quinta-feira, 30 de junho de 2011

POLÍTICA - "Erros de português" atrapalham planos de Serra

Enviado por luisnassif


Por Weden

Segundo o ex-governador, que ocupa hoje cargo simbólico no PSDB, texto redigido por ele com ataques ao Governo apresentava "erros de português", motivo pelo qual a divulgação do "documento" foi adiada.

Resta saber quem é o português que cometeu tantos erros, visto que ele, Serra, deveria se referir a "erros gramaticais".

Da Folha

Serra propõe texto com críticas a governo e espera aval de Aécio

Presidente do Conselho Político do PSDB submete texto com ataques a Dilma Rousseff. Documento só será publicado depois que passar por senador mineiro


Nara Alves, enviada a Brasília | 29/06/2011 20:42




Foto: AE Ampliar


José Serra, o deputado Vanderlei Macris e o governador de SP, Geraldo Alckmin

O Conselho Político do PSDB aprovou parcialmente na noite desta quarta-feira um documento de "análise da conjuntura política brasileira". Redigido pelo presidente do órgão, José Serra, faz duras críticas aos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. A divulgação do texto, no entanto, deve acontecer somente na próxima sexta-feira. Ele precisa passar pelo crivo do senador Aécio Neves (MG).

O documento foi discutido hoje em Brasília durante a primeira reunião do Conselho Político tucano - órgão criado para discutir os rumos da sigla e debater assuntos com impacto eleitoral, como política de alianças e modelos para escolher os candidatos do partido.



Participaram do encontro os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Marconi Perillo (GO), o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), o presidente de honra do PSDB, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (SP), além de Serra. Já Aécio Neves não esteve presente porque sofreu um acidente e está sob efeito de "muitos medicamentos", segundo Serra.

No texto, o PSDB "organiza suas críticas ao governo", segundo Sergio Guerra. Entre as críticas, ganharam destaque a condução da política econômica e relações internacionais, adianta Serra. "O governo não tem um rumo claro. É um governo muito hesitante", resumiu o tucano, derrotado por Dilma em 2010. Além disso, o documento apresenta sugestões para o fim das disputas internas do partido e sugere que todos os diretórios do PSDB elaborem, a cada dois meses, uma carta de análise da conjuntura política local.

Segundo Serra, a divulgação do documento foi adiada para sexta-feira por uma questão de oportunidade de divulgação. "Hoje já está tarde e amanhã tem a homenagem a Fernando Henrique. Então, ficou para sexta. Além disso, vamos corrigir alguns erros de português", justificou. Ele afirma, contudo, que o texto não sofrerá alterações.

Amanhã, o PSDB fará uma homenagem aos 80 anos do ex-presidente tucano no Senado. Hoje, ao deixar a reunião, Fernando Henrique limitou-se a apoiar o presidente do Conselho. "Eu sigo o Serra", disse.

Comentário

Essa notícia traz uma revelação e uma confirmação:

Revelação: Serra tem que se reportar a Aécio Neves antes de se manifestar em nome do Conselho. Aliás, só agora fico sabendo que o presidente do Conselho é Aécio.

Confirmação: a absoluta falta de educação política de Serra, divulgando essa desculpa esfarrapada para tentar transformar sua proposta em fato consumado. Não adianta o PSDB pretender acomodar Serra em qualquer lugar. Onde estiver, sempre será inconveniente.

POLÍTICA - O vazamento da conta UOL de José Dirceu.

A matéria da Folha com o suposto hacker de Brasília só foi levantada depois que José Dirceu denunciou problemas ocorridos com seu e-mail da UOL.

A mudança na senha de Dirceu ocorreu segunda de madrugada. Às 9 da manhã Dirceu tentou enviar e-mail e sua senha foi rejeitada por três vezes. Na terceira, a UOL bloqueou. Dirceu ligou para a UOL e informaram que sua senha tinha sido alterada. As exigências para a mudança de senha eram apenas a informação sobre número de documentos, RG e CPF e outras informações que podem ser obtidas de outras fontes. Dirceu indagou se tinham pedido a senha antiga, antes de alterar. Disseram que não fazia parte do procedimento do atendimento.

Dirceu pediu que passassem o IP do hacker, a gravação do telefonema. Recusaram e disseram que só com mandado judicial.

Dirceu constituiu um advogado, então, que entrou em contato com os advogados da UOL. Aí mudou-se a posição e aceitaram abrir os dados apenas com um Boletim de Ocorrência.

Logo em seguida, a Folha colocou um repórter para a matéria com o suposto hacker que admitiu ter invadido também a conta de Dilma Rousseff.

Em ambos os casos – Dirceu e Dilma – a conta era da UOL.

Por Stanley Burburinho

Folha de S.Paulo - UOL afirma que apuração do caso está em curso - 30/06/2011


UOL afirma que apuração do caso está em curso

DE SÃO PAULO

O UOL diz ter tomado conhecimento do suposto acesso de hackers à caixa de e-mail de José Dirceu e está em contato com os advogados do ex-ministro para obter autorização dele e assim poder contribuir com as investigações.
De acordo com o UOL, não é possível afirmar se houve uma ligação telefônica pedindo troca de senha de Dirceu.
As investigações internas estão em curso e o portal diz que só pode se pronunciar se autorizado pelo titular da caixa postal.
O UOL diz ser possível trocar de senha após um pedido por telefone, desde que haja confirmação da identidade do titular na central do assinante.
Para essa confirmação, o portal explica que o operador faz uma extensa lista de perguntas que incluem, mas não se restringem, aos documentos e às informações pessoais do cliente, como modalidade de pagamento, cidade onde a fatura é entregue e histórico de autenticação nos serviços do UOL.
Também é feito, segundo a empresa, registro do telefone do cliente que solicita alteração de senha.
Todas as ligações feitas à central de atendimento são gravadas.
O UOL afirma que está sempre comprometido em ajudar nas investigações para localizar e identificar criminosos na internet.

PNBL - Governo e operadoras firmam acordo.

Segundo o ministro das Comunicações, o documento será assinado hoje à tarde pelas operadoras e será publicado em edição extra do Diário Oficial da União

BRASÍLIA - Depois de muita queda de braço, as empresas de telefonia assinarão hoje um termo de compromisso para que os brasileiros tenham internet de 1 mega a R$ 35 no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse à Agência Estado que o documento será assinado hoje à tarde pelas operadoras e será publicado em edição extra do Diário Oficial da União.

Para chegar a um consenso, a presidente Dilma Rousseff concordou em retirar do documento a obrigação de as empresas garantirem no mínimo 40% de velocidade contratada, mas exigiu da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a aprovação, até 31 de outubro, dos regulamentos que garantirão maiores velocidades aos usuários de telefonia fixa e móvel. "Ela abriu mão dessa exigência, mas deixou claro que vai pegar no pé na questão da qualidade. Tanto que a data para que a Anatel aprove e publique os regulamentos constará no decreto", afirmou Bernardo.

Conforme antecipou ontem a Agência Estado, a reunião entre governo e empresas foi interrompida na noite da última terça-feira, por determinação da presidente, para a inclusão de parâmetros de qualidade e velocidade da banda larga. Dilma queria que as operadoras assumissem a obrigação de garantir no mínimo 40% da velocidade contratada e 70% de velocidade média até 2014.

As empresas se surpreenderam com as metas de qualidade, que superam até os padrões internacionais e argumentaram que não teriam condições de avaliar o impacto financeiro nas propostas em um prazo tão exíguo. Mas só depois de o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, ter sido convocado ontem à noite e assumir o compromisso de acelerar a votação dos regulamentos de qualidade da banda larga é que Dilma abriu mão dessa exigência.

Hoje, no caso da banda larga móvel, as operadoras só garantem 10% da velocidade contratada. Com as novas normas, esse porcentual subirá para o mínimo de 30% nos horários de pico e 50% nos horários de menor tráfego. Um ano depois, esses índices subirão para 50% e 70%, respectivamente.

O governo não abriu mão de aplicação de sanções caso as operadoras descumpram as metas do PNBL. As penalidades vão de antecipação de metas a multas. "As multas têm os mesmos valores aplicados pela Anatel, mas o trâmite de aplicação das penalidades será diferente", explicou Bernardo.

O presidente da Telefônica, Antonio Carlos Valente, disse à Agência Estado que está "otimista" na assinatura do acordo com o governo hoje. "Há uma boa probabilidade. Estamos otimistas", disse. O executivo afirmou, no entanto, que ainda precisam ser feitos alguns ajustes. A Oi tem posição semelhante. "A intenção de todo mundo é fechar. Mas há algumas questões em aberto para serem pactuadas ainda", afirmou uma fonte da empresa.

A pressa do governo para publicar o termo de adesão ao PNBL é porque hoje vence o prazo de vigências das antigas metas de universalização das concessionárias de telefonia fixa. Como as empresas estavam resistentes em aderir ao PNBL, o governo fez uma negociação cruzada, ao retirar algumas metas em troca da adesão ao programa do governo.
FNDC

FUTEBOL - Goleiro Bruno vai se casar novamente.

Nota social: Bruno, o goleiro do Flamengo que está na cadeia em Minas, arranjou uma noiva e vai se casar novamente.

Carlos Newton

O amor realmente é lindo. Preso há 11meses pelo sumiço e suposto assassinato da ex-modelo Eliza Samudio, o goleiro Bruno Fernandes, de 26 anos, que atuou no Atlético e no Flamengo, vai se casar. A cerimônia religiosa com a dentista Ingrid Calheiros, de 25anos , será até o fim do ano, na capela da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, município da Grande Belo Horizonte, onde o atleta Bruno vive em regime de concentração permanente.

Cenas comoventes transcorreram na terça-feira, quando Bruno deixou a prisão para ser ouvido pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas, que apura denúncias de suposta venda de habeas corpus para libertá-lo e facilitar uma possível fuga do país.

A noiva Ingrid Calheiros, que tem consultório no Rio de Janeiro, também prestou depoimento e pediu aos parlamentares que trocassem de lugar com ela, para que ficasse mais próxima de Bruno. Das 11h52 às 12h23, o casal trocou beijos calorosos e carícias diante do público, enquanto transcorriam os trabalhos dos deputados, que ouviam outras testemunhas.

E o jogador fazia questão de ostentar a aliança de noivado, grossa, em ouro. As imagens dos beijos, carícias no rosto e cafunés foram transmitidas ao vivo pela TV Assembléia, que teve sua maior audiência dos últimos anos.

A ex-mulher, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, de 24 anos, disse que encarou as cenas de amor com naturalidade. “Não é a primeira vez que vejo os dois se beijando. Deus queira que não seja a última, que eles sejam muito felizes”, disse ela, civilizadamente.
Fonte: Tribuna da Imprensa.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

POLÍTICA - A incrível persistência de Serra.

Do Último Segundo

Serra trabalha por prévias para se manter no páreo para 2014

Ex-governador se empenha em manter aberta porta para disputar com Aécio Neves indicação para concorrer à Presidência

Nara Alves, iG São Paulo | 29/06/2011 07:30

O presidente do Conselho Político do PSDB, ex-governador de São Paulo José Serra, aposta na realização obrigatória de prévias internas no partido como forma de manter a porta aberta para se tornar novamente o candidato tucano na corrida presidencial de 2014. Ao contrário de 2010, quando era contrário à consulta a filiados, Serra agora conta com o ativo de 43 milhões de votos conquistados nas últimas eleições para tentar derrotar o senador tucano mineiro Aécio Neves, que agora tem posição de vantagem na disputa pela indicação à vaga;

Enquanto Aécio se movimenta para consolidar uma estrutura partidária forte em Minas Gerais – maior colégio eleitoral do País depois de São Paulo – Serra trabalha para tentar garantir a realização de prévias já em 2012. Para isso, o ex-governador paulista encontra respaldo em iniciativas do presidente do PSDB-SP, deputado Pedro Tobias, do presidente do PSDB paulistano, secretário Júlio Semeghini, ligado ao governador Geraldo Alckmin, e do líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR).

Na primeira reunião realizada em Brasília com presidentes de diretórios estaduais após a convenção nacional da sigla, o diretório de São Paulo apresentou uma proposta de reforma estatutária. "Um dos itens da proposta prevê a obrigatoriedade de prévias nas eleições municipais, estaduais e nacionais em caso de não haver consenso em torno de um único nome", diz Tobias. O PSDB, contudo, enfrentou tradicionalmente dificuldades de chegar a um consenso tratando-se da disputa ao Palácio do Planalto.

Caso a maioria dos diretórios estaduais considere adotar as prévias, a proposta deverá ser levada pelo diretório nacional ao Conselho Político. Antes de aceitar a nomeação no Conselho, Serra chegou a . A ameaça deu certo e o partido ampliou as atribuições do órgão, que influenciará nas decisões da sigla em pontos que costumam despertar polêmica internamente, como fusões com outras legendas e métodos de escolha de candidatos. Com isso, aumentam as chances de o PSDB adotar a consulta às bases e de Serra ser içado à condição de presidenciável.

Se for aprovada pelo diretório nacional, a proposta de escolher candidatos a partir de consultas primárias obrigatórias beneficiaria Serra na disputa com Aécio para 2014 e, ao mesmo tempo, o pressionaria a declarar se será candidato à Prefeitura de São Paulo em 2012. Para o presidente do PSDB-SP, a pressão sobre Serra é positiva para o partido.

"Se depender da minha vontade, Serra lança candidatura para a Prefeitura de São Paulo até novembro, no máximo. A gente pressiona, mas não interfere", afirmou Tobias. Para o deputado, se Serra decidir concorrer novamente à prefeitura, ele não poderá concorrer à Presidência. "Ele não pode sair do cargo como da outra vez. É isso que está pesando na cabeça dele agora", disse. De 2004 a 2006, Serra foi prefeito da capital paulista, mas saiu do cargo para disputar o governo do Estado, quebrando uma promessa de concluir o mandato, que fez durante a campanha e registrou em cartório.

"A proposta reduz o poder das cúpulas partidárias que, muitas vezes, fazem essa escolha mediante barganhas ou acordos espúrios", afirma Dias. Pela proposta do senador, os partidos não estariam obrigados a realizar as prévias, mas contariam com a assistência da Justiça Eleitoral para organizar e fiscalizar o processo.

O modelo que serviu de exemplo, segundo o tucano, é o dos Estados Unidos. "É evidente que nós teríamos que adotar um modelo próprio, teríamos que ousar e certamente não deveríamos nos preocupar com o índice de participação popular nessas primárias, e sim com o debate que isso promoveria", descreve Dias, no documento apresentado. Há, no entanto, obstáculos jurídicos para a aprovação da proposta do senador. Isso porque a própria Justiça Eleitoral poderia interpretar a eleição primária como campanha eleitoral antecipada.

Até mesmo o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), reeleito para o cargo com o apoio de Aécio, ressalta a dificuldade de aprovação da proposta apresentada pelo senador tucano. Para Guerra, se as primárias não puderem ser divulgadas sob pena de multa por campanha antecipada, não há como realizá-las na escala desejada pelo projeto tucano.

MÍDIA - o que faltou dizer sobre o legado de Paulo Renato.

O que a mídia não falou sobre Paulo Renato

Por Idelber Avelar, no sítio da Revista Fórum:

Morreu de infarto, no último dia 25, aos 65 anos, Paulo Renato Souza, fundador do PSDB. Paulo Renato foi Ministro da Educação no governo FHC, Deputado Federal pelo PSDB paulista, Secretário da Educação de São Paulo no governo José Serra e lobista de grupos privados. Exerceu outras atividades menos noticiadas pela mídia brasileira.

Nas hagiografias de Paulo Renato publicadas nos últimos dois dias, faltaram alguns detalhes. A Folha de São Paulo escalou Eliane Cantanhêde para dizer que Paulo Renato deixou um “legado e tanto” como Ministro da Educação. Esqueceu-se de dizer que esse “legado” incluiu o maior êxodo de pesquisadores da história do Brasil, nem uma única universidade ou escola técnica federal criada, nem um único aumento salarial para professores, congelamento do valor e redução do número de bolsas de pesquisa, uma onda de massivas aposentadorias precoces (causadas por medidas que retiravam direitos adquiridos dos docentes), a proliferação do “professor substituto” com salário de R$400,00 e um sucateamento que impôs às universidades federais penúria que lhes impedia até mesmo de pagar contas de luz. No blog de Cynthia Semíramis, é possível ler depoimentos às dezenas sobre o que era a universidade brasileira nos anos 90.

Ainda na Folha de São Paulo, Gilberto Dimenstein lamentou que o tucanato não tenha seguido a sugestão de Paulo Renato Souza de “lançar uma campanha publicitária falando dos programas de complementação de renda”. Dimenstein pareceu desconsolado com o fato de que “o PSDB perdeu a chance de garantir uma marca social”, atribuindo essa ausência a uma mera falha na campanha publicitária. O leitor talvez possa compreender melhor o lamento de Dimenstein ao saber que a sua Associação Cidade Escola Aprendiz recebeu de São Paulo a bagatela de três milhões, setecentos e vinte e cinco mil, duzentos e vinte e dois reais e setenta e quatro centavos, só no período 2006-2008.

Não surpreende que a Folha seja tão generosa com Paulo Renato. Gentileza gera gentileza, como dizemos na internet. A diferença é que a gentileza de Paulo Renato com o Grupo Folha foi sempre feita com dinheiro público. Numa canetada sem licitação, no dia 08 de junho de 2010, a FDE da Secretaria de Educação de São Paulo transfere para os cofres da Empresa Folha da Manhã S.A. a bagatela de R$ 2.581.280,00, referentes a assinaturas da Folha para escolas paulistas. Quatro anos antes, em 2006, a empresa Folha da Manhã havia doado a curiosa quantia – nas imortais palavras do Senhor Cloaca – de R$ 42.354,30 à campanha eleitoral de Paulo Renato. Foi a única doação feita pelo grupo Folha naquela eleição. Gentileza gera gentileza.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor do Grupo Folha. Os grupos Abril, Estado e Globo também receberam seus quinhões, sempre com dinheiro público. Numa única canetada do dia 28 de maio de 2010, a empresa S/A Estado de São Paulo recebeu dos cofres públicos paulistas – sempre sem licitação, claro, porque “sigilo” no fiofó dos outros é refresco – a módica quantia de R$ 2.568.800,00, referente a assinaturas do Estadão para escolas paulistas. No dia 11 de junho de 2010, a Editora Globo S.A. recebe sua parte no bolo, R$ 1.202.968,00, destinadas a pagar assinaturas da Revista Época. No caso do grupo Abril, a matemática é mais complicada. São 5.200 assinaturas da Revista Veja no dia 29 de maio de 2010, totalizando a módica quantia de R$ 1.202.968,00, logo depois acrescida, no dia 02 de abril, da bagatela de R$ 3.177.400, 00, por Guias do Estudante – Atualidades, material de preparação para o Vestibular de qualidade, digamos, duvidosíssima. O caso de amor entre Paulo Renato e o Grupo de Civita é uma longa história. De 2004 a 2010, a Fundação para o Desenvolvimento da Educação de São Paulo transfere dos cofres públicos para a mídia pelo menos duzentos e cinquenta milhões de reais, boa parte depois da entrada de Paulo Renato na Secretaria de Educação.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor dos grandes grupos de mídia brasileiros. Ele também atuou diligentemente em favor de grupos estrangeiros, muito especialmente a Fundação Santillana, pertencente ao Grupo Prisa, dono do jornal espanhol El País. Trata-se de um jornal que, como sabemos, está disponível para leitura na internet. Isso não impediu que a Secretaria de Educação de São Paulo, sob Paulo Renato, no dia 28 de abril de 2010, transferisse mais dinheiro dos cofres públicos para o Grupo Prisa, referente a assinaturas do El País. O fato já seria curioso por si só, tratando-se de um jornal disponível gratuitamente na internet. Fica mais curioso ainda quando constatamos que o responsável pela compra, Paulo Renato, era Conselheiro Consultivo da própria Fundação Santillana! E as coincidências não param aí. Além de lobista da Santillana, Paulo Renato trabalhou, através de seu escritório PRS Consultores – cujo site misteriosamente desapareceu da internet depois de revelações dos blogs NaMaria News eCloaca News–, prestando serviços ao … Grupo Santillana!, inclusive com curiosíssima vizinhança, no mesmo prédio. De fato, gentileza gera gentileza. E coincidência gera coincidência: ao mesmo tempo em que El País “denunciava”, junto com grupos de mídia brasileiros, supostos “erros” ou “doutrinações” nos livros didáticos da sua concorrente Geração Editorial, uma das poucas ainda em mãos do capital nacional, Paulo Renato repetia as “denúncias” no Congresso. O fato de a Santillana controlar a Editora Moderna e Paulo Renato ser consultor pago pelo Grupo Santillana deve ter sido, evidentemente, uma mera coincidência.

Mas que não se acuse Paulo Renato de parcialidade em favor dos grupos de mídia, brasileiros e estrangeiros. O ex-Ministro também teve destacada atuação na defesa dos interesses de cursinhos pré-vestibular, conglomerados editoriais e empresas de software. Como noticiado na época pelo Cloaca News, no mesmo dia em que a FDE e a Secretaria de Educação de São Paulo dispensaram de licitação uma compra de mais R$10 milhões da InfoEducacional, mais uma inexigibilidade licitatória era anunciada, para comprar … o mesmíssimo produto!, no caso o software “Tell me more pro”, do Colégio Bandeirantes, cujas doações em dinheiro irrigaram, em 2006, a campanha para Deputado Federal do candidato … Paulo Renato! Tudo isso para não falar, claro, do parque temático de $100 milhões de reais da Microsoft em São Paulo, feito sob os auspícios de Paulo Renato, ou a compra sem licitação, pelo Ministério da Educação de Paulo Renato, em 2001, de 233.000 cópias do sistema operacional Windows. Um dos advogados da Microsoft no Brasil era Marco Antonio Costa Souza, irmão de … Paulo Renato! A tramóia foi tão cabeluda que até a Abril noticiou.

Pelo menos uma vez, portanto, a Revista Fórum terá que concordar com Eliane Cantanhêde. Foi um “legado e tanto”. Que o digam os grupos Folha, Abril, Santillana, Globo, Estado e Microsoft.

ECONOMIA - Os vassalos de Washington.

Santayana chuta o balde

Os vassalos de Washington


por Mauro Santayana



A informação, ontem divulgada, de que um diretor da Vale do Rio Doce “se queixou”, junto à Embaixada dos Estados Unidos, contra as “pressões” do Presidente Lula, é muito grave. Segundo se noticia, o então diretor de Finanças Corporativas da empresa, e hoje Diretor-Financeiro e de Relações com os Investidores, Guilherme Cavalcanti, esteve com a encarregada de negócios da Embaixada em Brasília, e reclamou da ingerência do nosso Chefe de Estado, que queria obrigar a Vale a investir na exploração de cloreto de potássio, e em siderurgia – para agregar valor ao minério de ferro e criar empregos de qualidade no país.

Se o presidente da República fez essa pressão, agiu dentro de sua responsabilidade, e em defesa dos interesses nacionais. É inconcebível que continuemos, como há quase um século, sendo dos principais fornecedores de minérios ao mundo, quando podemos exportar aço. Recorde-se que desde Júlio Bueno Brandão e Artur Bernardes, que governaram Minas há quase um século, uma das exigências dos mineiros era a de que devíamos reduzir o minério em fornos próprios. A Vale do Rio Doce surgiu ao mesmo tempo em que criávamos a Usina Siderúrgica Nacional. Quanto ao cloreto de potássio, trata-se de mineral necessário à produção de fertilizantes, indispensáveis à agricultura brasileira. O Brasil importa 90% de seu consumo, embora disponha de grandes reservas de exploração a céu aberto em seu território.

Lula, além de exercer o direito de aconselhar esses investimentos, cumpriu seu dever. A Vale só foi privatizada com a salvaguarda de uma golden share, de que o Estado é portador, e lhe dá o direito de veto em decisões que possam comprometer o interesse soberano do Brasil. Assim, não houve ingerência, mas, sim o exercício de uma responsabilidade do presidente da República.

Além do episódio em si, há uma questão muito mais constrangedora para nós, brasileiros. Não é a primeira vez que – de acordo com o WikeLeaks e outras fontes, algumas delas norte-americanas – sabemos que brasileiros se prestam a levar informações sigilosas aos norte-americanos. Há casos em que ministros de Estado não se pejam de discordar dos rumos do próprio governo. O Ministro Edison Lobão, segundo os documentos revelados por Assenge, disse aos diplomatas americanos que é partidário da privatização das empresas de energia elétrica. Ele deveria ser questionado pela Presidente da República: se é essa a sua posição, não pode continuar fazendo parte do governo.

Podemos tolerar tudo, menos traição. A democracia se faz na luta entre direita e esquerda, entre o capital e o trabalho, entre os neoliberais e os defensores do desenvolvimento autônomo do país. Mas progressistas ou conservadores, heterossexuais ou homossexuais, brancos ou negros, católicos ou protestantes, umbandistas ou budistas, todos os brasileiros temos o dever de fidelidade à Nação. Não podemos prestar vassalagem às potências estrangeiras, sob nenhum pretexto. O exemplo a seguir é o de Floriano Peixoto, que, no alvorecer da República, ameaçou responder à bala a “ajuda” dos ingleses, na repressão à Revolta da Armada.

É natural que os diplomatas conversem com autoridades dos países em que atuam. Mas é necessário que, com toda a amabilidade, essas autoridades sejam discretas, e não façam revelações que comprometam a soberania nacional, nem o governo a que servem – a menos que o façam com o conhecimento prévio de seus superiores, e com propósito bem definido. É uma regra universal, e não devemos dela nos desviar.

Os acionistas da Vale do Rio Doce terão que chamar seu executivo às falas. É intolerável que admitam atos dessa natureza. São necessárias providências que os impeçam.

Registre-se, no final, que a remuneração dos oito diretores da empresa, incluído seu presidente, prevista para este ano é de mais de 80 milhões de reais. O minério que exportam pertence ao povo brasileiro.

E há quem se queixe dos proventos dos juízes de nossos tribunais superiores.

ECONOMIA -Boff e a crise terminal do capitalismo.

Por Leonardo Boff, no sítio da Adital:

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.



A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.

A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.

O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.

Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.

A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.

Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.

As ruas de vários países europeus e árabes, os "indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: "não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumossacerdotes do capital globalizado e explorador.

Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da superexploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.
Postado por Miro

MÍDIA - TV Al Jazeera.

A rica experiência da TV Al Jazeera.

Entrevista com Bia Barbosa, no blog Fazendo Média:

Surpreende o fato de que um Estado árabe, monárquico, teocrático e ultra-conservador é o responsável pela maior experiência mundial de TV voltada para o interesse público. Estamos falando da Al Jazeera, emissora estatal do Qatar, um pequeno e rico país do Oriente Médio. E quem nos conta detalhes sobre este projeto raro de jornalismo sério e independente é a jornalista Bia Barbosa, que passou um mês na redação de um dos canais da emissora.



Atualmente ela integra o Coletivo Intervozes, assessora o mandato do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) e colabora com veículos da imprensa alternativa. Para exemplificar o enfrentamento da Al Jazeera à lógica dominante nos meios de comunicação, Bia lembrou que todo o conteúdo da rede é licenciado em creative commons, que dispensa qualquer título de propriedade sobre a informação.

De onde surgiu essa ideia de ter uma experiência na Al Jazeera e como você chegou até lá?

Eu sempre acompanhei a Al Jazeera, todos nós jornalistas da imprensa progressista e alternativa temos nela uma fonte de informação importante, e tive a felicidade da minha família morar em Doha por um ano. O meu pai está trabalhando num projeto para o governo do Qatar. Quando eu decidi que ia para lá no final do ano passar férias, achei que era uma possibilidade interessante de tentar uma experiência na Al Jazeera. Decidi ficar lá um mês e meio e entrei em contato com eles solicitando a possibilidade de fazer um estágio.

Meu objetivo não era fazer um trabalho remunerado e eles acharam interessante o meu currículo, e precisam sempre de gente lá. No dia 3 janeiro eu comecei, acabou sendo mais que um estágio, e fiquei um mês dentro da sede da Al Jazeera. Eles têm vários canais e eu fiquei no canal de notícias em inglês. São 65 escritórios em países diferentes, mas a sede é em Doha, onde fica a maior parte da estrutura dos canais. O canal inglês é como se fosse uma CNN, uma BBC, um canal de notícias 24 horas. A Al Jazeera já existia no país mas virou uma televisão internacional durante a guerra do Iraque, e o canal inglês foi lançado em 2006. Ele é voltado para o exterior, mas também passa na televisão aberta do Qatar em inglês. Até porque o Qatar é um país que tem 2/3 da sua população de estrangeiros.

Eles estão presentes em mais de 60 países com correspondentes?

O English Chanel, como eles chamam, tem escritórios em 65 países e os dados deles apontam para jornalistas em 60 países em todos os continentes, inclusive na América do Sul e África. Eles têm um correspondente no Brasil, o Gabriel Elizondo, que fica aqui em São Paulo mas viaja o Brasil, cobre muito o Congresso também. Eles têm alguns colaboradores freelancers também, dependendo da demanda ou da própria disponibilidade do Gabriel. Já o canal árabe, por exemplo, não tem correspondente no Brasil. Nos mesmos moldes desse canal de notícias em inglês, eles têm um canal árabe 24 horas. Não me peçam para fazer uma avaliação desse canal porque eu não falo árabe (risos).

O que você fez nesses 30 dias por lá em janeiro? Trabalhou como qualquer outra jornalista?

Trabalhei como uma jornalista, porque o English Chanel da Al Jazeera tem dois grandes departamentos: o que a gente pode chamar de hard news e o de programas. Naquele são notícias que vão entrando 24 horas com um apresentador de estúdio, com notícias que se repetem ao longo da programação. Essa parte é gerada por 4 países ao longo das 24h, de acordo com o fuso horário: 12 horas são geradas da sede de Doha, no Qatar, e 4 horas de Kuala Lumpur (Malásia), 4 de Londres e 4 de Washington. Se eles quisessem eles poderiam manter um equipe 24h gerando isso de Doha, mas tem ai também uma questão de ter sedes em outros países e uma geração local desses centros de geração de informação.

O outro departamento é de programas de meia hora ao longo do dia. Então é meia hora de um programa e meia hora de jornalismo ao vivo, bem semelhante à Globo News. Inclusive o padrão de estúdio é muito parecido com esses grandes canais internacionais de jornalismo. Eu fiquei no departamento de programas, e senti que é onde a Al Jazeera dá o seu diferencial na cobertura jornalística: à exceção da cobertura dos países árabes, porque ai eles têm uma especialidade e muito mais equipe. Onde a Al Jazeera aprofunda os temas, é plural de forma mais explícita, faz um enfrentamento editorial nas pautas que ela acha que precisa ser feito, é nos programas jornalísticos.

Eu fiquei trabalhando para eles basicamente como auxiliar na montagem de um programa de economia sobre mercados emergentes. Eles queriam falar do Brasil, da China e da Índia, não sei por que a Rússia não estava, não era uma coisa dos Bric’s, e estavam começando a produzir um piloto desse programa que ainda não foi para o ar. Eu fiquei passando informações e contribuindo um pouco para eles montarem esse programa de economia.

Você tem algum exemplo latente para demonstrar?

Na última semana que eu estava lá começou a ocupação da praça Tahrir e do Mubarak. Eles faziam esses programas de meia hora indo fundo na questão do Egito, muito além do que você conseguia dar no noticiário 24 horas. Nesses programas que eles aprofundavam a história e as origens e consequências, e entrevistavam pessoas. Programas de debate, que é uma coisa que a gente só tem no Brasil pela Globo News, na TV por assinatura para quem pode pagar, são muito comuns lá. Na grade de programação deles está tem debate sobre literatura, sobre a conjuntura, uma série de documentários que eles fragmentam em meia hora, tem programas sobre a Ásia, etc. Então nesses programas eles conseguem mostrar um diferencial maior, não é que não tenha diferença na cobertura no hard news, claro que tem.

Saindo um pouco dessa questão jornalística, indo um pouco para a política, a Al Jazeera é uma TV estatal do governo do Qatar?

Ela é estatal porque é totalmente financiada pelo governo do Qatar, mas o ethos dela, se a gente pode falar assim, é público. Ela não tem mecanismos de participação popular, mas a programação não é de uma emissora estatal, é de uma emissora pública. Eu não consegui avaliar a cobertura do canal árabe, que é onde talvez a influência do governo se manifeste de forma mais explícita porque é o canal que é diretamente voltado para a população de lá, mas no canal inglês eu não senti da cobertura que era feita e nem dos programas onde eu estava contribuindo qualquer ingerência do Qatar. Não ouvi falar nem de bairros vizinhos ou jornalistas coisas do tipo. Não tem propaganda, nesse mês que eu fiquei lá só vi uma matéria sobre o Qatar que falava de uma parceria do governo com os países árabes de um poço de petróleo descoberto no golfo pérsico.

A rede promove vários eventos públicos e debates sobre temas da conjuntura, e eu participei na última semana de um fórum de liberdade de expressão e jornalismo online, porque eles estavam discutindo os blogueiros do mundo árabe a partir da questão das redes sociais no Egito e na Tunísia; nos outros países ainda não tinha estourado as revoluções. E eles levaram blogueiros de todos os países pró e contra seus respectivos governos, e fizeram a transmissão ao vivo do evento no canal árabe por dois dias inteiros. E teve críticas ao governo do Qatar em relação a determinadas restrições da liberdade de imprensa no país em outros veículos, e os dois dias do evento foram transmitidos ao vivo sem nenhum tipo de corte.

A Al Jazeera compra um tipo de enfrentamento político com vários governos da região, com uma autoridade jornalística maior porque tem gente in loco e conhecimento maior para cobrir essas questões como a CNN e BBC. Em vários países as equipes dela já foram expulsas por estarem denunciando fatos e informações que desagradam politicamente os governos dos países árabes. A Al Jazeera é adorada pelo povo e muitas vezes detestada pelos governantes.

Essa linha editorial de enfrentamento a outros governos árabes é uma coisa da redação ou uma orientação política pelas relações que o governo do Qatar tem com outros países na região?

O pouco tempo que eu fiquei lá e o contato que tive com a direção da empresa não me permite te responder isso com certeza. A minha avaliação pessoal é que não, eu acho que não é orientação do governo do Qatar, é jornalística. Inclusive porque não é um tipo de jornalismo meio factóide, é algo que faz uma cobertura da realidade que está acontecendo. Então se o país está em greve, se os sindicatos estão nas ruas, se a população está protestando contra alguma coisa, se está morrendo gente nos hospitais, tem fatos ali que precisam ser mostrados e eu sinto que a Al Jazeera não se nega a mostrar isso independente de divergências políticas que ela vai ter com o governo desses países.

Se a gente for olhar é claro que tem contradições no governo do Qatar, por isso que não posso dizer não tem ingerência editorial. A Al Jazeera é uma emissora muito crítica no seu jornalismo ao governo dos Estados Unidos, daí inclusive o espaço que ela ocupou internacionalmente além de ter informações que grandes emissoras internacionais de notícias não têm. Mas se você for olhar, o governo do Qatar abriga uma base de soldados americanos no seu território, tem uma cidade no norte do Qatar que é base deles no golfo, o que mostra que tem interesses de governo em manter algum tipo de aliança com o governo dos EUA. Mas se a gente for olhar a cobertura da Al Jazeera ela é quase como se fosse de um governo inimigo do governo dos Estados Unidos, porque ela é muito crítica.

A questão econômica e militar geralmente prevalece sobre a questão jornalística, ou seja, no caso da Venezuela eles metem o pau mas não param de vender petróleo para os EUA.

Mas isso também nos dá uma boa medida para a gente fazer uma avaliação de se tem uma ingerência. Isso atrai muito os jornalistas que vão trabalhar lá, e no English Chanel a imensa maioria deles na sede de Doha já passou por outros veículos como CNN e BBC. Eu acho que atrai pela possibilidade de fazer outro tipo de jornalismo, com mais liberdade que eles sentiam nesses outros canais. Então o fato de ser uma cadeia gigante, porque a Al Jazeera não é só o jornalismo, o fato dela ser totalmente financiada pelo governo do Qatar não impede, não sei se contraditoriamente, que esses jornalistas trabalhem com mais liberdade do que a que eles têm dado pelo mercado.

E qual a abrangência da Al Jazeera?

São 400 jornalistas, os números oficiais que eles dão são de 220 milhões de casas em mais de 100 países. A rede Al Jazeera tem 3 mil funcionários nesses 65 países, a maior parte desses escritórios estão no hemisfério sul. Eles têm uma opção de cobrir mais o sul mas cobrem muito bem o norte, tanto que tem Washington e Londres gerando conteúdo. Fazem parte de uma rede que não atende somente o English Chanel nem o canal árabe, eles têm 10 canais só de esporte em inglês e árabe. Um passa o campeonato espanhol de futebol, o outro o brasileiro, outro inglês, eu assisti jogo do Palmeiras lá. Eles fazem transmissão de jogo, é diferente de cobertura. Tinha, por exemplo, show de cantor árabe antes do jogo no palco e tudo com o banner da Al Jazeera, distribuindo brinde da emissora pro povo. Então se você pensar em termos de marketing de televisão, a Al Jazeera é muito mais poderosa do que a nossa Globo aqui, por exemplo.

Tem muita gente do ocidente na produção da Al Jazeera, então o oriente acaba sendo visto pelo ponto de vista ocidental. Não rola uma disputa de linguagem?

O English Chanel não se apresenta como um canal oriental, ele não afirma isso na sua linguagem. Eles se reivindicam como uma emissora internacional de cobertura. Eles falam que têm a maior expertise para cobrir a diversidade do mundo, é por isso que eles têm muitos correspondentes na Ásia, África, e no mundo Árabe como um todo. Mas eles põem os jornalistas locais. Quando eu falei de Washington é porque eles têm americanos que trabalham na Al Jazeera, e botam ele para falar da posição dos Estados Unidos.

Você teve contato com os jornalistas ou pessoas lá, a ponto de sentir como eles percebem a apresentação do Oriente pela mídia internacional?

Eu trabalhei diretamente com uma sulafricana e outra inglesa que tinha trabalhado na BBC, e muita gente de família árabe. Mesmo que as pessoas sejam de fora dos países, se você tem algum tipo de vínculo com o mundo árabe isso te favorece de alguma forma até no processo de seleção para trabalhar lá. O que eu senti não é nenhuma palavra de diretor da Al Jazeera nem nada disso, é que eles têm um desconhecimento muito grande das outras emissoras para falar de outra realidade. E o que eles buscam fazer é justamente ouvir a população, é uma rede internacional mas com um olhar local, feita a partir do locos original.

Então tem muitos estrangeiros na redação?

No canal árabe não, são todos árabes de vários países da região. Como eu não fiquei na redação árabe eu não sei te falar. As pessoas do país eram assim mais a secretária, os funcionários. Tinha um cara de origem árabe que veio do Canadá, tinha gente da Palestina, do Iraque. Eles tinham mais de uma equipe que cobriu a guerra do Iraque, eu conheci um dos câmeras man que virou blogueiro, esteve na batalha de Falluja, em 2003. A cidade ficou cercada e só tinha dois câmeras man lá dentro, foi um dos massacres da guerra do Iraque.

A Al Jazeera é só TV?

Não, tem o site com produção própria com várias matérias. Tem uma seção de análise também, eles têm uma equipe própria. Impresso não tem e rádio eu não vi nada, mas eles falam de broadcast, radiodifusão, então não sei te falar se eles tem rádio na TV. Na internet você pode assistir ao vivo a programação. Eu perguntei por que não passava no Brasil, e eles falaram que é uma boa pergunta. Deu a entender que existe uma dificuldade em função da concentração das empresas que controlam a TV por assinatura no Brasil, mas ninguém me falou isso oficialmente, ninguém disse “a Net não deixa a gente entrar”. Tem uma campanha no site deles para você assinar como cidadão americano e pedir a Al Jazeera nos Estados Unidos, porque ela não passa em algumas cidades. Na América Latina só tem na Argentina.

Você falou que o povo gosta muito da Al Jazeera, o povo tem voz na emissora?

Não tem mecanismos diretos de participação popular, mas conversando com os jornalistas você sente uma coisa de quando eles foram em campo sentir uma receptividade muito grande. Uma jornalista brasileira esteve na Jordânia num Fórum de comunicação e todos os jornalistas que estavam lá falavam que o povo árabe gosta muito da Al Jazeera, porque elas falam a verdade sobre o que os governos falam e as respectivas emissoras estatais não deixam vir à tona. Ela cumpre esse tipo de enfrentamento, é uma coisa dos próprios jornalistas falarem isso.

Quando eu estava lá a Al Jazeera divulgou uma série de documentos da negociação da autoridade Palestina com o governo de Israel, eles chamavam de Palestina papers, tipo um wikleaks da vida, um vazamento de documentos que mostravam que a autoridade palestina estava negociando meios de entrega do jogo para o governo de Israel. E a Al Jazeera tem um posicionamento institucional em defesa da causa palestina, eles cobrem sistematicamente, mostra todos os massacres de Israel.

Qual é desse governo do Qatar? Que país é esse politicamente falando?

O emir que dirige o Qatar é filho do emir anterior, lá é uma monarquia, é como se fosse um rei, o país é um emirado, não é por exemplo uma república. É um estado islâmico que tem na sua constituição a religião e não tem questionamento da monarquia, já é fato que vai ter um herdeiro, tudo é a família real que decide. Não tem congresso, não tem representantes eleitos pelo povo, e o filho mais velho do emir vai ser o próximo emir. Tanto que nos grandes eventos, como quando o Qatar ganhou a Copa, a cidade ficou enfeitada de fotos do emir com o filho dele carregando a taça.

O emir tem mais de 20 filhos com três esposas, cada um deles é ministro de alguma coisa. O chefe do meu pai, por exemplo, era um dos filhos do emir que era ministro da cultura. Para resolver qualquer coisa tinha que ir no palácio fazer reunião com o príncipe. Por que o pai desse emir saiu antes de morrer? Porque começou a haver um tipo de enfrentamento mais duro aos Estados Unidos pelo Qatar nos anos 90, de questionar posturas e falar publicamente contra, e o emir anterior tinha problemas de corrupção de desvio de recursos para fora. Não era uma coisa só de manutenção da família real, então juntou um pouco essas duas coisas e meio que os americanos falaram “você sai do governo ou a gente não vai mais considerar o Qatar um país parceiro”. E o atual emir se aliou com os Estados Unidos para derrubá-lo em 1995, então ele chega ao poder com um apoio considerável dos EUA que em função do recrudescimento da posição dos Estados Unidos no golfo pérsico vai diminuindo. Porque depois de 95 você teve guerra do Kwait, Iraque, a questão de Israel e Palestina se intensificou, então tem uma diminuição dessa parceria. Ainda mais agora com esses conflitos todos.

Por outro lado tem seus interesses também, que faz uma aliança com a Otan para tirar o Kadaf, por exemplo. Então se você me perguntar se é um governo progressista, não é porque direita e esquerda não existe lá, eu vou te falar que é um governo mais progressista que a sociedade. Tem várias questões de cultura islâmica muito arraigada na sociedade que o governo tenta mudar e tem uma resistência muito grande, a sociedade é mais conservadora que o governo. O maior problema do Qatar na minha avaliação é a questão dos trabalhadores migrantes, pois como eles não têm mão de obra e o país está crescendo, é o segundo maior exportador de gás do mundo, a construção civil bombando, os qatares se recusam a fazer o trabalho braçal e chama gente de fora. Não tem clandestino, não é igual ao mexicano entrando na fronteira dos Estados Unidos. Entra todo mundo com visto de trabalho, com moradia, com contrato de trabalho definido, só que rola uma exploração brutal desses trabalhadores. São pessoas de várias partes, mas a maioria de países árabes e o sudeste asiático.

Mas por outro lado o país não tem miséria?

Não tem miséria, não tem ninguém morando na rua, sem trabalho ou passando fome. Inclusive eles têm moradia, alimentação e transporte pagos pelas empresas, eles têm essas garantias. Só que tem uma coisa de trabalho quase escravo, porque se eles querem ir embora, por exemplo, tem empresa que retém o passaporte dos trabalhadores. O governo começou a consultar a população, abrir diálogos públicos, sobre a flexibilização da lei de patrocínio da ida daquelas pessoas para a empresa no país e 80% da população qatari é contra mudar a lei. Porque, afinal, eles vão perder os seus escravos particulares.

O que você, como militante pela democratização da comunição, acha disso e o que podemos fazer aqui no Brasil?

O modelo é muito diferente, ela nasce como uma empresa estatal e o fato de você ter o governo do Qatar botando dinheiro nisso para levar para o mundo inteiro, inclusive com essa campanha de pedir para a Al Jazeera passar nos Estados Unidos, é diferente do nosso modelo. Por mais que a Telesur, por exemplo, tenha buscado a parceria dos outros governos para fazer esse tipo de enfrentamento ela não encontrou respostas. A gente aqui no Brasil está engatinhando em relação a isso, estamos lutando para conseguir ter uma televisão pública nacional de fato. Uma com participação popular e que reflita os anseios da população brasileira em termos do seu exercício do direito da comunicação. A Al Jazeera vai ser sempre uma inspiração para a gente, não para copiar um modelo porque isso nunca vai acontecer aqui, de o estado brasileiro colocar recursos nisso e nem acho que esse deveria ser o caminho, mas pelo seu jornalismo.

Eu acho que assistir o jornalismo que a Al Jazeera faz nessas 24 horas por dia é um tapa na cara, de quão distante de um jornalismo independente e crítico a gente está. E acho que é para a gente assistir e ver como é possível fazer um jornalismo diferente. Um jornalismo crítico e que provoque o telespectador a pensar, e isso inspira a gente a seguir lutando por transformações no Brasil.
Postado por Miro

IGREJA - Bispo de Guarulhos vomita machismo.

Por Altamiro Borges

Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos (SP) que ficou famoso nas eleições do ano passado por financiar, ilegalmente, panfletos apócrifos contra a candidata Dilma Rousseff, não tem cura mesmo. Ele precisa urgentemente ser exorcizado! Em entrevista ao jornal Valor, o “apóstolo” do ódio e do preconceito voltou a vomitar contra o direito da mulher ao aborto mesmo em caso de estupro:



“Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que foi vítima… É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é difícil”, comenta. O bispo ajeita os cabelos e o crucifixo. “Já vi muitos casos que não posso citar aqui. Tenho 52 anos de padre… Há os casos em que não é bem violência… [A mulher diz] “Não queria, não queria, mas aconteceu…”, diz. “Então sabe o que eu fazia?” Nesse momento, o bispo pega a tampa da caneta da repórter e mostra como conversava com mulheres. “Eu falava: bota aqui”, pedindo, em seguida, para a repórter encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe. “Entendeu, né? Tem casos assim, do “ah, não queria, não queria, mas acabei deixando”.

Processo urgente

Repugnante! No ano passado, milhões de panfletos acusando Dilma Rousseff de ser “abortista” e de “matar criancinhas” foram apreendidos numa gráfica no Cambuci, no centro da capital paulista. O dono da empresa confessou que o pedido havia sido feito por agentes do bispo de Guarulhos. Apesar do crime eleitoral, nada foi feito contra Dom Bergonzini. Em sermões e entrevistas, ele continuou sua pregação odiosa e mentirosa em favor do candidato tucano José Serra.

Agora, ele volta ao ataque, desprezando a própria legislação brasileira que garante o direito ao aborto em caso de estupro. As suas declarações até que mereceriam um processo, desta vez das entidades feministas que defendem os direitos das mulheres. Não dá para ficar passivo diante da campanha de ódio deste bispo. Como já foi dito, ele precisa urgentemente ser exorcizado!
Postado por Miro

terça-feira, 28 de junho de 2011

POLÍTICA - a disputa pela prefeitura de São Paulo.

A disputa pela prefeitura de São Paulo já começou e terá influência direta na sucessão presidencial, através de Lula e Serra.

Carlos Newton

O número de pré-candidatos é impressionante. Somente no PT, por exemplo, existem três nomes. O ministro Aloizio Mercadante e a senadora Marta Suplicy querem a indicação pelo PT, mas tudo depende de Lula, que insiste em lançar o ministro Fernando Haddad. Embriagado pelo poder e pela demonstração de força com a eleição de Dilma Rousseff, o ex-presidente sonha em repetir a dose com Haddad. Pode ter uma grande decepção.

Haddad é diferente de Dilma Rousseff, que já vinha comandando o governo federal há 5 anos e era uma candidata leve. O ministro da Educação, pelo contrário, nos últimos meses se transformou numa mala muito pesada de carregar. Pelas decisões estapafúrdias que tem tomado no MEC (tipo prova do ENEM, cartilha gay, erros de português e aritmética em livros oficiais), é um desastre completo como homem público, além de nunca ter disputado eleição. Se Haddad ganhar, Lula se reforça para 2014, mas se perder, quebra-se o encanto de sua liderança inatingível.

Os adversários são fortes. Um dos candidatos já definidos é o vice-governador Guilherme Afif Domingos, pelo novo PSD. Mas o prefeito Gilberto Kassab precisa apressar o registro do partido na Justiça Eleitoral, e o prazo termina em outubro, porque os novos partidos só podem concorrer nas eleições se estiverem registrados no TSE até um ano antes do pleito.

Para Kassab e Afif, que são uma espécie de irmãos siameses na política, o novo PSD precisa continuar controlando a Prefeitura da capital, que tem o terceiro maior orçamento do país, inferior apenas aos orçamentos da União e do governo paulista. Além disso, a cidade concentra um terço dos 30 milhões de eleitores no Estado, e Kassab quer sair candidato ao governo de São Paulo.

Já o PCdoB está animado com as possibilidades do vereador Netinho de Paula, que quase se elegeu senador na última eleição e com certeza tem chances, em função do grande número de candidatos, que levariam a decisão para um mais do que provável segundo turno.

Uma grande dúvida é saber quem será o candidato tucano, e nesse caso a disputa da prefeitura tem relação direta com a sucessão presidencial. Serra só não será candidato se não quiser. O governador Geraldo Alckmin dá a maior força à candidatura de Serra, alegando que pretende tentar a reeleição para o governo paulista, quando na verdade por estar mirando em uma nova candidatura à Presidência. Mas Serra não é bobo e está recusando a candidatura a prefeito, porque quer pela terceira vez o Palácio do Planalto. Na reserva de Serra, o PSDB dispõe de outros nomes, como o senador Aluizio Nunes Ferreira e o secretário estadual José Aníbal. Ninguém sabe o que vai acontecer.

Lula sonha que os partidos da base aliada apoiem Fernando Haddad, mas essa possibilidade não existe. Além do PCdoB, que quer lançar Netinho de Paula, o PMDB já decidiu que terá candidato próprio. Deve ser o deputado Gabriel Chalita, que tem apoio do vice-presidente Michel Temer. O presidente da FIESP, Paulo Skaf, que deixou o PSB e entrou no PMDB, diz que será candidato a governador, mas é um brincalhão, que apenas gosta de notoriedade.

Quem também gosta de um holofote é o publicitário e apresentador de TV Roberto Justus, que adora imitar o empresário e apresentador americano Donald Trump. Lá na nossa Matrix, Trump se ofereceu para ser candidato à Casa Branca, e aqui na Filial, Justus logo se lançou a prefeito pelo DEM. É outro brincalhão.

Por fim, Celso Russomano quer ser candidato pelo PP, mas não deve conseguir, porque o dono do partido, Paulo Maluf, fez acordo para que o PP participe do governo Alckmin, com a condição de apoiar o candidato tucano à prefeitura, e não vai romper o trato. Mas quem pode confiar em Maluf?

POLÍTICA - FHC foi enganada pela jornalista Miriam Dutra.

A repórter Miriam Dutra enganou FHC. Testes de DNA mostram que Tomás, reconhecido pelo ex-presidente, na verdade não é filho dele.

Carlos Newton

O blog da Tribuna pede mil desculpas por ter publicado notícia errada. A Veja divulga que testes de DNA, feitos em São Paulo e em Nova York, revelaram que Tomás Dutra Schmidt, filho da jornalista Miriam Dutra, da TV Globo, não é filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em 2009, FHC reconheceu Tomás como filho num cartório em Madri, na Espanha e passou a se encontrar com ele, em suas viagens à Europa. O jovem, que hoje tem 18 anos, pode usar o documento a qualquer momento para colocar o nome do ex-presidente em sua certidão.

Depois do reconhecimento, os três filhos de Ruth Cardoso – Paulo Henrique, Beatriz e Luciana – pediram ao pai que fizesse um exame que comprovasse que Tomás era mesmo filho dele. O ex-presidente concordou, imaginando com isso colocar fim a qualquer possibilidade de desentendimento entre os irmãos e Tomás.

O primeiro teste foi feito no fim do ano passado, em São Paulo. A saliva de FHC foi recolhida em São Paulo, e a de Tomás, em Washington, nos EUA, onde estuda, por meio do representante do escritório do advogado brasileiro Sergio Bermudes, que cuidou tanto do reconhecimento quanto dos testes feitos.

O primeiro exame deu negativo. FHC decidiu então se encontrar com Tomás em Nova York para um novo teste, que também deu negativo. Fernando Henrique Cardoso está disposto a manter o reconhecimento de Tomás, até porque não pode voltar atrás. Mas seus herdeiros, no futuro, poderão questionar a paternidade com base nos testes de DNA.

Fica faltando resolver agora o caso do filho que FHC teve com uma empregada doméstica. Foi em 19 de novembro que se descobriu um segundo caso de filho natural do ex-presidente FHC. A notícia foi dada pelo colunista Claudio Humberto, ao relatar que há pouco mais de 20 anos o então senador Fernando Henrique Cardoso tivera um romance com a empregada doméstica Maria Helena Pereira, que trabalhava em seu apartamento na capital.

Desse relacionamento nasceu um filho, que se chama Leonardo dos Santos Pereira e está hoje com vinte e poucos anos. Mãe e filho trabalham no Senado Federal. Maria Helena é copeira e serve cafezinho aos gabinetes da Ala Teotônio Vilela, enquanto Leonardo trabalha como carregador (auxiliar de serviços gerais) na Gráfica do Senado.

É interessante lembrar que FHC vivia dizendo que tinha um pé na senzala. E era mais do que verdade. Além de ser mestiço, como praticamente todos os brasileiros, ele acabou tendo filho com uma afrodescendente que o impressionou pela formosura. Leonardo é considerado muito parecido com o pai. E foi por isso, aliás, que a mulher de FHC, Dona Ruth Cardoso, decidiu demitir a empregada.

Mas o romântico FHC não deixou Maria Helena desamparada de todo. Comprou dois apartamentos tipo quitinete para ela e uma loja na periferia de Brasília, que está alugada. Infelizmente, não ofereceu ao filho Leonardo as mesmas oportunidades que foram garantidas a Tomás, que agora se sabe que nem é filho dele, mas de outro namorado da jornalista, que se dividia num triângulo amoroso.
Fonte: Tribuna da Imprensa.

POLÍTICA - o procurador que salvou a carreira de Sérgio Cabral.

Procurador Elio Fischberg, que salvou a carreira de Cabral, vai ser expulso do Ministério Público Estadual, por falsificação de assinaturas e outras irregularidades.

Carlos Newton

A cada dia surge uma novidade sobre Sérgio Cabral Filho, ficamos sabendo mais algum detalhe sobre seu enriquecimento ilícito e sua parceria com empreiteiros e empresários. Desde os anos 90, porém, já se sabia que Cabral Filho era um político corrupto e havia provas materiais de que seu patrimônio vinha aumentando com base em caixa 2 de campanha e “doações” de empresários.

Como já explicamos aqui no blog, Cabral vem de uma família de classe média baixa, nasceu no Engenho Novo e foi criado no bairro de Cavalcanti, subúrbio do Rio. O pai, conhecido jornalista e crítico musical, sempre muito querido pelos sambistas cariocas, saiu candidato a vereador pelo PMDB, foi eleito em 1982 e reeleito em 1988 e 1992. Cabral Filho trabalhou no gabinete do pai até 1987, quando acabou nomeado diretor da TurisRio, no governo Moreira Franco.

Em 1990, pegou carona no nome do pai, lançou-se candidato como Sérgio Cabral (sem o Filho) pelo PSDB, teve apenas 12 mil votos mas foi eleito deputado estadual. Recusou as mordomias da Assembleia, não usava o carro oficial, dirigindo um modesto Voyage.

Fazia uma boa carreira, tinha tudo para dar certo na política. Até que, em 1992, com apenas dois anos de Assembléia, resolveu se candidatar a prefeito do Rio, sem nenhuma chance de vitória, mas descobriu as famosas “sobras de campanha”. Foi quando começou a enriquecer.

Reeleito deputado estadual em 1994, ligou-se a Jorge Picciani, que durante 7 anos foi primeiro-secretário da Mesa, no período em que Cabral presidiu a Assembléia (1995-2002). Em 1996, foi novamente candidato a prefeito, amealhando “mais sobras de campanha”, além do que conseguia arranjar na Assembléia, junto com Picciani, outro político também enriquecido ilicitamente.

Em 1998, declarou um patrimônio de R$ 827,8 mil, mas já tinha se tornado exibicionista, dava demonstrações explícitas de que estava milionário. Ainda era filiado ao PSDB, mas rompeu com o então governador Marcello Alencar, que o denunciou ao Ministério Público Estadual por improbidade administrativa (adquirir bens, no exercício do mandato, incompatíveis com o patrimônio ou a renda de agente público), pela compra de uma mansão no condomínio Portobello em Mangaratiba.

A carreira de Cabral poderia ter acabado aí. Mas na ocasião, estranhamente a imprensa não mergulhou fundo no assunto. Foi noticiado apenas que Cabral alegou que fazia “consultoria política” para a agência do publicitário Rogério Monteiro, que lhe pagaria R$ 9 mil por mês. A quantia era insuficiente para justificar os elevados gastos de Cabral, mas a denúncia de Marcello Alencar não prosperou.

***
DINHEIRO DE CABRAL ERA EMPRESTADO?

Agora, a revista Época coloca mais luz na questão. Documentos obtidos pela reportagem mostram que, para justificar ter patrimônio para adquirir a mansão, Cabral declarou haver recebido “empréstimos” de familiares e assessores. “Em cinco anos, R$ 474.852,17 entraram em sua conta sob essa justificativa prosaica. Entre 1996 e 1997, quando ainda era deputado estadual, Cabral obteve empréstimos de R$ 54 mil de Aloysio Neves Guedes, seu chefe de gabinete. Guedes recebia R$ 5.400 mensais, dez vezes menos que o valor do empréstimo. Outro financiador foi o assessor Pedro Lino, que ganhava o mesmo que Guedes e emprestou R$ 46 mil. Subchefe de gabinete, Sérgio Castro Oliveira colaborou com R$ 31 mil. Outros R$ 79 mil caíram na conta de Cabral vindos da Araras Empreendimentos, empresa de sua então mulher Suzana Neves. O ex-sogro Gastão Lobosque Neves emprestou R$ 264 mil”, denuncia a revista Época.

Cabral declarou também que em 1998 tomou emprestados R$ 150 mil da Sociedade Três Orelhas para a compra da casa de Mangaratiba, com a promessa de pagar em 18 meses. E a Três Orelhas é a própria administradora do condomínio (Portobello) onde foi erguida a mansão. Acredite se quiser.

Procurado pela equipe da época, Cabral não deu entrevista. Sua assessoria limitou-se a dizer que ele pagou os empréstimos e qualquer documento referente a esses anos tão remotos já foi descartado, tendo em vista que a prescrição é de cinco anos.

Os repórteres então procuraram os ex-assessores de Cabral que teriam lhe emprestado dinheiro. Eles continuam amigos dele e até trabalham em suas campanhas. Aloysio Neves foi indicado por Cabral para o Tribunal de Contas do Estado, onde hoje é conselheiro. Ele diz não se lembrar de nada: “Faz muito tempo. É coisa muito pequena para eu recordar”. O mesmo diz Pedro Lino. “Se foi feito, está em meu Imposto de Renda”, afirma. Já Sérgio Castro Oliveira não respondeu aos pedidos de entrevista.

Se essa ridícula sucessão de empréstimos fajutos tivesse vindo à público na ocasião, a carreira política de Sergio Cabral certamente teria acabado. Sabendo que seu ex-pupilo Cabral jamais poderia justificar a compra do imóvel por vias lícitas, o então governador Marcello Alencar tinha certeza de que a investigação do Ministério Público Estadual iria trazer à tona todas as maracutaias dele, inclusive no período em que esteve presidindo da Assembléia, com Picciani na Primeira Secretaria, que é o cargo-chave, pois autoriza as despesas.

Mas acontece que, por estranha e insondável coincidência, a investigação no Ministério Público Estadual ficou a cargo do subprocurador-geral de Justiça Elio Fischberg. Em 1999, o inquérito contra Cabral foi arquivada por Fischberg e o assunto caiu no esquecimento.

Agora, certamente com mais dinheiro que pegou “emprestado” com amigos, Cabral aumentou o patrimônio e comprou mais uma mansão em Mangaratiba. E as duas, juntas, estão avaliadas em cerca de R$ 16 milhões.

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ELIO FISCHBERG, O PROCURADOR FALSÁRIO

Por incrível coincidência, agora que finalmente estão vindo à tona as múltiplas irregularidades do enriquecimento ilícito de Cabral, seu protetor Elio Fischberg também volta ao noticiário, por ter falsificaso as assinaturas de outros procuradores no arquivamento de inquérito civil que investigava policiais acusados de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito, em 2002, entre os quais o ex-chefe da Polícia Civil Rafik Louzada.

O Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em sua mais recente sessão, autorizou o procurador-geral de Justiça, Cláudio Lopes, a ajuizar Ação Civil Pública para a decretação de perda do cargo do ex-subprocurador-geral Elio Fischberg. Por unanimidade, os conselheiros votaram a favor da autorização em dois processos envolvendo Fischberg.

O primeiro processo, com relatoria da Conselheira Maria da Conceição Lopes de Souza Santos, constatou que, além das assinaturas dos procuradores, outros documentos foram falsificados, entre eles, um certificado do Conselho Superior homologando o arquivamento, um Termo de Ajustamento de Conduta e um laudo pericial do Grupo de Apoio Técnico Especializado do MPE, que tratavam da exploração de areia em área de proteção ambiental em Cabo Frio. Detalhe: as empresas responsáveis pela atividade recebiam consultoria jurídica do próprio Fischberg.

O segundo processo, com relatoria do Conselheiro Adolfo Borges Filho, analisou a acusação de falsificação de assinaturas para agilizar o arquivamento de um processo no Tribunal de Contas do Estado (TCE) contra o então presidente da Companhia Estadual de Habitação, Eduardo Cunha.

De acordo com o voto da Procuradora Maria da Conceição Lopes de Souza Santos, existem fortes indícios de prática de improbidade administrativa por Elio Fischberg, com o favorecimento de pessoas e empresas em detrimento aos valores da Procuradoria. O parecer também foi baseado no trabalho da Comissão Disciplinar, instituída pela Corregedoria-Geral do MPE, que constatou a conduta irregular em âmbito administrativo.

O Órgão Especial já havia determinado o afastamento de Fischberg em 2007. Ele já responde a processos criminais no Tribunal de Justiça sobre esses fatos. Agora, o procurador-geral de Justiça Claudio Lopes vai ingressar com a respectiva ação cível.

Como se constata, Cabral e Fischberg – tudo a ver. Se os dois arrumassem mais um parceiro, já teríamos uma bela formação de quadrilha.

POLÍTICA - Lula será candidato em 2014.

Carlos Chagas

Sobrou politicamente o quê para Brasília, na semana paulista que passou, comprimida entre a Passeata com Jesus e a Parada de Orgulho Gay, cada qual com dois milhões de participantes? Por conta das festas de São João e do feriado religioso na quinta-feira, a resposta seria não ter sobrado nada, não fosse… Não fosse a entrevista concedida por Gilberto Carvalho ao Portal G-1, divulgada ontem, verdadeira exposição explícita da arte de usar as palavras para esconder a realidade.

Disse o Secretário-Geral da presidência da República que em 2014 o Lula jamais será candidato a voltar ao palácio do Planalto, e que 2018 está muito longe. Para ele, trata-se de uma conseqüência natural a candidatura de Dilma Rousseff a um segundo mandato. Também falou do relacionamento entre o antecessor e a sucessora, rotulando como coincidência a vinda do ex-presidente para reunir-se com o PT e, depois, com senadores do PMDB na residência de José Sarney, em meio à crise de rebelião da base parlamentar do governo contra o palácio do Planalto, sem esquecer o episódio Antônio Palocci, então em plena efervescência. O Lula não teria vindo à capital federal para apagar incêndios, mas, apenas, por ter agendado previamente esses encontros.

Ficou em cima do muro ao referir-se à nomeação de Gleise Hoffmann para a Casa Civil e de Ideli Salvatti para a Coordenação Política. Carvalho declarou que não apenas soube, mas participou dessas escolhas, sendo que o Lula foi participado e opinou, sem tê-las indicado.

Com todo o respeito e reconhecimento pela habilidade do Secretário-Geral em misturar fatos e intenções, a verdade parece um pouco diferente. Começa que Dilma jamais manifestou o desejo de disputar a reeleição, coisa que tanto Fernando Henrique quanto o Lula começaram a preparar antes mesmo de terem assumido o primeiro mandato. A presidente tem os pés no chão e sabe ser impossível conter a avalancha que já a partir do próximo ano envolverá qualquer aparição pública do ex-presidente. A campanha do “volta!” será espontânea, independentemente do desempenho do atual governo. Em momento algum Dilma remará contra a maré, ainda mais porque o Lula, mesmo se procurasse esconder-se, não conseguiria. E sabe muito bem que 2018 está mesmo longe, mas 2014 tão perto em termos de sucessão presidencial que a ninguém será dado adiar suas preliminares. Seria como imaginar Mano Meneses armando um time sem pensar na Copa do Mundo daquele ano.

Sendo assim, pelo fato de o Lula ser candidato, a consequência é de que Dilma não será, para tristeza de Aécio Neves, dos tucanos e de qualquer outro pretendente fora do PT.

A gente se pergunta o que pretendeu Gilberto Carvalho com a cortina de fumaça virtual lançada ontem. Agradar a presidente Dilma ele não precisa. Tem a confiança dela até por tratar-se do elemento de ligação entre o passado e o presente. Assustar o PT e o PMDB com oito anos de permanência ao sol e ao sereno em termos de nomeações, participação no governo e nas grandes decisões administrativas, também não. Sendo assim, a conclusão é de que o Secretário-Geral abriu a temporada sucessória afirmando precisamente o contrário do que pensa e sabe: o Lula será candidato em 2014…

POLÍTICA - As razões da força do Lula.

Folha e LCA Consultoria revelam a razão da força popular de Lula

Pedro do Coutto

A força de Sansão na passagem bíblica, clássico do cinema, direção de Cecil B. De Mille, estava nos cabelos. A força de Vargas, na passagem da semiescravidão para o Direito do Trabalho. A do ex-presidente Lula, nos resultados da política de emprego e salário, especialmente em comparação com a colocada em prática por seu antecessor, Fernando Henrique.

Para tudo, há uma explicação lógica, sustentava o jornalista e ensaísta José Lino Grunewald, meu amigo até sua morte no ano de 2000. Pouco antes da passagem simultânea do século e do milênio. Convergência igual só daqui a 989 anos, quando a humanidade passar do segundo para o terceiro milênio da era cristã. Mas esta é outra questão.

Falei, no título desta matéria, na popularidade de Luís Inácio. Carisma? Simpatia? Naturalidade? Plena comunicação com a galera? Tudo isso, certamente. Porém expressões calcadas em cima de uma realidade social concreta. Em sua edição de quinta-feira 23, a Folha de São Paulo publicou excelente reportagem de Pedro Soares a respeito de pesquisa da LCA Consultoria passada ao jornalista por um de seus executivos, Fábio Romão. Seus dados são fundamentais.

FHC passou o governo a Lula, em 2003, com um índice de desemprego da ordem de 12,3%. Como a força de trabalho brasileira é de 100 milhões de pessoas, metade da população, havia na época pelo menos 12 milhões de desempregados. Lula o entregou à presidente Dilma no patamar de 6,4%. Ela o tem conservado no mesmo plano. Em matéria de salário médio nacional, em valores corrigidos, ou seja, computada a inflação, Fernando Henrique deixou em 1.323 reais. Lula passou o bastão a Dilma com 1.567 reais. Um acréscimo efetivo de 15%, considerando-se a inflação destes últimos oito anos de 56%, de acordo com o IBGE. Houve, portanto, um avanço social considerável.

Esta a principal e verdadeira razão do êxito de Lula e que explica sua capacidade demonstrada de transferir votos. Ninguém alcança uma projeção desse porte sem embasamento concreto. Vargas decretou a CLT que limitou a jornada de trabalho, criou a folga semanal em 1943. A estabilidade, que foi superada no tempo, foi em 1932. Nas eleições de 50, os trabalhadores deveriam votar em quem? No brigadeiro Eduardo Gomes ou em Getúlio Vargas? Há um episódio interessante sobre essa dúvida.

Redação do Correio da Manhã, campanha política. O proprietário do jornal, Paulo Bitencourt achava que Eduardo Gomes ia vencer o pleito. O lendário redator-chefe, Costa Rego, ex-senador por Alagoas, sustentava que não. Paulo Bitencourt disse:”Faz uma pesquisa nas oficinas e você vai ver”. A pesquisa foi feita. Em 70 gráficos, revisores e pessoal das rotativas, o brigadeiro teve um único e solitário voto. Paulo Bitencourt não disse mais nada e foi para casa.

Há outros exemplos. Juscelino ficou na história não somente em função da simpatia pessoal e do entusiasmo que despertava. Mas sobretudo pelas realizações concretas que promoveu. O ciclo do desenvolvimento. A industrialização. A criação de Furnas, grande motor de progresso . A expansão da Petrobrás. A abertura de rodovias. A indústria automobilística. A modernização do país, culminando com os anos dourados.

O marketing é o transporte, através da imprensa, do que foi construído. Não substitui as realizações por ilusões. Marketing sozinho, nada resolve. Embroma, mas não sensibiliza. O adjetivo não ocupa o lugar do substantivo. Não se pode falar bem daquilo que não existe. Os leitores sabem sentir a verdade. E se identificar no voto.
Fonte: Tribuna da Imprensa.

domingo, 26 de junho de 2011

POLÍTICA - Cabral, os negócios em família.

Adriana Ancelmo Cabral – a esposa de Cabral

O escritório de advogacia, do qual é sócia majoritária, tem como clientes, empresas concessionárias de serviços públicos estaduais e outras que têm contratos de prestação de serviços com o Estado. O Metrô e a Supervia, apesar dos caóticos serviços prestados, conseguiram por intermédio de Adriana, que o marido, Cabral, renovasse por mais 30 anos os contratos de concessão. A esposa de Cabral também advoga para o Grupo Facility, do “Rei Arthur”, que tem contratos de mais de R$ 1,5 bilhão com o governo Cabral. A mulher de Cabral representa os interesses jurídicos de várias empresas que têm contratos milionários com o Estado e dependem de decisões do governador.

Mauricinho Cabral – o irmão de Cabral

Esse é um personagem que se move nas sombras, mas toda a mídia conhece muito bem, e protege por interesse próprio. É publicitário e não tem nenhum cargo no governo. Mas é ele que controla a milionária verba de publicidade e se reúne com o pessoal dos grandes veículos de comunicação. Usa a agência FSB para distribuir as verbas e comprar a blindagem do irmão Cabral.

O VICE QUE VIROU ALMA GÊMEA NOS NEGÓCIOS

Luiz Fernando Pezão – o vice-governador

É o homem que cuida das Obras do Estado e negocia os contratos milionários e está sujo dos pés grandes até a cabeça, passando pelas mãos ainda maiores, que lhe rendem o apelido de “Mão Grande”. Usa seu subsecretário, Hudson Braga para fazer a ponte com as empreiteiras, menos a Delta, que é linha direta Cabral – Fernando Cavendish. Está enrolado no TCU por conta do contrato da Delta, das obras do Arco Rodoviário. Um escândalo de superfaturamento. É o responsável pela reforma do Maracanã e vai ter que responder por que mandou pagar R$ 8 milhões à Delta antecipadamente, antes mesmo de realizar algumas intervenções previstas no contrato. Está metido numa negociata da desapropriação de um imóvel em Barra do Piraí, que pertencia à família de sua mulher, foi super avaliado e em seguida desapropriado por um valor muito acima do mercado.

OS AMIGOS E BRAÇOS-DIREITOS NOS NEGÓCIOS

Régis Fichtner – o secretário da Casa Civil

É um dos braços-direitos de Cabral desde que ele era deputado na Alerj. Responsável pelas negociatas de imóveis desapropriados do banqueiro Daniel Dantas, denunciadas pela revista Carta Capital. O banqueiro ganhou milhões graças à generosidade da caneta de Cabral negociada com Régis Fichtner. Acertou e foi o autor da chamada Lei Luciano Huck, que legalizou centenas de imóveis de luxo construídos em área de preservação de Angra dos Reis, beneficiando o apresentador e muita gente graúda. É o interlocutor com a Justiça e o Ministério Público.

Wilson Carlos – o secretário de Governo

Amigo de Cabral desde os tempos de estudante, é o homem que cuida dos negócios com os políticos. É o outro braço-direito. Cuida do toma lá dá cá de Cabral. Foi flagrado em uma investigação da Polícia Federal como possuidor de contas em paraísos fiscais na China, não declaradas.

OS SECRETÁRIOS BONS DE NEGÓCIOS

Sérgio Côrtes – o secretário de Saúde

Esse é o campeão de negócios sujos. Grupo Facility, TOESA e as ambulâncias, TCI, Barrier e os remédios. Mansão, cobertura, joalheria. Luxos milionários que não têm como ser explicados.

José Mariano Beltrame – o secretário de Segurança

Responsável pelo contrato de aluguel dos carros da PM, a negociata com a Julio Simões cujo valor pago por viatura dá para comprar duas novas por ano. Acusado por seu ex-subsecretário de fazer escutas ilegais. Numa afronta à Constituição ganha mais que ministro do STF acumulando indevidamente salário da Polícia Federal. É o responsável pela política de acordos com as milícias. Tinha como assessores de confiança um falso tenente-coronel do Exército e o miliciano Chico Bala. Abafou as investigações da corrupção na Polícia Civil descobertas pela Operação Guilhotina e com medo da ameaça de revelações do delegado Allan Turnowski, de acusador virou sua testemunha de defesa. Turnowski sabe as relações de Beltrame com as milícias, que estão por trás da farsa das UPPs.

Wilson Risolia – o secretário de Educação

O economista do mercado imobiliário que desde o início do ano toca os negócios milionários de aluguel de aparelhos de ar condicionado e outros equipamentos; além das compras superfaturadas de computadores e outros.

Julio Lopes – o secretário de Transportes

O homem que negocia com as empresas de ônibus, além do Metrô, das Barcas e da Supervia. Está por trás de toda a proteção às empresas e manda os passageiros terem paciência.

OS EMPRESÁRIOS PARCEIROS DE NEGÓCIOS

Arthur Cezar de Menezes Soares Filho

É o “Rei Arthur”, do Grupo Facility. O poderoso “Rei Arthur” vive escondido em Miami, numa mansão milionária – dizem que tem medo de ser preso no Brasil – e chegou a abrir uma filial do Porcão na cidade americana, para satisfazer seu gosto por churrasco. Tem no governo Cabral contratos de prestação de serviços que ultrapassam R$ 1,5 bilhão, muitos sem licitação. Tem funcionários terceirizados em praticamente todas as áreas do governo Cabral, além do Ministério Público e da Polícia Federal. Cabral viaja no seu jatinho e já se hospedou mais de uma vez na sua mansão de Miami.

Fernando Cavendish – Empreiteira Delta

Esse é o segundo mais poderoso empresário do grupo de Cabral pelo valor dos contratos, R$ 1 bilhão, grande parte sem licitação. Mas é o primeiro no coração de Cabral que intermediou a entrada da Delta em mais contratos milionários da prefeitura do Rio, além de outras. Está em maus lençóis depois de tudo o que está vindo à tona, por conta do acidente de helicóptero da Bahia. Segundo a revista Veja, bate no peito pra dizer que pode comprar políticos. De pequeno empreiteiro virou o campeão de obras no Rio, sob a benção do amigo Cabral, também seu vizinho do condomínio PortoBello, como o secretário de Sérgio Côrtes.

OS ALIADOS POLÍTICOS E SÓCIOS NOS NEGÓCIOS

Natalino e Jerominho – Os irmãos milicianos cassados

Um ex-deputado, o outro ex-vereador. Chefes da milícia Liga da Justiça fizeram acordo político com Cabral, que andava com eles pra cima e pra baixo e até cantou com eles num palanque na Zona Oeste. Depois foram traídos por Cabral que não confiava neles, e que usou a milícia rival de Chico Bala, por sugestão de Beltrame para destroná-los

Eduardo Paes – O prefeito do Rio

Afilhado político de Sérgio Cabral. Retribuiu o apoio do padrinho fraqueando os contratos da prefeitura aos amigos de Cabral, “Rei Arthur” (Facility) e Fernando Cavendish (Delta). Os dois multiplicaram por muitas vezes seus negócios com a prefeitura de Paes.

Jorge Picciani – O presidente do PMDB

Ex-presidente da Alerj, o homem que deu sustentação política a Cabral na, durante os quatro anos que a presidiu. Barrou qualquer tentativa de investigação. Nos bastidores tentou de todas as formas, destruir adversários de Cabral, que podiam atrapalhar os negócios. Participa ativamente do governo Cabral. A secretaria de Educação é dele, e está por trás dos contratos da compra de computadores superfaturados e de aluguel de ar de condicionado. A empresa Investiplan, que pertence a Paulo Trindade, sócio de Picciani em negócios de gado, detém mais de 90% dos contratos de informática do governo Cabral. A Investiplan também está envolvida no Mensalão do Arruda, no Distrito Federal

Paulo Melo – O presidente da Alerj

O presidente da Alerj era até o ano passado o líder de Cabral e quem comandava a tropa de choque que protegia o governador. De vendedor de cocadas virou um dos maiores milionários da Região dos Lagos, onde os contratos do governo Cabral passam pela sua negociação. É o campeão da multiplicação do patrimônio pessoal entre os presidentes de assembléias legislativas do país, segundo revelou recente reportagem. Dono de inúmeros imóveis adquiriu recentemente uma fazenda milionária em Rio Bonito e é dono de hotel, em Araruama. Segundo ele, ficou rico ganhando comissões como corretor de imóveis na Região dos Lagos.

Olha, e isso é apenas um breve resumo das participações de cada personagem. Esse é o time de Cabral que comanda o mar de lama no nosso Estado. Convenhamos que só pelo que mostrei aqui, e pelas pessoas envolvidas, da família e os principais cargos-chave do governo, o escândalo do impeachment de Collor e do Mensalão do Arruda, no Distrito Federal não chegam nem perto. Ou como definiu há algum tempo o jornalista Cláudio Humberto, os dois primeiros casos parecem “Sessão da Tarde” perto do que acontece nas entranhas do governo Cabral.

Com toda a sinceridade, depois de tudo o que mostrei, e após tudo o que já veio à tona desde o acidente de helicóptero da Bahia, quem não se indignar, não se levantar contra o governo mais corrupto da história do Rio de Janeiro e o governador que está assaltando os cofres públicos, ou está levando alguma vantagem ou é completamente alienado.

Em tempo: Depois mostrarei o segundo capítulo, detalhando os escândalos citados aqui e os valores envolvidos.

Em tempo 2: Pedimos desculpas pela demora na postagem, mas deu muito trabalho para resumir e montar. São incontáveis casos de corrupção e negociatas.”

GRÉCIA - A ditadura do mercado.

DO BLOG DEMOCRACIA&POLÍTICA


Por Clovis Rossi, na 'Folha':

Agora, exige-se que, até a oposição respalde o novo pacote de dor; "todos devem aceitar ou os dissidentes serão os irresponsáveis"

“A União Europeia deu mais um passo no rumo da ditadura dos mercados: exige que todos os partidos gregos respaldem o pacote de austeridade (o segundo em um ano) a ser votado em princípio no dia 28.

A chanceler alemã Angela Merkel teve o descaramento de dizer ao líder oposicionista grego Antonis Samaras, conservador como ela, que a oposição deveria "honrar sua responsabilidade histórica".

Traduzindo: ou todo o mundo abaixa a cabeça e aceita a imposição do novo pacote ou os dissidentes serão irresponsáveis.

Fico imaginando a gritaria [da oposição e da sua mídia brasileiras] se a presidente Dilma Rousseff exigisse que a oposição apoiasse, digamos, o sigilo eterno para [determinados e sensíveis] documentos oficiais [de política externa] e/ou o sigilo [para as empreiteiras antes da definição da vencedora] para os orçamentos das [obras da] Copa e da Olimpíada. Mas sobre a exigência equivalente dos mercados, silêncio ensurdecedor.

O leitor pode estranhar que eu diga exigência dos mercados quando ela foi formulada pelos governos dos 27 países da União Europeia (o grego incluído).

Acontece que eles estão apenas cedendo à chantagem dos mercados sobre a Grécia, que toma a forma de juros cada vez impossíveis de pagar, o que cria o risco de calote, que, por sua vez, afetaria bancos europeus, especialmente da Alemanha e da França, os países que têm voz de comando na UE.

A oposição grega reagiu com lógica. "Me pedem que apoie uma medicação para alguém que está morrendo por culpa dessa mesma medicação", disse Samaras.

Bingo: a situação na Grécia só fez piorar desde que foi adotado, há um ano, o primeiro programa de austeridade. O desemprego, por exemplo, aumentou 50%, para os obscenos 16% atuais.

Em linha com Samaras, a revista "The Economist" ironiza: "A União Europeia parece ter adotado uma nova regra: se um plano não está funcionando, agarre-se a ele".

Mais do que agarrar-se a ele, dobra a aposta: depois de uma inspeção, que durou até a madrugada de anteontem, exigiu adicionais €$ 5,5 bilhões de cortes/aumentos de impostos, o que dá cerca de 20% mais de dor no pacote de €$ 28 bilhões, a ser votado no dia 28.


Que a Grécia precisa fazer um ajuste duro, ninguém nega. Mas há pontos no programa que parecem responder mais à inércia ideológica do que a busca de resultados. Exemplo: cortar 150 mil dos 700 mil empregos públicos. Que deve haver inchaço, deve. Em todos os países há. Mas um relatório ontem divulgado pela OCDE, o clubão dos 33 países mais ricos do mundo (o Brasil só não está porque não quer), mostra que a Grécia tem uma das taxas mais baixas de emprego público: só 7,9% de sua força de trabalho está no setor estatal, quando a média da OCDE é de 15%.

Bem feitas as contas, o bom senso nesse caso está com o sindicalismo, o suspeito de sempre de defender o gasto público: "O sindicalismo europeu também considera necessário, como é óbvio, reduzir os níveis da dívida e do déficit públicos. A diferença está nos prazos, nos instrumentos e na repartição social do peso [do ajuste]. É inaceitável que toda a carga fique com os trabalhadores e os setores sociais de menor renda", diz o espanhol Ignacio Fernández Toxo, presidente da Confederação Europeia de Sindicatos.”

FONTE: escrito por Clóvis Rossi e publicado na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2506201107.htm) [imagem do google e trechos entre colchetes adicionados por este blog].

GRÉCIA - Não é a Grécia. É o capitalismo, estúpido!

Por Atilio Boron, em seu blog:

As mídias, as consultorias, os economistas, os bancos de investimentos, os presidentes dos bancos centrais, os ministros de fazenda, os governantes não fazem outra coisa que falar da "crise grega". Ante tal vozerio mal intencionado é oportuno parafrasear um exemplo da campanha de Bill Clinton para dizer e insistir que a crise é do capitalismo, não da Grécia. Que este país é um dos elos mais débeis da cadeia imperialista e que é por causa dele que ali ocorre a eclosão das contradições que o está corroendo irremissivelmente.

O alarma dos capitalistas, sem dúvidas justificado, é que a queda da Grécia pode arrastar outros paises como Espanha, Irlanda, Portugal e comprometer seriamente a estabilidade econômica e política das principais potências da União Européia. Segundo informa a imprensa financeira internacional, representativa dos interesses da "comunidade de negócios" (leia-se: os gigantescos oligopólios que controlam a economia mundial), a resistencia popular às brutais medidas de austeridade propostas pelo ex-presidente da Internacional Socialista e atual primeiro ministro grego, Georgios Andreas Papandreu, ameaçam arrojar pela amurada todos os esforços até agora realizados para amenizar a crise.

A aflição se espalha no patronato frente às dificuldades com que tropeça Atenas para impor as brutais políticas exigidas por seus supostos salvadores. Com toda razão e justiça os trabalhadores não querem ser responsabilizados por uma crise provocada pelos jogadores das finanças, e a ameaça de uma explosão social, que poderia reverberar por toda a Europa, tem paralisadas as lideranças governamentais grega e européia.

A injeção de fundos outorgada pelo Banco Central Europeu, o FMI e os principais paises da zona do euro não tem feito senão agravar a crise e fomentar os movimentos especulativos do capital financeiro. O resultado mais visível tem sido acrescentar a exposição dos bancos europeus ao que já aparece como um inevitável default grego. As conhecidas receitas do FMI, do BM e do Banco Central Europeu: redução de salários e aposentadorias, demissões massivas de funcionários públicos, arrematação de empresas estatais e desregulamentação dos mercados para atrair investimentos tem surtidos os mesmos efeitos sofridos por vários paises da América Latina, notavelmente a Argentina.

Pareceria que o curso dos acontecimentos na Grécia se encaminha para uma estrondosa queda como a que os argentinos conheceram em dezembro de 2001. Deixando de lado alguma óbvias diferenças há demasiadas semelhanças que abonam este prognóstico. O projeto econômico é o mesmo, o neoliberalismo e suas políticas de shock; os atores principais são os mesmos: o FMI e os cães guardiães do imperialismo em escala global; os ganhadores são os mesmos: o capital concentrado e especialmente a banca e as finanças; os perdedores são também os mesmos: os assalariados, os trabalhadores e os setores populares; e a resistência social a essas políticas tem a mesma força que soube ter na Argentina. É difícil imaginar um soft landing, uma aterrisagem suave, desta crise, O previsível e mais provável é precisamente o contrário, tal como ocorreu no país sul-americano.

Claro que a diferença da crise argentina, a grega está destinada a ter um impacto global incomparavelmente maior. Por isso o mundo dos negócios contempla com horror o possível "contágio" da crise e seus devastadores efeitos entre os paise do capitalismo metropolitano. Estima-se que a dívida pública grega alcança os 486 bilhões de dólares e que representa uns 165% do PIB desse país. Mas tal coisa ocorre numa região, a "eurozona", onde o endividamento já ascende os 120% do PIB dos países do euro, com casos como o da Alemanha com uns 143%, França 188% e Grã Bretanha com 398%. Não deve ser esquecido, além disso, que a dívida pública dos Estados Unidos já alcança 100% de seu PIB.

Em uma palavra: o coração do capitalismo global está gravemente enfermo. Por contraposição à dívida pública chinesa em relação ao seu gigantesco PIB é de apenas 7%, a da Coréia do Sul 25% e a do Vietnã 34%. Há um momento em que a economia, que sempre é política, se transforma em matemática e os números cantam. E a melodia que entoam dizem que aqueles países estão na borda de um abismo e que sua situação é insustentável. A dívida grega - exitosamente dissimulada em sua gestação e desenvolvida graças ao conchavo criminoso de interesses entre o governo conservador grego de Kostas Karamanlis e o banco de investimento favorito da Casa Branca, Goldman Sachs - foi financiada por muitos bancos, principalmente na Alemanha e, em menor medida, França.

Agora são credores de papéis de uma dívida que a qualificadora de riscos Standard & Poor's (S&P) qualificou com a pior nota do mundo: CCC, isto é, tem crédito sobre um devedor insolvente e que não tem condições de pagar. Em igual ou pior posição se encontra o ultra-neoliberal Banco Central Europeu, razão pela qual um default grego teria consequências cataclísmicas para este verdadeiro ministro das finanças da União Européia, situado à margem de qualquer contrôle democrático. As perdas que originaria a bancarrota grega não só comprometeria aos bancos expostos mas também aos dos paises com problemas, como Espanha, Irlanda, Itália e Portugal, que teriam que suportar juros mais elevados que os atuais para equilibrar suas deterioradas finanças. Não é preciso muito esforço para imaginar o que sucederia se os gregos suspendessem unilateralmente os pagamentos, cujo primeiro impacto se daria na linha de flutuação da nave européia, a Alemanha.

Os problemas da crise grega (e européia) são de origem estrutural. Não se devem a erros ou a percalços inesperados senão que expressam a classe de resultados previsíveis e esperados quando a especulação e o parasitismo rentista assume o posto de comando do processo de acumulação de capital. Por isso no fragor da Grande Depressão dos anos trinta John Maynard Keynes recomendava, em sua célebre Teoria Geral da Ocupação, o Interesse e o Dinheiro, praticar a eutanásia do rentista como condição indispensável para garantir o crescimento econômico e reduzir as flutuações cíclicas endêmicas no capitalismo. Seu conselho não foi considerado e hoje são aqueles setores os que se apropriaram da hegemonia capitalista, com as consequências pro todos conhecidas.

Comentando sobre esta crise Istvan Meszaros dizia há poucos dias que "uma crise estrutural requer soluções estruturais", algo que quem está administrando a crise rechaça terminantemente. Pretendem curar um enfermo em gravíssimo estado com aspirinas. É o capitalismo que está em crise e para sair dela torna-se imprescindível sair do capitalismo, superar o quanto antes um sistema perverso que conduz a humanidade ao holocausto em meio a enormes sofrimentos e uma depredação meio-ambiental sem precedentes. Por isso a mal chamada crise "crise grega" não é assim; é, em lugar disso, o sintoma mais agudo da crise geral do capitalismo, essa que os meios de comunicação da burguesia e do imperialismo asseguram há três anos que já está em vias de superação, apesar das coisas estarem cada vez pior.

O povo grego, com sua firme resistência, demonstra estar disposto a acabar com um sistema que já é inviável não no longo mas no médio prazo. Há que acompanhá-lo em sua luta e organizar a solidariedade internacional para tratar de evitar a feroz repressão de que é objeto, método predileto do capital para solucionar os problemas que cria sua exorbitante voracidade. Talvez a Grécia. que faz mais de dois mil e quinhetos anos que inventou a filosofia, a democracia, o teatro, a tragédia e tantas outras coisas possa voltar-se sobre seus foros e inventar a revolução anti-capitalista do século vinte e um. A humanidade lhe estaria profundamente agradecida.

* Traduzido no blog Nebulosa de Órion, de José Justino.

EUA - Um império de bases militares.

Por Hugh Gusterson, no sítio da Adital:

Antes de ler este artigo, responda a esta pergunta:

Quantas bases militares os Estados Unidos têm em outros países:

a) 100
b) 300
c) 700
d) 1000.



De acordo com a lista do próprio Pentágono, a resposta é ao redor de 865; porém, se forem incluídas as novas bases no Iraque e no Afeganistão, a cifra ascende a mais de 1.000. Essas mil bases constituem 95% de todas as bases militares que os demais países mantêm em território alheio. Em outras palavras, os Estados Unidos são para as bases militares o que Heinz é para o ketchup.

A velha maneira de fazer colonialismo, praticada pelos europeus consistia em encarregar-se de todo um país e administrá-lo. Porém, o procedimento era meticuloso. Os Estados Unidos foram pioneiros de um enfoque mais ágil de império mundial. O historiador Chalmers Johnson afirma: "A versão norte-americana da colônia é a base militar”; os Estados Unidos, agrega, têm um "império de bases militares”.

Essas bases não são baratas. Excluindo suas bases no Afeganistão e no Iraque, os Estados Unidos gastam ao redor de 102 bilhões de dólares ao ano na gestão de suas bases no exterior, segundo Miriam Pemberton, do Institute for Policy Studies. E em muitos casos, temos que perguntar-nos para que servem. Por exemplo, os Estados Unidos têm 227 bases na Alemanha. Talvez tiveram sentido durante a Guerra Fria, quando a Alemanha estava dividida em duas pelo Muro de Berlim e os responsáveis pela política estadunidense tentavam convencer aos soviéticos de que o povo estadunidense consideraria um ataque a Europa como um ataque aos Estados Unidos. No entanto, em uma nova era em que a Alemanha está reunificada e os Estados Unidos estão preocupados com outros focos de conflito na Ásia, na África e no Oriente Próximo, tem tanto sentido para o Pentágono manter suas 227 bases militares na Alemanha quanto teria para o serviço de correios manter uma frota de cavalos e carruagens.

Afogada na burocracia, a Casa Branca está desesperada por recortar gastos desnecessários do orçamento federal. O congressista por Massachusetts Barney Frank, democrata, sugeriu que o orçamento do Pentágono poderia reduzir-se em 25%. Se consideramos ou não politicamente realista o cálculo de Frank, as bases no exterior são, sem dúvida, um objetivo apetitoso para as tesouras do ‘recortador' de orçamentos. Em 2004, Donald Rumsfeld estimou que os Estados Unidos poderiam economizar 12 bilhões de dólares com o fechamento de umas 200 bases no exterior. O custo político seria quase nulo dado que as pessoas economicamente dependentes das bases são cidadãos estrangeiros e não podem votar nas eleições estadunidenses.

No entanto, as bases estrangeiras parecem invisíveis aos que pretendem recortar o orçamento do Pentágono, que alcança os 664 bilhões de dólares anuais. Tomemos o artigo do New York Times, The Pentagon Meets the real World. O editorialista do Times pedia à Casa Branca que tivesse a "coragem política” de recortar o orçamento de defesa. Sugestões? Suprimir os programas de aquisição do caça F-22 e do destrutor DDG-1000; e reduzir o Sistema de combate Futuro, do exército de terra, a fim de economizar 10 bilhões a cada ano. Todas são sugestões aceitáveis; porém, o que acontece com as bases no exterior?

Apesar de que os políticos e os especialistas midiáticos parecem ignorar essas bases e entendem o estacionamento de tropas dos Estados Unidos em todo o mundo como um fato natural, o império de bases militares estadunidenses atrai a atenção de acadêmicos e ativistas, como o demonstra uma conferência sobre as bases estrangeiras realizada na American University, no final de fevereiro. NYU Press acaba de publicar o livro de Catherine Lutz ‘Bases of empire', que reúne a acadêmicos que estudam as bases militares dos Estados Unidos e ativistas opostos a essas bases; Rutgers University Press publicou o livro de Kate MacCaffrey, ‘Military Power and Popular Protest', um estudo da base militar de Vieques (Porto Rico), que teve que fechar suas portas ante os protestos massivos da população local. E Princeton University Press está a ponto de publicar ‘Island of Shame', de David Vine, que conta a história de como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha acordaram em segredo deportar aos habitantes de Diego García para a Ilha Mauricio e Seychelles, para que sua ilha pudesse converter-se em uma base militar. Os estadunidenses fizeram um trabalho tão refinado que, inclusive, pulverizaram com gás os cachorros. Esses habitantes indígenas, Chagos, não puderam ter acesso aos tribunais dos Estados Unidos; porém, ganharam sua causa contra o governo critânico em três julgamentos, apesar de que no final a sentença foi anulada pelo mais alto tribunal do país, a Câmara de Lores. Agora estão interpondo recursos ante o Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

Os líderes americanos falam de suas bases estrangeiras como um elemento que permite consolidar as alianças com outros países, principalmente através dos acordos comerciais e com a ajuda que costumam acompanhar os arrendamentos das bases. No entanto, os soldados dos Estados Unidos vivem em uma espécie de ‘cocoon', simulacro dos Estados Unidos nas bases, vendo canais de TV estadunidenses; escutando rap e heavy metal estadunidense e comendo fast food de seu país, para que os jovens da comunidade local e as crianças de rua tenham pouco contato com outra forma de vida. Enquanto isso, do outro lado da cerca de arame farpado, os residentes e as empresas locais costumam ser economicamente dependentes dos soldados e ter interesse em sua permanência.

Essas bases podem converter-se em focos de conflito. As bases descarregam incessantemente lixo tóxico nos ecossistemas locais, como em Guam, onde as bases militares têm levado à criação de pelo menos 19 vertedouros tóxicos. Essa contaminação gera ressentimento e, às vezes, como em Vieques na década de 90, mobilizações sociais contra as bases. Os Estados Unidos utilizavam Vieques para suas práticas de bombardeio durante 180 dis ao ano, e quando os Estados Unidos se retiraram, em 2003, a paisagem estava coberta de munições, das quais algumas haviam detonado e outras, não; cartuchos de urânio empobrecido; metais pesados; petróleo; lubrificantes; solventes e ácidos. Segundo os ativistas locais, o índice de câncer em Vieques era 30% superior ao do restante do país, Porto Rico.

Também é inevitável que, de vez em quando, os soldados dos Estados Unidos –em geral, bêbados- cometam delitos. O ressentimento que esses crimes causam se exacerba pela frequente insistência do governo dos Estados Unidos de impedir que esses crimes sejam julgados por tribunais locais. Na Coreia, em 2002, dois soldados estadunidenses mataram a duas jovens adolescentes quando se dirigiam a uma festa de aniversário. Os ativistas coreanos asseguram que este foi um dos 52.000 delitos cometidos por soldados estadunidenses na Coreia entre 1967 e 2002. Os dois soldados foram repatriados imediatamente para os Estados Unidos para que pudessem escapar do tribunal coreano. Em 1998, um aviador dos Marines seccionou o cabo de uma telecabine de esqui na Itália, matando a 20 pessoas. Funcionários dos Estados Unidos deram ao piloto um ‘puxão de orelhas' enquanto se negavam a permitir que as autoridades italianas o julgassem. Esses e outros incidentes similares têm prejudicado as relações dos Estados Unidos com alguns aliados importantes.

Os ataques de 11 de setembro foram, sem dúvida, o exemplo mais espetacular do tipo de retrocesso que pode gerar o ressentimento local contra as bases dos Estados Unidos. Na década de 1990, a presença de bases militares estadunidenses nas proximidades dos lugares mais sagrados do Islã sunita, na Arábia Saudita, enfureceu a Osama Bin Laden e proporcionou a Al Qaeda uma potente ferramenta de recrutamento. Os Estados Unidos fecharam prudentemente suas principais bases na Arábia Saudita; porém, abriram novas bases no Iraque e no Afeganistão, que se estão convertendo em novas fontes de fricção nas relações entre os Estados Unidos e os povos do Oriente Próximo.

Esse império proporciona aos Estados Unidos uma capacidade de intervenção global; porém, a forma do mesmo, na medida em que seu peso principal está na Europa, é um vestígio inflado e anacrônico da Guerra Fria.

Muitas dessas bases são um luxo que os Estados Unidos já não podem ter, nessa época de déficit orçamentário recorde. Por outro lado, as bases estadunidenses em países estrangeiros têm dois gumes: projetam o poder estadunidense em todo o mundo; porém, também inflamam as relações exteriores dos Estados Unidos e geram ressentimento devido aos fenômenos de prostituição, dano ambiental, pequena delinquência e etnocentrismo cotidiano, que são seus corolários inevitáveis. Recentemente, esses ressentimentos obrigaram o fechamento de bases estadunidenses no Equador, em Porto Rico, no Quirquistão e, se o passado é o início do futuro, são de se esperar outros movimentos contra as bases estadunidenses no futuro.

Durante os próximos 50 anos, estou convencido de que seremos testemunhas do aparecimento de uma nova norma internacional segundo a qual a instalação de bases militares no estrangeiro será tão indefensável quanto tem sido a ocupação colonial durante os últimos 50 anos.

Nossa Declaração de Independência critica aos britânicos pelo aquartelamento de grandes tropas armadas entre nós e por suas tropas estarem protegidas, mediante julgamentos simbólicos, do castigo aos crimes que pudessem cometer contra habitantes desses Estados Unidos. Belas palavras! Os Estados Unidos deveriam começar a levá-las a sério.
Postado por Miro