sexta-feira, 26 de julho de 2013

ECONOMIA - Fora do ponto.

O pensamento econômico ortodoxo avalia a política econômica pelo tripé criado no início do segundo mandato de FHC por imposição do FMI como pré-condição para salvar o país da bancarrota.

O tripé é definido por: a) superávit primário elevado; b) câmbio flutuante e; c) meta de inflação. Foram três condições que facilitariam o pagamento da dívida do País. Caso adotado garantiria, segundo a ortodoxia, crescimento econômico, equilíbrio nas contas internas e externas e inflação baixa.

Aparentemente bonito na teoria, não funciona na prática, pois os caminhos da inflação, do crescimento e do equilíbrio interno e externo respondem por outros fatores.

Esse tripé não trata da taxa de juro. É como se ela fosse consequência dos três fatores. Assim, o Banco Central deitou e rolou praticando taxas básicas de juros elevadas e deixou o mercado financeiro livre para usar e abusar de taxas de juros de corar agiota.

Fato é que com o tempo esse tripé foi morrendo e hoje quando se fala dele é que foi abandonado. Mas o que de fato caracteriza a política econômica em todos os governos, sem exceção, é a submissão vergonhosa aos ditames do mercado financeiro, que é quem de fato comanda a economia.

Esse comando se dá garantindo as taxas de juros que maximizam o lucro financeiro dos bancos com a Selic e nos empréstimos.



Os presidentes do BC, à época de FHC praticaram a Selic mais saborosa que o mercado financeiro já teve. Vale sempre registrar o agrado ao mercado financeiro, que marcaram suas gestões. À exceção do atual presidente Tombini os demais vieram e retornaram ao mercado financeiro, tendo Armínio Fraga sido operador do megaespeculador George Soros. 

Os lucros com a Selic ocorrem pelo uso hábil do mercado financeiro ao propagar a ameaça da inflação e dela se encontrar fora do centro da meta. O lucro se dá sob duas formas: a) nos ganhos de tesouraria em cima dos títulos do governo federal e; b) na remuneração pelo BC dos saldos de caixa diário dos bancos presenteados pela Selic. Sim, nosso BC remunera os saldos diários de caixa dos bancos, o que seria um escândalo em qualquer país, isso parece que não é notado pelo Tribunal de Contas, pelo Ministério Público, pelo Congresso Nacional nem pela mídia.

O outro ganho anormal do mercado financeiro é com as taxas de juros dos empréstimos. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade - Anefac, essa taxa para empréstimos em 12 meses é de 90% para o consumidor e 45% para as empresas. É onde o lucro é maior e inigualável em qualquer outro país.

Se durante o governo FHC os ex presidentes do BC praticaram a Selic mais elevada, no governo Lula ela ainda permaneceu nos dois dígitos, mas ainda ao gosto do mercado financeiro. No governo Dilma parecia que isso iria mudar ao declarar a presidenta que não havia justificativa técnica para as taxas de juros serem tão elevadas. Assim, conduziu a equipe econômica objetivando a queda da Selic e em abril de 2012 iniciou campanha de pressão sobre os bancos privados para a redução das taxas de juros dos empréstimos. No começo parecia que iria conseguir seu objetivo, mas passados seis meses voltaram ao nível anterior e ficou por isso mesmo.

Fora de ponto – Ao permanecer submissa ao mercado financeiro, a economia vem sendo operada fora de ponto. É como um potente motor que, estando fora de ponto, se move rangendo e trepidando. O rendimento é baixo e, com o tempo pode queimar.

A estratégia usada pelo BC para controlar a inflação é manter a Selic elevada para atrair o capital especulativo internacional para os ganhos financeiros nas aplicações em títulos do governo federal. 

Esse artificialismo cambial é devastador para a economia. Em primeiro lugar pelo rombo nas contas externas, que atingiram nos últimos doze meses até junho, US$ 72,5 bilhões (3,2% do PIB). Em segundo lugar pela perda potencial de dólares que irá naturalmente ocorrer quando os especuladores decidirem repatriar os lucros das aplicações. Em terceiro lugar por manter baixa a competitividade da empresa local face às empresas de fora do País.

Como resultado, boa parte da expansão do consumo das famílias é atendida pelo produto importado, o que reduz o PIB e a geração de emprego industrial.

O câmbio de equilíbrio para restaurar as contas externas é de R$ 3,00/US$ conforme o gráfico, que ilustra a relação entre as transações correntes e o câmbio em valores atuais para os anos de 2005 a 2012.



A outra anomalia que faz a economia girar fora de ponto é a taxa de juro ao tomador. Ela dobra o custo de aquisição para financiamentos com prazo de um ano, restringindo o orçamento doméstico. É o mais potente freio ao consumo, em linha com a política do BC para controlar a inflação. 

Resumindo: para crescer é necessário reduzir as taxas de juros básicas e ao tomador. Com isso o consumo cresce de forma saudável e pode ser atendido preferencialmente pelas empresas locais, livres do câmbio artificial. Retorna-se ao equilíbrio fiscal, por se reduzir as despesas com juros e ao equilíbrio das contas externas ao permitir ao câmbio voltar ao seu ponto de equilíbrio.

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