O PIG, Organizações Globo à frente, a fim de evitar assumir diretamente suas posições retrógradas, reacionárias, golpistas e anti-nacionais, tem por hábito convocar seus "especialistas" abaixo citados, para dizerem aquilo que gostam de ouvir: ataques aos nacionalistas, ao PT, a Dilma e a todos aqueles que não rezam pela sua cartilha.
Quando publiquei a primeira versão do “Disk Fonte: o jornalismo papagaio de repetição” não imaginei que ele acabaria sendo usado até em faculdades de jornalismo. Portanto, a pedidos, eu e os dois colegas que organizamos as listas iniciais fizemos uma atualização e trazemos novamente as fontes que todos amamos e, por isso, usamos ad nauseam.
Não existe imparcialidade jornalística. Qualquer estudante de jornalismo aprende isso nas primeiras aulas. Quando você escolhe um entrevistado e não outro está fazendo uma opção, racional ou não, por isso a importância de ouvir a maior diversidade de fontes possível sobre determinado tema. Fazer uma análise ou uma crítica tomando partido não é o problema, desde que não se engane o leitor, fazendo-o acreditar que aquilo é imparcial.
Infelizmente, muitos veículos ou jornalistas que se dizem imparciais, optam sistematicamente por determinadas fontes, sabendo como será a análise de determinado fato. Parece até que procuram o especialista para que legitime um ponto de vista. Ou têm preguiça de ir além e fugir da agenda da redação, refrescando suas matérias com análises diferentes. Dois amigos, grandes jornalistas com anos de estrada, ajudaram a fazer uma lista exemplar do que estou falando.
Vale ressaltar que boa parte destas fontes são especialistas sérios, reconhecidos em seus campos de atuação e que já deram importantes contribuições à sociedade. Como disse um desses amigos, terem determinadas posições não os descredencia. O problema são algumas mídias que sempre, sempre, sempre procuram esses mesmos caras para repercutir. Sempre eles. E somente eles.
Façam um teste e procurem esses nomes no seu jornal, revista, rádio, TV, sites preferidos…
Aos nomes:
Questões trabalhistas? Disk Pastore
(O sociólogo José Pastore, mas sem dizer de suas consultorias para empresários que têm interesse direto no assunto)
Constitucionalismos? Disk Ives Gandra
(O respeitável jurista do Opus Dei não vacila jamais)
Ética? Disk Romano
(O professor de filosofia Roberto Romano)
Questões sindicais? Disk Leôncio
(O cientista político Leôncio Martins Rodrigues)
Ética na política? Disk Álvaro Dias
(O senador Álvaro Dias – que disputa pau a pau com Demóstenes Torres. Só dá eles na oposição)
Ética dos juros? Disk Eduardo Giannetti
(O professor é quase um gênio)
Pau no Lula? Disk Marco Antônio Villa
(Historiador. Tiro e queda. Mais pau no Lula? Disk Lúcia Hippólito – com a vantagem de ter sido escolhida como uma das meninas do Jô)
Relações internacionais? Disk Rubens Barbosa
(Ex-embaixador. Precisa diversificar? Disk Celso Lafer, o ex-chanceler)
Mercado financeiro? Disk Arminio Fraga, o ex-BC
(Não rolou? Disk Gustavo Loyola? Ocupado? Ah, então vamos no Disk Maílson mesmo)
Segurança pública? Disk Zé Vicente
(Ele é durão, estava lá dentro, mas fala como sociólogo. E com a vantagem de não ficar falando em direitos humanos para qualquer “resistência seguida de morte”. É o coronel esclarecido)
Partidos? PT especificamente? Disk Bolívar
(O cientista político Bolívar Lamounier, mas, por favor, não diga que ele é filiado a partido político)
Contas Públicas? Disk Raul Velloso
(O economista critica os gastos. Qualquer gasto)
Telecomunicações? Disk Ethevaldo Siqueira
(É o jornalista que mais conhece o fascinante mundo da telefonia privatizada, mas, ao citá-lo, só não diga que ele dá consultoria para empresas da área)
Previdência? Disk Fabio Giambiaggi
(Aproveite e fale um pouco da perseguição que ele sofreu no “aparelhado” Ipea…)
MST? Reforma Agrária? Disk Jungmann
(O deputado e ex-ministro Raul Jungmann só abandona sua cruzada quando o assunto é Daniel Dantas)
Educação? Disk Claudio Moura e Castro
(Sabe tudo de ensino privado. Se o telefone estiver ocupado, ligue para o jovem Gustavo Ioschpe)
Petróleo? o genro do FHC
Geografia? História? Demografia? Sociologia? Socialismo? Política? Geopolítica? Raça? Relações internacionais? Coréia? Pré-sal? Irmandade Muçulmana? Cotas? Mensalão? América Latina? MST? Pugilistas cubanos? Liberdade de imprensa? Farc? Irã? Líbia? Síria? Governo Dilma? Celso Amorim? Disk Demétrio Magnoli
(É a fonte universal. Os jornalistas têm no professor um dos seus números sem limite de ligação nos planos de telefonia)
Fonte: Blog do Sakamoto.
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
MÍDIA - A próxima capa da Veja.
Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Está cada vez mais difícil acreditar na Veja, para quem quer. Não bastando provas materiais e testemunhais de que seu repórter tentou invadir o domicílio de José Dirceu e a ausência de mísero indício de que ele se reunia com correligionários em um hotel de Brasília para fazer negociatas e conspirações, ela se porta como culpada e ele, como inocente.
O ex-ministro supostamente é o acusado. Ao menos para o grande público, que, ainda – eu disse ainda –, não ficou sabendo do que a revista andou aprontando. Dirceu, no papel de culpado, deveria estar fugindo da repercussão e a Veja, no papel de acusador, deveria estar surfando nela.
Exposta em bancas de jornais por todo país e tendo recebido alguma cobertura da grande mídia, a revista estaria em melhores condições para continuar a vender a sua denúncia do que Dirceu a dele. O que se esperaria, portanto, é que a Veja estivesse falante.
Não é o que se vê. Ontem, assisti a uma extensa reportagem da Record News sobre o caso. Uma matéria correta que contou com entrevista de José Dirceu, que desceu a lenha na Veja. Essa emissora foi o primeiro grande meio de comunicação a se somar à extensa cobertura de pequenos veículos que vem suprindo a afasia jornalística dos grandes.
Dirceu está em uma maratona de manifestações públicas sobre o caso, iniciada quando denunciou em seu blog que a Veja mandou alguém tentar invadir seu quarto de hotel. Nos últimos dias, porém, a frase mais repetida da política tem sido a de que a revista não irá comentar o assunto com a fila de veículos que se propõem a ouvir a sua versão dos fatos.
Claro que deve estar caçando alguma coisa para tentar “matar” o assunto em sua próxima edição. Veja procura algum indício que fortaleça a sua matéria. Está engendrando mais um editorial que tentará vender como reportagem. Necessita, desesperadamente, mudar uma pauta de discussão que cada nova negativa de se manifestar, incrementa.
A próxima capa da Veja, portanto, reveste-se de expressiva importância para o jogo político. O escândalo surdo que a envolve pode ter desdobramentos na postura do governo Dilma em relação à mídia – ou não, o que não deixará de ser um desdobramento político descomunal. A grande aposta é se a revista tentará mudar de assunto ou virar o jogo.
Façam as suas apostas, pois.
Postado por Miro
MÍDIA - Dirceu e o jornalismo de arromba.
Por Maurício Caleiro, no blog Cinema&Outras Artes:
Confesso que não simpatizo com José Dirceu. No período em que foi Chefe da Casa Civil exalava prepotência, tornando-se, a meu ver, uma das figuras públicas mais arrogantes que conheci em meus 44 anos de vida, rivalizando com certos ministros da ditadura (o José Serra da época das últimas eleições acabaria por superá-lo com folga).
Vou além: eu não compraria um carro usado de José Dirceu. Tenho claro, no entanto, que as minhas impressões pessoais sobre ele e a desconfiança que a recusa em dele comprar um carro assinala pertencem à esfera subjetiva e não me autorizam a imputar-lhe nenhum ato ilegal ou a prejulgá-lo um criminoso.
Intransigência e radicalização
Vivemos, no entanto, uma era de radicalizações: “quem não está conosco está contra nós”, parece ser o lema de todas as facções da microguerrilha política na internet. Em tal ambiente, grassa a mistificação: quem questiona se Belo Monte é mesmo o horror que alguns apregoam é carimbado como nada menos do que genocida, numa reação que revela não só o desconhecimento do significado do termo mas a desonestidade intelectual de sugerir que para a construção da usina os índios serão assassinados; quem revela o absurdo de uma revista semanal alegadamente violar não só as regras do bom jornalismo, mas do Código Penal, é acusado de defender Dirceu.
Ora, e se de defender Dirceu se tratasse? Há alguma lei que o proíba, algum interdito secreto que o tenha tornado o único cidadão brasileiro que não pode ser defendido? No caso de Dirceu – e só no dele – o ônus da prova cabe ao acusado? Por que os outros envolvidos no mensalão e também formalmente denunciados – como o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB) e o petebista Roberto Jefferson - continuam a ter livre-trânsito na mídia mas Dirceu só aparece no papel de Judas de Sábado de Aleluia?
Qual é o critério e o que está por trás de tamanha repulsa ao ex-Chefe da Casa Civil? Por que a necessidade de persegui-lo constantemente e neutralizá-lo como ente político? É preciso que todos os que testemunham a caça implacável da mídia a Dirceu, culminando (sic) com a reportagem de métodos reprováveis e de resultados pífios da última Veja, se façam tais perguntas.
Jornalismo de arromba
Apesar de, como já disse, não ir com a cara de Dirceu, de ter divergências com seu método-trator de fazer política partidária e com a realpolitik demasiado elástica que ele impôs ao PT quando no comando, como forma de levar Lula à Presidência (no que acabou bem-sucedido), parece-me evidente que ele já foi, há tempos, julgado e condenado. Não pela Justiça, como manda a Constituição, que esta ainda não se pronunciou, mas pela mídia.
E a imprensa não tem o direito de agir como Poder Judiciário e prejulgar e condenar quem quer que seja. A Constituição brasileira é clara: um cidadão só pode ser considerado culpado após sentença transitada em julgado. Ao contrário do que um certo populismo neoudenista crente das panaceias fáceis no estilo Lei da Ficha Limpa quer fazer crer, isso não é um sintoma de impunidade; pelo contrário, sinaliza maturidade democrática e respeito pelos trâmites legais constitucionais.
Porém, o que estamos vendo no Brasil, em âmbito federal desde a posse de Lula em 2002, é um desrespeito pelos trâmites legais institucionais par a par com o desvirtuamento da nobre função da imprensa de investigar e produzir denúncias fundamentadas. Substitui tal ação democrática da mídia uma atuação com tonalidades e métodos de gangsterismo, com verdadeiras quadrilhas repercutindo umas às outras os factoides mais improváveis e menos documentados, sempre sob um pronunciado – mas raramente assumido - viés político-partidário, inaceitável no jornalismo.
Arrombar portas é a mais bizarra, mas não a mais venal das práticas a tal jornalismo associadas. Sinaliza, no entanto, de forma clara, o ápice de um processo, a ultrapassagem de todas as barreiras de tolerância possível para com o desvirtuamento da imprensa corporativa no Brasil.
Basta!
Goste-se ou não de José Dirceu, é forçoso reconhecer que ele se tornou, com o episódio do último final de semana no Hotel Naoum, o maior símbolo dessa caça as bruxas desenfreada, com métodos inescrupulosos, promovida por uma imprensa que se pretende polícia, Ministério Público e juiz. Trata-se de algo inaceitável em um país que respeite o Estado Democrático de Direito. Está mais do que na hora de o governo, os partidos e, sobretudo, a sociedade botarem um fim nisso e exigir que a imprensa aja como imprensa, sob as leis de um estado democrático.
Postado por Miro
LÍBIA - ONU quer tropas estrangeiras na Líbia.
A gente já viu esse filme antes.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não encerrará tão cedo sua missão na Líbia, mesmo com a queda de Muamar Kadafi. Esse é o plano elaborado pela ONU para a reconstrução do país, que prevê eleições para um novo Parlamento no início de 2012.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 31-08-2011.
O Estado obteve uma cópia do rascunho do documento de dez páginas com a estratégia para a Líbia pós-Kadafi. O plano será debatido amanhã por líderes mundiais em Paris. A ONU utilizará o modelo que aplicou na gestão civil do Timor Leste, com uma administração de 60 pessoas comandando a operação na capital.
As Nações Unidas entendem que a Otan deve continuar na Líbia, uma alternativa vista com reservas por China, Rússia e Brasil. "A estabilização de Trípoli pós-Kadafi certamente estará além da capacidade da ONU", diz a estratégia. "O mandato implementado pela Otan não termina com a queda do governo."
A resolução aprovada em março no Conselho de Segurança da ONU rejeita qualquer de "ocupação" na Líbia. Para driblar o texto, será preciso garantir que Rússia e China não usem seu poder de veto, além do apoio de 9 dos 15 integrantes do órgão.
Outro ponto fundamental são as eleições. Um governo interino terá de ser formado em 30 dias. Passados 240 dias da "proclamação da libertação", eleições para o Parlamento devem ocorrer. A ONU determinou que o Legislativo tenha 200 deputados e poder constituinte.
No governo interino, todos os segmentos políticos devem ser convidados a participar, mesmo os que fizeram parte do regime. Acusados de crimes contra a humanidade não podem integrar a coalizão. A ONU sugere ainda que FMI, Banco Mundial e União Europeia deem viabilidade econômica ao novo regime.
Festa na capital
Nas duas últimas noites, as explosões de bombas lançadas pelos aviões da Otan contra as forças de Kadafi deram lugar a um carnaval na antiga Praça Verde, hoje Praça dos Mártires.
A celebração coincide com o Eid al-Fitr, o fim do Ramadã, o mês do jejum diurno. "Este é o Eid al-Fitr da independência", discursou ontem à noite Ali Tarhouni, o vice-primeiro-ministro do governo de transição. A multidão cantava ao som de pandeiros e gritava: "Cadê você, Shufashufu?",chamando Kadafi pelo apelido, que significa "descabelado".
Com a temperatura chegando a 35 graus à sombra, moradores de Trípoli fizeram fila em agências de bancos, parcialmente abertas pela primeira vez desde a quinta-feira retrasada. Havia urgência de retirar dinheiro para a festa. Em toda a região, o Eid al-Fitr foi celebrado ontem. Na Líbia, o clero adiou-o para hoje, para dar tempo para os bancos reabrirem. A festa é uma das duas mais importantes do calendário muçulmano, ao lado do sacrifício do cordeiro.
As filas nos bancos foram engrossadas por um rumor de que os rebeldes distribuiriam 250 dinares (US$ 167) por pessoa. Era mentira. Outra fila, a dos postos de gasolina, tinha um respaldo real na generosidade do governo interino: somente ontem, os motoristas puderam encher o tanque de graça, depois de uma semana tendo de pagar até US$ 5 por litro. Os postos são privados, mas a distribuidora é estatal. A partir de hoje, os postos voltam a cobrar o irrisório preço de antes: 0,15 dinar (US$ 0,10) por litro.
Parte do comércio permanece fechada. Nos açougues e mercearias da cidade não havia filas, talvez porque muitos não conseguiram sacar dinheiro. Além disso, muitos trabalhadores não recebem há três meses ou mais.
Pouco se sabia sobre como Trípoli tinha vivido esses últimos meses. Houve confrontos com membros das brigadas leais a Kadafi nos postos de gasolina, porque esses milicianos controlavam as filas e vendiam lugares nela por 50 dinares (US$ 33). Vários motoristas foram mortos.
Falta água em Trípoli e os blecautes são frequentes. Os celulares funcionam precariamente. A rede telefônica foi mantida no norte e no sul, mas a comunicação entre as duas partes do país foi cortada por Kadafi. O governo provisório diz que os aeroportos de Benghazi e Misrata foram reabertos para voos com medicamentos e alimentos. O de Trípoli segue fechado. Voos comerciais só serão retomados quando todo o país estiver sob o controle do CNT.
Moradores de Trípoli falam em voltar ao trabalho no sábado, depois de emendar o Eid al-Fitr com a sexta-feira, o descanso semanal muçulmano. Para isso, será necessário remover os postos de controles dos combatentes rebeldes das ruas de Trípoli. A cada 100 ou 200 metros, os carros são parados.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não encerrará tão cedo sua missão na Líbia, mesmo com a queda de Muamar Kadafi. Esse é o plano elaborado pela ONU para a reconstrução do país, que prevê eleições para um novo Parlamento no início de 2012.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 31-08-2011.
O Estado obteve uma cópia do rascunho do documento de dez páginas com a estratégia para a Líbia pós-Kadafi. O plano será debatido amanhã por líderes mundiais em Paris. A ONU utilizará o modelo que aplicou na gestão civil do Timor Leste, com uma administração de 60 pessoas comandando a operação na capital.
As Nações Unidas entendem que a Otan deve continuar na Líbia, uma alternativa vista com reservas por China, Rússia e Brasil. "A estabilização de Trípoli pós-Kadafi certamente estará além da capacidade da ONU", diz a estratégia. "O mandato implementado pela Otan não termina com a queda do governo."
A resolução aprovada em março no Conselho de Segurança da ONU rejeita qualquer de "ocupação" na Líbia. Para driblar o texto, será preciso garantir que Rússia e China não usem seu poder de veto, além do apoio de 9 dos 15 integrantes do órgão.
Outro ponto fundamental são as eleições. Um governo interino terá de ser formado em 30 dias. Passados 240 dias da "proclamação da libertação", eleições para o Parlamento devem ocorrer. A ONU determinou que o Legislativo tenha 200 deputados e poder constituinte.
No governo interino, todos os segmentos políticos devem ser convidados a participar, mesmo os que fizeram parte do regime. Acusados de crimes contra a humanidade não podem integrar a coalizão. A ONU sugere ainda que FMI, Banco Mundial e União Europeia deem viabilidade econômica ao novo regime.
Festa na capital
Nas duas últimas noites, as explosões de bombas lançadas pelos aviões da Otan contra as forças de Kadafi deram lugar a um carnaval na antiga Praça Verde, hoje Praça dos Mártires.
A celebração coincide com o Eid al-Fitr, o fim do Ramadã, o mês do jejum diurno. "Este é o Eid al-Fitr da independência", discursou ontem à noite Ali Tarhouni, o vice-primeiro-ministro do governo de transição. A multidão cantava ao som de pandeiros e gritava: "Cadê você, Shufashufu?",chamando Kadafi pelo apelido, que significa "descabelado".
Com a temperatura chegando a 35 graus à sombra, moradores de Trípoli fizeram fila em agências de bancos, parcialmente abertas pela primeira vez desde a quinta-feira retrasada. Havia urgência de retirar dinheiro para a festa. Em toda a região, o Eid al-Fitr foi celebrado ontem. Na Líbia, o clero adiou-o para hoje, para dar tempo para os bancos reabrirem. A festa é uma das duas mais importantes do calendário muçulmano, ao lado do sacrifício do cordeiro.
As filas nos bancos foram engrossadas por um rumor de que os rebeldes distribuiriam 250 dinares (US$ 167) por pessoa. Era mentira. Outra fila, a dos postos de gasolina, tinha um respaldo real na generosidade do governo interino: somente ontem, os motoristas puderam encher o tanque de graça, depois de uma semana tendo de pagar até US$ 5 por litro. Os postos são privados, mas a distribuidora é estatal. A partir de hoje, os postos voltam a cobrar o irrisório preço de antes: 0,15 dinar (US$ 0,10) por litro.
Parte do comércio permanece fechada. Nos açougues e mercearias da cidade não havia filas, talvez porque muitos não conseguiram sacar dinheiro. Além disso, muitos trabalhadores não recebem há três meses ou mais.
Pouco se sabia sobre como Trípoli tinha vivido esses últimos meses. Houve confrontos com membros das brigadas leais a Kadafi nos postos de gasolina, porque esses milicianos controlavam as filas e vendiam lugares nela por 50 dinares (US$ 33). Vários motoristas foram mortos.
Falta água em Trípoli e os blecautes são frequentes. Os celulares funcionam precariamente. A rede telefônica foi mantida no norte e no sul, mas a comunicação entre as duas partes do país foi cortada por Kadafi. O governo provisório diz que os aeroportos de Benghazi e Misrata foram reabertos para voos com medicamentos e alimentos. O de Trípoli segue fechado. Voos comerciais só serão retomados quando todo o país estiver sob o controle do CNT.
Moradores de Trípoli falam em voltar ao trabalho no sábado, depois de emendar o Eid al-Fitr com a sexta-feira, o descanso semanal muçulmano. Para isso, será necessário remover os postos de controles dos combatentes rebeldes das ruas de Trípoli. A cada 100 ou 200 metros, os carros são parados.
LÍBIA - BRICS avaliam posição conjunta.
Países do Brics avaliam posição conjunta em relação à Líbia, diz presidente da França
Por Redação, com agências internacionais - de Paris
Países que compõem o grupo denominado Brics, examinam a hipótese de assumir uma posição comum na reunião convocada pelo presidente da França
Os líderes do Brasil, da Rússia, da China e da África do Sul – países que compõem o grupo denominado Brics – examinam a hipótese de assumir uma posição comum na reunião convocada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, com representantes dos países do chamado Grupo de Contato (que engloba as maiores economias do mundo). A reunião ocorrerá em Paris na próxima quinta-feira.
Diplomatas que acompanham as negociações disseram nesta terça-feira que as consultas ainda não foram concluídas. Até a véspera, a decisão era de o Brasil enviar um representante para a reunião coordenada por Sarkozy. O assunto foi o tema principal da reunião da presidenta Dilma Rousseff com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
A única definição é que o chanceler não irá para a reunião para Paris. A justificativa é que Patriota estará em visita à Bulgária e à Rússia. No caso da Bulgária, o ministro faz uma viagem preparativa à de Dilma, que irá ao país em outubro – visitar a família de seu pai, Petar Rousseff, que era búlgaro. Na Rússia, ele quer estreitar as relações com os países do Brics e com os que pertencem ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Além de Patriota, pelo menos dois diplomatas no Itamaraty negociam diretamente sobre a questão da Líbia com a comunidade internacional, o subsecretário-geral do Departamento de África e Oriente, Paulo Cordeiro, e o embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, que foi designado pelo chanceler para fazer as articulações com a oposição na Líbia.
A reunião em Paris já recebeu as confirmações dos representantes da Alemanha, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, entre outros países. Sarkozy pretende definir no encontro, na presença dos representantes do Conselho Nacional de Transição da Líbia, as prioridades em termos de ajuda da comunidade internacional para o futuro governo de transição no país.
No entanto, ao contrário de cerca de 40 nações, o Brasil ainda não reconheceu o Conselho Nacional de Transição da Líbia como o único órgão legítimo para conduzir provisoriamente o governo no país. Para o governo brasileiro, a oposição deve dar indicações de que representa a sociedade líbia como um todo e não apenas um setor.
Por Redação, com agências internacionais - de Paris
Países que compõem o grupo denominado Brics, examinam a hipótese de assumir uma posição comum na reunião convocada pelo presidente da França
Os líderes do Brasil, da Rússia, da China e da África do Sul – países que compõem o grupo denominado Brics – examinam a hipótese de assumir uma posição comum na reunião convocada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, com representantes dos países do chamado Grupo de Contato (que engloba as maiores economias do mundo). A reunião ocorrerá em Paris na próxima quinta-feira.
Diplomatas que acompanham as negociações disseram nesta terça-feira que as consultas ainda não foram concluídas. Até a véspera, a decisão era de o Brasil enviar um representante para a reunião coordenada por Sarkozy. O assunto foi o tema principal da reunião da presidenta Dilma Rousseff com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
A única definição é que o chanceler não irá para a reunião para Paris. A justificativa é que Patriota estará em visita à Bulgária e à Rússia. No caso da Bulgária, o ministro faz uma viagem preparativa à de Dilma, que irá ao país em outubro – visitar a família de seu pai, Petar Rousseff, que era búlgaro. Na Rússia, ele quer estreitar as relações com os países do Brics e com os que pertencem ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Além de Patriota, pelo menos dois diplomatas no Itamaraty negociam diretamente sobre a questão da Líbia com a comunidade internacional, o subsecretário-geral do Departamento de África e Oriente, Paulo Cordeiro, e o embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, que foi designado pelo chanceler para fazer as articulações com a oposição na Líbia.
A reunião em Paris já recebeu as confirmações dos representantes da Alemanha, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, entre outros países. Sarkozy pretende definir no encontro, na presença dos representantes do Conselho Nacional de Transição da Líbia, as prioridades em termos de ajuda da comunidade internacional para o futuro governo de transição no país.
No entanto, ao contrário de cerca de 40 nações, o Brasil ainda não reconheceu o Conselho Nacional de Transição da Líbia como o único órgão legítimo para conduzir provisoriamente o governo no país. Para o governo brasileiro, a oposição deve dar indicações de que representa a sociedade líbia como um todo e não apenas um setor.
POLÍTICA - PSDB descarta "Alckmin paz e amor"
Para tucanos, historicamente hostis ao PT e aos movimentos sociais, reuniões do governador com sindicalistas, reajustes salariais e elogios a Dilma são apenas fruto da conjuntura
Por: João Peres, Rede Brasil Atual
A nova postura de Alckmin tenta sugerir uma hostilidade menor com o governo federal
São Paulo – Reuniões com centrais sindicais, aumento salarial para algumas categorias profissionais do serviço público, elogios à presidenta Dilma Rousseff e integração de políticas. Geraldo Alckmin (PSDB) vive o nono mês de seu terceiro mandato como governador de São Paulo em um panorama diferente do que os paulistas acostumaram-se ver nas gestões do PSDB no estado.
O encontro de lançamento do programa Brasil Sem Miséria - Sudeste, com afagos a Dilma, foi o sinal mais marcante de que uma possível versão "paz e amor" do governador. Ao mesmo tempo, uma demonstração de esforço para se descolar de vez de seu principal desafeto dentro do partido, José Serra, cuja postura era sempre de hostilidade com o governo federal e de trator em relação aos movimentos sindicais e sociais.
Na bolsa de apostas da política, há quem enxergue na versão 2011 de Alckmin, além de um chega pra lá em Serra, uma forma de oposição no plano federal à lá Aécio Neves (PSDB-MG), o senador mineiro que aparece de vez em quando, faz uma crítica pontual, moderada, e volta para a moita. A aproximação com o Palácio do Planalto também poderia ser útil para viabilizar recursos agora e uma maior visibilidade eleitoral depois.
Parlamentares do PSDB desconversam. Argumentam que o governador está apenas respondendo a uma nova conjuntura, esta, sim, marcada por uma estabilidade econômica mais duradoura e uma nova titularidade em Brasília.
Fora isso, o governo já antecipou a diversas categorias reajustes salariais aplicados a prestação, nos próximos anos.
Em seu mandato anterior, e também nos quatro anos de José Serra/Alberto Goldman, havia imperado a política de aumentos pífios e diálogo zero. No caso dos professores, ganhou destaque as fórmulas atreladas a desempenho e méritos, sem incorporação ao salário.
Aumentos concedidos em 2011 em São Paulo
42,2% nos próximos quatro anos para professores
De 13% a 19% para os servidores da saúde
15% para policiais militares e agentes penitenciários
“Em cada governo você tem metas e desafios a serem superados", afirma Duarte Nogueira, líder do PSDB na Câmara dos Deputados. Nogueira considera que o estado estar bem de infraestrutura abre espaço para um o "arcabouço institucional" modernizado e para se "investir em capital humano". Mas o líder evita comparar Serra e Alckmin, ou o mandatos atual com anteriores.
Para Samuel Moreira, líder do governo na Assembleia Legislativa paulista, a questão é que no mandato de Serra houve muito mais pressões por recomposição salarial.“O diálogo no governo Serra foi até onde foi possível”, diz o parlamentar. Ele discorda da leitura de que o Palácio dos Bandeirantes esteve, até este ano, fechado ao diálogo. “Tivemos em 2009 crescimento zero do país”, justifica-se. Mas sem menção ao fato de em 2007, 2008 e 2010 o país ter alcançado bons índices de crescimento e de arrecadação, sem impactos nos rendimentos dos servidores.
Durante os mandatos anteriores, acumularam-se acusações de que os representantes do governo estadual se negaram a receber sindicalistas. Eram mais recebidos, em suas manifestações, pela Polícia Militar. Logo depois de eleito, ano passado. Alckmin chamou representantes da Força Sindical e da União Geral dos Trabalhadores (UGT) para uma conversa. A CUT, maior central do país, ficou de fora.
Em seguida, convidou para a Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho Davi Zaia, do PPS, ex-dirigente do sindicato dos bancários de Campinas e da federação dos bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul – adversária da CUT no estado. Neste ano, o governador foi à celebração do Dia do Trabalho da Força, ocasião em que afirmou que sempre valorizou “mais o trabalhador do que o capital".
Samuel Moreira admite que o movimento do governador foi uma tentativa de se aproximar da Força, e por tabela do PDT de Paulo Pereira da Silva, mas nega tratar-se de uma tentativa de azedar a relação entre as duas centrais historicamente opostas, que sentarem-se como nunca à mesma mesa, no governo Lula, para negociação de temas como os reajustes do salário mínimo. A ponto de o PDT incorporar-se de vez à base aliada do governo Dilma. E Moreira não acredita, também que Alckmin terias interesse em pôr o pé da política estadual na porta dessa aliança nacional. “Não é uma estratégia: essas coisas acontecem.”
Dilma e elogios
Em política, elogios nem sempre são uma maneira de agradar. Às vezes, ressaltar qualidades de alguém significa criticar defeitos de outrem. O noticiário, por exemplo, consegue dar à recente troca de afagos entre Alckmin e do ex-presidente FHC a Dilma uma forma de atingir José Serra e, principalmente, Luiz Inácio Lula da Silva – o líder a ser batido em 2014.
Dilma por sua vez, frequentemente "acusada" de ser uma boa gestora que não sabe fazer política, teria aproveitado o ensejo para enviar recados a alguns partidos de sua base "aliada" que andam cobrando menos guerra de investigações em ministérios e autarquias e mais amor, atenção e verbas. “Provemos que a melhor forma de administrar é buscar o bem de todos os brasileiros”, cobrou.
Para deputados alinhados e desalinhados ao Planalto, não há motivo para enxergar segundas intenções nos elogios de grão-tucanos à presidenta. Seriam apenas declarações circunstanciais, durante o lançamento no Sudeste do Programa Brasil sem Miséria, carro-chefe dos planos de governo de Dilma, e em torno do qual todos os governadores da região firmaram participação concreta e integração imediata às iniciativas federais. “Acho que tem de elogiar mesmo a atitude da presidenta”, diz Ênio Tatto, líder do PT na Assembleia Legislativa. “Nada melhor que juntar esforços para resolver esse problema tão grave.”
O deputado Fernando Capez, do PSDB, entende que a convivência entre Dilma e Alckmin deve ser um modelo para a política brasileira. Ele considera que a gestão deve se dar em torno de questões técnicas, e não partidárias. Provocado a comparar a atual relação estado-Planalto com as relações entre Serra e Lula, Capez, não deixa de sugerir que a diferença pode ter origem nos processos de escolha dos tucanos derrotados à Presidência nas eleições anteriores – Alckmin em 2006 e Serra em 2002 e 2010. “Quando há disputas personalistas em que a visão de cada um suplanta a do próprio partido, isso é muito ruim”, define.
O líderes tucanos tanto na Assembléia Legislativa quanto na Câmara Federal, demostram que o discurso visando poupar Dilma e desconstruir Lula está afinado, e que a sombra do bem-sucedido ex-presidente perturba mais o PSDB do um eventual sucesso da presidenta. Duarte Nogueira, reitera que não vê mudanças no comportamento do Palácio dos Bandeirantes. Para ele, a mudança se deu em Brasília. “Lula é uma pessoa do rompimento, de fazer a política do contraste e da diminuição de seu adversário.” Samuel Moreira concorda, argumenta que Dilma tem “capacidade intelectual melhor”, embora mas vê “vaciladas” da presidenta. “De vez em quando ela tem uma recaída de achar que o país só teve sucesso agora, nunca teve melhora. Aí estreita um pouco.”
O petista Ênio Tatto concorda que houve mudanças, mas em São Paulo, e não na capital federal. Para ele, o fechamento de Serra à conversa prejudicou o estado na relação com Brasília, e Alckmin adotou outra postura. “Tomara que continue assim, porque São Paulo já perdeu muito dinheiro por falta de fazer convênios com o governo federal.”
Políticos ligados ao governador discordam que ele tenha adotado uma linha mais branda. Apensa gostam de repetir a máxima de que política é corrida de revezamento, e o corredor que assume o bastão precisa ir melhor que o anterior. Longe deles considerar que Alckmin seja apenas um pacato candidato com um olho na reeleição em 2014 e outro em cacifar-se com menos riscos para a disputa do bastão federal em 2018 – se as regras e o calendário não mudarem até lá.
Tatto, por sua vez, lembra que os tucanos teriam de "combinar com os russo", pois a corrida de bastão é complexa . “Até lá tem muita coisa pela frente. Vamos para a reeleição da Dilma e depois vamos tentar fazer a sucessão da Dilma com um candidato do PT.”
Por: João Peres, Rede Brasil Atual
A nova postura de Alckmin tenta sugerir uma hostilidade menor com o governo federal
São Paulo – Reuniões com centrais sindicais, aumento salarial para algumas categorias profissionais do serviço público, elogios à presidenta Dilma Rousseff e integração de políticas. Geraldo Alckmin (PSDB) vive o nono mês de seu terceiro mandato como governador de São Paulo em um panorama diferente do que os paulistas acostumaram-se ver nas gestões do PSDB no estado.
O encontro de lançamento do programa Brasil Sem Miséria - Sudeste, com afagos a Dilma, foi o sinal mais marcante de que uma possível versão "paz e amor" do governador. Ao mesmo tempo, uma demonstração de esforço para se descolar de vez de seu principal desafeto dentro do partido, José Serra, cuja postura era sempre de hostilidade com o governo federal e de trator em relação aos movimentos sindicais e sociais.
Na bolsa de apostas da política, há quem enxergue na versão 2011 de Alckmin, além de um chega pra lá em Serra, uma forma de oposição no plano federal à lá Aécio Neves (PSDB-MG), o senador mineiro que aparece de vez em quando, faz uma crítica pontual, moderada, e volta para a moita. A aproximação com o Palácio do Planalto também poderia ser útil para viabilizar recursos agora e uma maior visibilidade eleitoral depois.
Parlamentares do PSDB desconversam. Argumentam que o governador está apenas respondendo a uma nova conjuntura, esta, sim, marcada por uma estabilidade econômica mais duradoura e uma nova titularidade em Brasília.
Fora isso, o governo já antecipou a diversas categorias reajustes salariais aplicados a prestação, nos próximos anos.
Em seu mandato anterior, e também nos quatro anos de José Serra/Alberto Goldman, havia imperado a política de aumentos pífios e diálogo zero. No caso dos professores, ganhou destaque as fórmulas atreladas a desempenho e méritos, sem incorporação ao salário.
Aumentos concedidos em 2011 em São Paulo
42,2% nos próximos quatro anos para professores
De 13% a 19% para os servidores da saúde
15% para policiais militares e agentes penitenciários
“Em cada governo você tem metas e desafios a serem superados", afirma Duarte Nogueira, líder do PSDB na Câmara dos Deputados. Nogueira considera que o estado estar bem de infraestrutura abre espaço para um o "arcabouço institucional" modernizado e para se "investir em capital humano". Mas o líder evita comparar Serra e Alckmin, ou o mandatos atual com anteriores.
Para Samuel Moreira, líder do governo na Assembleia Legislativa paulista, a questão é que no mandato de Serra houve muito mais pressões por recomposição salarial.“O diálogo no governo Serra foi até onde foi possível”, diz o parlamentar. Ele discorda da leitura de que o Palácio dos Bandeirantes esteve, até este ano, fechado ao diálogo. “Tivemos em 2009 crescimento zero do país”, justifica-se. Mas sem menção ao fato de em 2007, 2008 e 2010 o país ter alcançado bons índices de crescimento e de arrecadação, sem impactos nos rendimentos dos servidores.
Durante os mandatos anteriores, acumularam-se acusações de que os representantes do governo estadual se negaram a receber sindicalistas. Eram mais recebidos, em suas manifestações, pela Polícia Militar. Logo depois de eleito, ano passado. Alckmin chamou representantes da Força Sindical e da União Geral dos Trabalhadores (UGT) para uma conversa. A CUT, maior central do país, ficou de fora.
Em seguida, convidou para a Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho Davi Zaia, do PPS, ex-dirigente do sindicato dos bancários de Campinas e da federação dos bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul – adversária da CUT no estado. Neste ano, o governador foi à celebração do Dia do Trabalho da Força, ocasião em que afirmou que sempre valorizou “mais o trabalhador do que o capital".
Samuel Moreira admite que o movimento do governador foi uma tentativa de se aproximar da Força, e por tabela do PDT de Paulo Pereira da Silva, mas nega tratar-se de uma tentativa de azedar a relação entre as duas centrais historicamente opostas, que sentarem-se como nunca à mesma mesa, no governo Lula, para negociação de temas como os reajustes do salário mínimo. A ponto de o PDT incorporar-se de vez à base aliada do governo Dilma. E Moreira não acredita, também que Alckmin terias interesse em pôr o pé da política estadual na porta dessa aliança nacional. “Não é uma estratégia: essas coisas acontecem.”
Dilma e elogios
Em política, elogios nem sempre são uma maneira de agradar. Às vezes, ressaltar qualidades de alguém significa criticar defeitos de outrem. O noticiário, por exemplo, consegue dar à recente troca de afagos entre Alckmin e do ex-presidente FHC a Dilma uma forma de atingir José Serra e, principalmente, Luiz Inácio Lula da Silva – o líder a ser batido em 2014.
Dilma por sua vez, frequentemente "acusada" de ser uma boa gestora que não sabe fazer política, teria aproveitado o ensejo para enviar recados a alguns partidos de sua base "aliada" que andam cobrando menos guerra de investigações em ministérios e autarquias e mais amor, atenção e verbas. “Provemos que a melhor forma de administrar é buscar o bem de todos os brasileiros”, cobrou.
Para deputados alinhados e desalinhados ao Planalto, não há motivo para enxergar segundas intenções nos elogios de grão-tucanos à presidenta. Seriam apenas declarações circunstanciais, durante o lançamento no Sudeste do Programa Brasil sem Miséria, carro-chefe dos planos de governo de Dilma, e em torno do qual todos os governadores da região firmaram participação concreta e integração imediata às iniciativas federais. “Acho que tem de elogiar mesmo a atitude da presidenta”, diz Ênio Tatto, líder do PT na Assembleia Legislativa. “Nada melhor que juntar esforços para resolver esse problema tão grave.”
O deputado Fernando Capez, do PSDB, entende que a convivência entre Dilma e Alckmin deve ser um modelo para a política brasileira. Ele considera que a gestão deve se dar em torno de questões técnicas, e não partidárias. Provocado a comparar a atual relação estado-Planalto com as relações entre Serra e Lula, Capez, não deixa de sugerir que a diferença pode ter origem nos processos de escolha dos tucanos derrotados à Presidência nas eleições anteriores – Alckmin em 2006 e Serra em 2002 e 2010. “Quando há disputas personalistas em que a visão de cada um suplanta a do próprio partido, isso é muito ruim”, define.
O líderes tucanos tanto na Assembléia Legislativa quanto na Câmara Federal, demostram que o discurso visando poupar Dilma e desconstruir Lula está afinado, e que a sombra do bem-sucedido ex-presidente perturba mais o PSDB do um eventual sucesso da presidenta. Duarte Nogueira, reitera que não vê mudanças no comportamento do Palácio dos Bandeirantes. Para ele, a mudança se deu em Brasília. “Lula é uma pessoa do rompimento, de fazer a política do contraste e da diminuição de seu adversário.” Samuel Moreira concorda, argumenta que Dilma tem “capacidade intelectual melhor”, embora mas vê “vaciladas” da presidenta. “De vez em quando ela tem uma recaída de achar que o país só teve sucesso agora, nunca teve melhora. Aí estreita um pouco.”
O petista Ênio Tatto concorda que houve mudanças, mas em São Paulo, e não na capital federal. Para ele, o fechamento de Serra à conversa prejudicou o estado na relação com Brasília, e Alckmin adotou outra postura. “Tomara que continue assim, porque São Paulo já perdeu muito dinheiro por falta de fazer convênios com o governo federal.”
Políticos ligados ao governador discordam que ele tenha adotado uma linha mais branda. Apensa gostam de repetir a máxima de que política é corrida de revezamento, e o corredor que assume o bastão precisa ir melhor que o anterior. Longe deles considerar que Alckmin seja apenas um pacato candidato com um olho na reeleição em 2014 e outro em cacifar-se com menos riscos para a disputa do bastão federal em 2018 – se as regras e o calendário não mudarem até lá.
Tatto, por sua vez, lembra que os tucanos teriam de "combinar com os russo", pois a corrida de bastão é complexa . “Até lá tem muita coisa pela frente. Vamos para a reeleição da Dilma e depois vamos tentar fazer a sucessão da Dilma com um candidato do PT.”
terça-feira, 30 de agosto de 2011
MÍDIA - Jornalismo político volta à "Era da Pedra Lascada"
Imprensa em Questão
JOSÉ DIRCEU vs. VEJA
Jornalismo político volta à Era da Pedra Lascada
Por Alberto Dines em 30/08/2011 na edição 657
“Caso o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) fique insustentável, a presidente Dilma tem seu preferido: Franklin Martins”. (“Panorama Político”, O Globo, domingo, 28/8, pg. 2). Três linhas apenas, no pé da coluna. O suficiente, a mídia entenderá o recado.
Há hoje uma metamensagem ou criptojornalismo, cifrado, exclusivo de um seleto grupo de iluminados. O governo manda suas mensagens, a mídia é obrigada a entender. Mesmo não gostando. A réplica pode vir com a mesma sutileza. Profissionais não brincam em serviço. Faz parte do jogo democrático.
O que conspira contra o jogo democrático são as ameaças de rupturas. O presidente Lula não entendeu, não quis ou não teve paciência para entender o tricô das raposas. Subia no palanque e “mandava ver” – ou mandava brasa, como se dizia na Era Jango. Criou impasses, cavou confrontos perigosos.
É o que fez Veja com a sua última matéria de capa sobre o ex-ministro José Dirceu (“O poderoso chefão”, edição nº 2232, data de capa 31/8/2011). Sutil como uma carga de cavalaria – e tão eficaz quanto esta –, produziu um curto-circuito, reintroduziu a imprudência no diálogo governo-imprensa. Repercutiu no exterior. E daí?
Frágil, inconsistente
A verdade é que a matéria recoloca o jornalismo político brasileiro na Era da Pedra Lascada. Traz de volta os vídeos clandestinos, os arapongas, os dossiês secretos jogados no colo de jornalistas ditos “investigativos”.
José Dirceu, mesmo sem cargo ou mandato parlamentar, suspeito de integrar um grupo que está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal, é um dirigente nacional do partido que ganhou as eleições para a Presidência da República, é também um consultor/lobista. Pode alugar um andar inteiro num hotel dez estrelas em Brasília ou Luanda e nele receber legiões de correligionários, clientes e amigos. Não há nada de ilícito ou malfeito (para usar o dernier-cri dos substantivos).
O texto inteiro de Veja, da primeira à última linha, é customizado, adaptado para servir à tese de que o ex-chefe da Casa Civil está conspirando contra a sua sucessora, atual presidente da República. Não há evidências, apenas insinuações, ambigüidades, gatilhos.
Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, é amigo pessoal de Dilma Roussef, não poderia conspirar contra ela. José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras cujo maior acionista é o governo, não enfrentaria o seu maior eleitor quando reiniciar sua carreira política. Delcídio Amaral é um petista light, quase-tucano.
A lista dos “conspiradores” é frágil e as possíveis motivações, inconsistentes. O conjunto é disparatado, não faz sentido, carece de lógica. Mesmo enquanto ficção.
Um desserviço
Os encontros gravados duraram em média 30 minutos, tempo insuficiente até para acertar uma empreitada de pequeno porte. Devidamente investigados, os fatos poderiam vincular-se e ganhar alguma dimensão. No estado bruto em que foram apresentados pelo semanário de maior tiragem do país representam um atentado à inteligência do leitor, não renderiam sequer uma nota numa coluna de fofocas políticas.
Este é um jornalismo que não se sustenta, é retrocesso. Não favorece a imagem da imprensa, não ajuda a presidente Dilma, prejudica a oposição. Faz esquecer a faxina moralizadora e degrada o processo político.
Fonte: Observatório da Imprensa.
JOSÉ DIRCEU vs. VEJA
Jornalismo político volta à Era da Pedra Lascada
Por Alberto Dines em 30/08/2011 na edição 657
“Caso o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) fique insustentável, a presidente Dilma tem seu preferido: Franklin Martins”. (“Panorama Político”, O Globo, domingo, 28/8, pg. 2). Três linhas apenas, no pé da coluna. O suficiente, a mídia entenderá o recado.
Há hoje uma metamensagem ou criptojornalismo, cifrado, exclusivo de um seleto grupo de iluminados. O governo manda suas mensagens, a mídia é obrigada a entender. Mesmo não gostando. A réplica pode vir com a mesma sutileza. Profissionais não brincam em serviço. Faz parte do jogo democrático.
O que conspira contra o jogo democrático são as ameaças de rupturas. O presidente Lula não entendeu, não quis ou não teve paciência para entender o tricô das raposas. Subia no palanque e “mandava ver” – ou mandava brasa, como se dizia na Era Jango. Criou impasses, cavou confrontos perigosos.
É o que fez Veja com a sua última matéria de capa sobre o ex-ministro José Dirceu (“O poderoso chefão”, edição nº 2232, data de capa 31/8/2011). Sutil como uma carga de cavalaria – e tão eficaz quanto esta –, produziu um curto-circuito, reintroduziu a imprudência no diálogo governo-imprensa. Repercutiu no exterior. E daí?
Frágil, inconsistente
A verdade é que a matéria recoloca o jornalismo político brasileiro na Era da Pedra Lascada. Traz de volta os vídeos clandestinos, os arapongas, os dossiês secretos jogados no colo de jornalistas ditos “investigativos”.
José Dirceu, mesmo sem cargo ou mandato parlamentar, suspeito de integrar um grupo que está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal, é um dirigente nacional do partido que ganhou as eleições para a Presidência da República, é também um consultor/lobista. Pode alugar um andar inteiro num hotel dez estrelas em Brasília ou Luanda e nele receber legiões de correligionários, clientes e amigos. Não há nada de ilícito ou malfeito (para usar o dernier-cri dos substantivos).
O texto inteiro de Veja, da primeira à última linha, é customizado, adaptado para servir à tese de que o ex-chefe da Casa Civil está conspirando contra a sua sucessora, atual presidente da República. Não há evidências, apenas insinuações, ambigüidades, gatilhos.
Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, é amigo pessoal de Dilma Roussef, não poderia conspirar contra ela. José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras cujo maior acionista é o governo, não enfrentaria o seu maior eleitor quando reiniciar sua carreira política. Delcídio Amaral é um petista light, quase-tucano.
A lista dos “conspiradores” é frágil e as possíveis motivações, inconsistentes. O conjunto é disparatado, não faz sentido, carece de lógica. Mesmo enquanto ficção.
Um desserviço
Os encontros gravados duraram em média 30 minutos, tempo insuficiente até para acertar uma empreitada de pequeno porte. Devidamente investigados, os fatos poderiam vincular-se e ganhar alguma dimensão. No estado bruto em que foram apresentados pelo semanário de maior tiragem do país representam um atentado à inteligência do leitor, não renderiam sequer uma nota numa coluna de fofocas políticas.
Este é um jornalismo que não se sustenta, é retrocesso. Não favorece a imagem da imprensa, não ajuda a presidente Dilma, prejudica a oposição. Faz esquecer a faxina moralizadora e degrada o processo político.
Fonte: Observatório da Imprensa.
POLÍTICA - Dirceu descarta racha na base governista.
O ex-ministro e deputado cassado José Dirceu descartou, ontem, um racha na base governista, disse que o país "não está vivendo nenhuma crise política" e garantiu enfaticamente apoio à presidente Dilma Rousseff. Para ele, o mal-estar do Palácio do Planalto com alguns aliados tem duas causas. "É um governo de coalizão com muitos partidos e o sistema político brasileiro está esgotado", afirmou.
A reportagem é de Daniel Rittner e publicada pelo jornal Valor, 30-08-2011.
No que se refere ao primeiro ponto, Dirceu minimizou a declarada neutralidade do PR e disse que é "evidente" um movimento de aproximação com o PMDB, nas últimas semanas. Mesmo no caso do PR, conforme avaliou o ex-ministro, responsável pela montagem da aliança no primeiro governo Lula, "três senadores não vão deixar de votar com o governo". "O PV também se aproximou e até o presidente Fernando Henrique [Cardoso] estendeu as mãos à presidente Dilma", acrescentou.
Para ele, no entanto, a "solução real" só pode vir com uma reforma política que inclua o voto em lista. Sem a reforma, comentou Dirceu, "nós já conhecemos o resultado: nomeações dirigidas, emendas dirigidas, licitações fraudadas". "Os vereadores já começam a pedir dinheiro para os deputados um ano antes da eleição, os deputados [pedem] aos governadores, e todo mundo [pede] às empresas. Nem as empresas suportam mais o custo das campanhas. É irracional, se elas podem pagar dez vezes menos. É só votar na lista ou, se não quer votar na lista, estabelecer o sistema alemão, que é o distrital misto, metade na lista e metade no sistema distrital."
Dirceu foi o principal orador de seminário sobre infraestrutura organizado pelo consultor José Augusto Valente, ex-secretário de Política Nacional de Transportes, no primeiro governo Lula, e diretor da agência T1. Também dissertaram Guilherme Lacerda, ex-presidente da Funcef, e executivos da MRS, da Santos Brasil e da Viação Itapemirim.
Alvo de uma reportagem publicada no fim de semana pela revista "Veja", segundo a qual articula com ministros e parlamentares contra Dilma, o ex-ministro reagiu e disse que a tese "é de morrer de rir". "Pode ter alguém que apoie tanto quanto eu [o governo Dilma]. Mais, é difícil. Até as pedras sabem que eu sou governista." Quanto aos encontros, Dirceu afirmou que tem "todo o direito" de fazer política.
À plateia que o ouvia, formada por dirigentes de associações empresariais, Dirceu fez um diagnóstico da conjuntura econômica e considerou que "a hora decisiva do governo é agora". Defendeu corte de juros a partir da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, hoje e amanhã. O ex-ministro pediu redução de três pontos percentuais da Selic, nos "próximos meses", e desaconselhou um relaxamento fiscal. Para ele, o governo deve se esforçar em cumprir a meta de superávit primário, de 3,3% do PIB, no ano que vem, sem descontar os investimentos do PAC.
Diante do novo aprofundamento da crise internacional, Dirceu disse que o governo evitou "o erro de fazer grandes cortes na área social e elevar os juros", preferindo medidas macroprudenciais e preservando investimentos não só do PAC, mas dos planos plurianuais da Petrobras e da Eletrobras. Ele também elogiou o BNDES e afirmou que a política industrial foi uma "primeira resposta" para aumentar a competitividade. "É impossível imaginarmos que só com medidas cambiais e de juros vamos enfrentar a concorrência internacional. Temos que aumentar a competitividade, como aconteceu com setores da nossa indústria, que conseguiram sobreviver, como brinquedos, móveis, têxteis, confecções. Isso é crédito barato, BNDES."
Fonte:IHU
A reportagem é de Daniel Rittner e publicada pelo jornal Valor, 30-08-2011.
No que se refere ao primeiro ponto, Dirceu minimizou a declarada neutralidade do PR e disse que é "evidente" um movimento de aproximação com o PMDB, nas últimas semanas. Mesmo no caso do PR, conforme avaliou o ex-ministro, responsável pela montagem da aliança no primeiro governo Lula, "três senadores não vão deixar de votar com o governo". "O PV também se aproximou e até o presidente Fernando Henrique [Cardoso] estendeu as mãos à presidente Dilma", acrescentou.
Para ele, no entanto, a "solução real" só pode vir com uma reforma política que inclua o voto em lista. Sem a reforma, comentou Dirceu, "nós já conhecemos o resultado: nomeações dirigidas, emendas dirigidas, licitações fraudadas". "Os vereadores já começam a pedir dinheiro para os deputados um ano antes da eleição, os deputados [pedem] aos governadores, e todo mundo [pede] às empresas. Nem as empresas suportam mais o custo das campanhas. É irracional, se elas podem pagar dez vezes menos. É só votar na lista ou, se não quer votar na lista, estabelecer o sistema alemão, que é o distrital misto, metade na lista e metade no sistema distrital."
Dirceu foi o principal orador de seminário sobre infraestrutura organizado pelo consultor José Augusto Valente, ex-secretário de Política Nacional de Transportes, no primeiro governo Lula, e diretor da agência T1. Também dissertaram Guilherme Lacerda, ex-presidente da Funcef, e executivos da MRS, da Santos Brasil e da Viação Itapemirim.
Alvo de uma reportagem publicada no fim de semana pela revista "Veja", segundo a qual articula com ministros e parlamentares contra Dilma, o ex-ministro reagiu e disse que a tese "é de morrer de rir". "Pode ter alguém que apoie tanto quanto eu [o governo Dilma]. Mais, é difícil. Até as pedras sabem que eu sou governista." Quanto aos encontros, Dirceu afirmou que tem "todo o direito" de fazer política.
À plateia que o ouvia, formada por dirigentes de associações empresariais, Dirceu fez um diagnóstico da conjuntura econômica e considerou que "a hora decisiva do governo é agora". Defendeu corte de juros a partir da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, hoje e amanhã. O ex-ministro pediu redução de três pontos percentuais da Selic, nos "próximos meses", e desaconselhou um relaxamento fiscal. Para ele, o governo deve se esforçar em cumprir a meta de superávit primário, de 3,3% do PIB, no ano que vem, sem descontar os investimentos do PAC.
Diante do novo aprofundamento da crise internacional, Dirceu disse que o governo evitou "o erro de fazer grandes cortes na área social e elevar os juros", preferindo medidas macroprudenciais e preservando investimentos não só do PAC, mas dos planos plurianuais da Petrobras e da Eletrobras. Ele também elogiou o BNDES e afirmou que a política industrial foi uma "primeira resposta" para aumentar a competitividade. "É impossível imaginarmos que só com medidas cambiais e de juros vamos enfrentar a concorrência internacional. Temos que aumentar a competitividade, como aconteceu com setores da nossa indústria, que conseguiram sobreviver, como brinquedos, móveis, têxteis, confecções. Isso é crédito barato, BNDES."
Fonte:IHU
LÍBIA - Como a Al-Qaeda ganhou o domínio de Trípoli.
Quando interessa, os americanos esquecem com quem estão lidando. Foi assim na guerra Irã/Iraque, quando os EUA apoiaram Saddam Husseim,contra o Irã, foi assim quando a CIA treinou Osama Bi Laden no combate aos russos quando estes invadiram o Afeganistão, no que ficou conhecido como o Vietnan russo. Agora apoiaram logo quem, a Al-Qaeda, para derrubar o Kadaffi. No passado, um presidente americano declarou que os EUA não têm amigos e sim interesses.Enquanto isso a mídia ocidental torce desesperadamente para a queda do Kaddaffi. Como mostrei em outro post, até a BBC está fazendo manipulação na cobertura do que vem ocorrendo na Líbia. O mesmo fez a Al Jazeera que fez o mesmo que a BBC porém com menos repercussão.Ninguém mostra o que há por trás dessa "ajuda humanitária".Ninguém é a favor de uma ditadura, porém as favoráveis principalmente aos americanos, ninguém realiza "ajuda humanitária". Veja o que ocorreu no Bahein, onde as manifestações contra a ditadura lá existente foi sufocada por tropas da Arábia Saudita, atendendo à uma solicitação dos americanos. As manifestações no Bahein fizeram com que a FIA transferisse o Grande Prêmio desse país para o próximo ano. Com essa Resolução da ONU autorizando a "ajuda humanítária à Líbia, foi aberto um perigoso precedente. Agora qualquer governo que não agrade aos americanos, corre o risco de ser derrubado usando a nova polícia mundial representada pela OTAN. Me admira a passividade da China e da Rússia, principalmente os chineses, que têm grandes interesses na Líbia, permitirem que os americanos e a UE derrubem o Kadaffi para colocar um ditador seu amigo. Vocês acham que dá para acreditar que serão realizadas eleições daquí a oito meses?
Do site resistir.info
por Pepe Escobar [*]
Seu nome é Abdelhakim Belhaj. Alguns no Médio Oriente podem ter ouvido falar dele, mas poucos no ocidente o conhecem.
Já é tempo de saber. Porque a história de como um activo da al-Qaeda acabou por ser o principal comandante militar líbio na ainda devastada Tripoli liga-se ao estilhaçar – mais uma vez – dessa floresta de enganos que é a "guerra ao terror", bem como à profundamente comprometedora propaganda construída com todo o cuidado pela NATO de uma intervenção "humanitária" na Líbia.
A fortaleza de Muammar Gaddafi, Bab-al-Aziziyah, foi essencialmente invadida e conquistada pelos homens de Belhaj – que estavam na vanguarda de uma milícia de bérberes das montanhas a Sudoeste de Tripoli. A milícia é a chamada Brigada de Tripoli, treinada em segredo durante dois meses pelas Forças Especiais dos EUA. Ela revelou-se como mais efectiva milícia dos rebeldes em seis meses de guerra tribal/civil.
Terça-feira passada Belhaj já estava a regozijar-se acerca da batalha vencida, com as forças de Gaddafi a escaparem "como ratos" (note-se que é a mesma metáfora utilizada pelo próprio Gaddafi para designar os rebeldes).
Abdelhakim Belhaj, também conhecido como Abu Abdallah al-Sadek, é um jihadista líbio. Nascido em Maio de 1966, ele aperfeiçoou as suas qualificações na década de 1980 com os mujahideen no Afeganistão.
Ele é o fundador do Libyan Islamic Fighting Group (LIFG) e é de facto emir – com Khaled Chrif e Sami Saadi como seus representantes. Após a tomada do poder em Cabul, em 1966, o LIFG manteve dois campos de treino no Afeganistão, um deles a 30 quilómetros a Norte de Cabul – dirigido por Abu Yahya – era estritamente para jihadis ligados à al-Qaeda.
Após o 11 de Setembro, Belhaj transferiu-se para o Paquistão e também para o Iraque, onde auxiliou nada menos do que o ultra-asqueroso Abu Musab al-Zarqawi – tudo isto antes de a al-Qaeda no Iraque prometer lealdade a Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri e turbo-carregar suas práticas pavorosas.
No Iraque, os líbios constituíram o maior contingente de sunitas estrangeiros da jihadi, perdendo apenas para os sauditas. Além disso, os jihadis líbios sempre tiveram super-estrelas nos escalões de topo da al-Qaeda "histórica" – Abu Faraj al-Libi (comandante militar até a sua prisão em 2005, agora mofando como um dos 16 detidos de alto valor no centro de detenção estado-unidense em Guantanamo) até Abu al-Laith al-Libi (outro comandante militar, morto no Paquistão no principio de 2008).
O momento de uma "rendição" extraordinária
O LIFG esteve nos radares da Central Intelligence Agency dos EUA desde o 11/Set. Em 2003, Belhaj foi finalmente preso na Malásia – e então transferido, estilo "rendição" extraordinária, para uma prisão secreta em Bangkok e devidamente torturado.
Em 2004, os americanos decidiram enviá-lo como uma prenda à inteligência líbia – até que foi libertado pelo regime Gaddafi em Março de 2010, juntamente com outros 211 "terroristas", num golpe de relações públicas anunciado com grandes fanfarras.
O orquestrador foi nada menos do que Saif Islam al-Gaddafi – a face modernizadora/London School of Economicas do regime. Os líderes do LIFG – Belhaj e seus representantes Chrif e Saadi – emitiram uma confissão de 417 páginas alcunhada de "estudos correctivos" no qual declaravam ultrapassada (e ilegal) a jihad contra Gaddafi, antes de serem finalmente libertados.
Um relato fascinante de todo o processo pode ser visto numa reportagem chamada "Combatendo o terrorismo na Líbia através do diálogo e da reintegração" ("Combating Terrorism in Libya through Dialogue and Reintegration") [1] . É de notar que os autores, "peritos" em terrorismo com base em Singapura que foram recebidos pelo regime em jantares regados a vinho, exprimim a "mais profunda apreciação de Saif al-Islam Gaddafi e do Gaddafi International Charity and Development Foundation por tornarem possível esta visita".
Crucialmente, ainda em 2007, o então número dois da al-Qaeda, Zawahiri, anunciou oficialmente a fusão entre o LIFG e al-Qaeda no Islamic Mahgreb (AQIM). Assim, para todas as finalidades práticas, desde então o LIFG/AQIM uma e a mesma entidade – e Belhaj era/é seu emir.
Em 2007, a LIFG estava a apelar a uma jihad contra Gaddafi e também contra os EUA e variados "infiéis" ocidentais.
Avançou rapidamente em Fevereiro último quando, como homem livre, Belhaj decidiu reverter ao modo jihad e alinhar suas forças com o engendrado levantamento na Cirenaica.
Toda agência de inteligência nos EUA, Europa e mundo árabe sabe de onde ele vem. Ele já garantiu na Líbia que ele próprio e a sua milícia só ficarão satisfeitos com a lei da sharia.
Não há nada "pró democracia" quanto a isto – nem com qualquer esforço de imaginação. E um tal activo não podia ser desprendido da guerra NATO só porque ele não gosta muito de "infiéis".
A morte em Julho do comandante militar rebelde, general Abdel Fattah Younis – pelos próprios rebeldes – parece apontar a Belhaj ou pelo menos a pessoas muito próximas dele.
É essencial saber que Younis – antes de desertar do regime – fora encarregado das forças especiais da Líbia que combateram ferozmente o LIFG na Cirenaica entre 1990 e 1995.
O Conselho Nacional de Transição (CNT), segundo um dos seus membros, Ali Tarhouni, tem estado a propalar que Younis foi morto por uma brigada duvidosa conhecida como Obaida ibn Jarrah (um dos companheiros do Profeta Maomé). Mas a dita brigada agora parece ter-se dissolvido no ar.
Cale a boca ou corto-lhe a cabeça
Não por acaso, todos os principais comandantes rebeldes são LIFG, desde Belhaj em Tripoli a um Ismael as-Salabi em Bengazi e um Abdelhakim al-Assadi em Derna, para não mencionar um activo chave, Ali Salabi, que tem assento no núcleo do CNT. Foi Salabi que negociou com Saif al-Islam Gaddafi o "fim" da jihad do LIFG, assegurando então o brilhante futuro destes renascidos "combatentes da liberdade".
Não é preciso uma bola de cristal para descrever as consequências de o LIFG/AQIM – tendo conquistado poder militar e estando entre os "vencedores" da guerra – não estar nem remotamente interessado em abrir mão do controle só para agradar os caprichos da NATO.
Enquanto isso, em meio ao caos da guerra, não está claro se Gaddafi está a planear emboscar a brigada de Tripoli na guerra urbana; ou forçar o grosso das milícias rebeldes a entrar nas enormes áreas tribais dos Warfallah.
A esposa de Gaddafi pertence aos Warfallah, a maior tribo da Líbia, com mais de 1 milhão de pessoas e 54 sub-tribos. O que se diz à boca pequena em Bruxelas é que a NATO espera que Gaddafi combata durante meses, se não anos. Daí o prémio estilo Texas-George W. Bush pela sua cabeça e o desesperado retorno ao plano A da NATO, o qual sempre foi de pô-lo para fora.
A Líbia pode agora estar a enfrentar o espectro de uma guerrilha Hidra de duas cabeças; forças de Gaddafi contra um fraco governo central do CNT e botas da NATO sobre o terreno – e a nebulosa LIFG/AQIM numa jihad contra a NATO (se forem marginalizados do poder).
Gaddafi pode ser uma relíquia ditatorial do passado, mas não se monopoliza poder durante quatro décadas por nada e sem os seus serviços de inteligência aprenderem uma ou duas coisas.
Desde o princípio, Gaddafi disse que isto era uma operação apoiada pelo estrangeiro e al-Qaeda. Ele estava certo (embora se tenha esquecido de dizer que isto era acima de tudo uma guerra do neo-napoleonico presidente francês Nicolas Sarkozy, mas isso é outra história).
Ele também disse que isto era um prelúdio para uma ocupação estrangeira cujo objectivo era privatizar e apossar-se dos recursos naturais da Líbia. Ele pode – mais uma vez – estar certo.
Os "peritos" de Singapura que louvaram a decisão do regime Gaddafi de libertar os jihadis do LIFG qualificaram-na como "uma estratégia necessária para minimizar a ameaça colocada à Líbia".
Agora, o LIFG/AQIM está finalmente pronto para exercer suas opções como uma "força política indígena".
Dez anos após o 11/Set, é difícil não imaginar uma certa caveira decomposta no fundo do Mar Arábico a rir descaradamente do reino que vem aí.
[1] Clique aqui: http://www.pvtr.org/pdf/Report/RSIS_Libya.pdf
[*] Autor de 21 O Século Da Ásia (Nimble Books, 2009), Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War (Nimble Books, 2007) e Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge . Seu último livro é Obama does Globalistan (Nimble Books, 2009). Email: pepeasia@yahoo.com . Para acompanhar o seu artigos sobre a Grande Revolta Árabe, clique aqui .
O original encontra-se em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MH30Ak01.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
Do site resistir.info
por Pepe Escobar [*]
Seu nome é Abdelhakim Belhaj. Alguns no Médio Oriente podem ter ouvido falar dele, mas poucos no ocidente o conhecem.
Já é tempo de saber. Porque a história de como um activo da al-Qaeda acabou por ser o principal comandante militar líbio na ainda devastada Tripoli liga-se ao estilhaçar – mais uma vez – dessa floresta de enganos que é a "guerra ao terror", bem como à profundamente comprometedora propaganda construída com todo o cuidado pela NATO de uma intervenção "humanitária" na Líbia.
A fortaleza de Muammar Gaddafi, Bab-al-Aziziyah, foi essencialmente invadida e conquistada pelos homens de Belhaj – que estavam na vanguarda de uma milícia de bérberes das montanhas a Sudoeste de Tripoli. A milícia é a chamada Brigada de Tripoli, treinada em segredo durante dois meses pelas Forças Especiais dos EUA. Ela revelou-se como mais efectiva milícia dos rebeldes em seis meses de guerra tribal/civil.
Terça-feira passada Belhaj já estava a regozijar-se acerca da batalha vencida, com as forças de Gaddafi a escaparem "como ratos" (note-se que é a mesma metáfora utilizada pelo próprio Gaddafi para designar os rebeldes).
Abdelhakim Belhaj, também conhecido como Abu Abdallah al-Sadek, é um jihadista líbio. Nascido em Maio de 1966, ele aperfeiçoou as suas qualificações na década de 1980 com os mujahideen no Afeganistão.
Ele é o fundador do Libyan Islamic Fighting Group (LIFG) e é de facto emir – com Khaled Chrif e Sami Saadi como seus representantes. Após a tomada do poder em Cabul, em 1966, o LIFG manteve dois campos de treino no Afeganistão, um deles a 30 quilómetros a Norte de Cabul – dirigido por Abu Yahya – era estritamente para jihadis ligados à al-Qaeda.
Após o 11 de Setembro, Belhaj transferiu-se para o Paquistão e também para o Iraque, onde auxiliou nada menos do que o ultra-asqueroso Abu Musab al-Zarqawi – tudo isto antes de a al-Qaeda no Iraque prometer lealdade a Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri e turbo-carregar suas práticas pavorosas.
No Iraque, os líbios constituíram o maior contingente de sunitas estrangeiros da jihadi, perdendo apenas para os sauditas. Além disso, os jihadis líbios sempre tiveram super-estrelas nos escalões de topo da al-Qaeda "histórica" – Abu Faraj al-Libi (comandante militar até a sua prisão em 2005, agora mofando como um dos 16 detidos de alto valor no centro de detenção estado-unidense em Guantanamo) até Abu al-Laith al-Libi (outro comandante militar, morto no Paquistão no principio de 2008).
O momento de uma "rendição" extraordinária
O LIFG esteve nos radares da Central Intelligence Agency dos EUA desde o 11/Set. Em 2003, Belhaj foi finalmente preso na Malásia – e então transferido, estilo "rendição" extraordinária, para uma prisão secreta em Bangkok e devidamente torturado.
Em 2004, os americanos decidiram enviá-lo como uma prenda à inteligência líbia – até que foi libertado pelo regime Gaddafi em Março de 2010, juntamente com outros 211 "terroristas", num golpe de relações públicas anunciado com grandes fanfarras.
O orquestrador foi nada menos do que Saif Islam al-Gaddafi – a face modernizadora/London School of Economicas do regime. Os líderes do LIFG – Belhaj e seus representantes Chrif e Saadi – emitiram uma confissão de 417 páginas alcunhada de "estudos correctivos" no qual declaravam ultrapassada (e ilegal) a jihad contra Gaddafi, antes de serem finalmente libertados.
Um relato fascinante de todo o processo pode ser visto numa reportagem chamada "Combatendo o terrorismo na Líbia através do diálogo e da reintegração" ("Combating Terrorism in Libya through Dialogue and Reintegration") [1] . É de notar que os autores, "peritos" em terrorismo com base em Singapura que foram recebidos pelo regime em jantares regados a vinho, exprimim a "mais profunda apreciação de Saif al-Islam Gaddafi e do Gaddafi International Charity and Development Foundation por tornarem possível esta visita".
Crucialmente, ainda em 2007, o então número dois da al-Qaeda, Zawahiri, anunciou oficialmente a fusão entre o LIFG e al-Qaeda no Islamic Mahgreb (AQIM). Assim, para todas as finalidades práticas, desde então o LIFG/AQIM uma e a mesma entidade – e Belhaj era/é seu emir.
Em 2007, a LIFG estava a apelar a uma jihad contra Gaddafi e também contra os EUA e variados "infiéis" ocidentais.
Avançou rapidamente em Fevereiro último quando, como homem livre, Belhaj decidiu reverter ao modo jihad e alinhar suas forças com o engendrado levantamento na Cirenaica.
Toda agência de inteligência nos EUA, Europa e mundo árabe sabe de onde ele vem. Ele já garantiu na Líbia que ele próprio e a sua milícia só ficarão satisfeitos com a lei da sharia.
Não há nada "pró democracia" quanto a isto – nem com qualquer esforço de imaginação. E um tal activo não podia ser desprendido da guerra NATO só porque ele não gosta muito de "infiéis".
A morte em Julho do comandante militar rebelde, general Abdel Fattah Younis – pelos próprios rebeldes – parece apontar a Belhaj ou pelo menos a pessoas muito próximas dele.
É essencial saber que Younis – antes de desertar do regime – fora encarregado das forças especiais da Líbia que combateram ferozmente o LIFG na Cirenaica entre 1990 e 1995.
O Conselho Nacional de Transição (CNT), segundo um dos seus membros, Ali Tarhouni, tem estado a propalar que Younis foi morto por uma brigada duvidosa conhecida como Obaida ibn Jarrah (um dos companheiros do Profeta Maomé). Mas a dita brigada agora parece ter-se dissolvido no ar.
Cale a boca ou corto-lhe a cabeça
Não por acaso, todos os principais comandantes rebeldes são LIFG, desde Belhaj em Tripoli a um Ismael as-Salabi em Bengazi e um Abdelhakim al-Assadi em Derna, para não mencionar um activo chave, Ali Salabi, que tem assento no núcleo do CNT. Foi Salabi que negociou com Saif al-Islam Gaddafi o "fim" da jihad do LIFG, assegurando então o brilhante futuro destes renascidos "combatentes da liberdade".
Não é preciso uma bola de cristal para descrever as consequências de o LIFG/AQIM – tendo conquistado poder militar e estando entre os "vencedores" da guerra – não estar nem remotamente interessado em abrir mão do controle só para agradar os caprichos da NATO.
Enquanto isso, em meio ao caos da guerra, não está claro se Gaddafi está a planear emboscar a brigada de Tripoli na guerra urbana; ou forçar o grosso das milícias rebeldes a entrar nas enormes áreas tribais dos Warfallah.
A esposa de Gaddafi pertence aos Warfallah, a maior tribo da Líbia, com mais de 1 milhão de pessoas e 54 sub-tribos. O que se diz à boca pequena em Bruxelas é que a NATO espera que Gaddafi combata durante meses, se não anos. Daí o prémio estilo Texas-George W. Bush pela sua cabeça e o desesperado retorno ao plano A da NATO, o qual sempre foi de pô-lo para fora.
A Líbia pode agora estar a enfrentar o espectro de uma guerrilha Hidra de duas cabeças; forças de Gaddafi contra um fraco governo central do CNT e botas da NATO sobre o terreno – e a nebulosa LIFG/AQIM numa jihad contra a NATO (se forem marginalizados do poder).
Gaddafi pode ser uma relíquia ditatorial do passado, mas não se monopoliza poder durante quatro décadas por nada e sem os seus serviços de inteligência aprenderem uma ou duas coisas.
Desde o princípio, Gaddafi disse que isto era uma operação apoiada pelo estrangeiro e al-Qaeda. Ele estava certo (embora se tenha esquecido de dizer que isto era acima de tudo uma guerra do neo-napoleonico presidente francês Nicolas Sarkozy, mas isso é outra história).
Ele também disse que isto era um prelúdio para uma ocupação estrangeira cujo objectivo era privatizar e apossar-se dos recursos naturais da Líbia. Ele pode – mais uma vez – estar certo.
Os "peritos" de Singapura que louvaram a decisão do regime Gaddafi de libertar os jihadis do LIFG qualificaram-na como "uma estratégia necessária para minimizar a ameaça colocada à Líbia".
Agora, o LIFG/AQIM está finalmente pronto para exercer suas opções como uma "força política indígena".
Dez anos após o 11/Set, é difícil não imaginar uma certa caveira decomposta no fundo do Mar Arábico a rir descaradamente do reino que vem aí.
[1] Clique aqui: http://www.pvtr.org/pdf/Report/RSIS_Libya.pdf
[*] Autor de 21 O Século Da Ásia (Nimble Books, 2009), Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War (Nimble Books, 2007) e Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge . Seu último livro é Obama does Globalistan (Nimble Books, 2009). Email: pepeasia@yahoo.com . Para acompanhar o seu artigos sobre a Grande Revolta Árabe, clique aqui .
O original encontra-se em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MH30Ak01.html
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
CARTUNISTA DO RIO INSPIRA DE LONGE AS REBELIÕES ÁRABES
O cartunista Carlos Latuff não cobra por seu trabalho.
Suas charges são afiadas, ousadas e um espinho na carne para líderes autoritários cambaleantes do mundo árabe — e um presente para os manifestantes que protestam. Tudo isso tendo como improvável origem um apartamento no Rio de Janeiro.
Carlos Latuff, um esquerdista de 42 anos cujo único vínculo com o Oriente Médio é um avô libanês que ele nunca conheceu, se tornou um herói da “Primavera Árabe” com desenhos satíricos que ajudaram a inspirar as revoltas.
Ele só precisou de sua caneta, uma paixão pelas lutas da região e uma conta no Twitter, que ele utiliza para publicar suas charges.
Começando com o levante na Tunísia em dezembro, o trabalho de Latuff vem sendo baixado na Internet por líderes dos protestos e estampado em camisetas usadas em protestos do Egito à Líbia e ao Barein, tornando-se um emblema satírico da indignação popular.
Em uma delas, uma bota de cano longo representando o governo da Síria pisa em uma mão onde está escrito “liberdade”. Em outra, um homem representando a Justiça sob o governo militar do Egito segura uma balança cheia de manifestantes presos.
Latuff disse que soube pela primeira vez que suas charges estavam tendo impacto quando, ao assistir à TV, viu-os estampados em cartazes no momento em que as manifestações se espalhavam pelo Egito, em 25 de janeiro, somente dois dias depois de ele as ter distribuído na Internet.
– Aquilo me deu a certeza de que meu trabalho era útil –, disse Latuff.
– Não são as plataformas sociais que fazem as revoluções. É o povo. Twitter, Facebook, assim como uma câmera ou coquetéis molotov, são apenas instrumentos, equipamentos.
Latuff não cobra por seu trabalho e diz que doa os desenhos para destacar as injustiças e mostrar sua solidariedade contra o autoritarismo mundialmente.
Suas únicas visitas ao Oriente Médio foram em 1999 e 2009, quando esteve nos territórios palestinos ocupados por Israel e, depois, em campos de refugiados palestinos na Jordânia e Líbano.
Foi o suficiente, diz ele, para lhe fazer entender que as dinâmicas da opressão na região eram semelhantes àquelas das favelas cheias de violência no Rio.
– A miséria é a mesma em qualquer país –, disse ele.
– A única diferença (nos campos) era que as mulheres tinham as cabeças cobertas, a escrita era em árabe e os homens com armas eram militantes, não traficantes de drogas.
A incursão de Latuff no mundo dividido do Oriente Médio fez com que ele ficasse repleto de inimigos, bem como amigos. Seu trabalho mostrando a brutalidade do Exército de Israel em relação aos palestinos – uma charge compara soldados com alemães nazistas – atraiu acusações de antissemitismo, o que ele nega fortemente.
Muitos de seus desenhos ainda têm como foco o Egito, onde os poderes de emergência dados aos militares ainda continuam em vigor seis meses depois da derrubada de Hosni Mubarak.
Uma charge traz uma cobra aparecendo por trás de uma mulher sentada diante de um computador — uma referência à recente prisão da ativista Asmaa Mahfouz por “insultar” os militares em um comentário no Twitter. Ela foi posteriormente liberada pelos militares.
– A maioria das pessoas não sabe o que está acontecendo agora no Egito, como Mubarak deixou o governo, elas pensam que eles têm democracia, mas isso não é verdade –, disse Latuff.
Suas charges são afiadas, ousadas e um espinho na carne para líderes autoritários cambaleantes do mundo árabe — e um presente para os manifestantes que protestam. Tudo isso tendo como improvável origem um apartamento no Rio de Janeiro.
Carlos Latuff, um esquerdista de 42 anos cujo único vínculo com o Oriente Médio é um avô libanês que ele nunca conheceu, se tornou um herói da “Primavera Árabe” com desenhos satíricos que ajudaram a inspirar as revoltas.
Ele só precisou de sua caneta, uma paixão pelas lutas da região e uma conta no Twitter, que ele utiliza para publicar suas charges.
Começando com o levante na Tunísia em dezembro, o trabalho de Latuff vem sendo baixado na Internet por líderes dos protestos e estampado em camisetas usadas em protestos do Egito à Líbia e ao Barein, tornando-se um emblema satírico da indignação popular.
Em uma delas, uma bota de cano longo representando o governo da Síria pisa em uma mão onde está escrito “liberdade”. Em outra, um homem representando a Justiça sob o governo militar do Egito segura uma balança cheia de manifestantes presos.
Latuff disse que soube pela primeira vez que suas charges estavam tendo impacto quando, ao assistir à TV, viu-os estampados em cartazes no momento em que as manifestações se espalhavam pelo Egito, em 25 de janeiro, somente dois dias depois de ele as ter distribuído na Internet.
– Aquilo me deu a certeza de que meu trabalho era útil –, disse Latuff.
– Não são as plataformas sociais que fazem as revoluções. É o povo. Twitter, Facebook, assim como uma câmera ou coquetéis molotov, são apenas instrumentos, equipamentos.
Latuff não cobra por seu trabalho e diz que doa os desenhos para destacar as injustiças e mostrar sua solidariedade contra o autoritarismo mundialmente.
Suas únicas visitas ao Oriente Médio foram em 1999 e 2009, quando esteve nos territórios palestinos ocupados por Israel e, depois, em campos de refugiados palestinos na Jordânia e Líbano.
Foi o suficiente, diz ele, para lhe fazer entender que as dinâmicas da opressão na região eram semelhantes àquelas das favelas cheias de violência no Rio.
– A miséria é a mesma em qualquer país –, disse ele.
– A única diferença (nos campos) era que as mulheres tinham as cabeças cobertas, a escrita era em árabe e os homens com armas eram militantes, não traficantes de drogas.
A incursão de Latuff no mundo dividido do Oriente Médio fez com que ele ficasse repleto de inimigos, bem como amigos. Seu trabalho mostrando a brutalidade do Exército de Israel em relação aos palestinos – uma charge compara soldados com alemães nazistas – atraiu acusações de antissemitismo, o que ele nega fortemente.
Muitos de seus desenhos ainda têm como foco o Egito, onde os poderes de emergência dados aos militares ainda continuam em vigor seis meses depois da derrubada de Hosni Mubarak.
Uma charge traz uma cobra aparecendo por trás de uma mulher sentada diante de um computador — uma referência à recente prisão da ativista Asmaa Mahfouz por “insultar” os militares em um comentário no Twitter. Ela foi posteriormente liberada pelos militares.
– A maioria das pessoas não sabe o que está acontecendo agora no Egito, como Mubarak deixou o governo, elas pensam que eles têm democracia, mas isso não é verdade –, disse Latuff.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
MÍDIA - Na democracia ninguém pode tudo.
Do Balaio do Kotscho.
Ao voltar de Barretos, o meu correio eletrônico já estava entupido de mensagens de amigos e leitores comentando e me pedindo para comentar a reportagem da revista "Veja" sobre as "atividades clandestinas" do ex-ministro José Dirceu, um dos denunciados no processo do "mensalão", que tramita no Supremo Tribunal Federal e ainda não tem data para ser julgado.
Só agora, no começo da tarde de segunda-feira, consegui ler a matéria. Em resumo, como está escrito na capa, sob o título "O Poderoso Chefão", ao lado de uma foto em que Dirceu aparece de óculos escuros e sorridente, a revista faz uma grave acusação:
"O ex-ministro José Dirceu mantém um "gabinete" num hotel de Brasília, onde despacha com graúdos da República e conspira contra o governo da presidente Dilma".
Para justificar a capa, a revista publica dez reproduções de um vídeo em que, além de Dirceu, aparecem ministros, parlamentares e um presidente de estatal entrando ou saindo do "bunker instalado na área vip de um hotel cinco-estrelas de Brasília, num andar onde o acesso é restrito a hóspedes e pessoas autorizadas".
Nas oito páginas da "reportagem" _ na verdade, um editorial da primeira à última linha, com mais adjetivos do que substantivos _ não há uma única informação de terceiros que não seja guardada pelo anonimato do "off" ou declaração dos "acusados" de visitar o bunker de Dirceu confirmando a tese da "Veja".
Fiel a uma prática cada vez mais disseminada na grande mídia imprensa, a tese da conspiração de Dirceu contra o Governo Dilma vem antes da apuração, que é feita geralmente para confirmar a manchete, ainda que os fatos narrados não a comprovem.
Para dar conta da encomenda, o repórter se hospedeu num apartamento no mesmo andar do ex-ministro. Alegando ter perdido a chave do seu apartamento, pediu à camareira que abrisse o quarto de Dirceu e acabou sendo por ela denunciado à segurança do hotel Naoum Plaza, que registrou um boletim de ocorrência no 5º Distrito Policial de Brasília, por tentativa de invasão de domicílio.
Li e reli a matéria duas vezes e não encontrei nenhuma referência à origem das imagens publicadas como "prova do crime", o primeiro dos mistérios suscitados pela publicação da matéria. O leitor pode imaginar que as cenas foram captadas pelas câmeras de segurança do hotel, mas neste caso surgem outras perguntas:
* Se o próprio hotel denunciou o repórter à polícia, segundo "O Globo" de domingo, quem foi que lhe teria cedido estas imagens sem autorização da direção do Naoum?
* Se foi o próprio repórter quem instalou as câmeras, isto não é um crime que lembra os métodos empregados pela Gestapo e pelo império midiático dos Murdoch?
* As andanças pelo hotel deste repórter, que se hospedou com o nome e telefone celular verdadeiros, saiu sem fazer check-out e voltou dando outro nome, para supostamente entregar ao ex-ministro documentos da prefeitura de Varginha, são procedimentos habituais do chamado "jornalismo investigativo"?
As dúvidas se tornam ainda mais intrigantes quando se lê o que vai escrito na página 75 da revista:
"Foram 45 horas de reuniões que sacramentaram a derrocada de Antonio Palocci e durante as quais foi articulada uma frustrada tentativa do grupo do ex-ministro de ocupar os espaços que se abririam com a demissão. Articulação minuciosamente monitorada pelo Palácio do Planalto, que já havia captado sinais de uma conspiração de Dirceu e de seu grupo para influir nos acontecimentos que ocorriam naquela semana (6,7 e 8 de junho, segundo as legendas das fotos) _ acontecimentos que, descobre-se agora, contavam com a participação de pessoas do próprio governo".
A afirmações contidas neste trecho provocam outras perguntas.
* Como assim? Quem do governo estava conspirado contra quem do governo?
* Por acaso a revista insinua que foi o próprio governo quem capturou as imagens e as entregou ao repórter da "Veja"?
* Por que a reportagem/editoral só publica agora, no final de agosto, fatos ocorridos e imagens registradas no começo de junho, no momento em que o diretor de redação da revista está de férias?
Só uma coisa posso afirmar com certeza, depois de 47 anos de trabalho como jornalista: matéria de tal gravidade não é publicada sem o aval expresso dos donos da empresa ou dos acionistas majoritários. Não é coisa de repórter trapalhão ou editor descuidado.
Ao final da matéria, a revista admite que "o jornalista esteve mesmo no hotel, investigando, tentando descobrir que atração é essa que um homem acusado de chefiar uma quadrilha de vigaristas ainda exerce sobre tantas autoridades (...) E conseguiu. Mas a máfia não perdoa".
Conseguiu? Há controvérsias... No elenco de nomes apresentados pela revista como frequentadores do "aparelho clandestino" de Dirceu, no entanto, não encontrei nenhum personagem que seja publicamente conhecido como inimigo do ex-ministro Antonio Palocci.
O texto todo foi construído a partir de ilações e suposições para confirmar a tese _ não de informações concretas sobre o que se discutiu nestes encontros e quais as consequências efetivas para a queda de Palocci.
Não tenho procuração para defender o ex-ministro José Dirceu, nem ele precisa disso. Escrevo para defender a minha profissão, tão aviltada ultimamente pela falta de ética de veículos e profissionais dedicados ao vale-tudo de verdadeiras gincanas para destruir reputações e enfraquecer as instituições democráticas.
É um bom momento para a sociedade brasileira debater o papel da nossa imprensa _ uma imprensa que não admite qualquer limite ou regra, e se coloca acima das demais instituições para investigar, denunciar, acusar e julgar quem bem lhe convier.
Diante de qualquer questionamento sobre as responsabilidades de quem controla os meios de comunicação, logo surgem seus porta-vozes para denunciar ameaças à liberdade de imprensa.
Calma, pessoal. De vez em quando, convém lembrar que repórter não é Polícia e a Imprensa não é Justiça, e também não deveria se considerar inimputável como as crianças e os índios. Vejam o que aconteceu com Murdoch, o ex-todo-poderoso imperador. Numa democracia, ninguém pode tudo.
Ao voltar de Barretos, o meu correio eletrônico já estava entupido de mensagens de amigos e leitores comentando e me pedindo para comentar a reportagem da revista "Veja" sobre as "atividades clandestinas" do ex-ministro José Dirceu, um dos denunciados no processo do "mensalão", que tramita no Supremo Tribunal Federal e ainda não tem data para ser julgado.
Só agora, no começo da tarde de segunda-feira, consegui ler a matéria. Em resumo, como está escrito na capa, sob o título "O Poderoso Chefão", ao lado de uma foto em que Dirceu aparece de óculos escuros e sorridente, a revista faz uma grave acusação:
"O ex-ministro José Dirceu mantém um "gabinete" num hotel de Brasília, onde despacha com graúdos da República e conspira contra o governo da presidente Dilma".
Para justificar a capa, a revista publica dez reproduções de um vídeo em que, além de Dirceu, aparecem ministros, parlamentares e um presidente de estatal entrando ou saindo do "bunker instalado na área vip de um hotel cinco-estrelas de Brasília, num andar onde o acesso é restrito a hóspedes e pessoas autorizadas".
Nas oito páginas da "reportagem" _ na verdade, um editorial da primeira à última linha, com mais adjetivos do que substantivos _ não há uma única informação de terceiros que não seja guardada pelo anonimato do "off" ou declaração dos "acusados" de visitar o bunker de Dirceu confirmando a tese da "Veja".
Fiel a uma prática cada vez mais disseminada na grande mídia imprensa, a tese da conspiração de Dirceu contra o Governo Dilma vem antes da apuração, que é feita geralmente para confirmar a manchete, ainda que os fatos narrados não a comprovem.
Para dar conta da encomenda, o repórter se hospedeu num apartamento no mesmo andar do ex-ministro. Alegando ter perdido a chave do seu apartamento, pediu à camareira que abrisse o quarto de Dirceu e acabou sendo por ela denunciado à segurança do hotel Naoum Plaza, que registrou um boletim de ocorrência no 5º Distrito Policial de Brasília, por tentativa de invasão de domicílio.
Li e reli a matéria duas vezes e não encontrei nenhuma referência à origem das imagens publicadas como "prova do crime", o primeiro dos mistérios suscitados pela publicação da matéria. O leitor pode imaginar que as cenas foram captadas pelas câmeras de segurança do hotel, mas neste caso surgem outras perguntas:
* Se o próprio hotel denunciou o repórter à polícia, segundo "O Globo" de domingo, quem foi que lhe teria cedido estas imagens sem autorização da direção do Naoum?
* Se foi o próprio repórter quem instalou as câmeras, isto não é um crime que lembra os métodos empregados pela Gestapo e pelo império midiático dos Murdoch?
* As andanças pelo hotel deste repórter, que se hospedou com o nome e telefone celular verdadeiros, saiu sem fazer check-out e voltou dando outro nome, para supostamente entregar ao ex-ministro documentos da prefeitura de Varginha, são procedimentos habituais do chamado "jornalismo investigativo"?
As dúvidas se tornam ainda mais intrigantes quando se lê o que vai escrito na página 75 da revista:
"Foram 45 horas de reuniões que sacramentaram a derrocada de Antonio Palocci e durante as quais foi articulada uma frustrada tentativa do grupo do ex-ministro de ocupar os espaços que se abririam com a demissão. Articulação minuciosamente monitorada pelo Palácio do Planalto, que já havia captado sinais de uma conspiração de Dirceu e de seu grupo para influir nos acontecimentos que ocorriam naquela semana (6,7 e 8 de junho, segundo as legendas das fotos) _ acontecimentos que, descobre-se agora, contavam com a participação de pessoas do próprio governo".
A afirmações contidas neste trecho provocam outras perguntas.
* Como assim? Quem do governo estava conspirado contra quem do governo?
* Por acaso a revista insinua que foi o próprio governo quem capturou as imagens e as entregou ao repórter da "Veja"?
* Por que a reportagem/editoral só publica agora, no final de agosto, fatos ocorridos e imagens registradas no começo de junho, no momento em que o diretor de redação da revista está de férias?
Só uma coisa posso afirmar com certeza, depois de 47 anos de trabalho como jornalista: matéria de tal gravidade não é publicada sem o aval expresso dos donos da empresa ou dos acionistas majoritários. Não é coisa de repórter trapalhão ou editor descuidado.
Ao final da matéria, a revista admite que "o jornalista esteve mesmo no hotel, investigando, tentando descobrir que atração é essa que um homem acusado de chefiar uma quadrilha de vigaristas ainda exerce sobre tantas autoridades (...) E conseguiu. Mas a máfia não perdoa".
Conseguiu? Há controvérsias... No elenco de nomes apresentados pela revista como frequentadores do "aparelho clandestino" de Dirceu, no entanto, não encontrei nenhum personagem que seja publicamente conhecido como inimigo do ex-ministro Antonio Palocci.
O texto todo foi construído a partir de ilações e suposições para confirmar a tese _ não de informações concretas sobre o que se discutiu nestes encontros e quais as consequências efetivas para a queda de Palocci.
Não tenho procuração para defender o ex-ministro José Dirceu, nem ele precisa disso. Escrevo para defender a minha profissão, tão aviltada ultimamente pela falta de ética de veículos e profissionais dedicados ao vale-tudo de verdadeiras gincanas para destruir reputações e enfraquecer as instituições democráticas.
É um bom momento para a sociedade brasileira debater o papel da nossa imprensa _ uma imprensa que não admite qualquer limite ou regra, e se coloca acima das demais instituições para investigar, denunciar, acusar e julgar quem bem lhe convier.
Diante de qualquer questionamento sobre as responsabilidades de quem controla os meios de comunicação, logo surgem seus porta-vozes para denunciar ameaças à liberdade de imprensa.
Calma, pessoal. De vez em quando, convém lembrar que repórter não é Polícia e a Imprensa não é Justiça, e também não deveria se considerar inimputável como as crianças e os índios. Vejam o que aconteceu com Murdoch, o ex-todo-poderoso imperador. Numa democracia, ninguém pode tudo.
PALESTINA - Territórios ocupados e sedentos.
No Médio-Oriente, o petróleo sempre esteve no centro das disputas políticas. Porém, nos territórios palestinos ocupados por Israel, ele foi substituído pela água. Por Thalif Deen, da IPS.
Palestinos continuam a ver negado o acesso à sua água pelo Estado israelita
Shaddad Attili, director da Autoridade de Água Palestina, disse à IPS que esse recurso está sendo usado como arma de guerra pelos israelitas. “A água é um tema humanitário. Deveria ser retirado da política”, disse, lembrando que todos na região – israelitas, jordanos, libaneses e palestinos –, devem ter direito a esse recurso para suas necessidades básicas.
O funcionário disse que Israel continua destruindo infraestrutura essencial, como cisternas e poços, afectando as comunidades palestinas. A ocupação tem grande impacto em “nossa capacidade” de atender as necessidades domésticas, agrícolas e industriais dos palestinos, tanto agora como no futuro, afirmou Attili. “Para dizer de forma simples, o povo palestino está sedento de justiça, e exorta todos os Estados a exigirem de Israel, a potência ocupante, que ponha fim a esta situação injusta e deplorável”, ressaltou.
Ao falar, no dia 26, na última reunião da Semana Mundial da Água, em Estocolmo, Attilli disse: “Israel explora mais de 90% de nossos recursos compartilhados para seu próprio uso, enquanto exerce uma tremenda influência sobre os nossos restantes 10%. Não só nos nega nossa parte equitativa e razoável de água sob o direito internacional consuetudinário, como também impede os palestinos de desenvolverem infraestrutura essencial”.
No ano passado, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adoptou uma resolução reconhecendo o acesso a água e saneamento como um direito humano universal. Mas isto ainda está longe de ser aplicado aos palestinos. A resolução foi adoptada por uma esmagadora maioria de países, apesar da abstenção de Israel, junto com Austrália, Áustria, Canadá, Coreia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Irlanda, Japão, Luxemburgo e Suécia.
Em um informe crítico divulgado no mês passado, o Comité Especial da ONU para Investigar as Práticas israelitas nos Territórios Ocupados, expressou consternação pelo “contínuo desprezo (israelita) por suas obrigações sob o direito internacional”. O Comité, de três membros, após visitar os territórios ocupados, disse que, “lamentavelmente, o que descobrimos foi que as opressivas restrições impostas sobre Gaza por Israel tiveram o efeito de um castigo colectivo contra a população”.
Como cerca de 35% da terra em Gaza não pode ser usada para fins agrícolas, já que Israel criou uma zona de exclusão em sua fronteira, e as áreas de pesca estão limitadas a apenas três milhas náuticas da costa, a população de Gaza tem dificuldades para conseguir alimentos, e muito mais para reavivar a economia, concluiu o Comité. “Deve ser responsabilidade das potências ocupantes ajudar a reconstrução de Gaza”, acrescentou.
Além das casas, escolas e dos negócios destruídos, há uma urgente necessidade de se criar e reparar estações de tratamento de água, estradas, sistema de canalização e redes de energia, diz o Comitê. Em um documento apresentado na Assembleia Geral das Nações Unidas no ano passado, o observador permanente da Palestina para a ONU, Riyad H. Mansour, disse que, durante 42 anos, os territórios ocupados sofreram “todo tipo de crueldade, destruição e abuso nas mãos de Israel, a potência ocupante, que foi contra a vida, o sustento e os recursos dos palestinos”.
Estes abusos também afectam o direito dos palestinos terem acesso a água. Desde que Israel iniciou a ocupação, em 1967, violando o direito internacional, assumiu o controle de todos os recursos hídricos, incluindo a água na superfície, os aquíferos e o acesso à bacia do Rio Jordão, diz o documento. Attili afirmou à IPS que é hora de a comunidade internacional intervir para resolver o problema. Ao falar na capital sueca, alertou: “Não se enganem, pois não haverá um Estado palestino viável sem que possa acessar, controlar e administrar suficientes recursos hídricos para cobrir suas necessidades internas, presentes e futuras, agrícolas e industriais”.
“Sabemos o que a paz necessita. O que está faltando agora é vontade política. É isto que deve mudar, e espero que esta conferência ajude a tornar possíveis as transformações”, acrescentou Attili. Para ele, em certo sentido, os desafios dos palestinos em relação à água são os mesmos, ou similares, aos que enfrentam muitas outras nações. A disponibilidade de água é um tema primordial na Palestina. “Além de aguda escassez, também enfrentamos enormes problemas em termos de qualidade. Com o tempo, isto se agravou drasticamente”, afirmou Attilli, destacando que este ano é de particular importância para a Palestina, que espera ser admitida como Estado-membro das Nações Unidas no próximo mês.
Palestinos continuam a ver negado o acesso à sua água pelo Estado israelita
Shaddad Attili, director da Autoridade de Água Palestina, disse à IPS que esse recurso está sendo usado como arma de guerra pelos israelitas. “A água é um tema humanitário. Deveria ser retirado da política”, disse, lembrando que todos na região – israelitas, jordanos, libaneses e palestinos –, devem ter direito a esse recurso para suas necessidades básicas.
O funcionário disse que Israel continua destruindo infraestrutura essencial, como cisternas e poços, afectando as comunidades palestinas. A ocupação tem grande impacto em “nossa capacidade” de atender as necessidades domésticas, agrícolas e industriais dos palestinos, tanto agora como no futuro, afirmou Attili. “Para dizer de forma simples, o povo palestino está sedento de justiça, e exorta todos os Estados a exigirem de Israel, a potência ocupante, que ponha fim a esta situação injusta e deplorável”, ressaltou.
Ao falar, no dia 26, na última reunião da Semana Mundial da Água, em Estocolmo, Attilli disse: “Israel explora mais de 90% de nossos recursos compartilhados para seu próprio uso, enquanto exerce uma tremenda influência sobre os nossos restantes 10%. Não só nos nega nossa parte equitativa e razoável de água sob o direito internacional consuetudinário, como também impede os palestinos de desenvolverem infraestrutura essencial”.
No ano passado, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adoptou uma resolução reconhecendo o acesso a água e saneamento como um direito humano universal. Mas isto ainda está longe de ser aplicado aos palestinos. A resolução foi adoptada por uma esmagadora maioria de países, apesar da abstenção de Israel, junto com Austrália, Áustria, Canadá, Coreia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Irlanda, Japão, Luxemburgo e Suécia.
Em um informe crítico divulgado no mês passado, o Comité Especial da ONU para Investigar as Práticas israelitas nos Territórios Ocupados, expressou consternação pelo “contínuo desprezo (israelita) por suas obrigações sob o direito internacional”. O Comité, de três membros, após visitar os territórios ocupados, disse que, “lamentavelmente, o que descobrimos foi que as opressivas restrições impostas sobre Gaza por Israel tiveram o efeito de um castigo colectivo contra a população”.
Como cerca de 35% da terra em Gaza não pode ser usada para fins agrícolas, já que Israel criou uma zona de exclusão em sua fronteira, e as áreas de pesca estão limitadas a apenas três milhas náuticas da costa, a população de Gaza tem dificuldades para conseguir alimentos, e muito mais para reavivar a economia, concluiu o Comité. “Deve ser responsabilidade das potências ocupantes ajudar a reconstrução de Gaza”, acrescentou.
Além das casas, escolas e dos negócios destruídos, há uma urgente necessidade de se criar e reparar estações de tratamento de água, estradas, sistema de canalização e redes de energia, diz o Comitê. Em um documento apresentado na Assembleia Geral das Nações Unidas no ano passado, o observador permanente da Palestina para a ONU, Riyad H. Mansour, disse que, durante 42 anos, os territórios ocupados sofreram “todo tipo de crueldade, destruição e abuso nas mãos de Israel, a potência ocupante, que foi contra a vida, o sustento e os recursos dos palestinos”.
Estes abusos também afectam o direito dos palestinos terem acesso a água. Desde que Israel iniciou a ocupação, em 1967, violando o direito internacional, assumiu o controle de todos os recursos hídricos, incluindo a água na superfície, os aquíferos e o acesso à bacia do Rio Jordão, diz o documento. Attili afirmou à IPS que é hora de a comunidade internacional intervir para resolver o problema. Ao falar na capital sueca, alertou: “Não se enganem, pois não haverá um Estado palestino viável sem que possa acessar, controlar e administrar suficientes recursos hídricos para cobrir suas necessidades internas, presentes e futuras, agrícolas e industriais”.
“Sabemos o que a paz necessita. O que está faltando agora é vontade política. É isto que deve mudar, e espero que esta conferência ajude a tornar possíveis as transformações”, acrescentou Attili. Para ele, em certo sentido, os desafios dos palestinos em relação à água são os mesmos, ou similares, aos que enfrentam muitas outras nações. A disponibilidade de água é um tema primordial na Palestina. “Além de aguda escassez, também enfrentamos enormes problemas em termos de qualidade. Com o tempo, isto se agravou drasticamente”, afirmou Attilli, destacando que este ano é de particular importância para a Palestina, que espera ser admitida como Estado-membro das Nações Unidas no próximo mês.
MÍDIA - O jornalista argentino que já foi ator pornô.
Carol Pires
De Buenos Aires
Emilio Fernández Cicco é jornalista, mas também foi coveiro, caçador, assistente de boxe, anfitrião de tangos e ator pornô. Tudo pela profissão que leva a sério - ou não tanto assim -, a de repórter "border".
Border é como Cicco define o jornalismo que faz, sendo a primeira de suas regras viver a história ao invés de ouvir o relato de alguém. O texto, claro, também sai em primeira pessoa, sempre carregado de sarcasmo e sem nenhuma meia-palavra. "Acabo de me masturbar vendo Letícia Brédice por razões estritamente profissionais", começa um dos seus textos, publicado na Rolling Stone argentina sobre uma conhecida atriz e cantora.
Marcamos um encontro na Avenida Corrientes, no centro da cidade, na última quarta-feira. Saí de casa em busca de um tipo de cabeça raspada, magro, como vi nas fotos. Recebi uma mensagem: "Já cheguei. Estou de gorro e barba". E lá estava ele, não com uma simples barba, dessas apenas por fazer, mas sim uma longa barba tapando-lhe todo o pescoço.
Sentamos no El Gato Negro, um dos bares notáveis da cidade, e ele me explicou que não poderia comer nada, porque é mês de Ramadã e há dois anos ele segue a doutrina sufista, um segmento místico do islã. E isso não é para reportagem nenhuma, diga-se.
Cicco nasceu em Buenos Aires, mas mora em Lobos, uma cidade a 102 km da capital, onde nasceu o ex-presidente Juan Domingos Perón. Lá, foge das más energias da cidade grande, vive com a filha de um casamento anterior e logo receberá também sua nova mulher, uma muçulmana, que ele conheceu há menos de dois meses. "Quem é sufi não pode namorar muito tempo, tem que decidir se é ou não a pessoa certa em 45 dias", explica.
Formado em jornalismo pela Universidade de Belgrano, Cicco começou a trabalhar aos 18 anos na revista semanal Notícias. Hoje, aos 35, ele lembra dos colegas repórteres contando anedotas sobre seus entrevistados, de como aquele apresentador famoso maltratava os garçons, ou sobre como aquele outro ator falava besteiras. "Só que depois eu ia ler o texto, e nada disso estava lá".
Foi quando decidiu escrever reportagens mais descaradas. Fez uma série de reportagens sobre profissões malditas, e para descrever a vida de um coveiro, trabalhou no cemitério da Chacarita: chegou cedo, abriu uma cova sozinho, retirou os restos do cadáver que já estava lá, e até guardou um botão de camisa achado na terra de lembrança. "O que mais me chamou a atenção foi que os familiares não olham para o coveiro. Todo mundo passa, mas ninguém te olha, porque você ali representa a morte", conta.
Cicco me explica que o jornalismo border não é novo jornalismo, "porque isso é velho", e nem é jornalismo gonzo, "porque não sou Hunter S. Thompson".
Ele diz que, diferente do jornalismo gonzo popularizado nos Estados Unidos por Thompson, no "border" o repórter não precisa tornar-se o centro das atenções, pelo contrário: você vive a experiência, mas com discrição, para não alterar o ambiente investigado. Com uma tatuagem do jornalismo gonzo no braço direito, Cicco também discorda do seu ídolo Thompson em relação a drogas. Diz que já experimentou algumas para escrever sobre elas, mas não as usa para escrever.
Uma das matérias de Cicco mais comentadas e republicadas pelas revistas foi a "Segredos de um ator pornô". Nela, Cicco participa da quinta edição de uma série de 30 filmes só com atores debutantes, de um diretor conhecido do ramo chamado Maytland.
"Cada vez que alguém termina sua cena, dá uma palmada na bunda da atriz, se despede do diretor como se acabasse de marcar um gol, pega um papel e coloca sua assinatura: cinco cláusulas onde a gente autoriza que o diretor faça o quiser com nossa imagem. Em poucas palavras, você vende sua alma ao diabo. Eu vendi a minha e até agora ele não veio me cobrar. Deve estar com muito trabalho", diz um dos trechos, onde conta como funciona os bastidores de um filme pornô.
Cicco participa do filme com uma mulher e um homem casados e um outro ator também novato. Ele relata: "Para fazer meu personagem não estou obrigado a memorizar nada. Não tem conflito psicológico. Sou eu, nu, e coberto de pintas como um leopardo, aos pés de um sofá".
A matéria, publicada na revista argentina Notícias, acabou replicada na revista colombiana Gatopardo e em outras publicações no Chile e Peru. Cicco também ganhou um prêmio da indústria pornô por ter sido o primeiro jornalista a encarar a experiência para uma reportagem, e a matéria também virou título do seu quinto livro, "Yo fui un pornô star y otras crónicas de lujuria y demencia", sem tradução no Brasil.
Ele ainda pretende lançar-se candidato a deputado para escrever uma reportagem sobre eleições, e diz que já pensou em frequentar prostitutas para montar um ranking de atendimento ao consumidor, mas como a história do sufismo é séria, ele vai se casar em breve e pelo menos por enquanto as reportagens sobre luxúria ficaram para trás.
De Buenos Aires
Emilio Fernández Cicco é jornalista, mas também foi coveiro, caçador, assistente de boxe, anfitrião de tangos e ator pornô. Tudo pela profissão que leva a sério - ou não tanto assim -, a de repórter "border".
Border é como Cicco define o jornalismo que faz, sendo a primeira de suas regras viver a história ao invés de ouvir o relato de alguém. O texto, claro, também sai em primeira pessoa, sempre carregado de sarcasmo e sem nenhuma meia-palavra. "Acabo de me masturbar vendo Letícia Brédice por razões estritamente profissionais", começa um dos seus textos, publicado na Rolling Stone argentina sobre uma conhecida atriz e cantora.
Marcamos um encontro na Avenida Corrientes, no centro da cidade, na última quarta-feira. Saí de casa em busca de um tipo de cabeça raspada, magro, como vi nas fotos. Recebi uma mensagem: "Já cheguei. Estou de gorro e barba". E lá estava ele, não com uma simples barba, dessas apenas por fazer, mas sim uma longa barba tapando-lhe todo o pescoço.
Sentamos no El Gato Negro, um dos bares notáveis da cidade, e ele me explicou que não poderia comer nada, porque é mês de Ramadã e há dois anos ele segue a doutrina sufista, um segmento místico do islã. E isso não é para reportagem nenhuma, diga-se.
Cicco nasceu em Buenos Aires, mas mora em Lobos, uma cidade a 102 km da capital, onde nasceu o ex-presidente Juan Domingos Perón. Lá, foge das más energias da cidade grande, vive com a filha de um casamento anterior e logo receberá também sua nova mulher, uma muçulmana, que ele conheceu há menos de dois meses. "Quem é sufi não pode namorar muito tempo, tem que decidir se é ou não a pessoa certa em 45 dias", explica.
Formado em jornalismo pela Universidade de Belgrano, Cicco começou a trabalhar aos 18 anos na revista semanal Notícias. Hoje, aos 35, ele lembra dos colegas repórteres contando anedotas sobre seus entrevistados, de como aquele apresentador famoso maltratava os garçons, ou sobre como aquele outro ator falava besteiras. "Só que depois eu ia ler o texto, e nada disso estava lá".
Foi quando decidiu escrever reportagens mais descaradas. Fez uma série de reportagens sobre profissões malditas, e para descrever a vida de um coveiro, trabalhou no cemitério da Chacarita: chegou cedo, abriu uma cova sozinho, retirou os restos do cadáver que já estava lá, e até guardou um botão de camisa achado na terra de lembrança. "O que mais me chamou a atenção foi que os familiares não olham para o coveiro. Todo mundo passa, mas ninguém te olha, porque você ali representa a morte", conta.
Cicco me explica que o jornalismo border não é novo jornalismo, "porque isso é velho", e nem é jornalismo gonzo, "porque não sou Hunter S. Thompson".
Ele diz que, diferente do jornalismo gonzo popularizado nos Estados Unidos por Thompson, no "border" o repórter não precisa tornar-se o centro das atenções, pelo contrário: você vive a experiência, mas com discrição, para não alterar o ambiente investigado. Com uma tatuagem do jornalismo gonzo no braço direito, Cicco também discorda do seu ídolo Thompson em relação a drogas. Diz que já experimentou algumas para escrever sobre elas, mas não as usa para escrever.
Uma das matérias de Cicco mais comentadas e republicadas pelas revistas foi a "Segredos de um ator pornô". Nela, Cicco participa da quinta edição de uma série de 30 filmes só com atores debutantes, de um diretor conhecido do ramo chamado Maytland.
"Cada vez que alguém termina sua cena, dá uma palmada na bunda da atriz, se despede do diretor como se acabasse de marcar um gol, pega um papel e coloca sua assinatura: cinco cláusulas onde a gente autoriza que o diretor faça o quiser com nossa imagem. Em poucas palavras, você vende sua alma ao diabo. Eu vendi a minha e até agora ele não veio me cobrar. Deve estar com muito trabalho", diz um dos trechos, onde conta como funciona os bastidores de um filme pornô.
Cicco participa do filme com uma mulher e um homem casados e um outro ator também novato. Ele relata: "Para fazer meu personagem não estou obrigado a memorizar nada. Não tem conflito psicológico. Sou eu, nu, e coberto de pintas como um leopardo, aos pés de um sofá".
A matéria, publicada na revista argentina Notícias, acabou replicada na revista colombiana Gatopardo e em outras publicações no Chile e Peru. Cicco também ganhou um prêmio da indústria pornô por ter sido o primeiro jornalista a encarar a experiência para uma reportagem, e a matéria também virou título do seu quinto livro, "Yo fui un pornô star y otras crónicas de lujuria y demencia", sem tradução no Brasil.
Ele ainda pretende lançar-se candidato a deputado para escrever uma reportagem sobre eleições, e diz que já pensou em frequentar prostitutas para montar um ranking de atendimento ao consumidor, mas como a história do sufismo é séria, ele vai se casar em breve e pelo menos por enquanto as reportagens sobre luxúria ficaram para trás.
LÍBIA - Para missionários, a situação é insustentável.
Muitos cidadãos líbios e as inúmeras comunidades de migrantes que vivem os últimos focos de guerrilha urbana pró e antirregime estão em situação de perigo.
A reportagem é de Michelangelo Nasca, publicada no sítio Vatican Insider, 27-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Embora tenham cessado os confrontos armados e os violentos bombardeios – informa aos microfones da Misna o padre Allan Arcebuche, missionário filipino e responsáveis de projetos da Cáritas em Tripoli – "reina um clima de tensão e de psicose, enquanto aumentam, para os habitantes, as dificuldades para encontrar os gêneros de primeira necessidade".
O grande número de feridos, especialmente de crianças, torna difícil o trabalho nos hospitais. O conselho nacional de transição dos insurgentes controla todos os cantos da capital líbia, em busca dos atiradores de elite que se mantiveram fiéis a Kadafi. "A partir das informações que pudemos coletar em fontes médicas – diz o padre Allan Arcebuche –, as violências provocaram pelo menos 500 vítimas e 2.000 feridos, tanto da parte dos insurgentes, quanto dos fiéis ao coronel Muammar Kadafi".
Trípoli, nestas horas, está desprovida de qualquer controle e segurança urbana. Atos de vandalismo, furtos e saques perpetrados contra a população estão se tornando cada vez mais frequentes e difíceis de gerir. A Igreja e o Convento de São Francisco, no distrito de Bahar, também foram saqueados na segunda-feira passada por homens armados que entraram nos locais às 4h da manhã. "Eles disseram que queriam subir no telhado para verificar se atiradores haviam se posicionado ali – diz o padre Arcebuche melancolicamente –, mas depois roubaram alguns objetos e destruíram imagens sacras na Igreja".
Para a 400 mil trabalhadores estrangeiros que trabalham na Líbia e as suas famílias, conclui o missionário filipino, "existe o perigo dos combates, a impossibilidade de trabalhar, a falta de alimentos, de gasolina, os boatos sobre o suposto envenenamento da água potável em Trípoli. Precisamos de ajuda!".
Fonte: IHU
A reportagem é de Michelangelo Nasca, publicada no sítio Vatican Insider, 27-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Embora tenham cessado os confrontos armados e os violentos bombardeios – informa aos microfones da Misna o padre Allan Arcebuche, missionário filipino e responsáveis de projetos da Cáritas em Tripoli – "reina um clima de tensão e de psicose, enquanto aumentam, para os habitantes, as dificuldades para encontrar os gêneros de primeira necessidade".
O grande número de feridos, especialmente de crianças, torna difícil o trabalho nos hospitais. O conselho nacional de transição dos insurgentes controla todos os cantos da capital líbia, em busca dos atiradores de elite que se mantiveram fiéis a Kadafi. "A partir das informações que pudemos coletar em fontes médicas – diz o padre Allan Arcebuche –, as violências provocaram pelo menos 500 vítimas e 2.000 feridos, tanto da parte dos insurgentes, quanto dos fiéis ao coronel Muammar Kadafi".
Trípoli, nestas horas, está desprovida de qualquer controle e segurança urbana. Atos de vandalismo, furtos e saques perpetrados contra a população estão se tornando cada vez mais frequentes e difíceis de gerir. A Igreja e o Convento de São Francisco, no distrito de Bahar, também foram saqueados na segunda-feira passada por homens armados que entraram nos locais às 4h da manhã. "Eles disseram que queriam subir no telhado para verificar se atiradores haviam se posicionado ali – diz o padre Arcebuche melancolicamente –, mas depois roubaram alguns objetos e destruíram imagens sacras na Igreja".
Para a 400 mil trabalhadores estrangeiros que trabalham na Líbia e as suas famílias, conclui o missionário filipino, "existe o perigo dos combates, a impossibilidade de trabalhar, a falta de alimentos, de gasolina, os boatos sobre o suposto envenenamento da água potável em Trípoli. Precisamos de ajuda!".
Fonte: IHU
LULA VIAJA À BOLÍVIA PARA INTERCEDER JUNTO A EVO MORALES
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Bolívia, Evo Morales, se encontram hoje na cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra. Eles devem discutir o impasse em torno de uma estrada financiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no país vizinho.
A reportagem é de Fabio Murakawa e publicada pelo jornal Valor, 29-08-2011.
Lula e Morales são as principais estrelas de um seminário com líderes de entidades empresariais bolivianas, no qual o ex-presidente proferirá uma palestra sob o tema "Integração Regional e Desenvolvimento Social dos Países Latino-Americanos". O evento é patrocinado pela construtora brasileira OAS, responsável pela obra viária que ligará os Departamentos de Beni e Cochabamba, cortando ao meio um território indígena em um de seus trechos. O líder boliviano também falará. A visita do ex-presidente também coincide com a estreia no país do filme "Lula, o Filho do Brasil".
Após as palestras, Lula e Morales terão um encontro reservado. O governo boliviano não divulgou os tópicos da conversa entre os dois, mas o Valor apurou que o tema principal do encontro será a rodovia de 306 km, orçada em US$ 415 milhões, US$ 332 milhões dos quais financiados pelo BNDES. O embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Biato, e o diretor-superintendente da área internacional da OAS, Augusto César Uzêda, também estarão em Santa Cruz.
Segundo fontes familiarizadas ao tema, Lula tentará convencer Morales a adotar uma postura menos beligerante em relação aos indígenas, que se recusam a permitir que o trecho 2 da rodovia atravesse o seu território.
Os índios promovem há cerca de duas semanas uma marcha rumo a La Paz em protesto contra a estrada. Eles dizem não ter sido consultados sobre o trecho de 177 quilômetros que atravessará o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis) e temem o avanço de colonos e cocaleiros sobre a reserva. Para aumentar o clima de desconfiança dos indígenas, o governo admitiu neste mês que estudos apontam para a existência de petróleo na região.
Morales, por sua vez, vem atacando os nativos, acusando-os de estarem a serviço de ONGs estrangeiras com interesses na região e dos Estados Unidos, além de traficarem madeira.
O presidente chegou, inclusive, a divulgar em uma aparição na TV registros com telefonemas "suspeitos" entre lideranças indígenas e a embaixada americana. O conselheiro da embaixada William Mozdzierz foi chamado pelo governo a dar explicações.
O Valor apurou que, na avaliação do governo brasileiro e da própria OAS, a postura de Morales só dificulta o entendimento entre seu governo e os índios, o que coloca em risco o andamento das obras da estrada - fruto de um acordo costurado em 2008 por Lula, em seu segundo mandato, e o presidente boliviano.
"Lula é um conciliador por natureza. Ele vai tentar mostrar ao presidente Evo Morales que acirrar os ânimos com os indígenas só dificulta o seu objetivo principal, que é o de concluir a estrada", disse uma fonte do governo brasileiro.
Outra missão de Lula será acalmar Morales sobre rumores de que o BNDES está retendo o financiamento à rodovia por conta da falta de acordo com os indígenas, disse outra fonte. O banco brasileiro ainda não fez nenhum desembolso relacionado à obra, alegando que as obras recém começaram e que as verbas são liberadas de acordo com a execução dos trabalhos.
Os indígenas, por outro lado, vêm pressionando o governo brasileiro para que o dinheiro do BNDES não chegue. Há duas semanas, dezenas de manifestantes fizeram um protesto em frente à embaixada brasileira em La Paz, gritando palavras de ordem contra a estrada e acusando a postura "imperialista" do Brasil. Uma comissão de lideranças indígenas chegou a ser recebida pelo embaixador Marcel Biato e pediu, sem sucesso, que o diplomata intermediasse contatos entre eles e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, além de representantes do BNDES.
O encontro de hoje entre Lula e Morales foi precedido de outra reunião, na última sexta-feira, entre o presidente da Bolívia e o diretor da OAS Uzêda, em La Paz. O Valor apurou que a empreiteira vem cobrando o governo boliviano por um atraso de US$ 60 milhões em repasses da agência estatal Administradora Boliviana de Carreteras relacionados à estrada.
Em entrevista ao Valor, Uzêda confirmou o encontro com Morales, mas negou que houvesse atrasos e que a estrada boliviana estivesse em pauta. "Vamos discutir outros projetos de nosso interesse na Bolívia", afirmou.
As obras da estrada, que ligará San Ignácio de Moxos (Beni) a Villa Tucunari (Cochabamba), já começaram em seus trechos 1 e 3, nos dois extremos da rodovia. O trecho principal, no entanto, é 2, que atravessa o Tipnis - uma reserva indígena de 1 milhão de hectares, onde vivem de 10 mil a 12 mil indígenas de três diferentes etnias.
O trecho 2 responde por cerca de 40% do valor total da estrada e tem o início dos trabalhos marcado para 2012. A conclusão da estrada está prevista para 2014
A reportagem é de Fabio Murakawa e publicada pelo jornal Valor, 29-08-2011.
Lula e Morales são as principais estrelas de um seminário com líderes de entidades empresariais bolivianas, no qual o ex-presidente proferirá uma palestra sob o tema "Integração Regional e Desenvolvimento Social dos Países Latino-Americanos". O evento é patrocinado pela construtora brasileira OAS, responsável pela obra viária que ligará os Departamentos de Beni e Cochabamba, cortando ao meio um território indígena em um de seus trechos. O líder boliviano também falará. A visita do ex-presidente também coincide com a estreia no país do filme "Lula, o Filho do Brasil".
Após as palestras, Lula e Morales terão um encontro reservado. O governo boliviano não divulgou os tópicos da conversa entre os dois, mas o Valor apurou que o tema principal do encontro será a rodovia de 306 km, orçada em US$ 415 milhões, US$ 332 milhões dos quais financiados pelo BNDES. O embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Biato, e o diretor-superintendente da área internacional da OAS, Augusto César Uzêda, também estarão em Santa Cruz.
Segundo fontes familiarizadas ao tema, Lula tentará convencer Morales a adotar uma postura menos beligerante em relação aos indígenas, que se recusam a permitir que o trecho 2 da rodovia atravesse o seu território.
Os índios promovem há cerca de duas semanas uma marcha rumo a La Paz em protesto contra a estrada. Eles dizem não ter sido consultados sobre o trecho de 177 quilômetros que atravessará o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis) e temem o avanço de colonos e cocaleiros sobre a reserva. Para aumentar o clima de desconfiança dos indígenas, o governo admitiu neste mês que estudos apontam para a existência de petróleo na região.
Morales, por sua vez, vem atacando os nativos, acusando-os de estarem a serviço de ONGs estrangeiras com interesses na região e dos Estados Unidos, além de traficarem madeira.
O presidente chegou, inclusive, a divulgar em uma aparição na TV registros com telefonemas "suspeitos" entre lideranças indígenas e a embaixada americana. O conselheiro da embaixada William Mozdzierz foi chamado pelo governo a dar explicações.
O Valor apurou que, na avaliação do governo brasileiro e da própria OAS, a postura de Morales só dificulta o entendimento entre seu governo e os índios, o que coloca em risco o andamento das obras da estrada - fruto de um acordo costurado em 2008 por Lula, em seu segundo mandato, e o presidente boliviano.
"Lula é um conciliador por natureza. Ele vai tentar mostrar ao presidente Evo Morales que acirrar os ânimos com os indígenas só dificulta o seu objetivo principal, que é o de concluir a estrada", disse uma fonte do governo brasileiro.
Outra missão de Lula será acalmar Morales sobre rumores de que o BNDES está retendo o financiamento à rodovia por conta da falta de acordo com os indígenas, disse outra fonte. O banco brasileiro ainda não fez nenhum desembolso relacionado à obra, alegando que as obras recém começaram e que as verbas são liberadas de acordo com a execução dos trabalhos.
Os indígenas, por outro lado, vêm pressionando o governo brasileiro para que o dinheiro do BNDES não chegue. Há duas semanas, dezenas de manifestantes fizeram um protesto em frente à embaixada brasileira em La Paz, gritando palavras de ordem contra a estrada e acusando a postura "imperialista" do Brasil. Uma comissão de lideranças indígenas chegou a ser recebida pelo embaixador Marcel Biato e pediu, sem sucesso, que o diplomata intermediasse contatos entre eles e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, além de representantes do BNDES.
O encontro de hoje entre Lula e Morales foi precedido de outra reunião, na última sexta-feira, entre o presidente da Bolívia e o diretor da OAS Uzêda, em La Paz. O Valor apurou que a empreiteira vem cobrando o governo boliviano por um atraso de US$ 60 milhões em repasses da agência estatal Administradora Boliviana de Carreteras relacionados à estrada.
Em entrevista ao Valor, Uzêda confirmou o encontro com Morales, mas negou que houvesse atrasos e que a estrada boliviana estivesse em pauta. "Vamos discutir outros projetos de nosso interesse na Bolívia", afirmou.
As obras da estrada, que ligará San Ignácio de Moxos (Beni) a Villa Tucunari (Cochabamba), já começaram em seus trechos 1 e 3, nos dois extremos da rodovia. O trecho principal, no entanto, é 2, que atravessa o Tipnis - uma reserva indígena de 1 milhão de hectares, onde vivem de 10 mil a 12 mil indígenas de três diferentes etnias.
O trecho 2 responde por cerca de 40% do valor total da estrada e tem o início dos trabalhos marcado para 2012. A conclusão da estrada está prevista para 2014
domingo, 28 de agosto de 2011
MÍDIA - Até tu BBC!
http://youtu.be/vViUQnxfbJA
Autor:
Steve Watson
Por Stanilaw Calandreli
BBC: British Brain Control
A verdade é que não há alegria em Trípoli, porque até mesmo o maior dos estúpidos percebe que seu país foi tomado por um golpe de estado ocidental.
Pergunta: Se não há júbilo então onde exatamente você conseguiu essas filmagens para a TV mostrando uma enorme multidão feliz na "Praça Verde" de Trípoli? (Logo será renomeada "Praça dos Mártires" por um roteirista da CIA.)
Resposta: É só pegar algumas imagens de arquivo de uma manifestação na Índia totalmente indiferente com a história em Trípoli, gravar na tela "ao vivo" e dizer aos idiotas que assistem que aquilo é Trípoli. Essas pessoas todas têm a mesma aparência, de qualquer maneira, certo?
Esse é o pessoal da BBC.
E as pessoas se preocupam se os blogs são uma fonte confiável de informações.
Steve Watson
Prisonplanet.com
28 de agosto de 2011
Pois o que vale a pena aqui é a resposta da BBC sobre a filmagem apresentada em 24 de agosto, mostrando uma reunião na Índia, com pessoas agitando bandeiras indianas, como se fosse as imagens de celebrações na Praça Verde em Tripoli:
Caro Sr. Watson,
Obrigado por nos contatar sobre o programa 'Breakfast' transmitido em 24 de Agosto pela BBC One.
Entendemos sua preocupação com a filmagem incorreta que foi mostrada durante um relatório sobre os últimos desenvolvimentos em Trípoli, e que imagens da Índia foram transmitidas em seu lugar.
Nós enviamos a sua reclamação para os editores do 'Breakfast', que em resposta explicaram terem percebido dentro de momentos que estavam mostrando o filme errado e rapidamente o tiraram do ar.
Eles também se desculparam imediatamente, e informaram que o problema foi causado por uma confusão de um "feed" enviado ao centro de televisão pelas agências internacionais.
Pedimos desculpas por qualquer preocupação que isso possa ter causado e gostaríamos de assegurar-lhe que o seu feedback foi registrado em nosso registro de audiência. Este é um relatório diário de feedback público que é feito disponível a todas as equipes de trabalho da BBC, inclusive aos membros do Conselho Executivo da BBC, os criadores de programas, controladores de canais e aos gerentes superiores. Os registros do público são vistos como importantes documentos que podem ajudar a formar as decisões sobre a programação futura e conteúdo.
Obrigado novamente por dedicar seu tempo nos contatando.
Finalmente, Anexei um convite do Chefe do Serviço de Audiência da BBC, pedindo-lhe para participar de nossa pesquisa de satisfação. Nós seríamos gratos pela sua opinião sobre o nosso serviço.
Kind Regards
Robert Regan
Reclamações BBC
www.bbc.co.uk /complaints
Então, em resumo: Desculpe, nós ficamos "confusos". Aqui está o vídeo da transmissão:
Autor:
Steve Watson
Por Stanilaw Calandreli
BBC: British Brain Control
A verdade é que não há alegria em Trípoli, porque até mesmo o maior dos estúpidos percebe que seu país foi tomado por um golpe de estado ocidental.
Pergunta: Se não há júbilo então onde exatamente você conseguiu essas filmagens para a TV mostrando uma enorme multidão feliz na "Praça Verde" de Trípoli? (Logo será renomeada "Praça dos Mártires" por um roteirista da CIA.)
Resposta: É só pegar algumas imagens de arquivo de uma manifestação na Índia totalmente indiferente com a história em Trípoli, gravar na tela "ao vivo" e dizer aos idiotas que assistem que aquilo é Trípoli. Essas pessoas todas têm a mesma aparência, de qualquer maneira, certo?
Esse é o pessoal da BBC.
E as pessoas se preocupam se os blogs são uma fonte confiável de informações.
Steve Watson
Prisonplanet.com
28 de agosto de 2011
Pois o que vale a pena aqui é a resposta da BBC sobre a filmagem apresentada em 24 de agosto, mostrando uma reunião na Índia, com pessoas agitando bandeiras indianas, como se fosse as imagens de celebrações na Praça Verde em Tripoli:
Caro Sr. Watson,
Obrigado por nos contatar sobre o programa 'Breakfast' transmitido em 24 de Agosto pela BBC One.
Entendemos sua preocupação com a filmagem incorreta que foi mostrada durante um relatório sobre os últimos desenvolvimentos em Trípoli, e que imagens da Índia foram transmitidas em seu lugar.
Nós enviamos a sua reclamação para os editores do 'Breakfast', que em resposta explicaram terem percebido dentro de momentos que estavam mostrando o filme errado e rapidamente o tiraram do ar.
Eles também se desculparam imediatamente, e informaram que o problema foi causado por uma confusão de um "feed" enviado ao centro de televisão pelas agências internacionais.
Pedimos desculpas por qualquer preocupação que isso possa ter causado e gostaríamos de assegurar-lhe que o seu feedback foi registrado em nosso registro de audiência. Este é um relatório diário de feedback público que é feito disponível a todas as equipes de trabalho da BBC, inclusive aos membros do Conselho Executivo da BBC, os criadores de programas, controladores de canais e aos gerentes superiores. Os registros do público são vistos como importantes documentos que podem ajudar a formar as decisões sobre a programação futura e conteúdo.
Obrigado novamente por dedicar seu tempo nos contatando.
Finalmente, Anexei um convite do Chefe do Serviço de Audiência da BBC, pedindo-lhe para participar de nossa pesquisa de satisfação. Nós seríamos gratos pela sua opinião sobre o nosso serviço.
Kind Regards
Robert Regan
Reclamações BBC
www.bbc.co.uk /complaints
Então, em resumo: Desculpe, nós ficamos "confusos". Aqui está o vídeo da transmissão:
ECONOMIA - O programa sem corpo nem alma dos pais do Real.
Por Ernesto Camelo
VINICIUS TORRES FREIRE
Um programa de oposição radical
Para economistas tucanos, 'transição completa' do país depende de privatização ampla, geral e irrestrita
ECONOMISTAS UM dia associados ao governo tucano e a FHC têm um programa contra "tudo isso que está aí", como dizia o PT nos tempos fernandinos.
É um programa de oposição ao desenvolvimentismo acidental dos petistas. À herança econômica do estatismo militar (1964-85). À ideia de implantar um Estado de bem-estar social no Brasil, "à moda europeia"; à Carta de 1988.
Linhas de força desse "programa" foram apresentadas em seminário do Instituto FHC, na semana passada. Os expositores eram André Lara Rezende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan e Pérsio Arida.
O seminário era um debate intelectual, não reunião partidária, claro. Mas o que se pregava por lá?
Primeiro, redução de gasto público e impostos de modo a permitir o aumento da poupança, do poder de decisão privado sobre poupança e investimento e, de quebra, a queda dos juros.
Não se trata só da ladainha sobre gasto excessivo e inflação. Não se trata de coisa pequena, mas:
1) da limitação legal da despesa pública (ideia de Malan);
2) de equilíbrio orçamentário que dê conta não só do deficit anual (2,2% do PIB) mas ainda da monstruosa rolagem da dívida que deveria ser amortizada anualmente (17% do PIB. Ideia de Franco);
3) de reforma fiscal-constitucional que reconhecesse a ilusão de que poderemos ter um "welfare state" europeu (Malan e
Franco).
Segundo, propôs-se privatização, claro. Mas não só de empresas restantes ou da infraestrutura de serviços públicos. De um modo metafórico, mas não muito, propôs-se a "privatização" das reservas internacionais (ativos e moedas conversíveis comprados pelo BC, grosso modo dólares).
Isto é, sugeriu-se a liberdade geral de manter moeda no exterior (o que, hoje, pouparia o governo/BC de gastar na compra de dólares a fim de conter a valorização do real).
Em suma, pede-se a abertura da fronteira final das finanças (ideias de Franco e Arida), o que redundaria num mercado de câmbio mais equilibrado, além de reduzir ineficiências e incertezas que prejudicam investimentos do e no Brasil etc.
Propôs-se privatizar os recursos ou a gestão dos fundos de poupança obrigatória, como FGTS e FAT (Arida e Franco). Ou dar cabo do crédito dirigido por leis ou pelo governo (o dinheiro da poupança para habitação; o crédito rural).
Em 2010, o FGTS bancou investimentos de R$ 45 bilhões (63% em habitação, 24% em infraestrutura, 10% em saneamento). Dos R$ 41 bilhões do FAT, 50% foram para seguro-desemprego, 21,5% para o abono salarial e 11,5% para o BNDES.
Franco e Arida dizem que tais fundos expropriam o trabalhador (não rendem de fato quase nada) e beneficiam empresários com empréstimos baratinhos ("fisiologia industrial", no dizer de Franco). Além do mais, distorcem o mercado de crédito e impedem a queda dos juros. Sob gestão livre e privada, renderiam mais para os trabalhadores; a alocação de capital seria mais eficiente no país.
É um programa radical. É ignorado pela oposição, se é que os tacanhos tucanos do PSDB de hoje ainda merecem tal nome.
Politicamente, o "programa" não tem corpo nem alma. Mas é um bom debate num país em que o mercado é atravancado e o Estado está fora do lugar.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2808201105.htm
VINICIUS TORRES FREIRE
Um programa de oposição radical
Para economistas tucanos, 'transição completa' do país depende de privatização ampla, geral e irrestrita
ECONOMISTAS UM dia associados ao governo tucano e a FHC têm um programa contra "tudo isso que está aí", como dizia o PT nos tempos fernandinos.
É um programa de oposição ao desenvolvimentismo acidental dos petistas. À herança econômica do estatismo militar (1964-85). À ideia de implantar um Estado de bem-estar social no Brasil, "à moda europeia"; à Carta de 1988.
Linhas de força desse "programa" foram apresentadas em seminário do Instituto FHC, na semana passada. Os expositores eram André Lara Rezende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan e Pérsio Arida.
O seminário era um debate intelectual, não reunião partidária, claro. Mas o que se pregava por lá?
Primeiro, redução de gasto público e impostos de modo a permitir o aumento da poupança, do poder de decisão privado sobre poupança e investimento e, de quebra, a queda dos juros.
Não se trata só da ladainha sobre gasto excessivo e inflação. Não se trata de coisa pequena, mas:
1) da limitação legal da despesa pública (ideia de Malan);
2) de equilíbrio orçamentário que dê conta não só do deficit anual (2,2% do PIB) mas ainda da monstruosa rolagem da dívida que deveria ser amortizada anualmente (17% do PIB. Ideia de Franco);
3) de reforma fiscal-constitucional que reconhecesse a ilusão de que poderemos ter um "welfare state" europeu (Malan e
Franco).
Segundo, propôs-se privatização, claro. Mas não só de empresas restantes ou da infraestrutura de serviços públicos. De um modo metafórico, mas não muito, propôs-se a "privatização" das reservas internacionais (ativos e moedas conversíveis comprados pelo BC, grosso modo dólares).
Isto é, sugeriu-se a liberdade geral de manter moeda no exterior (o que, hoje, pouparia o governo/BC de gastar na compra de dólares a fim de conter a valorização do real).
Em suma, pede-se a abertura da fronteira final das finanças (ideias de Franco e Arida), o que redundaria num mercado de câmbio mais equilibrado, além de reduzir ineficiências e incertezas que prejudicam investimentos do e no Brasil etc.
Propôs-se privatizar os recursos ou a gestão dos fundos de poupança obrigatória, como FGTS e FAT (Arida e Franco). Ou dar cabo do crédito dirigido por leis ou pelo governo (o dinheiro da poupança para habitação; o crédito rural).
Em 2010, o FGTS bancou investimentos de R$ 45 bilhões (63% em habitação, 24% em infraestrutura, 10% em saneamento). Dos R$ 41 bilhões do FAT, 50% foram para seguro-desemprego, 21,5% para o abono salarial e 11,5% para o BNDES.
Franco e Arida dizem que tais fundos expropriam o trabalhador (não rendem de fato quase nada) e beneficiam empresários com empréstimos baratinhos ("fisiologia industrial", no dizer de Franco). Além do mais, distorcem o mercado de crédito e impedem a queda dos juros. Sob gestão livre e privada, renderiam mais para os trabalhadores; a alocação de capital seria mais eficiente no país.
É um programa radical. É ignorado pela oposição, se é que os tacanhos tucanos do PSDB de hoje ainda merecem tal nome.
Politicamente, o "programa" não tem corpo nem alma. Mas é um bom debate num país em que o mercado é atravancado e o Estado está fora do lugar.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2808201105.htm
ECONOMIA - O que são os mercados e a especulação financeira?
Os mercados financeiros estão em todos os lados, mas em geral ainda há um amplo desconhecimento acerca do que são realmente e de como funcionam. Breves notas que possam ajudar a resolver dúvidas. Por Alberto Garzón Espinosa, Conselho Científico da ATTAC.
A única lógica do capital financeiro é procurar as oportunidades de maior rentabilidade e, se possível, criá-las.
Entre todos os conceitos que agora pululam em todos os debates políticos, que antes estavam praticamente reservados aos debates técnicos entre economistas, há um de especial interesse que convém ajudar a clarificar: o de mercados financeiros. Efectivamente, hoje os mercados financeiros estão em todos os lados (televisão, imprensa e inclusivamente nos bares), mas em geral ainda há um amplo desconhecimento acerca do que são realmente e de como funcionam. Por isso decidi fazer umas breves notas que possam ajudar a resolver algumas dúvidas importantes.
O que é um mercado?
Em primeiro lugar convém recordar que o termo mercado faz referência ao espaço, físico ou virtual, onde compradores e vendedores de algum bem ou serviço se encontram. Isto é, existe mercado onde se trocarem produtos entre duas partes, a que os compra e a que os vende, e portanto qualquer produto tem o seu mercado. Isso significa que se nós queremos vender o nosso velho livro de economia neoclássica, por já não nos servir, o que temos de fazer é ir a um mercado onde possamos encontrar compradores para o mesmo. Logicamente não vamos ao banco vendê-lo. O que fazemos é procurar um mercado de livros em segunda mão. Quando vamos directamente à livraria de segunda mão, o que estamos a fazer é ir a um mercado, o dos livros em segunda mão, porque sabemos que essa livraria actuará como intermediário. A livraria encarrega-se de reunir compradores e vendedores e de tratar de ir realizando transacções em troca duma comissão. A livraria compra-nos o livro a 5 euros e vende-o a 7 euros. Actua como intermediário e como criador de mercado, dado que em si mesma a livraria é o mercado. Pode haver muitas mais livrarias desse tipo na mesma cidade, e inclusivamente livrarias online, e ao negócio completo chamamos em abstracto o “mercado de livros em segunda mão”.
A liquidez e o preço num mercado
Quanta mais participação houver num mercado, maior capacidade teremos nós para poder comprar e vender os nossos bens e serviços. Se acontece haver poucos vendedores e poucos compradores de livros, o mercado será lento e ineficiente. Se queremos vender o nosso manual de economia neoclássica e acontece que dentro dos poucos compradores potenciais de livros não há nenhum a quem interesse a economia, não poderemos realizar a venda. Isso significa que continuaremos a esperar um comprador com o livro na mão. Diz-se então que o mercado é pouco líquido, quer dizer, que a capacidade de converter os bens em dinheiro constante e sonante é muito reduzida. Se, pelo contrário, houvesse muitos vendedores e muitos compradores, seria bem mais simples encontrar outra pessoa que quisesse o livro, pelo que talvez em muito pouco tempo obtivéssemos o dinheiro.
E da relação entre o número de compradores e o número de vendedores surgem os preços. A partir da seguinte regra: para maior procura, maior preço (e para maior oferta, menor preço). Se, por exemplo, vamos com o nosso livro de economia a uma livraria especializada em física é provável que não encontremos compradores e que o intermediário - sabedor disso - não queira comprar-nos o livro ou nos ofereça por ele um preço muito baixo, digamos de 1 euro. Se ao invés nos dirigirmos a uma livraria especializada em economia então ali sim terá muitos compradores e, portanto, procura. Se quiséssemos vender o livro directamente aos compradores estes competiriam entre si para oferecer o melhor preço com que nos convencer. Exactamente como num leilão. Assim o intermediário - sabedor disso também - oferecer-nos-á pelo nosso livro um preço bem mais alto, digamos de 5 euros.
Cada mercado tem os seus participantes
No mercado de livros em segunda mão costumam participar unicamente indivíduos particulares que desejam comprar e vender livros, mas não participam bancos, empresas ou agentes económicos maiores. Isto porque cada mercado costuma ter o seu próprio tipos de participantes. O mercado imobiliário, por exemplo, faz referência ao espaço onde se encontram compradores e vendedores de casas. Aí já não só encontramos particulares como também encontramos em ambas as partes (do comprador e vendedor) bancos, grandes empresas ou inclusivamente o Estado. Todos esses agentes negoceiam os preços com que comprarão e venderão as casas.
E isto é muito importante porque todos esses agentes que não são indivíduos, e pelo seu poder económico, podem modificar o mercado com facilidade. Precisamente porque têm a capacidade económica, já que manejam grandes somas de dinheiro, podem comprar e vender de forma estratégica, procurando ser favorecidos nas transacções. Por exemplo, os bancos actualmente têm em Espanha grandes existências de moradias à venda mas que não conseguem vender. Mas em Espanha também há gente que quer comprar casas. A chave está em que os preços de oferta e os preços de procura não coincidem, quer dizer, aquilo por que os compradores estão dispostos a pagar é muito menos do que aquilo porque os vendedores estão dispostos a vender. Se os bancos baixassem os preços das casas, então os compradores poderiam estar de acordo. Os bancos, além disso, reduzem artificialmente a oferta de moradias ao não pôr à venda muitas das casas que têm, criando dessa forma uma escassez aparente para manter os preços altos.
E isto é crucial. Quando há poucos participantes no mercado (numa das partes) ou um participante é muito poderoso economicamente pode influir muito em como evoluem as transacções. Digamos que pode influir na oferta e na procura e portanto nos preços. Os três ou quatro bancos maiores podem pôr-se de acordo para não baixar os preços das casas e manter-se à espera que os compradores se atrevam a oferecer mais, ou então podem também comprar em massa casas para elevar artificialmente o preço (já que sobe a procura).
O mercado de dívida pública
Todos os mercados a que antes fizemos referência são mercados de bens físicos. Agora vamos entrar nos mercados financeiros, isto é, naqueles em que se negoceiam títulos que implicam compromissos futuros de pagamento. O mais conhecido pela sua radiante actualidade é o mercado de dívida pública.
O mercado de dívida pública é o mercado onde se encontram, por um lado, os países que precisam de financiamento e, por outro, os investidores que estão dispostos a proporcionar-lhes esse financiamento. Já sabemos que quando um Estado tem défice (menores rendimentos do que gastos) precisa de pedir prestado e uma das formas para o fazer é emitir títulos de dívida pública. Esses títulos que emite são comprados por investidores que o que fazem na realidade é emprestar ao Estado esse dinheiro em troca de, num prazo de tempo determinado, o Estado lhes devolver esse dinheiro juntamente com uma percentagem de juros. À percentagem de juros chama-se rentabilidade.
Como todos os Estados têm necessidade de endividar-se, o mercado de dívida pública está sempre muito activo, especialmente em tempos de crise. Há muita oferta (títulos de dívida pública de diferentes países) e muita procura (investidores que procuram rentabilidade segura, já que se supõe que os títulos de dívida pública são os mais seguros; se o Estado não paga é porque a coisa está mesmo mal). E neste mercado os participantes são fundamentalmente os grandes investidores financeiros (banca e fundos de investimento geridos por eles), e já não tanto os particulares (que de qualquer forma podem participar).
Se nós formos o gestor de um fundo de investimento de um banco, isto é, uma pessoa que tem a seu cargo uma grande quantidade de dinheiro que quer revalorizar, isto é, converter em mais dinheiro, temos de avaliar se nos convém investir no mercado de dívida pública. E se decidimos que sim, devemos também decidir que títulos concretos de dívida pública comprar. Por isso vamos ao mercado de dívida pública e vemos o que oferecem os diferentes países.
O sistema de venda de títulos é por leilões, embora haja vários tipos de leilões, assim como também há vários tipos de títulos e vencimentos (prazos de devolução), portanto cada país oferece um preço pelos seus títulos de dívida. Os investidores procuram sempre os títulos mais baratos porque são os que oferecem mais rentabilidade. Segue-se o seguinte raciocínio: um menor preço reflecte mais insegurança e maior rentabilidade. Se o preço é baixo significa que há poucos compradores e isso as pessoas não confiam suficientemente que se lhes devolva o dinheiro, pelo que esses compradores exigem uma rentabilidade mais alta. Se um país, por exemplo Espanha, oferece títulos e ao leilão vão poucos compradores, então terá de baixar o preço dos seus títulos e, portanto, subirá a rentabilidade dos mesmos, isto é, pagará mais por conta dos juros por cada título que venda aos investidores.
Na realidade, cada país está a fazer os seus leilões e a chamar dessa forma os investidores. E os resultados desses leilões são diferentes segundo os países, diferenças das quais nascem conceitos como o de “prémio de risco” (que quantifica a diferença de rentabilidade oferecida pelos países em relação à Alemanha, que é o país com economia mais sólida). Supõe-se então que os preços dos títulos reflectem os fundamentos da economia ou, mais concretamente, a capacidade que cada país tem para devolver o dinheiro. Mas na realidade não depende só disso.
A especulação no mercado de dívida pública
Sabemos então que, por um lado, temos oferta (países) e por outro lado procura (os investidores), que se reúnem no mercado de dívida pública para negociar. Uns procuram financiamento e outros oferecem-no em troca de uma percentagem em juros e do compromisso da devolução do dinheiro emprestado. E, como em qualquer mercado, também se pode influir nele para criar melhores condições que nos favoreçam.
Suponhamos agora que eu sou um investidor. Concretamente sou George Soros, gestor de um fundo de investimento multimilionário. Levanto-me pela manhã e vejo nos ecrãs do meu escritório como estão os indicadores fundamentais da economia (crescimento, inflação, etc.), as notícias de última hora (as declarações dos governos, por exemplo), os leilões de dívida pública programados para hoje e também os mercados secundários de dívida pública (que são os lugares onde se compram e vendem os títulos de dívida pública pela segunda e mais vezes; como os livros em segunda mão, só que em títulos). Então planeio a minha estratégia.
Como faço a gestão dum fundo multimilionário, tenho capacidade para mover o mercado, quer dizer, a minha oferta de compra ou venda é tão abundante que é praticamente a totalidade do mercado. Se decido comprar títulos de dívida pública de Espanha, isso incrementará a procura e enviará um sinal ao resto dos investidores: as pessoas estão a comprar títulos de Espanha, o que quer dizer que confiam neles e portanto são mais seguros. Em consequência disso o preço sobe e a rentabilidade cai. A Espanha poderá conseguir dinheiro mais barato (pagará menos a título de juros). Mas claro, para que eu, George Soros, hei-de querer comprar títulos que me dêem pouca rentabilidade? Tenho melhores planos, concretamente imitar a estratégia que um tal George Soros fez no Reino Unido nos anos noventa e que fez a um país inteiro ceder ante si (ver aqui).
O que faço como investidor é o seguinte: vou ao mercado secundário de dívida pública e peço emprestados muitos cupões, uma grande quantidade. Quando tiver todos esses cupões vou preparando o terreno para o ataque, o que consigo graças à publicação de rumores e exageros (“Espanha vai mal”, “as contas não saem”, “os planos não funcionam”, “são precisam mais cortes”, etc.) e quando os tambores de guerra tiverem soado o suficiente… nesse momento vendo em massa todos os títulos que me emprestaram a um preço de 1.000 euros o título. Então o resto dos investidores, que estão também a olhar para os seus ecrãs vêem o seguinte: notícias de desconfiança em Espanha e um número brutal de venda de títulos de dívida pública. Esses investidores raciocinam pensando que os investidores estão a vender títulos de dívida pública porque não confiam e então todos fazem o mesmo. Produz-se um estouro com muitas decisões de venda que fazem baixar os preços. E quando os preços baixarem muito, apareço eu outra vez, George Soros, e compro-os em massa a 200 euros o título.
Consequências de todo o processo: vendi os títulos a 1000 euros e comprei-os a 200 euros. Como eram emprestados também terei que pagar um pouco a título de juros na hora de devolver, mas continuarei a ganhar. E a outra consequência é que Espanha está sob ataque permanente e no próximo leilão que faça os investidores exigir-lhe-ão muito maior rentabilidade porque em teoria o mercado (secundário de títulos) está a reflectir que não garante bem a devolução dos títulos, isto é, que a sua política económica deve mudar para assegurar mais confiança. É então que chegam os planos de ajuste “impostos” pelos mercados financeiros e a já conhecida “chantagem dos mercados“.
Os agentes financeiros e as operações especulativas
Com o nosso eu do exemplo, George Soros, está o sistema financeiro repleto. E não é para menos, já que a única lógica do capital financeiro (esse dinheiro que procura transformar-se em mais dinheiro) é nem mais nem menos do que procurar as oportunidades de maior rentabilidade e, se possível, criá-las. Os especuladores são na realidade os próprios investidores, não são uma figura diferente, já que a sua lógica é a única coisa que conta. E como tal operam como os tubarões: farejam sangue (por exemplo qualquer notícia real de uma economia, tal como as armadilhas contabilísticas da Grécia) e atacam sem piedade extorquindo até ao limite. Não há investidores bons nem investidores maus: são todos investidores a operar com as suas próprias regras, naturalmente imorais e anti-sociais (pois só respondem perante a rentabilidade). É um capitalismo de hiper-concorrência (ler isto para ver exemplos e entender a lógica) e só os mais “espertos” ganham. Os mercados financeiros não são entes abstractos, como nos fazem crer, e também não são entidades divinas que nos dizem o que está bem e o que está mal. São simples jogadores de casino aproveitando o seu imenso poder para fazer e desfazer a economia mundial, sem atender às consequências.
Durante mais de trinta anos de hegemonia do neoliberalismo estes agentes (bancos, fundos de investimento, grandes empresas, etc.) criaram as condições para explorar muito mais este negócio. Têm desregulado os mercados, permitindo a sua expansão a todos os níveis e eliminando quase todas as normas que limitavam diferentes práticas, assim como criaram produtos financeiros complexos com que continuar a jogar mais e mais para continuar a responder ao mesmo objectivo. O exemplo de George Soros é um mais entre tantas outras formas de manipular um mercado qualquer. E as conspirações não faltam quando todos os investidores se aproveitam dessas situações em que quem paga no final é o Estado.
Por tudo isto, e por bem mais, estamos completamente legitimados quando dizemos que neste mundo, o nosso mundo de hoje e não o do século 20, a classe dominante, que se resguarda atrás dos bancos e fundos de investimento, está a explorar e depenar as classes populares. E como disse o multimilionário Warren Buffet “a luta de classes continua a existir, mas a minha é que vai ganhando”. Para mudar esse facto, creio que precisamos de começar a compreender a essência dos fenómenos que estão por trás de cada passo de regressão social.
A única lógica do capital financeiro é procurar as oportunidades de maior rentabilidade e, se possível, criá-las.
Entre todos os conceitos que agora pululam em todos os debates políticos, que antes estavam praticamente reservados aos debates técnicos entre economistas, há um de especial interesse que convém ajudar a clarificar: o de mercados financeiros. Efectivamente, hoje os mercados financeiros estão em todos os lados (televisão, imprensa e inclusivamente nos bares), mas em geral ainda há um amplo desconhecimento acerca do que são realmente e de como funcionam. Por isso decidi fazer umas breves notas que possam ajudar a resolver algumas dúvidas importantes.
O que é um mercado?
Em primeiro lugar convém recordar que o termo mercado faz referência ao espaço, físico ou virtual, onde compradores e vendedores de algum bem ou serviço se encontram. Isto é, existe mercado onde se trocarem produtos entre duas partes, a que os compra e a que os vende, e portanto qualquer produto tem o seu mercado. Isso significa que se nós queremos vender o nosso velho livro de economia neoclássica, por já não nos servir, o que temos de fazer é ir a um mercado onde possamos encontrar compradores para o mesmo. Logicamente não vamos ao banco vendê-lo. O que fazemos é procurar um mercado de livros em segunda mão. Quando vamos directamente à livraria de segunda mão, o que estamos a fazer é ir a um mercado, o dos livros em segunda mão, porque sabemos que essa livraria actuará como intermediário. A livraria encarrega-se de reunir compradores e vendedores e de tratar de ir realizando transacções em troca duma comissão. A livraria compra-nos o livro a 5 euros e vende-o a 7 euros. Actua como intermediário e como criador de mercado, dado que em si mesma a livraria é o mercado. Pode haver muitas mais livrarias desse tipo na mesma cidade, e inclusivamente livrarias online, e ao negócio completo chamamos em abstracto o “mercado de livros em segunda mão”.
A liquidez e o preço num mercado
Quanta mais participação houver num mercado, maior capacidade teremos nós para poder comprar e vender os nossos bens e serviços. Se acontece haver poucos vendedores e poucos compradores de livros, o mercado será lento e ineficiente. Se queremos vender o nosso manual de economia neoclássica e acontece que dentro dos poucos compradores potenciais de livros não há nenhum a quem interesse a economia, não poderemos realizar a venda. Isso significa que continuaremos a esperar um comprador com o livro na mão. Diz-se então que o mercado é pouco líquido, quer dizer, que a capacidade de converter os bens em dinheiro constante e sonante é muito reduzida. Se, pelo contrário, houvesse muitos vendedores e muitos compradores, seria bem mais simples encontrar outra pessoa que quisesse o livro, pelo que talvez em muito pouco tempo obtivéssemos o dinheiro.
E da relação entre o número de compradores e o número de vendedores surgem os preços. A partir da seguinte regra: para maior procura, maior preço (e para maior oferta, menor preço). Se, por exemplo, vamos com o nosso livro de economia a uma livraria especializada em física é provável que não encontremos compradores e que o intermediário - sabedor disso - não queira comprar-nos o livro ou nos ofereça por ele um preço muito baixo, digamos de 1 euro. Se ao invés nos dirigirmos a uma livraria especializada em economia então ali sim terá muitos compradores e, portanto, procura. Se quiséssemos vender o livro directamente aos compradores estes competiriam entre si para oferecer o melhor preço com que nos convencer. Exactamente como num leilão. Assim o intermediário - sabedor disso também - oferecer-nos-á pelo nosso livro um preço bem mais alto, digamos de 5 euros.
Cada mercado tem os seus participantes
No mercado de livros em segunda mão costumam participar unicamente indivíduos particulares que desejam comprar e vender livros, mas não participam bancos, empresas ou agentes económicos maiores. Isto porque cada mercado costuma ter o seu próprio tipos de participantes. O mercado imobiliário, por exemplo, faz referência ao espaço onde se encontram compradores e vendedores de casas. Aí já não só encontramos particulares como também encontramos em ambas as partes (do comprador e vendedor) bancos, grandes empresas ou inclusivamente o Estado. Todos esses agentes negoceiam os preços com que comprarão e venderão as casas.
E isto é muito importante porque todos esses agentes que não são indivíduos, e pelo seu poder económico, podem modificar o mercado com facilidade. Precisamente porque têm a capacidade económica, já que manejam grandes somas de dinheiro, podem comprar e vender de forma estratégica, procurando ser favorecidos nas transacções. Por exemplo, os bancos actualmente têm em Espanha grandes existências de moradias à venda mas que não conseguem vender. Mas em Espanha também há gente que quer comprar casas. A chave está em que os preços de oferta e os preços de procura não coincidem, quer dizer, aquilo por que os compradores estão dispostos a pagar é muito menos do que aquilo porque os vendedores estão dispostos a vender. Se os bancos baixassem os preços das casas, então os compradores poderiam estar de acordo. Os bancos, além disso, reduzem artificialmente a oferta de moradias ao não pôr à venda muitas das casas que têm, criando dessa forma uma escassez aparente para manter os preços altos.
E isto é crucial. Quando há poucos participantes no mercado (numa das partes) ou um participante é muito poderoso economicamente pode influir muito em como evoluem as transacções. Digamos que pode influir na oferta e na procura e portanto nos preços. Os três ou quatro bancos maiores podem pôr-se de acordo para não baixar os preços das casas e manter-se à espera que os compradores se atrevam a oferecer mais, ou então podem também comprar em massa casas para elevar artificialmente o preço (já que sobe a procura).
O mercado de dívida pública
Todos os mercados a que antes fizemos referência são mercados de bens físicos. Agora vamos entrar nos mercados financeiros, isto é, naqueles em que se negoceiam títulos que implicam compromissos futuros de pagamento. O mais conhecido pela sua radiante actualidade é o mercado de dívida pública.
O mercado de dívida pública é o mercado onde se encontram, por um lado, os países que precisam de financiamento e, por outro, os investidores que estão dispostos a proporcionar-lhes esse financiamento. Já sabemos que quando um Estado tem défice (menores rendimentos do que gastos) precisa de pedir prestado e uma das formas para o fazer é emitir títulos de dívida pública. Esses títulos que emite são comprados por investidores que o que fazem na realidade é emprestar ao Estado esse dinheiro em troca de, num prazo de tempo determinado, o Estado lhes devolver esse dinheiro juntamente com uma percentagem de juros. À percentagem de juros chama-se rentabilidade.
Como todos os Estados têm necessidade de endividar-se, o mercado de dívida pública está sempre muito activo, especialmente em tempos de crise. Há muita oferta (títulos de dívida pública de diferentes países) e muita procura (investidores que procuram rentabilidade segura, já que se supõe que os títulos de dívida pública são os mais seguros; se o Estado não paga é porque a coisa está mesmo mal). E neste mercado os participantes são fundamentalmente os grandes investidores financeiros (banca e fundos de investimento geridos por eles), e já não tanto os particulares (que de qualquer forma podem participar).
Se nós formos o gestor de um fundo de investimento de um banco, isto é, uma pessoa que tem a seu cargo uma grande quantidade de dinheiro que quer revalorizar, isto é, converter em mais dinheiro, temos de avaliar se nos convém investir no mercado de dívida pública. E se decidimos que sim, devemos também decidir que títulos concretos de dívida pública comprar. Por isso vamos ao mercado de dívida pública e vemos o que oferecem os diferentes países.
O sistema de venda de títulos é por leilões, embora haja vários tipos de leilões, assim como também há vários tipos de títulos e vencimentos (prazos de devolução), portanto cada país oferece um preço pelos seus títulos de dívida. Os investidores procuram sempre os títulos mais baratos porque são os que oferecem mais rentabilidade. Segue-se o seguinte raciocínio: um menor preço reflecte mais insegurança e maior rentabilidade. Se o preço é baixo significa que há poucos compradores e isso as pessoas não confiam suficientemente que se lhes devolva o dinheiro, pelo que esses compradores exigem uma rentabilidade mais alta. Se um país, por exemplo Espanha, oferece títulos e ao leilão vão poucos compradores, então terá de baixar o preço dos seus títulos e, portanto, subirá a rentabilidade dos mesmos, isto é, pagará mais por conta dos juros por cada título que venda aos investidores.
Na realidade, cada país está a fazer os seus leilões e a chamar dessa forma os investidores. E os resultados desses leilões são diferentes segundo os países, diferenças das quais nascem conceitos como o de “prémio de risco” (que quantifica a diferença de rentabilidade oferecida pelos países em relação à Alemanha, que é o país com economia mais sólida). Supõe-se então que os preços dos títulos reflectem os fundamentos da economia ou, mais concretamente, a capacidade que cada país tem para devolver o dinheiro. Mas na realidade não depende só disso.
A especulação no mercado de dívida pública
Sabemos então que, por um lado, temos oferta (países) e por outro lado procura (os investidores), que se reúnem no mercado de dívida pública para negociar. Uns procuram financiamento e outros oferecem-no em troca de uma percentagem em juros e do compromisso da devolução do dinheiro emprestado. E, como em qualquer mercado, também se pode influir nele para criar melhores condições que nos favoreçam.
Suponhamos agora que eu sou um investidor. Concretamente sou George Soros, gestor de um fundo de investimento multimilionário. Levanto-me pela manhã e vejo nos ecrãs do meu escritório como estão os indicadores fundamentais da economia (crescimento, inflação, etc.), as notícias de última hora (as declarações dos governos, por exemplo), os leilões de dívida pública programados para hoje e também os mercados secundários de dívida pública (que são os lugares onde se compram e vendem os títulos de dívida pública pela segunda e mais vezes; como os livros em segunda mão, só que em títulos). Então planeio a minha estratégia.
Como faço a gestão dum fundo multimilionário, tenho capacidade para mover o mercado, quer dizer, a minha oferta de compra ou venda é tão abundante que é praticamente a totalidade do mercado. Se decido comprar títulos de dívida pública de Espanha, isso incrementará a procura e enviará um sinal ao resto dos investidores: as pessoas estão a comprar títulos de Espanha, o que quer dizer que confiam neles e portanto são mais seguros. Em consequência disso o preço sobe e a rentabilidade cai. A Espanha poderá conseguir dinheiro mais barato (pagará menos a título de juros). Mas claro, para que eu, George Soros, hei-de querer comprar títulos que me dêem pouca rentabilidade? Tenho melhores planos, concretamente imitar a estratégia que um tal George Soros fez no Reino Unido nos anos noventa e que fez a um país inteiro ceder ante si (ver aqui).
O que faço como investidor é o seguinte: vou ao mercado secundário de dívida pública e peço emprestados muitos cupões, uma grande quantidade. Quando tiver todos esses cupões vou preparando o terreno para o ataque, o que consigo graças à publicação de rumores e exageros (“Espanha vai mal”, “as contas não saem”, “os planos não funcionam”, “são precisam mais cortes”, etc.) e quando os tambores de guerra tiverem soado o suficiente… nesse momento vendo em massa todos os títulos que me emprestaram a um preço de 1.000 euros o título. Então o resto dos investidores, que estão também a olhar para os seus ecrãs vêem o seguinte: notícias de desconfiança em Espanha e um número brutal de venda de títulos de dívida pública. Esses investidores raciocinam pensando que os investidores estão a vender títulos de dívida pública porque não confiam e então todos fazem o mesmo. Produz-se um estouro com muitas decisões de venda que fazem baixar os preços. E quando os preços baixarem muito, apareço eu outra vez, George Soros, e compro-os em massa a 200 euros o título.
Consequências de todo o processo: vendi os títulos a 1000 euros e comprei-os a 200 euros. Como eram emprestados também terei que pagar um pouco a título de juros na hora de devolver, mas continuarei a ganhar. E a outra consequência é que Espanha está sob ataque permanente e no próximo leilão que faça os investidores exigir-lhe-ão muito maior rentabilidade porque em teoria o mercado (secundário de títulos) está a reflectir que não garante bem a devolução dos títulos, isto é, que a sua política económica deve mudar para assegurar mais confiança. É então que chegam os planos de ajuste “impostos” pelos mercados financeiros e a já conhecida “chantagem dos mercados“.
Os agentes financeiros e as operações especulativas
Com o nosso eu do exemplo, George Soros, está o sistema financeiro repleto. E não é para menos, já que a única lógica do capital financeiro (esse dinheiro que procura transformar-se em mais dinheiro) é nem mais nem menos do que procurar as oportunidades de maior rentabilidade e, se possível, criá-las. Os especuladores são na realidade os próprios investidores, não são uma figura diferente, já que a sua lógica é a única coisa que conta. E como tal operam como os tubarões: farejam sangue (por exemplo qualquer notícia real de uma economia, tal como as armadilhas contabilísticas da Grécia) e atacam sem piedade extorquindo até ao limite. Não há investidores bons nem investidores maus: são todos investidores a operar com as suas próprias regras, naturalmente imorais e anti-sociais (pois só respondem perante a rentabilidade). É um capitalismo de hiper-concorrência (ler isto para ver exemplos e entender a lógica) e só os mais “espertos” ganham. Os mercados financeiros não são entes abstractos, como nos fazem crer, e também não são entidades divinas que nos dizem o que está bem e o que está mal. São simples jogadores de casino aproveitando o seu imenso poder para fazer e desfazer a economia mundial, sem atender às consequências.
Durante mais de trinta anos de hegemonia do neoliberalismo estes agentes (bancos, fundos de investimento, grandes empresas, etc.) criaram as condições para explorar muito mais este negócio. Têm desregulado os mercados, permitindo a sua expansão a todos os níveis e eliminando quase todas as normas que limitavam diferentes práticas, assim como criaram produtos financeiros complexos com que continuar a jogar mais e mais para continuar a responder ao mesmo objectivo. O exemplo de George Soros é um mais entre tantas outras formas de manipular um mercado qualquer. E as conspirações não faltam quando todos os investidores se aproveitam dessas situações em que quem paga no final é o Estado.
Por tudo isto, e por bem mais, estamos completamente legitimados quando dizemos que neste mundo, o nosso mundo de hoje e não o do século 20, a classe dominante, que se resguarda atrás dos bancos e fundos de investimento, está a explorar e depenar as classes populares. E como disse o multimilionário Warren Buffet “a luta de classes continua a existir, mas a minha é que vai ganhando”. Para mudar esse facto, creio que precisamos de começar a compreender a essência dos fenómenos que estão por trás de cada passo de regressão social.
sábado, 27 de agosto de 2011
LÍBIA - "Imperialismo Humanitário" vai terminar em pilhagem.
Pepe Escobar: Imperialismo ‘humanitário’ vai terminar em pilhagem
A tarefa-carga do homem branco [1] não prevê perguntar aos africanos o que pensam do massacre ocidental/monárquico em curso contra os árabes nas praias do norte do continente. Mas alguns, pelo menos, decidiram pôr fim à enrolação.
Por Pepe Escobar, no Asia Times Online
Mais de 200 líderes e intelectuais africanos distribuíram carta aberta em Johannesburg, África do Sul, chamando a atenção para o "uso distorcido do Conselho de Segurança da ONU para a prática da diplomacia militarizada, com o objetivo de derrubar o governo na Líbia" e para "marginalizar a União Africana".
Quanto aos 'vencedores' ocidentais na Líbia, já nem tentam disfarçar. Richard Haass, presidente daquele almanaque de Gotha do establishment dos EUA que é o Conselho de Relações Exteriores, assina coluna no Financial Times na qual diz claramente que "a intervenção humanitária introduzida para salvar vidas que se acreditava que estivessem ameaçadas foi, de fato, intervenção política para derrubar o governo".[2]
Quanto à chusma de atores locais – líbios da Cirenaica – Haass já os despachou para a lata do lixo da história: "Os líbios não conseguirão administrar a situação e emergir por conta própria" e, com "dois milhões de barris de petróleo por dia" em jogo, a única solução é uma "força internacional". Tradução: exército de ocupação – como no Afeganistão e no Iraque. Bem-vindos ao neocolonialismo 2.0.
A hora da vingança
Por tudo isso, o establishment norte-americano já está tão atrevido quanto a direita rica cabeça de noz da variedade Donald "aquela coisa no cocuruto" Trump. Trump disse à Fox News: "Nós somos a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. Nós apoiamos a Otan com dinheiro e armas. E ganhamos o quê? Por que não ficaríamos com o petróleo?"
Em termos de Dia da Marmota geopolítico, é de fato o Afeganistão e o Iraque, tudo outra vez – uma orgia de saques, destruição de estátuas, segmentos de reality show televisivo para não deixar ninguém descolar o olho das telinhas, até faixas de uma torcida pró-Otan (mais ou menos como os americanos agradeceriam aos chineses que bombardeassem New York City até reduzi-la a ruínas, para 'libertá-la').
E nem se fala da imbecilidade da grande mídia-empresa. A CNN deslocou Trípoli para o leste – para o Mediterrâneo leste, em algum ponto perto do Líbano. A BBC mostrou uma festa 'rebelde' numa praça Verde em Trípoli localizada na Índia, com bandeiras da Índia. Homenagem e prova da total integração entre a Otan e a mídia do CCG, Conselho de Cooperação do Golfo, também conhecido como Clube Contrarrevolucionário do Golfo – as seis ricas satrapias fundamentalistas da região.
Considerando que o CCG virtualmente ordena à Liga Árabe o que fazer, não surpreende que a Liga já tenha reconhecido o sinistro Conselho Nacional de Transição 'rebelde' como governo legítimo, embora só represente a Cirenaica e apesar de o Grande Kadafi [3] continuar vivo (embora com a cabeça a prêmio: 1,6 milhão de dólares). Digamos que é o troco da Liga Árabe, por Kadafi ter chamado o rei saudita Abdullah de "estúpido", nas preliminares para a guerra do Iraque.
Também é como se a Líbia agora fosse um emirado árabe em construção, sem nada ter a ver com a África. O CCG financiou e armou os 'rebeldes'. A União Africana era quase unanimemente contra a guerra Otan/CCG. Ergo, no que dependa de Otan/CCG, a África que se dane; a única coisa que realmente importa – estrategicamente – é meter uma base militar/naval do Africon/Otan na Líbia.
E lá nos vamos, para outra Zona Verde
Já não é segredo para ninguém que agentes dos serviços secreto britânico, francês, da CIA, do Qatar e mercenários de todos os tipos choveram (de paraquedas) sobre território líbio como força de invasão, há meses, planejando e treinando 'rebeldes' e em estreita coordenação com a Otan, essa entidade prodígio da filantropia universal.
Nunca se tratou de mandado da ONU, mas... quem liga?! Otan/CCG pagam as contas, a Otan cuida do bombardeio e Otan/CCG "estabilizarão" a confusão toda, como se lê em plano de 70 páginas vazado pelo Times de Londres e de Rupert Murdoch. [4]
Só tolos acreditarão na notícia-boato previsível de que o plano teria sido elaborado pelo Conselho Nacional de Transição com "ajuda ocidental". A Otan não se atreverá – não, pelo menos, no começo – a pôr os pés em terra; daí a proposta de "uma força-tarefa de 10.000-15.000 soldados em Trípoli", a ser fornecida pelos Emirados Árabes Unidos, que, mais dia menos dia, lá estará. A pergunta mais eletrizante é: na folha de pagamento dos Emirados Árabes Unidos haverá mercenários estrangeiros (jordanianos, sul-africanos, colombianos) treinados pela Blackwater, ou mercenários tribais?
E – adivinhem o quê! – uma Zona Verde remix, como no Iraque, próxima da praça Verde. São notícias quase tão deliciosas quanto o embaixador do Conselho Nacional de Transição nos Emirados Árabes Unidos, Aref Ali Nayed, a desmentir compungido o plano vazado, no mesmo momento em que Bengazi confirmava a coisa toda.
Todos já sabem também que a rentável reconstrução de tudo que a Otan destruiu beneficiará – e quem poderia ser?! – os 'vencedores': os países da Otan/CCG.[5] O líder do Conselho Nacional de Transição Mustafa Abdel Jail já confirmou, em Bengazi.
Devem-se esperar ruidosas comemorações locais – e globais –, no que tenha a ver com pôr a mão no butim. Sem considerar a riqueza (ainda inexplorada) em gás e petróleo, a Líbia tem mais de 150 bilhões de dólares em bancos estrangeiros. E o Banco Central da Líbia – agora em vias de ser privatizado – guarda nada menos que 143,8 toneladas de ouro. Há também por lá água doce suficiente para um milênio, que Kadafi começava a tornar acessível via o espetacular multibilionário Projeto "Grande Rio Feito pelo Homem" [orig. Great Man-Made River (GMR) project].
Aí está também mais uma sólida resposta à pergunta sobre por que a França decidiu, tão freneticamente, derrubar Kadafi: as maiores empresas mundiais de exploração de água são francesas; e a possibilidade de privatizar suprimento de água doce a ser comercializado por mil anos deixou os executivos daquelas empresas, digamos... babando.
Por tudo isso, como vasto novo mercado potencialmente muito lucrativo para empresas europeias, e bem ali, na outra margem do Mediterrâneo, a Líbia é artigo de primeira, o que dá novo significado à doutrina do imperialismo humanitário e sua "responsabilidade de proteger" [orig. R2P ("responsibility to protect")], que passa a significar "direito de pilhar" [orig. R2P ("right 2 plunder")] – como escreveu um leitor de Asia Times Online.
O primeiro-ministro italiano Silvio "bunga bunga" Berlusconi foi gentil: encontrou-se em Milão com o primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição, bem à frente da nova bandeira da Líbia (de fato, é a velha bandeira monárquica do rei Idris), posta ao lado das bandeiras da Itália e da União Europeia.
E dizer que há apenas um ano, Silvio B. oferecia fantástica festa ao seu camaradinha cujas mãos adorava beijar –, precisamente nosso Grande K. –, com desfile de 30 beduínos montando cavalos puros-sangues importados.
Em 2008, Silvio B. e o Grande Kadafi assinaram tratado para enterrar a infeliz era colonial (1911-1942), pelo qual a Itália gastaria US$ 5 bilhões ao longo de 25 anos em investimento na infraestrutura da Líbia – estradas e ferrovias; graças a esse tratado, 180 empresas italianas conseguiram contratos fabulosos na Líbia, e a Itália passou a ser principal parceira comercial da Líbia.
Por isso, o líder do Conselho Nacional de Transição Mustafa Abdel Jalil estava obrigado a confirmar para Berlusconi que a nova Líbia manterá "relações especiais" com todos os "vencedores" da guerra de Otan/CCG contra a Líbia; e destacou a Itália.
Semana que vem, será a vez do xeque Abdullah bin Zayed, ministro das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos, que visitará Bengazi para passar a mão em fatia bem gorda do bolo da reconstrução. Depois do estouro da bolha imobiliária, os Emirados Árabes Unidos pululam de empresários prontos a saltar sobre qualquer oportunidade.
E quanto ao mapa do caminho
Mas e se o Grande Kadafi tiver carregado seu ouro? O ex-presidente do Banco Central da Líbia garante que, em Trípoli, estão fisicamente guardadas reservas equivalentes a nada menos que US$ 10 bilhões em ouro.
Assim, enquanto os britânicos do serviço secreto metidos em trajes civis árabes e brandindo Kalashnikovs idênticas às dos 'rebeldes' procuram Kadafi "vivo ou morto", ao estilo texano de George W Bush, o Grande Kadafi pode bem estar comprando aliados tribais e pagando, literalmente, em ouro. Para não dizer que já conta com o apoio da tribo Kadafi (habilíssimos caçadores noturnos), da tribo al-Magarha (atiradores de primeiríssima) e de quase toda a tribo da esposa de Kadafi, os Warfallah (a maior do país, com mais de 2 milhões de pessoas).
Dado que o Conselho Nacional de Transição anda dizendo por todos os cantos que a Líbia pós-Kadafi será pluralista e multicultural, já se veem sinais claros de que já começaram a construir mais uma Areia Movediça City.
Os árabes do norte absolutamente desprezam os berberes do sul – e vice-versa. A gente da Tripolitania absolutamente despreza os salafitas da Cyrenaica – e vice-versa.
Com tanta coisa em jogo, é fácil visualizar um mapa do caminho que será, com pequenas variações, o seguinte:
– Um governo do Conselho Nacional de Transição muito fraco, governo-fantoche; as tropas da doutrina do neoliberalismo de desastre distanciar-se-ão cada vez mais dos líbios habituados a 40 anos de ensino gratuito, atendimento gratuito à saúde e moradia gratuita; logo se organizará movimento de guerrilha contra a ocupação estrangeira; salafitas-jihadistas de outras latitudes árabes acorreram para a Líbia; cidades do deserto facilmente se tornarão bases de grupos guerrilheiros; os oleodutos do sudeste do país serão atacados; será réplica de Bagdá, de 2004 a 2007; haverá uma 'avançada' [surge] em cenário de guerra civil/tribal sem fim; e lá estará o Afeganistão 2.0, como frente-gêmea guerrilheira – o grupo de Kadafi contra os 'rebeldes'/Otan, e os salafitas contra a Otan, porque o ocidente nunca admitirá que a Líbia converta-se em estado islâmico.
Kadafi, hoje, aposta que os espiões e mercenários de Otan/CCG converterão a Líbia em novo Iraque/Afeganistão. (É bem possível, aliás, que a Otan adore a ideia.) Com isso, forçarão Kadafi a entrincheirar-se mais fundo no norte da África. Voltarão as mesmas velhas táticas imperiais de dividir-para-reinar, enquanto as empresas ocidentais exercerão seus direitos de saquear.
Simultaneamente darão nova vida, numa espécie de trama secundária, à "guerra ao terror", enquanto a recessão devora o que resta das respectivas economias nacionais. Mas o complexo industrial-militar e empresários do ramo de armas/segurança continuarão felizes da vida. Iraque/Afeganistão, tudo outra vez? Vamos ver quem pode mais.
Notas:
[1] White man's burden é poema de Rudyard Kipling, de 1899, um apelo para que os EUA assumam a tarefa de promover o desenvolvimento das Filipinas que acabavam de ser derrotadas na Guerra hispano-americana; é considerado o 'hino' do imperialismo britânico (pode ser lido em http://public.wsu.edu/~wldciv/world_civ_reader/world_civ_reader_2/kipling.html) [NTs].
[2] 22/8/2011, Financial Times em http://www.ft.com/intl/cms/s/0/559804f8-cc7f-11e0-b923-00144feabdc0.html#axzz1W95meZMg
[3] http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/08/o-grande-gaddafi-1.html
[4] Há matéria detalhada sobre o plano em http://www.theaustralian.com.au/news/world/iraq-haunts-plans-for-post-gaddafi-libya/story-e6frg6so-1226111211251
[5] Ver "Capitalismo de desastre: abutres sobre a Líbia", http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/08/pepe-escobar-capitalismo-de-desastre.html).
Reproduzido a partir do Vi O Mundo
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