Consequências do mensalão não comentadas na mídia

O mensalão, em sua reta final, permite tirar outras conclusões que não são ventiladas diariamente nos jornais, apesar de importantes.
A primeira delas serve a políticos de esquerda: o recado é para não minimizar a força da direita, mesmo quando vencerem eleições e assumirem governos. Este é apenas parcela do poder na sociedade. É notável como em um único caso juízes e a mídia puniram líderes de esquerda como se eles fossem a eterna máquina corruptora no país nos últimos 513 anos e nenhum grande escândalo tivesse ocorrido antes que seus autores merecessem cadeia, nem mesmo os perpetrados por Collor e Maluf. 
Um outro aspecto que demonstra essa força foi o fato da prioridade estar sempre nos que corromperam e não nos corruptos. Perceba-se que estes aparecem quase como heróis na mídia, jamais seguidos de termos como quadrilheiros, petralhas, mensaleiros e etc. Para se comparar, veja-se o tratamento dado a corruptores e corruptos no caso da nova máfia de fiscais descoberta em São Paulo. Não se sabe até agora o nome dos corruptores e os detalhes de como agiram e nem parece haver interesse dos jornais em publicá-los.
Essa mesma onda midiática, onde os votos de parte dos ministros do STF serviram de fundamento para as denúncias, impediu também que os acusados explorassem pontos interessantes que poderiam até contrariar suas teses de defesa jurídica, mas reduziria a carga negativa no aspecto político: a de que compraram votos que estavam a venda, sem os quais não se poderia aprovar projetos importantes não apenas para o governo, mas para o país.
Foi isso que ocorreu, era necessário comprar os votos dos corruptos para obter a  reforma que reduziria o déficit da previdência, que aprovasse o SIMPLES (no qual entraram cinco milhões de empresas em dificuldades) e outros projetos de lei igualmente importantes..
Os principais acusados não puseram um único tostão no próprio bolso.  No extremo limite, filosoficamente, até se poderia discutir se não é perversão bem menos prejudicial pagar direto partidos e políticos corruptos e fisiológicos, do que lhes dar ministérios. Pelo menos até conseguirmos uma reforma política decente. No comando de órgãos públicos, esses partidos e políticos não só generalizam a corrupção, como deixam de fazer o que lhes compete e fazem estragos bem maiores.
Outro ponto que poderia ter sido explorado foi que apenas após a chegada do PT ao governo que esse tipo de corrupção foi objeto de investigação séria pela polícia federal e  julgado e punido pelo STF, inclusive pelos ministros indicados pelo partido. Isto impediu maior carga da mídia sobre os que, indicados pelo partido, não votaram conforme, supostamente, a “teoria do fato”.
E sobra também para o PT mais uma lição: convém voltar o quanto antes à luta pela regeneração moral da política, há muito deixada em plano secundário, ao contrário do “pragmatismo”, “governabilidade” e etc. Há limites para se fazer acordos e obter votos, os fins não justificam os meios.