monitor Mercantil, colaborador da revista Rumos do Desenvolvimento. Prêmio Corecon- RJ de jornalismo econômico 2006. Meus Artigos.
Fonte: Blog do Desemprego Zero.
COMEÇAR DE NOVO.
Mair Pena Neto.
Em visita ao Brasil para apresentar seu novo livro e inaugurar uma exposição, o escritor português José Saramago lançou questões sobre o atual estágio da humanidade. “A palavra bondade hoje significa qualquer coisa de ridículo. É preciso conquistar, triunfar. Ninguém se arrisca a dizer que seu objetivo é ser bom. Querer ser bom em uma época como esta é se apresentar como voluntário para a eliminação”, disse Saramago.
O desenvolvimento do capitalismo chegou ao estágio da barbárie, com o desdém pelo próximo e o amor desenfreado pelo dinheiro e o poder. Para motivar seus funcionários, Steve Ballmer, o atual presidente da Microsoft, diz, aos berros, que ama a companhia. Se ama o seu próximo, não se sabe, mas que é capaz de dar a vida pela Microsoft parece provável pelo teor de seu discurso, que pode ser visto na internet.
Na competição desenfreada, um quer engolir o outro. Parece que não existe mais espaço para a convivência de concorrentes. O capitalismo pós-moderno enterra uma de suas máximas de que a concorrência é a alma do negócio. Nos workshops, o logotipo ou até mesmo produtos dos concorrentes são literalmente alvejados por funcionários em transe, nos quais é instilado o vírus da destruição.
Estes valores corporativos se disseminam na sociedade como um todo. O bem sucedido é o agressivo, o que aparece, o que traz resultados. Nem que para isso lance mão de práticas pouco ortodoxas. Neste universo, não há mais espaço para a solidariedade.
A atual crise financeira global começou assim, pela ganância, pela facilidade dos lucros rápidos mesmo que alavancados em bases frágeis. Quem ganhou, ganhou, quem perdeu, e nesse caso foram as economias de todos os países, que trate de lidar com os prejuízos. Nessa crise, até empresas se deram mal. Foram deixadas quebradas por dirigentes admirados que saíram com os bolsos recheados por bônus ofensivos.
A recessão que se avizinha prejudica, sobretudo, os mais pobres. O mundo subdesenvolvido, que jamais chegou perto das benesses ultracapitalistas, perde mais uma chance de avançar um estágio.
Como chegamos a isso?, indaga Saramago, perplexo, como todas as pessoas de bem, com os níveis de violência, corrupção e indiferença. Não existe uma única resposta e o escritor nos sugere que para mudarmos a vida precisamos mudar de vida.
Podemos começar sugerindo às novas gerações que busquem suas futuras profissões pensando em como poderiam contribuir para o bem comum. Que não coloquem a remuneração em primeiro plano, que ela vem como consequência da realização. E que esta não se mede apenas pelos ganhos financeiros, mas, sobretudo, pela função social de suas atividades.
Parece utópico, mas é uma tentativa. Sem um primeiro gesto tudo pode ficar como está. Mesmo com mais uma crise que jogou o mundo no chão e revelou a falência de um modelo que agoniza mas ainda não morreu.
Fonte:Direto da Redação.
Em visita ao Brasil para apresentar seu novo livro e inaugurar uma exposição, o escritor português José Saramago lançou questões sobre o atual estágio da humanidade. “A palavra bondade hoje significa qualquer coisa de ridículo. É preciso conquistar, triunfar. Ninguém se arrisca a dizer que seu objetivo é ser bom. Querer ser bom em uma época como esta é se apresentar como voluntário para a eliminação”, disse Saramago.
O desenvolvimento do capitalismo chegou ao estágio da barbárie, com o desdém pelo próximo e o amor desenfreado pelo dinheiro e o poder. Para motivar seus funcionários, Steve Ballmer, o atual presidente da Microsoft, diz, aos berros, que ama a companhia. Se ama o seu próximo, não se sabe, mas que é capaz de dar a vida pela Microsoft parece provável pelo teor de seu discurso, que pode ser visto na internet.
Na competição desenfreada, um quer engolir o outro. Parece que não existe mais espaço para a convivência de concorrentes. O capitalismo pós-moderno enterra uma de suas máximas de que a concorrência é a alma do negócio. Nos workshops, o logotipo ou até mesmo produtos dos concorrentes são literalmente alvejados por funcionários em transe, nos quais é instilado o vírus da destruição.
Estes valores corporativos se disseminam na sociedade como um todo. O bem sucedido é o agressivo, o que aparece, o que traz resultados. Nem que para isso lance mão de práticas pouco ortodoxas. Neste universo, não há mais espaço para a solidariedade.
A atual crise financeira global começou assim, pela ganância, pela facilidade dos lucros rápidos mesmo que alavancados em bases frágeis. Quem ganhou, ganhou, quem perdeu, e nesse caso foram as economias de todos os países, que trate de lidar com os prejuízos. Nessa crise, até empresas se deram mal. Foram deixadas quebradas por dirigentes admirados que saíram com os bolsos recheados por bônus ofensivos.
A recessão que se avizinha prejudica, sobretudo, os mais pobres. O mundo subdesenvolvido, que jamais chegou perto das benesses ultracapitalistas, perde mais uma chance de avançar um estágio.
Como chegamos a isso?, indaga Saramago, perplexo, como todas as pessoas de bem, com os níveis de violência, corrupção e indiferença. Não existe uma única resposta e o escritor nos sugere que para mudarmos a vida precisamos mudar de vida.
Podemos começar sugerindo às novas gerações que busquem suas futuras profissões pensando em como poderiam contribuir para o bem comum. Que não coloquem a remuneração em primeiro plano, que ela vem como consequência da realização. E que esta não se mede apenas pelos ganhos financeiros, mas, sobretudo, pela função social de suas atividades.
Parece utópico, mas é uma tentativa. Sem um primeiro gesto tudo pode ficar como está. Mesmo com mais uma crise que jogou o mundo no chão e revelou a falência de um modelo que agoniza mas ainda não morreu.
Fonte:Direto da Redação.
sábado, 29 de novembro de 2008
IMIGRAÇÃO - Remessas de brasileiros residentes no exterior aumentam em 50%.
Fabrícia Peixoto
Da BBC Brasil em Brasília
Dólares.
Valorização do dólar estimula mais remessas ao Brasil
Os brasileiros residentes no exterior aproveitaram o mês de outubro para remeter um volume de dólares acima da média ao Brasil.
De acordo com dados do Banco Central, o ingresso de moeda americana por meio de remessas de residentes no exterior foi de US$ 345 milhões, número 50% superior ao registrado em setembro.
O volume oriundo dos Estados Unidos aumentou 34% e o do Japão subiu 63%. Já os ingressos de “demais países” foram 64% maiores no mês.
A valorização do dólar é apontada como a principal explicação para o aumento.
A diferença no câmbio beneficia aqueles que recebem em moeda estrangeira e estimula as remessas para o Brasil, pois a conversão, em geral, passa pela moeda americana.
Como o resultado da conversão é um montante maior em reais, os residentes no exterior aproveitaram para aumentar o volume de remessas.
Retorno
Mas essa não é a única razão para o maior ingresso de dólares, segundo especialistas, que apontam ainda mais duas outras prováveis explicações.
“Os brasileiros estão desconfiados em relação ao sistema financeiro americano”, diz Zory Muñoz, diretora da Money Express, empresa de transferência de recursos especializada em atender brasileiros que moram nos Estados Unidos.
Segundo Zory, os imigrantes brasileiros têm demonstrado receio em deixar suas economias nos Estados Unidos, com medo de que novas instituições financeiras sejam afetadas pela crise.
“Por isso, muitos estão preferindo enviar suas economias para o Brasil”, diz.
Segundo ela, alguns clientes já comentam sobre a possibilidade de voltar ao Brasil. A remessa dos dólares pode ser interpretada, de acordo com Zory, como um sinal de que os brasileiros estão se preparando para voltar à terra natal.
O Itamaraty confirma essa tendência. O serviço consular não tem números, mas afirma que seus postos nos Estados Unidos têm sido cada vez mais procurados por pessoas interessadas em voltar para casa.
“Além do agravamento da crise financeira, existe ainda um outro fator, que chamamos de 'cansaço da ilegalidade'”, diz uma fonte do Itamaraty.
Segundo estimativa do Ministério das Relações Exteriores, cerca de 3,5 milhões de brasileiros, incluindo os ilegais, vivem em outros países. Desse total, 1,2 milhão estão nos Estados Unidos.
Queda
Dados do Banco Mundial mostram que as remessas de emigrantes para países em desenvolvimento deverão somar US$ 283 bilhões em 2008, número 6,7% maior do que o registrado em 2007.
Apesar do crescimento, a tendência é desaceleração, em função da crise financeira internacional.
A previsão do Banco Mundial é de queda no total de remessas a partir de 2009, quando o volume deverá ficar 0,9% menor.
Fonte:BBC Brasil.
Da BBC Brasil em Brasília
Dólares.
Valorização do dólar estimula mais remessas ao Brasil
Os brasileiros residentes no exterior aproveitaram o mês de outubro para remeter um volume de dólares acima da média ao Brasil.
De acordo com dados do Banco Central, o ingresso de moeda americana por meio de remessas de residentes no exterior foi de US$ 345 milhões, número 50% superior ao registrado em setembro.
O volume oriundo dos Estados Unidos aumentou 34% e o do Japão subiu 63%. Já os ingressos de “demais países” foram 64% maiores no mês.
A valorização do dólar é apontada como a principal explicação para o aumento.
A diferença no câmbio beneficia aqueles que recebem em moeda estrangeira e estimula as remessas para o Brasil, pois a conversão, em geral, passa pela moeda americana.
Como o resultado da conversão é um montante maior em reais, os residentes no exterior aproveitaram para aumentar o volume de remessas.
Retorno
Mas essa não é a única razão para o maior ingresso de dólares, segundo especialistas, que apontam ainda mais duas outras prováveis explicações.
“Os brasileiros estão desconfiados em relação ao sistema financeiro americano”, diz Zory Muñoz, diretora da Money Express, empresa de transferência de recursos especializada em atender brasileiros que moram nos Estados Unidos.
Segundo Zory, os imigrantes brasileiros têm demonstrado receio em deixar suas economias nos Estados Unidos, com medo de que novas instituições financeiras sejam afetadas pela crise.
“Por isso, muitos estão preferindo enviar suas economias para o Brasil”, diz.
Segundo ela, alguns clientes já comentam sobre a possibilidade de voltar ao Brasil. A remessa dos dólares pode ser interpretada, de acordo com Zory, como um sinal de que os brasileiros estão se preparando para voltar à terra natal.
O Itamaraty confirma essa tendência. O serviço consular não tem números, mas afirma que seus postos nos Estados Unidos têm sido cada vez mais procurados por pessoas interessadas em voltar para casa.
“Além do agravamento da crise financeira, existe ainda um outro fator, que chamamos de 'cansaço da ilegalidade'”, diz uma fonte do Itamaraty.
Segundo estimativa do Ministério das Relações Exteriores, cerca de 3,5 milhões de brasileiros, incluindo os ilegais, vivem em outros países. Desse total, 1,2 milhão estão nos Estados Unidos.
Queda
Dados do Banco Mundial mostram que as remessas de emigrantes para países em desenvolvimento deverão somar US$ 283 bilhões em 2008, número 6,7% maior do que o registrado em 2007.
Apesar do crescimento, a tendência é desaceleração, em função da crise financeira internacional.
A previsão do Banco Mundial é de queda no total de remessas a partir de 2009, quando o volume deverá ficar 0,9% menor.
Fonte:BBC Brasil.
REMÉDIOS - Truques sujos anti-genéricos.
Os grandes grupos farmacêuticos, longe de promoverem desenvolvimento de novos medicamentos, multiplicam os recursos, às vezes ilegais, para impedir o lançamento de genéricos. A denúncia foi feita em Bruxelas nesta sexta-feira (28) por Neelie Kroes, comissária de Concorrência da União Européia (UE), que apresentou um relatório ao fim de meses de investigação. Ela calculou que, no ano passado, os truques sujos custaram a que cada habitante da UE o equivalente a R$ 1.260.
Neelie Kroes acusa "nuvem de patentes" e outros truques
"O desenvolvimento de remédios novos e menos caros é por vezes bloqueado ou retardado, acarretando um significativo custo para o sistema de saúde, os consumidores e contribuintes", disse Neelie, cujo posto equivale ao de um ministro da UE.
3 bilhões de euros de prejuízo
A investigação examinou os casos de 219 medicamentos e apurou que os truques sujos dos laboratórios causaram um prejuízo de 3 bilhões de euros (R$ 9 bilhões). Conforme o relatório, a introdução dos genéricos permitiu uma economia de 14 bilhões de euros (R$ 41 bilhões). Estes medicamentos saem mais baratos porque estão dispensados de pagar royaltes aos laboratórios, pois sua tecnologia de produção já se tornou de domínio público.
O relatório calcula também quanto cada cidadão europeu perdeu com as manobras protelatórias: 430 euros (R$ 1.260), somente no ano passado.
Entre os laboratórios acusados estão o francês Sanofi Aventis, o suíço Sandoz, os ingleses GlaxoSmithKline e AstraZeneca. O relatório de 450 páginas, detalha investigações que começaram em janeiro passado.
Neelie, a insuspeita "Dama de Ferro holandesa"
Com 67 anos, Neelie é insuspeita de má-vontade para com a grande burguesia. Filha de uma rica família holandesa e indicada pelo direitista Volkspartij, ela encabeçou nos anos 90 a privatização da empresa de correios do país, o que lhe valeu comparações com a intransigente Margareth Thatcher, a "Dama de Ferro" inglesa.
Entre os truques dos laboratórios para impedir o lançamento dos genéricos está o que a comissária chamou "nuvem de patentes": consiste em requerer muitas patentes para cada princípio ativo descoberto. "O pior exemplo que encontramos foi a requisição de 1.300 patentes, por toda a União Européia, para um único medicamento", disse Neelie.
"Acordos" interfabricantes e anticonsumidores
A investigação também apurou que os laboratórios não hesitam em estabelecer "acordos" com os fabricantes de genéricos com o mesmo objetivo de retardar o lançamento da versão mais barata. Foram levantados 200 casos dessa natureza. A versão eletrônica do jornal Le Figaro cita o laboratório francês Servier como um dos acusados de recorrer a esse tipo de estratagema.
Se esse tipo de procedimentos acontece na União Européia, berço de várias das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, fica a pergunta sobre como será a situação em países como o Brasil, onde atuam as suas sucursais. E torna-se mais claro porque elas se mobilizaram com tanta decisão no governo Fernando Henrique Cardoso para fazer o Congresso Nacional aprovar a Lei de Patentes, que satisfaz os seus interesses.
O dirigente da União Européia de Indústrias Farmacêuticas (Efmia), Arthur J. Higgins, saiu a campo no mesmo dia para tentar consertar o estrago causado pela denúncia. Disse que "a inovação é nosso motor" e referiu-se a "mitos" criados por "aqueles que desejam sabotar os interesses da indústria do medicamento". Alegou que o procedimentos apontados "são casos isolados e, além do mais, não têm nada de ilegais".
Fonte: Site O Vermelho.
Neelie Kroes acusa "nuvem de patentes" e outros truques
"O desenvolvimento de remédios novos e menos caros é por vezes bloqueado ou retardado, acarretando um significativo custo para o sistema de saúde, os consumidores e contribuintes", disse Neelie, cujo posto equivale ao de um ministro da UE.
3 bilhões de euros de prejuízo
A investigação examinou os casos de 219 medicamentos e apurou que os truques sujos dos laboratórios causaram um prejuízo de 3 bilhões de euros (R$ 9 bilhões). Conforme o relatório, a introdução dos genéricos permitiu uma economia de 14 bilhões de euros (R$ 41 bilhões). Estes medicamentos saem mais baratos porque estão dispensados de pagar royaltes aos laboratórios, pois sua tecnologia de produção já se tornou de domínio público.
O relatório calcula também quanto cada cidadão europeu perdeu com as manobras protelatórias: 430 euros (R$ 1.260), somente no ano passado.
Entre os laboratórios acusados estão o francês Sanofi Aventis, o suíço Sandoz, os ingleses GlaxoSmithKline e AstraZeneca. O relatório de 450 páginas, detalha investigações que começaram em janeiro passado.
Neelie, a insuspeita "Dama de Ferro holandesa"
Com 67 anos, Neelie é insuspeita de má-vontade para com a grande burguesia. Filha de uma rica família holandesa e indicada pelo direitista Volkspartij, ela encabeçou nos anos 90 a privatização da empresa de correios do país, o que lhe valeu comparações com a intransigente Margareth Thatcher, a "Dama de Ferro" inglesa.
Entre os truques dos laboratórios para impedir o lançamento dos genéricos está o que a comissária chamou "nuvem de patentes": consiste em requerer muitas patentes para cada princípio ativo descoberto. "O pior exemplo que encontramos foi a requisição de 1.300 patentes, por toda a União Européia, para um único medicamento", disse Neelie.
"Acordos" interfabricantes e anticonsumidores
A investigação também apurou que os laboratórios não hesitam em estabelecer "acordos" com os fabricantes de genéricos com o mesmo objetivo de retardar o lançamento da versão mais barata. Foram levantados 200 casos dessa natureza. A versão eletrônica do jornal Le Figaro cita o laboratório francês Servier como um dos acusados de recorrer a esse tipo de estratagema.
Se esse tipo de procedimentos acontece na União Européia, berço de várias das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, fica a pergunta sobre como será a situação em países como o Brasil, onde atuam as suas sucursais. E torna-se mais claro porque elas se mobilizaram com tanta decisão no governo Fernando Henrique Cardoso para fazer o Congresso Nacional aprovar a Lei de Patentes, que satisfaz os seus interesses.
O dirigente da União Européia de Indústrias Farmacêuticas (Efmia), Arthur J. Higgins, saiu a campo no mesmo dia para tentar consertar o estrago causado pela denúncia. Disse que "a inovação é nosso motor" e referiu-se a "mitos" criados por "aqueles que desejam sabotar os interesses da indústria do medicamento". Alegou que o procedimentos apontados "são casos isolados e, além do mais, não têm nada de ilegais".
Fonte: Site O Vermelho.
IGREJA CATÓLICA - Primeira beatificação da história de Cuba.
O presidente cubano, Raúl Castro, assistiu neste sábado (29) à primeira cerimônia de beatificação na ilha, dando um novo impulso à melhora das relações entre Igreja e governo após décadas de desconfiança mútua. O beatificado foi o padre José Olallo Valdés (1820-1889).
A missa foi presidida pelo enviado do papa Bento 16, o cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para a Causa dos Santos. Cerca de 5 mil pessoas, segundo números preliminares, participaram da cerimônia, em uma praça de Camaguey, a 530 quilômetros de Havana.
Raúl Castro apareceu na primeira fila, vestindo um traje escuro. A beatificação foi a primeira cerimônia católica da qual Raúl participou como presidente — cargo que ocupa desde fevereiro de 2008, quando substituiu seu irmão Fidel Castro.
Ele estava acompanhado pelo vice-presidente do Conselho de Estado, Esteban Lazo, e por Caridad Diego, chefe do Escritório de Assuntos Religiosos do Comitê Central do Partido Comunista Cubano. Além de José Saraiva Martins, celebraram a cerimônia o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, Juan García Rodríguez, o arcebispo de Camaguey e todos os bispos e Cuba, assim como o monsenhor Felipe Estevez, bispo auxiliar de Miami.
Foi a primeira beatificação em mais de 500 anos de catolicismo em Cuba. A Igreja Católica calcula que 60% dos 11 milhões de cubanos foram batizados, apesar dos momentos difíceis na relação com o governo socialista no passado.
A situação começou a mudar em 1992, quando Cuba eliminou a definição de Estado "ateu" de sua Constituição, que hoje garante a liberdade religiosa. Em 1998, o João Paulo 2º visitou o país.
O beato
O padre José Olallo Valdés (1820-1889) é o primeiro beato 100% cubano. Em 2007, o papa beatificou outro padre nascido na ilha — mas que cresceu e morreu na Espanha. Ollalo ficou conhecido em Cuba por cuidar dos feridos da Guerra da Independência contra a coroa espanhola.
A fama de santidade do padre aumentou, após a sua morte, entre as pessoas da cidade de Camaguey. Eles atribuíam à sua intervenção a obtenção ininterrupta de graças e auxílio. O processo de beatificação de Ollalo foi aberto em 1990. Em março de 2008, o Bento 16 reconheceu como verdadeiro milagre a cura de uma menina de 3 anos.
Fonte:Site O Vermelho.
A missa foi presidida pelo enviado do papa Bento 16, o cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para a Causa dos Santos. Cerca de 5 mil pessoas, segundo números preliminares, participaram da cerimônia, em uma praça de Camaguey, a 530 quilômetros de Havana.
Raúl Castro apareceu na primeira fila, vestindo um traje escuro. A beatificação foi a primeira cerimônia católica da qual Raúl participou como presidente — cargo que ocupa desde fevereiro de 2008, quando substituiu seu irmão Fidel Castro.
Ele estava acompanhado pelo vice-presidente do Conselho de Estado, Esteban Lazo, e por Caridad Diego, chefe do Escritório de Assuntos Religiosos do Comitê Central do Partido Comunista Cubano. Além de José Saraiva Martins, celebraram a cerimônia o cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, Juan García Rodríguez, o arcebispo de Camaguey e todos os bispos e Cuba, assim como o monsenhor Felipe Estevez, bispo auxiliar de Miami.
Foi a primeira beatificação em mais de 500 anos de catolicismo em Cuba. A Igreja Católica calcula que 60% dos 11 milhões de cubanos foram batizados, apesar dos momentos difíceis na relação com o governo socialista no passado.
A situação começou a mudar em 1992, quando Cuba eliminou a definição de Estado "ateu" de sua Constituição, que hoje garante a liberdade religiosa. Em 1998, o João Paulo 2º visitou o país.
O beato
O padre José Olallo Valdés (1820-1889) é o primeiro beato 100% cubano. Em 2007, o papa beatificou outro padre nascido na ilha — mas que cresceu e morreu na Espanha. Ollalo ficou conhecido em Cuba por cuidar dos feridos da Guerra da Independência contra a coroa espanhola.
A fama de santidade do padre aumentou, após a sua morte, entre as pessoas da cidade de Camaguey. Eles atribuíam à sua intervenção a obtenção ininterrupta de graças e auxílio. O processo de beatificação de Ollalo foi aberto em 1990. Em março de 2008, o Bento 16 reconheceu como verdadeiro milagre a cura de uma menina de 3 anos.
Fonte:Site O Vermelho.
PENSAR O IMPENSÁVEL.
Serge Halimi
Tudo era pois possível. Uma intervenção financeira maciça do Estado. O esquecimento das obrigações do Pacto de Estabilidade Europeu. Uma capitulação dos bancos centrais ante a urgência de uma retoma. A condenação dos paraísos fiscais. Tudo era possível porque se impunha salvar os bancos.
Durante trinta anos, o mais leve esboço de qualquer alteração dos fundamentos da ordem liberal, para, por exemplo, melhorar as condições de vida da maioria da população, teve contudo o mesmo tipo de resposta: isso é tudo muito arcaico; então não sabem que o Muro de Berlim já caiu? E durante trinta anos a “reforma” foi aplicada, mas noutro sentido. No de uma revolução conservadora que entregou à finança fatias cada vez mais espessas e suculentas do bem comum, como os serviços públicos privatizados e metamorfoseados em máquinas de cash “criadoras de valor” para os accionistas. No duma liberalização das trocas comerciais que atacou os salários e a protecção social, obrigando dezenas de milhões de pessoas a endividarem-se para preservar o seu poder de compra, a “investirem” (na Bolsa, em seguros) para garantir a educação, prever a doença, preparar a aposentação. Desse modo, a deflação salarial e a erosão das protecções sociais criaram e fortaleceram a desmesura financeira. Porque a criação do risco levou-a a proteger-se contra ele. A bolha especulativa apoderou-se muito depressa da habitação, que transformou em investimento. De forma incessante, voltou a inchar com o hélio ideológico do pensamento de mercado. E as mentalidades mudaram, mais individualistas, mais calculadoras, menos solidárias. A bancarrota de 2008 não é pois essencialmente de carácter técnico, susceptível de ser melhorada com paliativos como a “moralização” ou o fim dos “abusos”. É todo um sistema que cai por terra.
Em seu redor já se afanam os que esperam reerguê-lo, atamancá-lo, dar-lhe verniz, para no futuro próximo ele infligir à sociedade uma qualquer nova brincadeira de mau gosto. Os curandeiros que se fingem indignados com as (in)consequências do liberalismo são os mesmos que lhe forneceram todos os afrodisíacos – orçamentais, regulamentadores, fiscais, ideológicos – graças aos quais ele despendeu sem conta nem medida. Deveriam considerar-se agora desacreditados [1]. Mas sabem que todo um exército político e mediático vai dedicar-se a branqueá-los. Deste modo, Gordon Brown, o antigo ministro britânico das Finanças, cuja primeira iniciativa consistiu em conceder a “independência” ao Banco de Inglaterra, José Manuel Durão Barroso, que preside a uma Comissão Europeia obcecada com a “concorrência”, Nicolas Sarkozy, artífice do “escudo fiscal”, do trabalho ao domingo, da privatização dos serviços postais, aplicam-se desde já, segundo parece, a “refundar” o capitalismo…
O descaramento destes políticos decorre de uma estranha ausência. Pois onde se encontra a esquerda? A ambição da oficial – a que acompanhou o liberalismo, que desregulamentou a finança durante a presidência do democrata Bill Clinton, que desindexou os salários, com François Mitterrand, e depois se pôs a privatizar, com Lionel Jospin e Dominique Strauss-Kahn, que cortou à machadada os subsídios destinados aos desempregados, com Gerhard Schröder, – consiste apenas, obviamente, em virar o mais depressa possível a página de uma “crise” de que é co-responsável.
Seja. Mas, e a outra esquerda? Poderá ela, num momento destes, limitar-se a desenferrujar os seus projectos mais modestos, úteis mas tão tímidos, sobre a Taxa Tobin, o aumento do salário mínimo, um “novo Bretton Woods” e quintas eólicas? Durante as décadas keynesianas, a direita liberal pensou o impensável, tirando proveito de uma grande crise para o impor. Com efeito, em 1949, Friedrich Hayek, padrinho intelectual da corrente que deu à luz Ronald Reagan e Margaret Thatcher, explicou-lhe o seguinte: «A principal lição que um liberal consequente deve tirar do êxito dos socialistas é esta: a coragem de serem utópicos é que (…) torna possível todos os dias o que ainda recentemente parecia irrealizável».
Assim sendo, quem proporá que se ponha em causa o âmago do sistema, o comércio livre? [2] “Utópico”? Mas se agora tudo é possível, tratando-se dos bancos…
Fonte:Site Informação Alternativa.
Tudo era pois possível. Uma intervenção financeira maciça do Estado. O esquecimento das obrigações do Pacto de Estabilidade Europeu. Uma capitulação dos bancos centrais ante a urgência de uma retoma. A condenação dos paraísos fiscais. Tudo era possível porque se impunha salvar os bancos.
Durante trinta anos, o mais leve esboço de qualquer alteração dos fundamentos da ordem liberal, para, por exemplo, melhorar as condições de vida da maioria da população, teve contudo o mesmo tipo de resposta: isso é tudo muito arcaico; então não sabem que o Muro de Berlim já caiu? E durante trinta anos a “reforma” foi aplicada, mas noutro sentido. No de uma revolução conservadora que entregou à finança fatias cada vez mais espessas e suculentas do bem comum, como os serviços públicos privatizados e metamorfoseados em máquinas de cash “criadoras de valor” para os accionistas. No duma liberalização das trocas comerciais que atacou os salários e a protecção social, obrigando dezenas de milhões de pessoas a endividarem-se para preservar o seu poder de compra, a “investirem” (na Bolsa, em seguros) para garantir a educação, prever a doença, preparar a aposentação. Desse modo, a deflação salarial e a erosão das protecções sociais criaram e fortaleceram a desmesura financeira. Porque a criação do risco levou-a a proteger-se contra ele. A bolha especulativa apoderou-se muito depressa da habitação, que transformou em investimento. De forma incessante, voltou a inchar com o hélio ideológico do pensamento de mercado. E as mentalidades mudaram, mais individualistas, mais calculadoras, menos solidárias. A bancarrota de 2008 não é pois essencialmente de carácter técnico, susceptível de ser melhorada com paliativos como a “moralização” ou o fim dos “abusos”. É todo um sistema que cai por terra.
Em seu redor já se afanam os que esperam reerguê-lo, atamancá-lo, dar-lhe verniz, para no futuro próximo ele infligir à sociedade uma qualquer nova brincadeira de mau gosto. Os curandeiros que se fingem indignados com as (in)consequências do liberalismo são os mesmos que lhe forneceram todos os afrodisíacos – orçamentais, regulamentadores, fiscais, ideológicos – graças aos quais ele despendeu sem conta nem medida. Deveriam considerar-se agora desacreditados [1]. Mas sabem que todo um exército político e mediático vai dedicar-se a branqueá-los. Deste modo, Gordon Brown, o antigo ministro britânico das Finanças, cuja primeira iniciativa consistiu em conceder a “independência” ao Banco de Inglaterra, José Manuel Durão Barroso, que preside a uma Comissão Europeia obcecada com a “concorrência”, Nicolas Sarkozy, artífice do “escudo fiscal”, do trabalho ao domingo, da privatização dos serviços postais, aplicam-se desde já, segundo parece, a “refundar” o capitalismo…
O descaramento destes políticos decorre de uma estranha ausência. Pois onde se encontra a esquerda? A ambição da oficial – a que acompanhou o liberalismo, que desregulamentou a finança durante a presidência do democrata Bill Clinton, que desindexou os salários, com François Mitterrand, e depois se pôs a privatizar, com Lionel Jospin e Dominique Strauss-Kahn, que cortou à machadada os subsídios destinados aos desempregados, com Gerhard Schröder, – consiste apenas, obviamente, em virar o mais depressa possível a página de uma “crise” de que é co-responsável.
Seja. Mas, e a outra esquerda? Poderá ela, num momento destes, limitar-se a desenferrujar os seus projectos mais modestos, úteis mas tão tímidos, sobre a Taxa Tobin, o aumento do salário mínimo, um “novo Bretton Woods” e quintas eólicas? Durante as décadas keynesianas, a direita liberal pensou o impensável, tirando proveito de uma grande crise para o impor. Com efeito, em 1949, Friedrich Hayek, padrinho intelectual da corrente que deu à luz Ronald Reagan e Margaret Thatcher, explicou-lhe o seguinte: «A principal lição que um liberal consequente deve tirar do êxito dos socialistas é esta: a coragem de serem utópicos é que (…) torna possível todos os dias o que ainda recentemente parecia irrealizável».
Assim sendo, quem proporá que se ponha em causa o âmago do sistema, o comércio livre? [2] “Utópico”? Mas se agora tudo é possível, tratando-se dos bancos…
Fonte:Site Informação Alternativa.
LAVAGEM DE DINHEIRO - Aprovada campanha mundial contra paraísos fiscais.
Por proposta do Bloco de Esquerda, a Conferência Eleitoral do Partido da Esquerda Europeia decidiu lançar uma campanha internacional pelo fecho imediato dos paraísos fiscais e pela taxação de todas as transacções financeiras. A mesma Conferência, realizada em Berlim, aprovou também uma plataforma programática para as próximas eleições europeias de Junho de 2009
A proposta do Bloco de Esquerda recolheu apoio generalizado, tendo sido incluída num texto sobre as respostas da esquerda à crise económica e financeira. A Esquerda Europeia irá agora desenvolver diligências junto de movimentos políticos e sociais que estejam de acordo com esta linha de trabalho, para que possa adquirir projecção internacional e mobilize milhões de cidadãos e cidadãs ao longo dos primeiros meses de 2009.
Miguel Portas interveio nesta Conferência, em nome do Bloco de Esquerda, criticando os actuais líderes europeus pela forma como lidam com a crise financeira. "Durante anos e anos, acreditaram piamente que o seu credo liberal seria capaz de todos os milagres. Quando se tornou evidente que deixara de ser assim, os dirigentes europeus passaram à gestão da crise financeira com o objectivo de salvar o capitalismo. É onde nos encontramos. Vários deles estão convencidos de que é preciso mudar alguma coisa para que os de sempre continuem a mandar"
O deputado europeu realçou ainda a importância da proposta do Bloco aprovada. "Esta decisão é também importante para a própria Esquerda Europeia. Sem presença institucional própria e restringindo a sua acção a declarações e à soma de vontades de cada um dos seus partidos, a Esquerda Europeia dificilmente poderá responder às exigências que a crise lhe coloca e às esquerdas em geral", acrescentando que esta campanha "projecta a Esquerda Europeia como corrente unitária no mapa político europeu, vitalmente interessada na mobilização social por uma mudança profunda nas políticas e na relação de forças actualmente existente."
A Conferência de Berlim aprovou ainda uma plataforma programática para as próximas eleições europeias de Junho de 2009. Este documento sintetiza o património de propostas comuns entre cerca de 32 forças políticas de esquerda na Europa. Em Portugal, o representante desta rede de forças é o Bloco de Esquerda.
Fonte:Site Esquerda.net.
A proposta do Bloco de Esquerda recolheu apoio generalizado, tendo sido incluída num texto sobre as respostas da esquerda à crise económica e financeira. A Esquerda Europeia irá agora desenvolver diligências junto de movimentos políticos e sociais que estejam de acordo com esta linha de trabalho, para que possa adquirir projecção internacional e mobilize milhões de cidadãos e cidadãs ao longo dos primeiros meses de 2009.
Miguel Portas interveio nesta Conferência, em nome do Bloco de Esquerda, criticando os actuais líderes europeus pela forma como lidam com a crise financeira. "Durante anos e anos, acreditaram piamente que o seu credo liberal seria capaz de todos os milagres. Quando se tornou evidente que deixara de ser assim, os dirigentes europeus passaram à gestão da crise financeira com o objectivo de salvar o capitalismo. É onde nos encontramos. Vários deles estão convencidos de que é preciso mudar alguma coisa para que os de sempre continuem a mandar"
O deputado europeu realçou ainda a importância da proposta do Bloco aprovada. "Esta decisão é também importante para a própria Esquerda Europeia. Sem presença institucional própria e restringindo a sua acção a declarações e à soma de vontades de cada um dos seus partidos, a Esquerda Europeia dificilmente poderá responder às exigências que a crise lhe coloca e às esquerdas em geral", acrescentando que esta campanha "projecta a Esquerda Europeia como corrente unitária no mapa político europeu, vitalmente interessada na mobilização social por uma mudança profunda nas políticas e na relação de forças actualmente existente."
A Conferência de Berlim aprovou ainda uma plataforma programática para as próximas eleições europeias de Junho de 2009. Este documento sintetiza o património de propostas comuns entre cerca de 32 forças políticas de esquerda na Europa. Em Portugal, o representante desta rede de forças é o Bloco de Esquerda.
Fonte:Site Esquerda.net.
MÍDIA - SILÊNCIO OBSEQUIOSO.
Omissão da mídia sobre o acordo com o Vaticano.
Por Roseli Fischmann em 18/11/2008
Fonte: Observatório da Imprensa
É grave e clamoroso o silêncio da imprensa em relação à assinatura do acordo entre o Executivo brasileiro e a Santa Sé. Como é grave a atitude de, ao dar a matéria, meramente divulgar informações oficiais do governo brasileiro ou do Vaticano, que obviamente tentam minimizar a ameaça à laicidade do Estado, que está presente. Não fosse por outro motivo, seria de se esperar atenção da imprensa, pelo vigor renovado das reações de tantos setores, a cada nova ameaça ao Estado laico.
É bom lembrar que há exatos dois anos tornou-se público que a Santa Sé pressionava o presidente Lula para assinar um acordo bilateral (tratado ou concordata), ameaçando o princípio da laicidade, o que ocasionou reações fortes e justificadas de amplos setores. Em continuidade a movimento que remonta aos primórdios da República, são pessoas de muitas e diversas origens que têm se dedicado a demonstrar e reafirmar como o princípio da laicidade do Estado é indissolúvel da democracia, como consagrado na Constituição brasileira.
Mera reprodução
Ora, a opinião pública merece respeito e à imprensa cabe cumprir seu papel de informar, em particular quando o gesto que é político – como reconhecido, em busca de seu próprio benefício, pela Santa Sé – ameaça a liberdade de consciência e de crença dos pertencentes a outros grupos ideológicos e religiosos. O silêncio da imprensa há de ser tomado como presumidamente auto-imposto, já que não se pode imaginar que tipo de pressão as partes contratantes do acordo poderiam fazer, estando, como estamos, em uma democracia.
Vale mencionar, primeiramente, que o porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, fez anúncio da viagem do presidente a Roma, "a caminho de Washington". Era 6 de novembro, uma semana antes da data agendada para a assinatura, ou seja, com tempo apertado, porém suficiente, para explorar o anunciado (ver aqui a transcrição da íntegra da coletiva). Assim, seria de se esperar o debate pela imprensa, em particular por toda a polêmica em ocasiões anteriores em que o tema veio à tona, fosse diretamente, ou por riscos a que se viu exposto o Estado laico, como no caso da pesquisa com células-tronco.
Mas houve até veículos que simplesmente suprimiram o anúncio da assinatura do acordo, mencionando apenas que, "durante o encontro, Lula e Bento 16 podem discutir temas como combate à fome, direitos humanos e solidariedade entre os povos". Outros, como o UOL, ofereceram, sem destaque, o anúncio completo: "Na reunião reservada com o papa, Lula deve assinar um tratado com o Vaticano sobre a atuação da Igreja Católica no Brasil"; recortaram em particular a fala do porta-voz da Presidência: "O importante é que o acordo preserve o preceito constitucional de liberdade religiosa. Não será discutido credo, mas os direitos e deveres da entidade religiosa." Ponto final, sem críticas, "outros lados", ou quaisquer análises, mera reprodução da Agência Brasil.
Falha imperdoável
Pode-se até entender a posição do porta-voz de, no anúncio, tentar neutralizar a polêmica, buscando garantir que estariam assegurados os direitos de todos, o que ganhava relevância em face de ser a primeira vez que clara e oficialmente era assumida pelo governo a existência de negociações antigas, como dado no UOL: "Segundo Baumbach, o Brasil e o Vaticano negociam há alguns anos a redação de um documento sobre a relação entre os dois países".
É sabido que diferentes ministérios do governo federal foram chamados a se manifestar sobre a proposta do Vaticano em diferentes rodadas ao longo desses anos; ou seja, não foi gesto isolado do presidente, que bem poderia ter tido e ouvido algum de seus colaboradores a aconselhar a abertura do debate, que só teria a ganhar vindo à luz, protegendo a autoridade republicana da pressão indevida. Mas não foi assim, não sendo possível compreender como a imprensa não rastreou o processo. Sabe-se ainda que são fortes as pressões da Santa Sé reivindicando sigilo nas negociações, como chegou a ser anunciado em 2007, quando da visita do papa ao Brasil.
Por isso, não surpreende que o presidente Lula tenha sido "convidado" a assinar esse documento longe dos olhos do Brasil. Já com o presidente de Portugal havia sido usado esse artifício em 2004, para assinar, no Vaticano, em sigilo, uma concordata, lá noticiada apenas a posteriori. Essa estratégia é da Igreja Católica que, como qualquer instituição humana, procura fazer valer seus interesses; aceitá-la, é problema do governo, atitude questionável, mas do mundo da política; calar e não investigar é falha imperdoável da imprensa.
Sem ouvir nem informar
Ou seja, paradoxalmente, mesmo sob pressão, quem até tentou avisar foi o presidente – de forma limitada, no último momento, mas avisou. Por isso é impossível compreender por que a imprensa se furtou ao debate, quando houvera o anúncio por parte do Palácio do Planalto daquela agenda, ainda que de última hora. Seria o tempo para informar a opinião pública, oferecer debates, dados técnicos sobre o que são acordos bilaterais, peculiaridades da Santa Sé como Estado, a diferença entre a questão política e as questões de crença, o que poderia significar frente à ordem constitucional brasileira, em que afetaria ou não afetaria a vida da cidadania em geral etc.
Haveria a oferecer ao público o aporte do amplo arco de grupos que se mobiliza em favor da laicidade do Estado. Deixaram de ouvir fontes respeitáveis, que têm importantes e diversas contribuições a oferecer: minorias religiosas, em sua imensa diversidade no Brasil, monoteístas e politeístas, ateus e agnósticos; defensores e defensoras dos direitos sexuais e reprodutivos; movimento de mulheres e dos setores GBLTT; grupos acadêmicos dedicados ao estudo do Estado laico; associações científicas; e defensores da liberdade de expressão, para citar apenas alguns segmentos.
A representatividade e força desses setores é sua profunda heterogeneidade, sem qualquer centralização ou hierarquia, indicadora das múltiplas e diversas manifestações da pluralidade humana, base da democracia, como tanto indicaram cientistas políticos e filósofos como Arendt e Bobbio e outros. A imprensa nem se serviu dessas fontes para analisar e, antes ainda, nem informou, deixando igualmente de servir a todos e de cumprir sua missão.
Carta-manifesto
Já na ocasião da visita do papa Bento 16 ao Brasil, em 2007, a cobertura da imprensa deixara a desejar, como analisamos neste Observatório (ver "A imprensa em falta com o Brasil"). Naquela oportunidade, a maior parte da imprensa adotou atitude que extrapolava o respeito e a atenção – naturalmente devidas - à significativa e respeitável população católica no Brasil, para adotar cobertura que ignorou a pluralidade religiosa e o caráter laico do Estado brasileiro. Ali, a imprensa foi positivamente surpreendida pelo gesto do presidente Lula, que naquele momento teve coragem para cumprir seu juramento de defesa da Constituição brasileira e reafirmou a laicidade diretamente ao papa Bento 16, dizendo que não assinaria qualquer acordo bilateral, por ser o Brasil um Estado laico. Alberto Dines destacou no OI a contradição entre uma imprensa recolhida e o presidente assertivo (ver "Catequese da mídia contraria Estado laico").
Não fosse por outro motivo, desta vez seria de se esperar que a imprensa perguntasse ao presidente Lula: o que mudou, em 18 meses, que tornou possível assinar o acordo? Não seria de se esperar que a imprensa pedisse acesso ao documento, antes da assinatura, para submeter a análises e confirmar, ou não, as assertivas de que não haveria riscos à separação entre Estado e religiões? Ou, no caso, riscos à separação entre o Estado e especificamente a Igreja Católica Romana, que vigora desde o início da República, por ser matéria de interesse de todos?
Ao invés disso, o silêncio auto-obsequioso foi quase total: a CBN abriu espaço para o debate antes da assinatura do acordo (com base em notícias de jornais de outros países), como alguns veículos independentes, blogueiros isolados ou de instituições. A ONG "Católicas pelo Direito de Decidir" lançou uma carta-manifesto repercutida por diversas ONGs ligadas ao movimento de mulheres, e que não recebeu atenção da mídia para uma posição relevante que demonstra que entre os próprios católicos não há, felizmente, expectativa unânime de que o Estado brasileiro abdique da laicidade para se submeter a um grupo religioso.
Retrocesso, uma ameaça
Mais constrangedor ainda foi brasileiros e brasileiras precisarem consultar jornais estrangeiros, na internet, como o argentino Clarín, entre outros, que a partir do dia 9 de novembro detalharam aspectos do acordo, ouvindo fontes em geral não identificadas, trouxeram informações relativas a coletivas de que participou o presidente Lula em Roma, com o presidente italiano, em que o tema do acordo com o Vaticano foi abordado, deixando a impressão de que os veículos brasileiros sequer tinham correspondentes em Roma.
Como reagir à situação de o mundo discutir uma interpretação da vida brasileira que não teríamos jamais em vista, pelo absurdo, como a idéia de que o acordo protegeria a Igreja Católica até de mudanças na lei brasileira? Ou mesmo informações da presença de itens que, de fato, "caíram" na versão final do acordo? Ou com interpretação distinta dos termos depois anunciados, como prenúncio de próximas pressões?
Resta esperar que, já assinado o acordo, a imprensa cumpra seu dever, ainda que tardiamente, impulsionando o debate porque há ainda o que fazer. Basta ler o artigo 20, que implicitamente traz a exigência constitucional, no lado brasileiro, de que seja ratificado pelo Congresso Nacional. Que a omissão não permaneça como a marca histórica da imprensa neste momento tão crítico em que a República, em seu 119º aniversário, é ameaçada de retrocesso em séculos.Fonte:Blog Vi o Mundo.
Por Roseli Fischmann em 18/11/2008
Fonte: Observatório da Imprensa
É grave e clamoroso o silêncio da imprensa em relação à assinatura do acordo entre o Executivo brasileiro e a Santa Sé. Como é grave a atitude de, ao dar a matéria, meramente divulgar informações oficiais do governo brasileiro ou do Vaticano, que obviamente tentam minimizar a ameaça à laicidade do Estado, que está presente. Não fosse por outro motivo, seria de se esperar atenção da imprensa, pelo vigor renovado das reações de tantos setores, a cada nova ameaça ao Estado laico.
É bom lembrar que há exatos dois anos tornou-se público que a Santa Sé pressionava o presidente Lula para assinar um acordo bilateral (tratado ou concordata), ameaçando o princípio da laicidade, o que ocasionou reações fortes e justificadas de amplos setores. Em continuidade a movimento que remonta aos primórdios da República, são pessoas de muitas e diversas origens que têm se dedicado a demonstrar e reafirmar como o princípio da laicidade do Estado é indissolúvel da democracia, como consagrado na Constituição brasileira.
Mera reprodução
Ora, a opinião pública merece respeito e à imprensa cabe cumprir seu papel de informar, em particular quando o gesto que é político – como reconhecido, em busca de seu próprio benefício, pela Santa Sé – ameaça a liberdade de consciência e de crença dos pertencentes a outros grupos ideológicos e religiosos. O silêncio da imprensa há de ser tomado como presumidamente auto-imposto, já que não se pode imaginar que tipo de pressão as partes contratantes do acordo poderiam fazer, estando, como estamos, em uma democracia.
Vale mencionar, primeiramente, que o porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, fez anúncio da viagem do presidente a Roma, "a caminho de Washington". Era 6 de novembro, uma semana antes da data agendada para a assinatura, ou seja, com tempo apertado, porém suficiente, para explorar o anunciado (ver aqui a transcrição da íntegra da coletiva). Assim, seria de se esperar o debate pela imprensa, em particular por toda a polêmica em ocasiões anteriores em que o tema veio à tona, fosse diretamente, ou por riscos a que se viu exposto o Estado laico, como no caso da pesquisa com células-tronco.
Mas houve até veículos que simplesmente suprimiram o anúncio da assinatura do acordo, mencionando apenas que, "durante o encontro, Lula e Bento 16 podem discutir temas como combate à fome, direitos humanos e solidariedade entre os povos". Outros, como o UOL, ofereceram, sem destaque, o anúncio completo: "Na reunião reservada com o papa, Lula deve assinar um tratado com o Vaticano sobre a atuação da Igreja Católica no Brasil"; recortaram em particular a fala do porta-voz da Presidência: "O importante é que o acordo preserve o preceito constitucional de liberdade religiosa. Não será discutido credo, mas os direitos e deveres da entidade religiosa." Ponto final, sem críticas, "outros lados", ou quaisquer análises, mera reprodução da Agência Brasil.
Falha imperdoável
Pode-se até entender a posição do porta-voz de, no anúncio, tentar neutralizar a polêmica, buscando garantir que estariam assegurados os direitos de todos, o que ganhava relevância em face de ser a primeira vez que clara e oficialmente era assumida pelo governo a existência de negociações antigas, como dado no UOL: "Segundo Baumbach, o Brasil e o Vaticano negociam há alguns anos a redação de um documento sobre a relação entre os dois países".
É sabido que diferentes ministérios do governo federal foram chamados a se manifestar sobre a proposta do Vaticano em diferentes rodadas ao longo desses anos; ou seja, não foi gesto isolado do presidente, que bem poderia ter tido e ouvido algum de seus colaboradores a aconselhar a abertura do debate, que só teria a ganhar vindo à luz, protegendo a autoridade republicana da pressão indevida. Mas não foi assim, não sendo possível compreender como a imprensa não rastreou o processo. Sabe-se ainda que são fortes as pressões da Santa Sé reivindicando sigilo nas negociações, como chegou a ser anunciado em 2007, quando da visita do papa ao Brasil.
Por isso, não surpreende que o presidente Lula tenha sido "convidado" a assinar esse documento longe dos olhos do Brasil. Já com o presidente de Portugal havia sido usado esse artifício em 2004, para assinar, no Vaticano, em sigilo, uma concordata, lá noticiada apenas a posteriori. Essa estratégia é da Igreja Católica que, como qualquer instituição humana, procura fazer valer seus interesses; aceitá-la, é problema do governo, atitude questionável, mas do mundo da política; calar e não investigar é falha imperdoável da imprensa.
Sem ouvir nem informar
Ou seja, paradoxalmente, mesmo sob pressão, quem até tentou avisar foi o presidente – de forma limitada, no último momento, mas avisou. Por isso é impossível compreender por que a imprensa se furtou ao debate, quando houvera o anúncio por parte do Palácio do Planalto daquela agenda, ainda que de última hora. Seria o tempo para informar a opinião pública, oferecer debates, dados técnicos sobre o que são acordos bilaterais, peculiaridades da Santa Sé como Estado, a diferença entre a questão política e as questões de crença, o que poderia significar frente à ordem constitucional brasileira, em que afetaria ou não afetaria a vida da cidadania em geral etc.
Haveria a oferecer ao público o aporte do amplo arco de grupos que se mobiliza em favor da laicidade do Estado. Deixaram de ouvir fontes respeitáveis, que têm importantes e diversas contribuições a oferecer: minorias religiosas, em sua imensa diversidade no Brasil, monoteístas e politeístas, ateus e agnósticos; defensores e defensoras dos direitos sexuais e reprodutivos; movimento de mulheres e dos setores GBLTT; grupos acadêmicos dedicados ao estudo do Estado laico; associações científicas; e defensores da liberdade de expressão, para citar apenas alguns segmentos.
A representatividade e força desses setores é sua profunda heterogeneidade, sem qualquer centralização ou hierarquia, indicadora das múltiplas e diversas manifestações da pluralidade humana, base da democracia, como tanto indicaram cientistas políticos e filósofos como Arendt e Bobbio e outros. A imprensa nem se serviu dessas fontes para analisar e, antes ainda, nem informou, deixando igualmente de servir a todos e de cumprir sua missão.
Carta-manifesto
Já na ocasião da visita do papa Bento 16 ao Brasil, em 2007, a cobertura da imprensa deixara a desejar, como analisamos neste Observatório (ver "A imprensa em falta com o Brasil"). Naquela oportunidade, a maior parte da imprensa adotou atitude que extrapolava o respeito e a atenção – naturalmente devidas - à significativa e respeitável população católica no Brasil, para adotar cobertura que ignorou a pluralidade religiosa e o caráter laico do Estado brasileiro. Ali, a imprensa foi positivamente surpreendida pelo gesto do presidente Lula, que naquele momento teve coragem para cumprir seu juramento de defesa da Constituição brasileira e reafirmou a laicidade diretamente ao papa Bento 16, dizendo que não assinaria qualquer acordo bilateral, por ser o Brasil um Estado laico. Alberto Dines destacou no OI a contradição entre uma imprensa recolhida e o presidente assertivo (ver "Catequese da mídia contraria Estado laico").
Não fosse por outro motivo, desta vez seria de se esperar que a imprensa perguntasse ao presidente Lula: o que mudou, em 18 meses, que tornou possível assinar o acordo? Não seria de se esperar que a imprensa pedisse acesso ao documento, antes da assinatura, para submeter a análises e confirmar, ou não, as assertivas de que não haveria riscos à separação entre Estado e religiões? Ou, no caso, riscos à separação entre o Estado e especificamente a Igreja Católica Romana, que vigora desde o início da República, por ser matéria de interesse de todos?
Ao invés disso, o silêncio auto-obsequioso foi quase total: a CBN abriu espaço para o debate antes da assinatura do acordo (com base em notícias de jornais de outros países), como alguns veículos independentes, blogueiros isolados ou de instituições. A ONG "Católicas pelo Direito de Decidir" lançou uma carta-manifesto repercutida por diversas ONGs ligadas ao movimento de mulheres, e que não recebeu atenção da mídia para uma posição relevante que demonstra que entre os próprios católicos não há, felizmente, expectativa unânime de que o Estado brasileiro abdique da laicidade para se submeter a um grupo religioso.
Retrocesso, uma ameaça
Mais constrangedor ainda foi brasileiros e brasileiras precisarem consultar jornais estrangeiros, na internet, como o argentino Clarín, entre outros, que a partir do dia 9 de novembro detalharam aspectos do acordo, ouvindo fontes em geral não identificadas, trouxeram informações relativas a coletivas de que participou o presidente Lula em Roma, com o presidente italiano, em que o tema do acordo com o Vaticano foi abordado, deixando a impressão de que os veículos brasileiros sequer tinham correspondentes em Roma.
Como reagir à situação de o mundo discutir uma interpretação da vida brasileira que não teríamos jamais em vista, pelo absurdo, como a idéia de que o acordo protegeria a Igreja Católica até de mudanças na lei brasileira? Ou mesmo informações da presença de itens que, de fato, "caíram" na versão final do acordo? Ou com interpretação distinta dos termos depois anunciados, como prenúncio de próximas pressões?
Resta esperar que, já assinado o acordo, a imprensa cumpra seu dever, ainda que tardiamente, impulsionando o debate porque há ainda o que fazer. Basta ler o artigo 20, que implicitamente traz a exigência constitucional, no lado brasileiro, de que seja ratificado pelo Congresso Nacional. Que a omissão não permaneça como a marca histórica da imprensa neste momento tão crítico em que a República, em seu 119º aniversário, é ameaçada de retrocesso em séculos.Fonte:Blog Vi o Mundo.
IRAQUE - Até quando Iraque, até quando?
Seymour Hersh, do New Yorker, o primeiro jornalista a denunciar as torturas praticadas pelos soldados americanos na prisão de Abu Ghraib, Iraque, afirmou, durante palestra que assistiu a tapes “onde podíamos ver as crianças sendo sodomizadas. O pior de tudo era ouvir seus gritos”.
Sodomia de crianças é a última manifestação da democracia exportada pelo delinqüente Bush.
É a democracia que fala em liberdade de imprensa, mas não permite que essas verdades sejam divulgadas.
Crianças com 8 anos de idade servindo a apetites medonhos de bárbaros que invadiram seu país para aumentar os lucros das empresas".
Agora que o delinqüente e terrorista número 1 do planeta está se preparando para ir para casa, o que mudou no Iraque?
Vejamos:
Estatísticas do governo indicam que cinco milhões de crianças vivem em péssimas condições econômicas. 760.000 não puderam voltar à escola primária este ano e cerca de 25.000 perderam seus lares. As organizações humanitárias informam que o número de órfãos iraquianos aumentou em 500 mil. Segundo a Save the children, uma de cada oito crianças iraquianas está vivendo agora nas ruas. O Fafo Institute for Applied Social Science da ONU informa que há pelos menos 400 mil crianças que sofrem de desnutrição.
A organização Childhood Voices Association que cuida de crianças informa que só em Bagdad há 11.000 crianças dependentes de drogas, que muitas meninas entre 12 a 16 anos têm sido vitimais de estupros. Além disso, mais de 1.300 crianças entre oito e 12 anos encontram-se detidas em prisões construidas pelos invasores estadunidenses sofrendo violências sexuais.
Georges Bourdokan
Fonte: Site do Pravda.
Sodomia de crianças é a última manifestação da democracia exportada pelo delinqüente Bush.
É a democracia que fala em liberdade de imprensa, mas não permite que essas verdades sejam divulgadas.
Crianças com 8 anos de idade servindo a apetites medonhos de bárbaros que invadiram seu país para aumentar os lucros das empresas".
Agora que o delinqüente e terrorista número 1 do planeta está se preparando para ir para casa, o que mudou no Iraque?
Vejamos:
Estatísticas do governo indicam que cinco milhões de crianças vivem em péssimas condições econômicas. 760.000 não puderam voltar à escola primária este ano e cerca de 25.000 perderam seus lares. As organizações humanitárias informam que o número de órfãos iraquianos aumentou em 500 mil. Segundo a Save the children, uma de cada oito crianças iraquianas está vivendo agora nas ruas. O Fafo Institute for Applied Social Science da ONU informa que há pelos menos 400 mil crianças que sofrem de desnutrição.
A organização Childhood Voices Association que cuida de crianças informa que só em Bagdad há 11.000 crianças dependentes de drogas, que muitas meninas entre 12 a 16 anos têm sido vitimais de estupros. Além disso, mais de 1.300 crianças entre oito e 12 anos encontram-se detidas em prisões construidas pelos invasores estadunidenses sofrendo violências sexuais.
Georges Bourdokan
Fonte: Site do Pravda.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
LULA, MÍDIA E OPINIÃO PÚBLICA: AMOR E ÓDIO.
E eu que pensei que o Reinaldo Azevedo era insuperável no ódio ao Lula.
Carlos Dória.
A retórica violenta do colunista da Folha Vinícius Torres Freire contra Lula (e o que ele chama de lulismo) em seu blog é exemplo de um fenômeno que deve ser discutido acima das questões partidárias e ideológicas.
Personagens como Lula, mas também como Getúlio, Lacerda, e outros tantos líderes políticos no mundo, costumam atrair um debate muitas vezes destemperado.
E digo que o debate é destemperado nas duas frentes, visto que, na maioria das vezes, as opções se regem pelo amor e pelo ódio.
Seria reducionismo puro atribuir as marretadas retóricas de autores como Arnaldo Jabor, Vinícius Torres, Clovis Rossi, simplesmente a um preconceito social, motivado pela origem do presidente.
Não são somente líderes populares (embora estes em maior número) que arregimentam sentimentos tão extremos em torno de si. Amor cego. Ódio surdo.
Hipóteses
Vou tentar, aqui, com muito zelo pelo apartidarismo proposto pelo jornalista Luis Nassif para esta comunidade, levantar hipóteses que expliquem a violência desse discurso anti-lulista.
Hipótese 1
"As retóricas violentas anti-líderes estão na proporção inversa do carisma que estes mesmos líderes dispõem junto a amplos setores da sociedade (a que possivelmente estará sujeito Barack Obama, nos EUA, pelo seu enorme carisma junto a latinos, negros, pobres e jovens)".
Em outras palavras: "grupos sociais que não se sentem representados pelos líderes cortejados por outros grupos desenvolvem necessariamente ressentimentos no nível imaginário. Quanto mais paixão "positiva" estes líderes despertarem num lado, mais paixões negativas, eles despertarão no outro".
Hipótese 2
Talvez esse sentimento de desprezo e ódio possa explicado não somente pela relação dos grupos sociais, mas pela relação dos discursos representados ou rechaçados por estes líderes.
Isto porque nem sempre há coincidência entre "discurso" e grupo social (nem toda mulher é feminista, nem toda elite é anti-popular, por exemplo.)
O caso do colunista da Folha é muito exemplar: ele fora editor de ciência e educação; portanto, duas editorias que aparentemente são responsáveis pelos debates mais racionalizados no jornalismo.
As expressões "chefe de quadrilha", muito utilizada por Arnaldo Jabor para definir o presidente Lula, e "canalha", usado metonimicamente para definir o seu governo, por Clóvis Rossi, são suaves em termos de agressividade, quando são comparadas àquelas utilizadas pelo ex-editor de educação e de ciência da Folha.
Já de antemão alerto que não comparo em nenhum momento os posts de Vinícius Torres com os chamados blogs de difamação.
Também não há, abaixo, qualquer argumento que leve em consideração questões ideológico-partidárias.
Vinícius é jornalista e tem condições intelectuais de manter um post de debate racionalizado. Mas, ao tratar de Lula, o colunista muda rapidamente seu estilo.
Vamos tomar como exemplo um post recente, que acabou levando o jornalista a um verdadeiro bate-boca com lulistas, não menos agressivos, que responderam com paixão simétrica ao argumento de Vinícius de que Lula fora racista em certa fala pública.
"O primitivismo de Lula" e a retórica do desprezo
O racismo de Lula (25/11/2008)
"Lula, o boquirroto incontrolável, temperou sua logorréia com racismo num discurso de ontem"
Esta é a primeira frase do post: a acusação é de racismo simplesmente, independente dos termos pejorativos anteriores.
A revolta do colunista tem a ver com um discurso muitíssimo comum no país, de exaltação da mestiçagem, da "mistura de raça", e de povos. Esta filiação discursiva motivou músicas, romances, poemas e filmes, debates e opiniões, muitas vezes sustentadas por notáveis, e que nunca soou aos brasileiros como uma opinião perigosa e preconceituosa: segundo esse discurso, "o brasileiro é mais criativo, porque mais heterogêneo". Está presente em diversas fases do modernismo e retorna fortemente na própria Tropicália.
Curiosamente, o colunista não identificou a enorme tradição deste pensamento: ele atribuiu a Lula um racismo grave:
Diz, Lula.
"Por que o brasileiro tem mais criatividade? Esta mistura do europeu, índio, negro, sabe, permitiu que nascesse um povo mais criativo, mais esperto do que a média, daqueles que são tudo assim, tudo a mesma coisa...".
Sobre esta fala, vem um comentário veemente e furioso:
"Pois é. Os japoneses, que estão entre os povos mais 'tudo assim, tudo a mesma coisa', devem ser menos criativos. Os alemães também. Assim como os chineses han, várias nações africanas, índios isolados etc, devem, pois, ser menos criativos do que os brasileiros e, também, que os americanos, segundo a ciência de Lula..
O modo de atribuir esta discurso a uma "ciência do Lula" apaga o fato de que é longa a tradição de atribuir a esta mistura de povos uma certa superioridade criativa.
A questão poderia ser discutida da seguinte forma: este pensamento é tão ingênuo quanto o seu contrário, o da superioridade de povos não miscigenados.
Mas seguem os ataques:
"Os americanos, apesar de suas discriminações negativas, misturaram italianos, judeus, alemães, irlandeses, suecos, gregos, ingleses, mexicanos, porto-riquenhos etc etc. Aliás, afora esses exemplos, sendo o brasileiro o mais "exemplar", a humanidade, segundo Lula, nunca se misturou desde o início dos tempos. Ou valem apenas misturas recentes?"
A fala de Lula é nacionalista sem dúvida, mas não há nenhuma referência a outros povos heterogêneos.
Recentemente, Obama disse que o "povo americano nasceu para seguir em frente, e precisa retomar a caminhada". Curiosamene, a fala foi uma das mais aplaudidas pela imprensa opinativa.
Talvez algum jornalista tenha se incomodado, dizendo que Obama "não devesse ter desprezado outros povos que também nasceram para caminhar para frente". Mas acho pouco provável que um gesto de elogio à nação americana seria interpretado de maneira tão negativa em solo pátrio.
Segue Vinícius:
"Criatividade, aliás, tem tudo a ver com "raça", esse conceito tão "científico", é claro, nos diz o Gobineau do racismo criativo _Lula".
Aqui Lula é comparado a Gobineau e ao racismo científico do século XIX: que, no entanto, caminhava numa outra direção, a da hierarquia das "capacidades raciais", ao que se seguiu o discurso dos perigos da miscigenação, vista naturalmente como degeneração física, moral e intelectual das "raças" superiores.
O discurso da mestiçagem como "ganho" e não como "perda" foi uma reação ao racismo do século XIX. Nasceu ali pelos anos 30 e teve em Gilberto Freire um bom ponto de apoio.
Sabemos que não há ganhos "raciais" nas mestiçagens. Sabemos da pouca propriedade "científica" de uma crença como esta. Mas talvez não se possa dizer que aqueles que acreditam que "a heterogeidade da formação cultural" do Brasil seja um motivo de orgulho são "racistas". Esta é uma expressão forte, pouco condizente com o que vemos e ouvimos neste discurso do elogio às nossas misturas, um xingamento.
Mas não vamos discutir os méritos, apenas os encadeamentos argumentativos do colunista, apontando com que discursos ele dialoga.
Silenciamento e poder
Num certo momento, Vinícius defende que Lula seja impedido (ou se impeça) de falar para crianças no Brasil:
"Lula talvez devesse se impedir de falar diante de crianças e jovens, ao menos".
Isto é recorrente nas retóricas de ódio a Lula: a vontade de que ele não fale. De que ele seja silenciado e não se pronuncie. Mas aí deve-se perguntar 1) o que seria silenciado se Lula fosse calado? 2) Quem seria silenciado se Lula fosse calado?
Vamos tentar ir à frente das respostas mais comuns a estas perguntas (tanto de um lado como de outro do espectro político-partidário).
Observe que, na passagem seguinte, o contra-argumento não é simétrico ao argumento do sujeito a ser criticado:
"Em 2004, discursando para crianças disse que ler é como começar a fazer exercícios: "dá uma preguiça ‘desgramada’". Um trecho de coluna deste blogueiro a respeito, também de 2004:
"Para as crianças, ler é tão desanimador como as caminhadas para os adultos sedentários: "dá uma preguiça 'desgramada'", disse o presidente Lula da Silva ao inaugurar a Bienal do Livro de São Paulo".
Não vamos entrar no mérito da questão, novamente, visto que sabemos perfeitamente que temos em sala de aula muita resistência à leitura por parte dos nossos jovens - curiosamente uma resistência própria a uma sociedade midiática audiovisual, que se impôs no decorrer da passagem, no Brasil, de uma cultura marcada pela oralidade para a escrita.
Esta questão é muita debatida nos meios educacionais e o jornalista que transita pela editoria de educação deveria conhecer este debate.
Mas esta "constatação" feita por Lula transforma-se em "pregação da preguiça de ler".
Não é preciso debater à condenação lingüística, expressa pelas aspas, ao termo "desgramado", que é palavra de uso corrente fora da chamada "norma culta". Mas sem dúvida esta "condenação entre aspas" é a materialização de uma repulsa aos falares populares, a sua sintaxe, e ao seu léxico.
Segue o post:
"Lula não lê mais de duas páginas de relatórios, dizem assessores, gosta de piscina, churrasquinho, pelada e música sertaneja, samba, suor e cerveja. Não deixa, pois, de ter razão o realismo pedestre de Lula sobre a leitura. Preconceito? Não é o caso".
Observe os elementos mobilizados para dizer que Lula é um "homem ignorante" e que deveria ser impedido de falar aos jovens: "o presidente gosta de festa, futebol, música (a especificidade "música sertaneja" que aqui aparece para afirmar que "Lula não ouve música culta"), samba, suor e bebida.
A expressão "samba, suor e bebida" não é casual: tem a ver com o imaginário sobre "diversão de pobre". O samba (ao lado da música sertaneja, como expressões culturais menores), o suor, remetendo à pouca ascese dos corpos, que seria mais apropriada às high cult, e cerveja, como índice de um consumo pouco sofisticado.
A idéia de que pessoas que tenham "gostos populares" sejam ignorantes e incapazes reaparece na coluna, mas pertence também a um discurso muito antigo, que chegou a fazer parte inclusive dos ideólogos de esquerda: o de um povo alienado e inconsciente da seu potencial. A diferença é que, para o colunista, "isto" não tem potencial algum.
Corporeidade e civilização
Seguimos:
"O presidente não é deus, como alertou, mas gosta de ser a voz do povo, um megafone de hábitos, trejeitos, preconceitos, utopias e até sabedorias populares. Tanto faz, a princípio, que Lula seja assim".
É curioso como a corporeidade de Lula incomoda o colunista: os trejeitos (assim como o suor) são expressão de uma identificação com um tipo de pensamento (selvagem?) que se baseia sobre "preconceitos, utopias e até (observe o conectivo que orienta o argumento para a noção de esforço) sabedorias populares".
Os trejeitos de Lula, sua pouca memória corporal nos "dizeres gestuais" contidos, disciplinados, daquele que pertence à filiação cultural européia, traz incômodos, parecem selvagens, pouco educados.
O corpo de Lula não seria ideal para o poder. O corpo do poder é um corpo que deve remeter ao corpo "disciplinado", ereto, com gestual contido, sugerindo racionalidade.
Mas o argumento deve ser complementado com o vem a seguir, que revela a oposição fundante deste raciocínio: pensamento selvagem x razão civilizacional.
"O problema é que ele não consegue transcender seu realismo pedestre a fim de desempenhar o papel público de presidente, de transmitir uma visão mais racional e elaborada sobre as questões públicas".
O mais surpreendente no discurso - muito antigo, aliás, e que remete à debilidade das massas, do homem comum - com que Vinícius se identifica e se reconhece de forma bastante enfática, é o emocionalismo presente em sua fala/escrita.
Expressa-se sobre uma poética da condenação do que, no seu imaginário, é o povo, o selvagem, e o primitivo.
Neste "evolucionismo social", há etapas que Lula não consegue transcender. Lula não chegou, para este discurso, ao patamar civilizacional esperado daquele que ocupa a cadeira da presidência.
Seguem os argumentos de depreciação do presidente:
"Limita-se às metáforas chãs, tem amor pelas mezinhas, pelas alegorias da vida de peão, sobre o companheiro que leva bronca da patroa por ter parado no botequim para a cervejinha".
A vida comum é deplorada. Lula é pecaminoso porque dá corpo cotidiano às grandes questões (Permitam-me um digressão: "Mas o que seriam as grandes questões? Em outras palavras: "a grande questão fim do neoliberalismo não tem a ver com o cotidiano chão de pessoas que perderam o teto?")
A expressão mais violenta e forte vem agora:
"Esse bestiário da vida operária não dá conta do debate democrático, o metaforismo popular não é capaz de traduzir questões de governo para o povo pobre. É apenas demagogia, talvez não intencional: Lula é o que parece ser. Transmite seus preconceitos sem pejo ou mesmo consciência do que faz, como no caso da gafe sobre a leitura e tantas outras."
Insiste o blog-jornalista na tal gafe sobre a leitura, atribuindo por fim a Lula uma "inconsciência sobre sua incapacidade".
Curiosamente, os argumentos são pré-levistraussianos, que atribui a inconsciência cultural em relação às estruturas determinantes a todos os grupos humanos.
O esforço aqui é o de mostrar que, além da questão partidária, tão evocada nas discussões do jornalismo, pode-se compreender o posicionamento dos sujeitos a partir de suas filiações discursivas, suas identificações ideológicas a pensamentos, na maioria das vezes bem tradicionais. Pode-se entender também como, na luta dos discursos, se justificam os afetos, como o amor, a paixão e o ódio.
Fonte: Blog Luis Nassif online.
Carlos Dória.
A retórica violenta do colunista da Folha Vinícius Torres Freire contra Lula (e o que ele chama de lulismo) em seu blog é exemplo de um fenômeno que deve ser discutido acima das questões partidárias e ideológicas.
Personagens como Lula, mas também como Getúlio, Lacerda, e outros tantos líderes políticos no mundo, costumam atrair um debate muitas vezes destemperado.
E digo que o debate é destemperado nas duas frentes, visto que, na maioria das vezes, as opções se regem pelo amor e pelo ódio.
Seria reducionismo puro atribuir as marretadas retóricas de autores como Arnaldo Jabor, Vinícius Torres, Clovis Rossi, simplesmente a um preconceito social, motivado pela origem do presidente.
Não são somente líderes populares (embora estes em maior número) que arregimentam sentimentos tão extremos em torno de si. Amor cego. Ódio surdo.
Hipóteses
Vou tentar, aqui, com muito zelo pelo apartidarismo proposto pelo jornalista Luis Nassif para esta comunidade, levantar hipóteses que expliquem a violência desse discurso anti-lulista.
Hipótese 1
"As retóricas violentas anti-líderes estão na proporção inversa do carisma que estes mesmos líderes dispõem junto a amplos setores da sociedade (a que possivelmente estará sujeito Barack Obama, nos EUA, pelo seu enorme carisma junto a latinos, negros, pobres e jovens)".
Em outras palavras: "grupos sociais que não se sentem representados pelos líderes cortejados por outros grupos desenvolvem necessariamente ressentimentos no nível imaginário. Quanto mais paixão "positiva" estes líderes despertarem num lado, mais paixões negativas, eles despertarão no outro".
Hipótese 2
Talvez esse sentimento de desprezo e ódio possa explicado não somente pela relação dos grupos sociais, mas pela relação dos discursos representados ou rechaçados por estes líderes.
Isto porque nem sempre há coincidência entre "discurso" e grupo social (nem toda mulher é feminista, nem toda elite é anti-popular, por exemplo.)
O caso do colunista da Folha é muito exemplar: ele fora editor de ciência e educação; portanto, duas editorias que aparentemente são responsáveis pelos debates mais racionalizados no jornalismo.
As expressões "chefe de quadrilha", muito utilizada por Arnaldo Jabor para definir o presidente Lula, e "canalha", usado metonimicamente para definir o seu governo, por Clóvis Rossi, são suaves em termos de agressividade, quando são comparadas àquelas utilizadas pelo ex-editor de educação e de ciência da Folha.
Já de antemão alerto que não comparo em nenhum momento os posts de Vinícius Torres com os chamados blogs de difamação.
Também não há, abaixo, qualquer argumento que leve em consideração questões ideológico-partidárias.
Vinícius é jornalista e tem condições intelectuais de manter um post de debate racionalizado. Mas, ao tratar de Lula, o colunista muda rapidamente seu estilo.
Vamos tomar como exemplo um post recente, que acabou levando o jornalista a um verdadeiro bate-boca com lulistas, não menos agressivos, que responderam com paixão simétrica ao argumento de Vinícius de que Lula fora racista em certa fala pública.
"O primitivismo de Lula" e a retórica do desprezo
O racismo de Lula (25/11/2008)
"Lula, o boquirroto incontrolável, temperou sua logorréia com racismo num discurso de ontem"
Esta é a primeira frase do post: a acusação é de racismo simplesmente, independente dos termos pejorativos anteriores.
A revolta do colunista tem a ver com um discurso muitíssimo comum no país, de exaltação da mestiçagem, da "mistura de raça", e de povos. Esta filiação discursiva motivou músicas, romances, poemas e filmes, debates e opiniões, muitas vezes sustentadas por notáveis, e que nunca soou aos brasileiros como uma opinião perigosa e preconceituosa: segundo esse discurso, "o brasileiro é mais criativo, porque mais heterogêneo". Está presente em diversas fases do modernismo e retorna fortemente na própria Tropicália.
Curiosamente, o colunista não identificou a enorme tradição deste pensamento: ele atribuiu a Lula um racismo grave:
Diz, Lula.
"Por que o brasileiro tem mais criatividade? Esta mistura do europeu, índio, negro, sabe, permitiu que nascesse um povo mais criativo, mais esperto do que a média, daqueles que são tudo assim, tudo a mesma coisa...".
Sobre esta fala, vem um comentário veemente e furioso:
"Pois é. Os japoneses, que estão entre os povos mais 'tudo assim, tudo a mesma coisa', devem ser menos criativos. Os alemães também. Assim como os chineses han, várias nações africanas, índios isolados etc, devem, pois, ser menos criativos do que os brasileiros e, também, que os americanos, segundo a ciência de Lula..
O modo de atribuir esta discurso a uma "ciência do Lula" apaga o fato de que é longa a tradição de atribuir a esta mistura de povos uma certa superioridade criativa.
A questão poderia ser discutida da seguinte forma: este pensamento é tão ingênuo quanto o seu contrário, o da superioridade de povos não miscigenados.
Mas seguem os ataques:
"Os americanos, apesar de suas discriminações negativas, misturaram italianos, judeus, alemães, irlandeses, suecos, gregos, ingleses, mexicanos, porto-riquenhos etc etc. Aliás, afora esses exemplos, sendo o brasileiro o mais "exemplar", a humanidade, segundo Lula, nunca se misturou desde o início dos tempos. Ou valem apenas misturas recentes?"
A fala de Lula é nacionalista sem dúvida, mas não há nenhuma referência a outros povos heterogêneos.
Recentemente, Obama disse que o "povo americano nasceu para seguir em frente, e precisa retomar a caminhada". Curiosamene, a fala foi uma das mais aplaudidas pela imprensa opinativa.
Talvez algum jornalista tenha se incomodado, dizendo que Obama "não devesse ter desprezado outros povos que também nasceram para caminhar para frente". Mas acho pouco provável que um gesto de elogio à nação americana seria interpretado de maneira tão negativa em solo pátrio.
Segue Vinícius:
"Criatividade, aliás, tem tudo a ver com "raça", esse conceito tão "científico", é claro, nos diz o Gobineau do racismo criativo _Lula".
Aqui Lula é comparado a Gobineau e ao racismo científico do século XIX: que, no entanto, caminhava numa outra direção, a da hierarquia das "capacidades raciais", ao que se seguiu o discurso dos perigos da miscigenação, vista naturalmente como degeneração física, moral e intelectual das "raças" superiores.
O discurso da mestiçagem como "ganho" e não como "perda" foi uma reação ao racismo do século XIX. Nasceu ali pelos anos 30 e teve em Gilberto Freire um bom ponto de apoio.
Sabemos que não há ganhos "raciais" nas mestiçagens. Sabemos da pouca propriedade "científica" de uma crença como esta. Mas talvez não se possa dizer que aqueles que acreditam que "a heterogeidade da formação cultural" do Brasil seja um motivo de orgulho são "racistas". Esta é uma expressão forte, pouco condizente com o que vemos e ouvimos neste discurso do elogio às nossas misturas, um xingamento.
Mas não vamos discutir os méritos, apenas os encadeamentos argumentativos do colunista, apontando com que discursos ele dialoga.
Silenciamento e poder
Num certo momento, Vinícius defende que Lula seja impedido (ou se impeça) de falar para crianças no Brasil:
"Lula talvez devesse se impedir de falar diante de crianças e jovens, ao menos".
Isto é recorrente nas retóricas de ódio a Lula: a vontade de que ele não fale. De que ele seja silenciado e não se pronuncie. Mas aí deve-se perguntar 1) o que seria silenciado se Lula fosse calado? 2) Quem seria silenciado se Lula fosse calado?
Vamos tentar ir à frente das respostas mais comuns a estas perguntas (tanto de um lado como de outro do espectro político-partidário).
Observe que, na passagem seguinte, o contra-argumento não é simétrico ao argumento do sujeito a ser criticado:
"Em 2004, discursando para crianças disse que ler é como começar a fazer exercícios: "dá uma preguiça ‘desgramada’". Um trecho de coluna deste blogueiro a respeito, também de 2004:
"Para as crianças, ler é tão desanimador como as caminhadas para os adultos sedentários: "dá uma preguiça 'desgramada'", disse o presidente Lula da Silva ao inaugurar a Bienal do Livro de São Paulo".
Não vamos entrar no mérito da questão, novamente, visto que sabemos perfeitamente que temos em sala de aula muita resistência à leitura por parte dos nossos jovens - curiosamente uma resistência própria a uma sociedade midiática audiovisual, que se impôs no decorrer da passagem, no Brasil, de uma cultura marcada pela oralidade para a escrita.
Esta questão é muita debatida nos meios educacionais e o jornalista que transita pela editoria de educação deveria conhecer este debate.
Mas esta "constatação" feita por Lula transforma-se em "pregação da preguiça de ler".
Não é preciso debater à condenação lingüística, expressa pelas aspas, ao termo "desgramado", que é palavra de uso corrente fora da chamada "norma culta". Mas sem dúvida esta "condenação entre aspas" é a materialização de uma repulsa aos falares populares, a sua sintaxe, e ao seu léxico.
Segue o post:
"Lula não lê mais de duas páginas de relatórios, dizem assessores, gosta de piscina, churrasquinho, pelada e música sertaneja, samba, suor e cerveja. Não deixa, pois, de ter razão o realismo pedestre de Lula sobre a leitura. Preconceito? Não é o caso".
Observe os elementos mobilizados para dizer que Lula é um "homem ignorante" e que deveria ser impedido de falar aos jovens: "o presidente gosta de festa, futebol, música (a especificidade "música sertaneja" que aqui aparece para afirmar que "Lula não ouve música culta"), samba, suor e bebida.
A expressão "samba, suor e bebida" não é casual: tem a ver com o imaginário sobre "diversão de pobre". O samba (ao lado da música sertaneja, como expressões culturais menores), o suor, remetendo à pouca ascese dos corpos, que seria mais apropriada às high cult, e cerveja, como índice de um consumo pouco sofisticado.
A idéia de que pessoas que tenham "gostos populares" sejam ignorantes e incapazes reaparece na coluna, mas pertence também a um discurso muito antigo, que chegou a fazer parte inclusive dos ideólogos de esquerda: o de um povo alienado e inconsciente da seu potencial. A diferença é que, para o colunista, "isto" não tem potencial algum.
Corporeidade e civilização
Seguimos:
"O presidente não é deus, como alertou, mas gosta de ser a voz do povo, um megafone de hábitos, trejeitos, preconceitos, utopias e até sabedorias populares. Tanto faz, a princípio, que Lula seja assim".
É curioso como a corporeidade de Lula incomoda o colunista: os trejeitos (assim como o suor) são expressão de uma identificação com um tipo de pensamento (selvagem?) que se baseia sobre "preconceitos, utopias e até (observe o conectivo que orienta o argumento para a noção de esforço) sabedorias populares".
Os trejeitos de Lula, sua pouca memória corporal nos "dizeres gestuais" contidos, disciplinados, daquele que pertence à filiação cultural européia, traz incômodos, parecem selvagens, pouco educados.
O corpo de Lula não seria ideal para o poder. O corpo do poder é um corpo que deve remeter ao corpo "disciplinado", ereto, com gestual contido, sugerindo racionalidade.
Mas o argumento deve ser complementado com o vem a seguir, que revela a oposição fundante deste raciocínio: pensamento selvagem x razão civilizacional.
"O problema é que ele não consegue transcender seu realismo pedestre a fim de desempenhar o papel público de presidente, de transmitir uma visão mais racional e elaborada sobre as questões públicas".
O mais surpreendente no discurso - muito antigo, aliás, e que remete à debilidade das massas, do homem comum - com que Vinícius se identifica e se reconhece de forma bastante enfática, é o emocionalismo presente em sua fala/escrita.
Expressa-se sobre uma poética da condenação do que, no seu imaginário, é o povo, o selvagem, e o primitivo.
Neste "evolucionismo social", há etapas que Lula não consegue transcender. Lula não chegou, para este discurso, ao patamar civilizacional esperado daquele que ocupa a cadeira da presidência.
Seguem os argumentos de depreciação do presidente:
"Limita-se às metáforas chãs, tem amor pelas mezinhas, pelas alegorias da vida de peão, sobre o companheiro que leva bronca da patroa por ter parado no botequim para a cervejinha".
A vida comum é deplorada. Lula é pecaminoso porque dá corpo cotidiano às grandes questões (Permitam-me um digressão: "Mas o que seriam as grandes questões? Em outras palavras: "a grande questão fim do neoliberalismo não tem a ver com o cotidiano chão de pessoas que perderam o teto?")
A expressão mais violenta e forte vem agora:
"Esse bestiário da vida operária não dá conta do debate democrático, o metaforismo popular não é capaz de traduzir questões de governo para o povo pobre. É apenas demagogia, talvez não intencional: Lula é o que parece ser. Transmite seus preconceitos sem pejo ou mesmo consciência do que faz, como no caso da gafe sobre a leitura e tantas outras."
Insiste o blog-jornalista na tal gafe sobre a leitura, atribuindo por fim a Lula uma "inconsciência sobre sua incapacidade".
Curiosamente, os argumentos são pré-levistraussianos, que atribui a inconsciência cultural em relação às estruturas determinantes a todos os grupos humanos.
O esforço aqui é o de mostrar que, além da questão partidária, tão evocada nas discussões do jornalismo, pode-se compreender o posicionamento dos sujeitos a partir de suas filiações discursivas, suas identificações ideológicas a pensamentos, na maioria das vezes bem tradicionais. Pode-se entender também como, na luta dos discursos, se justificam os afetos, como o amor, a paixão e o ódio.
Fonte: Blog Luis Nassif online.
PEDALANDO POR BARCELONA.
Cláudio Versiani*
Barcelona é uma cidade milenar, os primeiros vestígios de habitantes na região são de 2.000 a 1.500 a.C.. Segundo a Wikipédia, a cidade teria sido fundada pelos romanos no século I antes de Cristo.
Para um brasileiro, convenhamos que é muita história. E essa história fica para depois. A gente chega a Barcelona, acha que está na Espanha, sabe que aqui é a Catalunha, mas não faz a menor idéia do que seja a tal da Catalunha.
Para começo de conversa, Barcelona não é Espanha, a cidade é precisamente a capital da Catalunha, um país dentro de outro país. Deixa isso pra lá e vamos pedalar.
Em Barcelona é bom de se andar a pé. A cidade é pequena ou pelo menos o que interessa de verdade, os pontos históricos, os lugares bonitos e as atrações turísticas, estão ao alcance de alguns passos. Às vezes, um pouco mais do que alguns passos.
Se não quiser ir a pé, existem o ônibus, o metrô, o tramvia (trem elétrico de superfície) e ainda o trem tradicional para áreas um pouco mais afastadas do centro. Todos eles funcionam muitíssimo bem. Um espanto.
Mas o que vem fazendo a cabeça e os pés dos barcelonenses é a bicicleta. Os catalães adoram os veículos de duas rodas. Vespas, motos e assemelhados são os veículos mais comuns ou parecem ser. Impressionante a quantidade que se vê pelas avenidas, ruas e ruelas de Barcelona. Bater perna pela cidade pode ser relaxado, mas não muito, tem que se ficar de olho nas bicicletas que estão por toda parte, literalmente. A cidade tem 128 km de ciclovias numa área de 75 quilômetros quadrados. Até o fim deste ano mais 28 km estarão implantados.
Em 2007 a prefeitura lançou o serviço “Bicing”, administrado pela multinacional Clear Channel, como alternativa ou complemento ao transporte público. É uma idéia simples, mas de difícil execução e de manutenção mais complicada ainda.
O cidadão paga 24 euros por ano e tem 6 mil bicicletas à sua disposição, espalhadas em 400 pontos pela cidade. Genial não é? Sem dúvida. Só tem um problema, o programa virou uma febre e o sucesso ameaçou e ainda ameaça o Bicing de Barcelona. A tarifa anual que era de 6 euros em 2007 passou para os 24 euros em 2008 exatamente para frear a adesão ao programa. Quase um beco sem saída e o que não falta em Barcelona são becos.
Em 2007, a expectativa era que o número de usuários chegasse a 150 mil em três anos. Em julho de 2008, o número bateu em 155 mil. Este número cresce numa média de 9 mil novos bicicletistas por mês.
Depois de um ano e sete meses de existência, já são mais 180 mil usuários cadastrados e nem sempre as bicicletas estão disponíveis. De vez em quando há que se esperar um pouco para que alguém devolva uma. O tempo máximo permitido de uso é de 30 minutos. Multa de 30 centavos por cada meia hora excedida. O sistema tolera o uso de até duas horas com multa de três euros por cada hora a mais. E uma multa de 150 euros se o veículo não for devolvido em um prazo de 24 horas.
Para se usar a bicicleta mais de uma vez por dia, há que se esperar dez minutos entre devolver uma e pegar a outra.
O Bicing é transporte público, se você quiser passear por Barcelona, melhor alugar uma bicicleta nos serviços comerciais ou comprar a própria.
Bicicleta em Barcelona é uma praga. Uma praga salutar. O Bicing reduziu em 4% o uso de carros particulares pelas ruas da cidade, evitou a emissão de toneladas de gás carbônico no ar da capital da Catalunha e ainda fez com que as pessoas levassem uma vida mais saudável.
Genial, não é? Barcelona é uma cidade plana ou quase toda plana. Lembrou de Brasília? Eu me lembrei.
Se alguma autoridade aí do DF se interessar em saber um pouco mais, o website do Bicing é http://www.bicing.com
Vou ali pedalar um pouco e volto já, em 30 minutos.
FONTE: Congresso Em Foco.
Barcelona é uma cidade milenar, os primeiros vestígios de habitantes na região são de 2.000 a 1.500 a.C.. Segundo a Wikipédia, a cidade teria sido fundada pelos romanos no século I antes de Cristo.
Para um brasileiro, convenhamos que é muita história. E essa história fica para depois. A gente chega a Barcelona, acha que está na Espanha, sabe que aqui é a Catalunha, mas não faz a menor idéia do que seja a tal da Catalunha.
Para começo de conversa, Barcelona não é Espanha, a cidade é precisamente a capital da Catalunha, um país dentro de outro país. Deixa isso pra lá e vamos pedalar.
Em Barcelona é bom de se andar a pé. A cidade é pequena ou pelo menos o que interessa de verdade, os pontos históricos, os lugares bonitos e as atrações turísticas, estão ao alcance de alguns passos. Às vezes, um pouco mais do que alguns passos.
Se não quiser ir a pé, existem o ônibus, o metrô, o tramvia (trem elétrico de superfície) e ainda o trem tradicional para áreas um pouco mais afastadas do centro. Todos eles funcionam muitíssimo bem. Um espanto.
Mas o que vem fazendo a cabeça e os pés dos barcelonenses é a bicicleta. Os catalães adoram os veículos de duas rodas. Vespas, motos e assemelhados são os veículos mais comuns ou parecem ser. Impressionante a quantidade que se vê pelas avenidas, ruas e ruelas de Barcelona. Bater perna pela cidade pode ser relaxado, mas não muito, tem que se ficar de olho nas bicicletas que estão por toda parte, literalmente. A cidade tem 128 km de ciclovias numa área de 75 quilômetros quadrados. Até o fim deste ano mais 28 km estarão implantados.
Em 2007 a prefeitura lançou o serviço “Bicing”, administrado pela multinacional Clear Channel, como alternativa ou complemento ao transporte público. É uma idéia simples, mas de difícil execução e de manutenção mais complicada ainda.
O cidadão paga 24 euros por ano e tem 6 mil bicicletas à sua disposição, espalhadas em 400 pontos pela cidade. Genial não é? Sem dúvida. Só tem um problema, o programa virou uma febre e o sucesso ameaçou e ainda ameaça o Bicing de Barcelona. A tarifa anual que era de 6 euros em 2007 passou para os 24 euros em 2008 exatamente para frear a adesão ao programa. Quase um beco sem saída e o que não falta em Barcelona são becos.
Em 2007, a expectativa era que o número de usuários chegasse a 150 mil em três anos. Em julho de 2008, o número bateu em 155 mil. Este número cresce numa média de 9 mil novos bicicletistas por mês.
Depois de um ano e sete meses de existência, já são mais 180 mil usuários cadastrados e nem sempre as bicicletas estão disponíveis. De vez em quando há que se esperar um pouco para que alguém devolva uma. O tempo máximo permitido de uso é de 30 minutos. Multa de 30 centavos por cada meia hora excedida. O sistema tolera o uso de até duas horas com multa de três euros por cada hora a mais. E uma multa de 150 euros se o veículo não for devolvido em um prazo de 24 horas.
Para se usar a bicicleta mais de uma vez por dia, há que se esperar dez minutos entre devolver uma e pegar a outra.
O Bicing é transporte público, se você quiser passear por Barcelona, melhor alugar uma bicicleta nos serviços comerciais ou comprar a própria.
Bicicleta em Barcelona é uma praga. Uma praga salutar. O Bicing reduziu em 4% o uso de carros particulares pelas ruas da cidade, evitou a emissão de toneladas de gás carbônico no ar da capital da Catalunha e ainda fez com que as pessoas levassem uma vida mais saudável.
Genial, não é? Barcelona é uma cidade plana ou quase toda plana. Lembrou de Brasília? Eu me lembrei.
Se alguma autoridade aí do DF se interessar em saber um pouco mais, o website do Bicing é http://www.bicing.com
Vou ali pedalar um pouco e volto já, em 30 minutos.
FONTE: Congresso Em Foco.
ESPANHA, OUTONO "CALIENTE".
Frei Betto.
Madri está excepcionalmente quente para esta época do ano. Todos atribuem às mudanças climáticas. A crise financeira encolhe o movimento nas lojas. Há menos gente nos restaurantes, queixa-se o garçom do El Senador, onde se saboreia uma impecável perna de cordeiro assada.
No Congresso, debate-se o alcance da crise. As ações do banco Santander descem a ladeira (baixa de 60,72% este ano). O alarme soa em sua sede mundial, em Boadilla del Monte, na periferia de Madri, construída em forma de disco voador. A recessão bate à porta e já leva às ruas manifestações de trabalhadores da indústria automobilística. Protestam contra os cortes anunciados.
José Bono, presidente do Congresso e membro da Opus Dei, propõe introduzir, na casa legislativa, a foto de madre Maravilla de Jesus, carmelita canonizada por João Paulo II. A oposição protesta em nome do caráter laico do Estado.
Maravilla era conservadora ao extremo. Ao retirar a proposta, Bono ofende a mãe de seus colegas de partido que lhe recusaram apoio. O microfone aberto de um canal de TV capta-lhe o palavrão. O político cora até a alma. A oposição lhe recomenda umas tantas Ave-Marias em penitência...
A segurança espanhola comemora: capturado Txeroki, o chefe militar da ETA, próximo ao santuário de Lourdes, na França. Tudo indica que a organização separatista basca se reduz, hoje, a um punhado de militantes desarticulados.
Enquanto isso, os eleitores do socialista Zapatero reagem indignados frente ao seu recuo quanto à apuração dos crimes da ditadura do general Franco (1936-1975). Em sua primeira gestão, o primeiro-ministro deu início ao processo e aprovou a Lei de Memória Histórica. Agora, prefere deixar o passado passar...
O juiz Baltazar Garzón, autor da denúncia dos crimes do regime franquista, se sente desrespeitado. Porém, recebe o apoio de intelectuais indignados frente à tentativa do governo de silenciá-lo. O manifesto é assinado também por José Saramago e Ernesto Sábato. Em Granada, na noite de 20 de novembro, 33º aniversário da morte do generalíssimo, estudantes ocupam as ruas e clamam por justiça às vítimas. A polícia intervém.
Entro no táxi no aeroporto de Granada. O motorista torce para que as atrocidades franquistas sejam investigadas. E que se abra a vala comum na qual supostamente se encontram os restos mortais do mais famoso filho da cidade: Federico García Lorca, assassinado, em 1936, pelos comparsas de Franco.
O homem se queixa: "Pouca gente nesta cidade se interessa por Lorca. Apanho estrangeiros no aeroporto que, vindos até da Ásia, sabem mais sobre o poeta do que nós que aqui vivemos". Recordo Paulo Freire e dom Helder Camara, mais conhecidos no exterior que no Brasil.
Granada ferve, apesar do frio. Muitos eventos mobilizam a cidade de meio milhão de habitantes: o congresso mundial de filosofia debate o niilismo, que o filósofo italiano Franco Volpi considera uma atitude positiva, de tolerância frente ao pluralismo de idéias; os fabricantes de azeite analisam, acolitados por um prêmio Nobel de medicina, as propriedades terapêuticas do extra-virgem, antioxidante, capaz de reduzir o colesterol e evitar o câncer; o 7º congresso internacional de teologia trinitária se ocupa de uma espiritualidade para esse mundo marcado pela desigualdade.
Falo sobre "uma espiritualidade de rosto humano na periferia da vida". Friso que Jesus nos ensina a encontrar Deus na face dos pobres. E com eles se identifica: "tive fome e me deste de comer". Comparo as éticas de espiritualidade, a que enfatiza nossa condição de pecadores, agravando-nos o sentimento de culpa neste "vale de lágrimas", e a que ressalta nossa condição de filhos e filhas de Deus, Pai/Mãe amoroso que nos trata com misericórdia e compaixão, como Jesus a seus contemporâneos.
Las Gabias, próxima a Granada, é hoje uma cidade "solar": 8 mil moradias, 25 mil habitantes, recebem energia elétrica de uma estação fotovoltaica que abriga 95 mil placas solares com potencial de 18 megabytes.
O empreendimento, ao custo de cerca de R$ 400 milhões, evita a emissão, para a atmosfera, de 17.680 toneladas de CO2 - volume que seria produzido se se utilizasse combustível fóssil. Uma iniciativa desse porte exige, como suporte, a cultura de sustentabilidade.
Andaluzia já multiplicou por onze seu potencial de energia solar, hoje calculado em 695 megabytes, aos quais se somarão, em 2010, mais 220. Desse total, 78,8 megabytes vêm das placas solares de Granada, que geram eletricidade para 24 mil residências. Penso no Brasil: enquanto se louva o pré-sal, se olvida o pós-sol, o potencial de fazer do nosso país uma imensa Las Gabias.
Para quem esteve na Espanha em outros tempos, chama a atenção o clamoroso silêncio em relação a Ronaldo e Ronaldinho. Nem em lojas de material esportivo se vêem suas fotos. Com o Real Madrid em crise, os espanhóis se gabam das sucessivas vitórias de sua seleção. Até quando?
Fonte:ADITAL.
Madri está excepcionalmente quente para esta época do ano. Todos atribuem às mudanças climáticas. A crise financeira encolhe o movimento nas lojas. Há menos gente nos restaurantes, queixa-se o garçom do El Senador, onde se saboreia uma impecável perna de cordeiro assada.
No Congresso, debate-se o alcance da crise. As ações do banco Santander descem a ladeira (baixa de 60,72% este ano). O alarme soa em sua sede mundial, em Boadilla del Monte, na periferia de Madri, construída em forma de disco voador. A recessão bate à porta e já leva às ruas manifestações de trabalhadores da indústria automobilística. Protestam contra os cortes anunciados.
José Bono, presidente do Congresso e membro da Opus Dei, propõe introduzir, na casa legislativa, a foto de madre Maravilla de Jesus, carmelita canonizada por João Paulo II. A oposição protesta em nome do caráter laico do Estado.
Maravilla era conservadora ao extremo. Ao retirar a proposta, Bono ofende a mãe de seus colegas de partido que lhe recusaram apoio. O microfone aberto de um canal de TV capta-lhe o palavrão. O político cora até a alma. A oposição lhe recomenda umas tantas Ave-Marias em penitência...
A segurança espanhola comemora: capturado Txeroki, o chefe militar da ETA, próximo ao santuário de Lourdes, na França. Tudo indica que a organização separatista basca se reduz, hoje, a um punhado de militantes desarticulados.
Enquanto isso, os eleitores do socialista Zapatero reagem indignados frente ao seu recuo quanto à apuração dos crimes da ditadura do general Franco (1936-1975). Em sua primeira gestão, o primeiro-ministro deu início ao processo e aprovou a Lei de Memória Histórica. Agora, prefere deixar o passado passar...
O juiz Baltazar Garzón, autor da denúncia dos crimes do regime franquista, se sente desrespeitado. Porém, recebe o apoio de intelectuais indignados frente à tentativa do governo de silenciá-lo. O manifesto é assinado também por José Saramago e Ernesto Sábato. Em Granada, na noite de 20 de novembro, 33º aniversário da morte do generalíssimo, estudantes ocupam as ruas e clamam por justiça às vítimas. A polícia intervém.
Entro no táxi no aeroporto de Granada. O motorista torce para que as atrocidades franquistas sejam investigadas. E que se abra a vala comum na qual supostamente se encontram os restos mortais do mais famoso filho da cidade: Federico García Lorca, assassinado, em 1936, pelos comparsas de Franco.
O homem se queixa: "Pouca gente nesta cidade se interessa por Lorca. Apanho estrangeiros no aeroporto que, vindos até da Ásia, sabem mais sobre o poeta do que nós que aqui vivemos". Recordo Paulo Freire e dom Helder Camara, mais conhecidos no exterior que no Brasil.
Granada ferve, apesar do frio. Muitos eventos mobilizam a cidade de meio milhão de habitantes: o congresso mundial de filosofia debate o niilismo, que o filósofo italiano Franco Volpi considera uma atitude positiva, de tolerância frente ao pluralismo de idéias; os fabricantes de azeite analisam, acolitados por um prêmio Nobel de medicina, as propriedades terapêuticas do extra-virgem, antioxidante, capaz de reduzir o colesterol e evitar o câncer; o 7º congresso internacional de teologia trinitária se ocupa de uma espiritualidade para esse mundo marcado pela desigualdade.
Falo sobre "uma espiritualidade de rosto humano na periferia da vida". Friso que Jesus nos ensina a encontrar Deus na face dos pobres. E com eles se identifica: "tive fome e me deste de comer". Comparo as éticas de espiritualidade, a que enfatiza nossa condição de pecadores, agravando-nos o sentimento de culpa neste "vale de lágrimas", e a que ressalta nossa condição de filhos e filhas de Deus, Pai/Mãe amoroso que nos trata com misericórdia e compaixão, como Jesus a seus contemporâneos.
Las Gabias, próxima a Granada, é hoje uma cidade "solar": 8 mil moradias, 25 mil habitantes, recebem energia elétrica de uma estação fotovoltaica que abriga 95 mil placas solares com potencial de 18 megabytes.
O empreendimento, ao custo de cerca de R$ 400 milhões, evita a emissão, para a atmosfera, de 17.680 toneladas de CO2 - volume que seria produzido se se utilizasse combustível fóssil. Uma iniciativa desse porte exige, como suporte, a cultura de sustentabilidade.
Andaluzia já multiplicou por onze seu potencial de energia solar, hoje calculado em 695 megabytes, aos quais se somarão, em 2010, mais 220. Desse total, 78,8 megabytes vêm das placas solares de Granada, que geram eletricidade para 24 mil residências. Penso no Brasil: enquanto se louva o pré-sal, se olvida o pós-sol, o potencial de fazer do nosso país uma imensa Las Gabias.
Para quem esteve na Espanha em outros tempos, chama a atenção o clamoroso silêncio em relação a Ronaldo e Ronaldinho. Nem em lojas de material esportivo se vêem suas fotos. Com o Real Madrid em crise, os espanhóis se gabam das sucessivas vitórias de sua seleção. Até quando?
Fonte:ADITAL.
SEM RUMO E SEM DISCURSO.
Luciano Siqueira
Se a disputa presidencial de 2010 já estiver em pauta – e todos dizem que sim -, as oposições partem em desvantagem, tanto à direita como à “esquerda”. Sem rumo e sem discurso.
A estratégia do PSDB e do DEM se apóia no andamento da crise financeira global e suas repercussões sobre o Brasil. Joga todas as fichas no agravamento da situação, de preferência com agravos às condições de vida do povo. Assim, e pondo a culpa em Lula, ganhariam terreno.
É a aposta no caos – tão questionável quanto arriscada.
Numa linha semelhante, e com ênfase na “ética e na moralidade”, correndo por fora das possibilidades eleitorais e dos reais interesses da população, a turma que se coloca à “esquerda”, tipo PSTU e PSOL.
Mas a realidade teima em se mostrar diferente. O governo reage às ameaças externas explorando nossas próprias potencialidades. É certo que ainda constrangido por condicionantes macroeconômicos monetaristas, porém insistindo na manutenção dos investimentos públicos em infra-estrutura (o PAC como vetor) e num grande esforço para propiciar giro, condições de crédito e nível do consumo e, por conseqüência, segurar o nível do emprego.
Desde o golpe militar de 1964 nenhum governo se comportou desse modo frente a turbulências econômicas internacionais. Dos milicos a FHC era o FMI e assemelhados que davam as cartas. Agora a receita é própria, voltada para os interesses da nação e do povo.
E que dizem os oposicionistas? Repetem a cantilena do corte dos gastos públicos, entendendo-se aí redução dos investimentos. Mas não pedem a diminuição dos dispêndios com juros da dívida porque estariam contrariando poderosos interesses do setor rentista.
Claro que o jogo não segue assim, numa trajetória retilínea. Em tempo de turbulência, muito há ainda a acontecer. O empenho desenvolvimentista do governo pode ser afetado pela crise global. Temos cá nossos limites. Mas, por outro lado, é inegável que a compreensão do que ocorre vem se elevando substancialmente entre as mais diversas camadas da população. Hoje o beneficiário do Bolsa Família, por exemplo, num bairro periférico de nossas cidades ou num pequeno município do interior, acompanha o desenrolar da crise atento à manutenção, ou não, do programa em quem está inscrito. Isso alimenta um caldo de cultura favorável à elevação da consciência política de milhões, dá azo a que correntes políticas avançadas conquistem posições na luta pelo projeto de desenvolvimento nacional, democrático e progressista. E torna mais difícil a tentativa dos oposicionistas de encontrarem um discurso que sensibilize a base da sociedade.
Fonte: Luciano Siqueira.
Se a disputa presidencial de 2010 já estiver em pauta – e todos dizem que sim -, as oposições partem em desvantagem, tanto à direita como à “esquerda”. Sem rumo e sem discurso.
A estratégia do PSDB e do DEM se apóia no andamento da crise financeira global e suas repercussões sobre o Brasil. Joga todas as fichas no agravamento da situação, de preferência com agravos às condições de vida do povo. Assim, e pondo a culpa em Lula, ganhariam terreno.
É a aposta no caos – tão questionável quanto arriscada.
Numa linha semelhante, e com ênfase na “ética e na moralidade”, correndo por fora das possibilidades eleitorais e dos reais interesses da população, a turma que se coloca à “esquerda”, tipo PSTU e PSOL.
Mas a realidade teima em se mostrar diferente. O governo reage às ameaças externas explorando nossas próprias potencialidades. É certo que ainda constrangido por condicionantes macroeconômicos monetaristas, porém insistindo na manutenção dos investimentos públicos em infra-estrutura (o PAC como vetor) e num grande esforço para propiciar giro, condições de crédito e nível do consumo e, por conseqüência, segurar o nível do emprego.
Desde o golpe militar de 1964 nenhum governo se comportou desse modo frente a turbulências econômicas internacionais. Dos milicos a FHC era o FMI e assemelhados que davam as cartas. Agora a receita é própria, voltada para os interesses da nação e do povo.
E que dizem os oposicionistas? Repetem a cantilena do corte dos gastos públicos, entendendo-se aí redução dos investimentos. Mas não pedem a diminuição dos dispêndios com juros da dívida porque estariam contrariando poderosos interesses do setor rentista.
Claro que o jogo não segue assim, numa trajetória retilínea. Em tempo de turbulência, muito há ainda a acontecer. O empenho desenvolvimentista do governo pode ser afetado pela crise global. Temos cá nossos limites. Mas, por outro lado, é inegável que a compreensão do que ocorre vem se elevando substancialmente entre as mais diversas camadas da população. Hoje o beneficiário do Bolsa Família, por exemplo, num bairro periférico de nossas cidades ou num pequeno município do interior, acompanha o desenrolar da crise atento à manutenção, ou não, do programa em quem está inscrito. Isso alimenta um caldo de cultura favorável à elevação da consciência política de milhões, dá azo a que correntes políticas avançadas conquistem posições na luta pelo projeto de desenvolvimento nacional, democrático e progressista. E torna mais difícil a tentativa dos oposicionistas de encontrarem um discurso que sensibilize a base da sociedade.
Fonte: Luciano Siqueira.
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