quinta-feira, 18 de agosto de 2011

MÍDIA - As lições que vêm das rádios comunitárias chilenas.

Em artigo no jornal Página/12, 17-08-2011, Alejandro Linares explica o papel das rádios comunitáras no conflito chileno entre estudantes e governo. Alejandro Linares é diretor da Agência Informativa Púlsar e da Associação Mundial de Rádios Comunitárias – América Latina e Caribe (Amarc ALC).

Eis o artigo. A tradução é do Cepat.

Muito se tem dito sobre a cobertura dos meios de comunicação sobre o conflito estudantil chileno e o seu deleite em mostrar cenas de violência sem ir ao fundo da questão. Também tem se falado sobre o papel importantíssimo do Twitter na convocação, coordenação e incentivo às mobilizações. Pouco se tem dito, entretanto, sobre o papel que ocuparam as rádios comunitárias chilenas desde o início nesse processo de reivindicações por mudanças estruturais no sistema educacional do outro lado da cordilheira.

No Chile as rádios comunitáras são reconhecidas, mas devem se limitar a emitir com uma fraca potência o que lhe impede de chegar muito longe com o seu sinal. Diante dessa desvantagem, as rádios populares chilenas retomaram a velha tradição desse movimento de trabalhar em rede para multiplicar suas vozes por todo o país, agora com a ajuda da internet.

A rádio Juan Gómez Millas, da Escola de Jornalismo da Universidade do Chile, tomou a iniciativa e passou a realizar coberturas especiais desde as primeiras manifestações de junho e as que seguiram. Além da aposta jornalística e política que significa montar programas para cobrir cada manifestação, as emissoras manifestaram três características: as conexões com comunicadores de diferentes regiões para conhecer as reivindicações para além de Santiago; a voz permanente dos estudantes do país para conhecer a fundo as demandas e o processo histórico da acumulação da luta estudantil. Estes programas foram retomados, via Internet, por diferentes rádios comunitárias e universitárias de todo o Chile.

À limitação da potência e a exclusão de espaço estatal, as emissoras responderam com trabalho em rede. Conscientes do momento histórico que marca este conflito organizaram durante esta semana uma Cadeia de Rádio pela Educação. Foram 1.800 minutos de transmissão proporcional aos 1.8 mihões de dólares que necessitam a cada ano para possibilitar educação superior gratuita no país. Cada rádio contribuiu com conteúdos e se pode organizar o conjunto da programação da cadeia em rede.

Mas a rede não ficou atras das montanhas. A Agência Informa Púlsar, da Associação Mundial de Rádiso Comunitárias na América Latina e Caribe (Amarc ALC) recebeu, desde o início desse processo, reportagens, entrevistas e notas sobre as reclamações estudantis e as repercutiu para o restante da região. Suas principais fontes e destinatários são as rádios comunitárias.

Quem tenha sintonizada alguma dessas emissoreas nos últimos dois meses em algum ponto da região conhecerá bastante sobre os argumentos das federações de estudantes e professores chilenos.

AMARC ALC tem dito que historicamente a América Latina condenou as rádios comunitarias a serem pequenas, pobres e poucas. Quem sabe exemplos como esse – que abundam – convençam os Estados latino-americanos em promover e acompanhar esses meios. Disso depende, quem sabe, a possibilidade de contar com mais espaços para relatos alternativos aos oferecidos pelos meios comerciais.
Fonte:IHU

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