sexta-feira, 19 de agosto de 2011

POLÍTICA - Novo ministro é amigo de Dilma há 20 anos.

Sem afinidade com agricultura, Mendes é amigo de Dilma há 20 anos


Escolhido para suceder Wagner Rossi no comando do Ministério da Agricultura, o deputado federal Mendes Ribeiro Filho foi o único expoente do PMDB do Rio Grande do Sul a apoiar a então candidata à Presidência, Dilma Rousseff (PT), na campanha de 2010. Por conta disso, entrou em rota de colisão com as bancadas estadual e federal do partido, que se ativeram à rivalidade histórica com PT no Estado e se alinharam ao candidato do PSDB, José Serra.

A reportagem é de Sérgio Ruck Bueno e publicada pelo jornal Valor, 19-08-2011.

"Ele foi audacioso porque poderia ficar isolado e teve paciência, porque foi cogitado para vários ministérios desde o início do governo, mas soube ficar em silêncio", disse um dirigente do partido no Estado. Em compensação, há pouco mais de um mês foi escolhido como líder do governo no Congresso e agora, ministro da Agricultura.

Mendes tão tem afinidade com a agricultura, mas isso não causou problemas. A Federação da Agricultura do Estado (Farsul), por exemplo, apoiou a indicação. O governador Tarso Genro (PT), que ontem pela manhã recebeu uma ligação da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, pedindo sua opinião sobre o deputado, disse que ele tem capacidade de se cercar de bons técnicos para articular com competência as políticas estratégicas para o setor.

Mendes conheceu e começou a conquistar a confiança da presidente da República durante a Constituinte estadual do Rio Grande do Sul, em 1989. Naquele período, ele costumava reunir-se com frequência com Dilma, na época assessora do PDT na Assembleia Legislativa, e com seu então marido, Carlos Araújo, que era o líder dos pedetistas no Legislativo, para discutir os temas mais polêmicos do texto.

Para o presidente estadual do PMDB, ex-deputado Ibsen Pinheiro, a escolha de Mendes não altera a relação da bancada do partido na Câmara com o Palácio do Planalto. Apesar do apoio majoritário a Serra na campanha, a postura dos deputados gaúchos da sigla já não é "dissidência por dissidência" nem de "adesão por adesão" e eles votaram com o governo em alguns casos, como no reajuste do salário mínimo, afirmou.

Segundo ele, o partido apoia Dilma no "combate aos desvios éticos" no governo e entende que, embora a missão principal de Mendes seja "cuidar da agricultura", ele não pode ser omisso em relação ao assunto. "Não pode deixar de fazer [o combate à corrupção], mas isso não deve ser o mote da administração", afirmou Pinheiro.

Apesar de ter sido voz dissonante na cúpula do PMDB gaúcho na eleição presidencial do ano passado, Mendes tem bom trânsito com boa parte dos colegas de partido, entre eles o senador Pedro Simon, afirma um interlocutor do deputado. Também tem uma base importante de apoio entre prefeitos pemedebistas de várias regiões do Estado, que em 2010 se alinharam a ele no apoio a Dilma.

Uma exceção é o ex-deputado federal Eliseu Padilha, que ficou como primeiro suplente do partido no Estado na eleição para a Câmara em 2010 e agora assumirá a vaga do próprio Mendes. Mas, desde o início do governo Dilma a relação entre os dois teria melhorado por razões "pragmáticas", pois Mendes aproximou-se do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), amigo de longa data de Padilha.

Em fevereiro deste ano, depois de perder o foro privilegiado, Padilha foi indiciado pela Polícia Federal por suspeita de tentativa de favorecimento a uma empreiteira em obras federais no Rio Grande do Sul. O inquérito está com o Ministério Público Federal no Estado, mas agora terá que ser remetido à Procuradoria Geral da República, em Brasília, que decidirá se envia o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-deputado sempre negou as acusações porque a empreiteira citada não venceu as licitações em questão.

Com 56 anos, Mendes foi filiado ao PDS (atual PP) de 1982 a 1985. Foi eleito vereador pelo partido em Porto Alegre nas primeiras eleições municipais após a redemocratização do país, também em 1982, mas em 1985 filiou-se ao PMDB seguindo os passos do pai, o então radialista Jorge Alberto Mendes Ribeiro, que ingressou na sigla para concorrer a deputado estadual. Antes, ainda no PDS, foi secretário estadual de Justiça em 1983 e 1984, durante o governo de Jair Soares.

Já no PMDB, Mendes foi deputado estadual por dois mandatos, de 1987 a 1995, e é deputado federal desde 1995. Durante o governo estadual do pemedebista Antônio Britto (1995-1998), um desafeto histórico dos petistas gaúchos, foi secretário de Obras Públicas, Saneamento e Habitação e também chefe da Casa Civil.

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