Gabrielli: por que Cerra quer entregar o pré-sal
Brasil será o fornecedor estratégico do mundo, depois de 2020
Ex-presidente da Petrobras aponta os interesses externos na produção de óleo e gás no Pré-Sal
A geopolítica do petróleo e a
importância da Petrobras e do Pré-Sal no mercado mundial de óleo e gás
foram temas centrais na palestra realizada ontem à noite (20/07) pelo
ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, no Clube de
Engenharia. A exposição do ex-dirigente da estatal lotou o auditório da
entidade, reunindo na mesa de debate o senador Lindbergh Farias; o 1º
vice-presidente do Clube de Engenharia, Sebastião Soares; o
ex-presidente Raymundo de Oliveira; e o chefe da Divisão Técnica de
Energia, Mariano Moreira.
Economista e professor aposentado da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Gabrielli esteve à frente da
estatal durante sete anos, de 2005 a 2011, período em que a empresa
aumentou a sua produção de petróleo em 33% e os investimentos em 285%:
subiram de R$ 18 bilhões para R$ 73 bilhões. Foi também na gestão de
Gabrielli que a Petrobras buscou redefinir o seu papel na economia,
tendo como estratégia se tornar uma gigante mundial de energia.
Em sua exposição, Gabrielli procurou
abordar apenas os aspectos técnicos do mercado mundial de petróleo e a
trajetória da Petrobras nesse contexto, mas não se furtou a comentar os
assuntos políticos que envolvem a estatal. Assinalou, por exemplo, que a
solução da crise vivida hoje pela empresa é política e, portanto, passa
por uma decisão do responsável e controlador da empresa, o governo
federal.
No entanto, na avaliação do economista,
a perspectiva futura da estatal é de desintegração, com o desmonte da
cadeia de fornecedores, desemprego crescente, falências e paralisação
dos investimentos. “A perspectiva futura da Petrobras é só o Pré-Sal,
com a saída dos campos petrolíferos em terra, a venda de alguns campos
da Bacia de Campos e da BR Distribuidora”.
Desmonte dos fornecedores
José Sérgio Gabrielli salientou que a
Operação Lava Jato foi particularmente cruel no desmonte da cadeia de
fornecedores da Petrobras, que antes disputavam em pé de igualdade o
mercado internacional e hoje estão quebrados. “A Lava Jato provocou a
destruição da engenharia brasileira”, disse o economista, para quem a
estatal ainda tem fôlego o bastante para sair da crise financeira em que
se encontra. Ele aponta que 55% da dívida da empresa vencem até 2021 e o
restante depois dessa data, o que torna possível a Petrobras quitar com
sobra os seus compromissos.
Pelas contas do seu ex-presidente, a
Petrobras precisa pagar nos próximos dois anos R$ 196,3 bilhões de juros
e amortizações da dívida, mas as projeções de crescimento indicam que
ela tem condições estruturais de faturar algo em torno de R$ 848 bilhões
até 2021.
O balanço da conjuntura internacional
feita pelo ex-presidente da Petrobras mostra um aumento crescente da
demanda por petróleo nos países da Ásia e mesmo nos Estados Unidos e da
importância do Brasil nesse mercado. Gabrielli está convicto de que o
país é quem mais vai contribuir adicionalmente com a oferta de óleo em
2017, com a produção de mais 300 mil barris. Já o preço do produto no
mercado internacional deve subir de U$ 50 para U$ 60. Ele frisou, no
entanto, que “o corte atual nos investimentos da empresa vai reduzir a
sua produção futura”.
Em sua intervenção, o senador Lindbergh
Farias lembrou que nos primeiros 15 dias de agosto será votado o
Projeto de Lei 4567/16, de autoria do senador licenciado, e atual
ministro das Relações Exteriores, José Serra, que retira da Petrobras o
direito de ser a operadora única do Pré-Sal. Depois de também criticar
as mudanças que estão sendo discutidas nas leis trabalhistas, o senador
desabafou: “Eles querem colocar o negociado na frente do legislado,
acabando com o legado não só dos governos Lula, mas também de todos os
anteriores, desde Getúlio Vargas”, afirmou.
Pré-Sal imbatível
Para Gabrielli, o Pré-Sal é um mercado
atraente para as empresas estrangeiras, particularmente as
norte-americanas. “O Pré-Sal é imbatível tanto no volume de recursos
identificáveis quanto no baixo custo de exploração e consequente
produtividade”, disse.
Para se ter uma ideia da produtividade
do Pré-Sal “falam alto” os números registrados nas planilhas
apresentadas por Gabrielli: em terra e águas rasas, a Petrobras perfurou
por 36 anos 5.748 poços para extrair 110 barris em cada um deles. Em
águas profundas levou 23 anos para extrair 1600 barris em cada um dos
392 poços perfurados. No Pré-Sal, em 9 anos, já extrai 26 mil barris por
dia em cada um dos 25 poços perfurados.
Os Estados Unidos, que hoje importam
apenas 7% do petróleo que consomem, estimam para 2020 o declínio de sua
produção, de acordo com dados da própria agência de energia daquele
país. “O Brasil é estratégico pós 2020 por ter a produção disponível.
Essa é a motivação estrutural do mercado para acelerar a exploração do
Pré-Sal”, afirmou Gabrielli, acrescentando que uma produção em menor
escala do óleo e gás daria fôlego à Petrobras para enfrentar o problema
financeiro que está vivenciando e voltar a investir. “As importações de
petróleo em valor muito acima do preço de venda no mercado brasileiro
tiveram um impacto muito grande no caixa da Petrobras”.
O encontro foi aberto pelo 1º
vice-presidente do Clube de Engenharia, Sebastião Soares, para quem
Gabrielli é um dos artífices da Petrobras, um vetor decisivo do projeto
de soberania defendido há muitos anos pelo Clube de Engenharia.
“Gabrielli tem papel importante na história da Petrobras, empresa que
acumula vitórias e sucessos assegurados pelos seus colaboradores,
apoiadores e pelo povo brasileiro”, afirmou Soares.
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