sexta-feira, 25 de abril de 2014

ANOS DE CHUMBO - Depois que ele abriu a boca, passou a correr risco de vida.

Coronel Paulo Malhães, que confirmou assassinatos da ditadura, é encontrado morto



Menos de um mês após depor às comissões da verdade nacional e fluminense e admitir ter participado das torturas que levaram a assassinatos e desaparecimentos de corpos durante a ditadura militar, o coronel Paulo Malhães, da reserva do Exército, foi encontrado morto  na manhã de hoje, dentro de sua casa, num sítio do bairro Marapicu, zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Segundo sua filha. Carla Malhães, três pessoas invadiram a casa do coronel na tarde de ontem, prenderam a mulher dele, Cristina Batista Malhães, num quarto, e o mataram por sufocamento. O grupo levou todas as armas que o coronel Malhães tinha em casa. Os investigadores da Divisão de Homicídios (DHBF) da Baixada Fluminense, que terminaram uma perícia no local no início desta tarde, informaram que o coronel ficou em poder dos invasores  por nove horas -  das 13h às 22h, segundo o relato que eles ouviram das testemunhas.
“Eu fiquei amarrada e trancada no quarto, enquanto os bandidos reviravam a casa toda em busca de armas e munição. Não era segredo que ele era colecionador de armas”, contou a viúva, Cristina, enquanto era conduzida para a DHBF para prestar depoimento.
Coronel foi assassinado por sufocamento
O caseiro do sítio também foi conduzido à delegacia e está sendo ouvido pelos policiais. Ele foi amarrado e também ficou trancado em outro cômodo da casa. Segundo o delegado Fábio Salvadoretti, da DHBF, não há marcas de tiros no corpo de Paulo Malhães, apenas sinais de asfixia.
“A princípio, ele foi morto por asfixia. O corpo estava deitado no chão do quarto, de bruços, com o rosto prensado a um travesseiro. Ao que tudo indica ele foi morto com a obstrução das vias aéreas”, informou o delegado Salvadoretti. Ele adiantou que os policiais apreenderam na casa do coronel um rifle e uma garrucha antigas e colheram impressões digitais, que começam a ser analisadas.
O coronel Paulo Malhães teve atuação destacada na repressão política durante a ditadura militar, seja no DOI-CODI-Rio, seja na Casa da Morte em Petrópolis – de onde, das dezenas de presos políticos que por ali passaram e foram torturados, apenas um, Ines Etienne Romeu, saiu vivo – seja em outras ações repressivas da ditadura militar.
“Morte do coronel não pode ser tratada como crime comum”
No mês passado, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, ele assumiu ter participado de torturas, mortes e desaparecimentos de presos políticos, contando inclusive que corpos dos mortos da Casa de Petrópolis foram jogados em rios da Baixada Fluminense. Contou, também, que os torturadores arrancavam a arcada dentária e os dedos dos mortos para que eles não fossem identificados e os jogavam ao rio amarrados a pedras para que seus corpos não boiassem.
Nadine Borges, integrante da Comissão Estadual da Verdade fluminense e responsável por tomar o depoimento de Malhães, em entrevista ao G1 agora há pouco cobrou uma investigação rápida do caso, porque para ela a morte do coronel não pode ser tratado como crime comum.

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