Lula não está no volume morto e tem gás para 2018

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"Em julho de 2002, Lula tinha 33% em pesquisa do Ibope, contra 26% de Ciro Gomes. Oito ou nove pontos mais que hoje, sem ter passado por tantos abalos. Depois Serra cresceu, houve o segundo turno e Lula ganhou", analisa Tereza Cruvinel


Por Tereza Cruvinel

O realismo é um atributo essencial aos políticos. Os que perdem o pé da realidade costumam se espatifar. Foi o realismo diante das circunstâncias atuais que levou Lula a fazer a metáfora do “volume morto”, por ora nem desmentida nem confirmada, embora seja bem típica da linguagem dele. Horas depois de divulgada, entretanto, a pesquisa Datafolha sugeriu que Lula errou. Ele não está no “volume morto”, no sentido de que não teria condições para concorrer em 2018, como logo entenderam seus adversários. Em segundo lugar numa simulação com Aécio Neves como candidato do PSDB, Lula fica com 25%, dez pontos atrás do tucano, com 25% de preferência. Se o candidato fosse Alckmin, teria 26% contra 25% de Marina Silva e 20% do governador tucano.

Ora, ter 25% de preferência hoje, quando se tornou claro objeto de caça do juiz Sergio Moro e de outros que não pensam em outra coisa senão em “pegar o Lula” não significa estar no volume morto. Se com tudo isso ele ainda liderasse a corrida precoce, seria um fenômeno raro. Lula continua competitivo até mesmo em comparação com seu próprio desempenho nas disputas do passado.

Em julho de 2002, por exemplo, Lula tinha 33% em pesquisa do Ibope, contra 26% de Ciro Gomes. Oito ou nove pontos mais que hoje, sem ter passado por tantos abalos. Depois Serra cresceu, houve o segundo turno e Lula ganhou. Da mesma forma, em 2006, quando concorreu à reeleição, depois da hecatombe do mensalão. Em julho Lula tinha 44% contra 27% de Geraldo Alckmin em pesquisa do IBOPE. Sendo presidente naquela época, sua posição não era assim tão melhor que a de hoje.

Esta corrida ainda nem começou e Lula, com os 25%/26% atuais, tem combustível para enfrentá-la. É claro que, daqui até lá, muita coisa pode acontecer. Tanto ele, como Dilma e o PT podem enfrentar revezes maiores aí pela frente. Mas a leitura de hoje é esta.

Diferente é a situação da presidente Dilma e seu governo. Os meros 10% de ótimo e bom dificultam a reação do governo. E dificultam principalmente a gestão política na relação com o Congresso. Quanto mais impopular um presidente, mais arredios serão os parlamentares, mais contestadores serão os presidentes das duas casas em busca de poder e caminhos próprios. Dilma só tem como reagir através das ações de governo, dando notícias boas ao país, como disse Lula na suposta conversa com religiosos. Mas a economia não ajuda e o cerco agora se ampliou. A prisão dos presidentes e executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez são fatos muito graves, inclusive para a combalida economia, e o TCU reabriu a agenda do impeachment com o caso da rejeição das contas de 2014.

PMDB, ainda sem alternativas

Todos os dirigentes do PMDB dizem, em conversas nem tão reservadas, que a aliança com o PT pode até chegar ao fim do governo Dilma, aos trancos e barrancos, mas não será reeditada na sucessão de 2018, quando terão candidato próprio.

A pesquisa Datafolha, entretanto, indica que terão que trabalhar muito para produzir este candidato. Três possíveis postulantes foram avaliados, não ainda como candidatos, mas quanto ao conhecimento e à aprovação do desempenho nos cargos que ocupam: o vice-presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o presidente do Senado, Renan Calheiros. Entre os três, o mais conhecido é Temer, com 10%, seguido de Cunha (5%) e Renan (9%). Mas é Cunha, o menos conhecido, que tem melhor avaliação de desempenho: 17% de bom contra 15% de Michel e 13% de Renan.

Um dos objetivos que Cunha vem perseguindo com seu programa “Câmara Itinerante”, que o vem levando a fazer sessões em diferentes estados, é tornar seu nome mais conhecido nacionalmente. Cuidem-se, Renan e Michel, se querem entrar no páreo.