Recentemente, O Globo decretou em editorial (sim, as Organizações Globo, desde sua criação, decretam como conduzir o acordo de elites que governa o País), o seguinte: “A cada vez mais desnecessária reforma agrária”.
Equívoco ou interesse? Seja lá o que for, é o de sempre. Preciso citar o argumento? Vá lá, mais uma vez, o de sempre: a pujança da agricultura brasileira.
Peço licença para mais uma repetição: como sempre, gente pouco importa.
Mas há boas notícias. Tem-se a impressão de que os alertas dos movimentos sociais e de alguns setores da mídia, finalmente, acordaram o governo para a grave situação dos assentamentos agrários.
Também, certa malhação centrada na atuação do INCRA fez o órgão do governo, responsável por coordenar ações destinadas à reforma agrária, reagir e despertar polêmica, o que sempre é bom.
Melhor ainda se, realmente, concretizar-se a ideia de usar o BNDES para financiar recursos – e que sejam muitos – não só para dar sustentação à produtividade nos assentamentos, mas também para ampliar o ritmo de desapropriações e legalizações de terras.
Depois de criado em 1952, como autarquia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, em 1971, foi transformado em empresa pública e serviu de importante peça na política de substituição de importações.
Em 1982, ganhou um S, de social, BNDES, letra meio esquecida nesses últimos anos.
Existe mesmo algo de redundância aí. Se a essência do banco, desde que fundado, era a de promover desenvolvimento, o fator predominante deveria ser social, caso contrário deveriam ter criado o Banco Nacional de Crescimento Econômico, o BNCE.
A verdade é que, ultimamente, o BNDES tem sido protagonista extremo da promoção de fôlego para fusões e continuidade operacional de grupos enfermos, e figurante miúdo em ações imediatas de caráter social.
Muitos anos vão desde que este restrito espaço insiste na integração entre pequenos proprietários rurais, tecnologia eficaz e barata, crédito, industrialização e/ou comercialização garantidas.
Muitos nomes foram dados a isso. Arranjos produtivos locais, um deles. Poucos foram à frente.
O que a presidente Dilma Rousseff anunciou nesta semana, em Arapongas, Paraná, é uma gota d’água num oceano de possibilidades para o País.
Em cinco anos, com apoio majoritário dos BNDES e Banco do Brasil, serão investidos R$ 300 milhões em projeto agroindustrial de leite e derivados, no assentamento do MST Dorcelina Folador, com pouco mais de 700 hectares.
Na região, vivem mais de 4 mil famílias assentadas. No Paraná, há 18 cooperativas do MST, organizadas para dar apoio e difusão tecnológicos, educação e organização a quem planta desde hortifrutis até grãos e café, passando por pequenas criações de bovinos, suínos e aves.
Até aí já conseguimos um pouco mais do que subsistência. Se a isso acrescentarmos indústria e comércio, teremos atividade econômica, paz no campo, e um Brasil pujante não apenas nas estatísticas macroeconômicas, mas também de desenvolvimento humano.
Esperar o quê?