segunda-feira, 2 de abril de 2018

POLÍTICA - Tio Rei resolveu "pegar no pé" do mauricinho que resolveu jejuar.



POR REINALDO AZEVEDO
Um site de palestras resolveu descrever, certa feita, as qualidades de procurador de Deltan Dallagnol. Destacou as maçãs rosadas de seu rosto, o aro fino dos óculos e o perfil longilíneo. Sei. A notícia exótica mais recente sobre esse rapaz informava que ele vai ser professor num curso que se dispõe a ser um “acelerador de pessoas”. Não tenho ideia do que seja. Mas entendo. Parece que o militante político que é procurador nas horas vagas optou mesmo por perder o decoro, o bom senso e também o senso de ridículo. Mas quer manter seu perfil longilíneo. Ele decidiu entrar em jejum.
Atenção, gente! Se Lula não for preso, Dallagnol pode morrer de fome!
Ele escreveu o seguinte no Facebook:

“4ª feira o dia D da luta contra a corrupção na #LavaJato. Uma derrota significará que a maior parte dos corruptos de diferentes partidos, por todo o país, jamais serão responsabilizados , na Lava jato e além. O cenário não é bom. Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país”.
Vamos ver
Também a gramática de Dellagnol corre o risco de esmorecer na inanição. O correto é “a maior parte (…) jamais será”. Mas eu entendo esse rapaz. Ele faz a chamada concordância psicológica. Em matéria de cadeia, com ele, o verbo só fica em pessoas do plural.
Ele ainda sonha escrever: “A totalidade dos congressistas ESTÃO na cadeia”…
Observaram?
Ele não cita a Constituição. Isso é besteira.
Ele não se apega ao Código de Ética do Ministério Público. Isso também é besteira. Nessas horas, e sua turma afirmam se manifestar como cidadãos.
Moram como procuradores — e nós pagamos o auxílio-moradia dos bravos —, mas fazem campanha política como “cidadãos”.
Não está claro se ele já parou de comer ou se vai fazer um jejum meia-bomba só na quarta-feira.
Religioso, entrará em oração, mas também não cita trecho da Bíblia que justifica seu ato.
De figura tão singular, esperava algo mais dramático. Dallagnol deveria se amarrar à estátua da Justiça, que fica em frente ao STF. Uma vez lá, faria um esforço para arrancar a venda dos olhos daquela dona. E aproveitaria para colocar em suas mãos uma espada flamejante.
Venham cá… Com aquelas bochechas rosadas de quem foi alimentando a Toddynho e sucrilho, alguém acredita no rapazola passando fome pelo Brasil? Ele não abre mão nem do auxílio-moradia!
Dallagnol não está só
Para ficar em termos bíblicos, Dallagnol é uma legião!. Quem veio em seu socorro? O juiz Marcelo Bretas. Este escreveu o seguinte em resposta:
“Caro irmão em Cristo, como cidadão brasileiro e temente a Deus, acompanhá-lo-ei em oração, em favor do nosso país e do nosso povo”.
Gosto de palavras. Das que são escritas e das que não são. Notem que Bretas prometeu acompanhar seu amiguinho fanático na oração, mas não no jejum. Sabem como é… A gente vê que, em matéria de direito, ele não resiste a um prato cheio, né? Não tem perfil longilíneo, é meio gordoto.
Como se nota, também Bretas deixa de lado os códigos legais. Estamos todos submetidos a uma religião que, até onde acompanho — e entendo um pouco do assunto —, está para o cristianismo mais ou menos como estavam aquelas seitas medievais que, incapazes de entender a Santíssima Trindade, optavam por escatologias “findomundistas”…
Tenho de lembrar o Marx de o “18 Brumário” ao se referir a Luís Bonaparte. E não só no trecho em que ele fala do “bufão sério que não mais toma a história universal por uma comédia e sim a sua própria comédia pela história universal.” Há também o trecho das salsichas com alho. Napoleão III, diz Marx, era um temperamento fatalista e achava haver forças às quais os homens, especialmente os soldados, não conseguiam resistir. Entre elas estavam “fatias de peru e salsichas com alho”.
Bretas não deve resistir a um prato bem cheio de macarrão à bolonhesa. Nessa hora, sua concepção de direito encontra seu desígnio superior. Com a devida vênia, é um glutão até do auxílio-moradia. Não se contentou com um. Ele e a mulher recebem logo dois.
Jejum aí nem pensar.
Desafio
De cristão que cujo sacrifício consiste em desejar a má sorte alheia, ainda que merecida, o inferno está cheio. Faço aqui um desafio à dupla: os dois abrem mão em juízo, ainda nesta terça, do auxílio-moradia — basta um compromisso público e verificável de que passarão a doar este e outros penduricalhos a entidades assistenciais —, e isso funciona como uma doação votiva antecipada ao Senhor, entenderam?
Nesse caso, como deve ser, o sacrifício antecede a recompensa.
Um só vai entrar em oração, mas sem abrir mão da bolonhesa. O outro vai, no máximo, deixar de lado a tigelinha de sucrilhos…
O cristianismo não está por aí há mais de dois mil anos em razão dessas molezas…
Encerro
Pense você o que for sobre o habeas corpus a Lula. Seja contra, seja a favor, seja indiferente. Só espero que não ache normal o coordenador da Lava Jato e um dos juízes hoje com maior visibilidade no país recorrerem a esse tipo de expediente para, a um só tempo, demonizar a Justiça, tentar inflamar as ruas e ainda fazer demagogia pessoal.
Ao longo de 12 anos de blog, comprei boas brigas com juízes e procuradores de esquerda que usaram o seu cargo e a sua condição para fazer proselitismo fora da lei.
Não vou condescender com essa dupla porque, afinal, eles tentam mobilizar a opinião pública contra Lula.
Por que não?
Vergonha na cara.
É a herança maior que meu pai me deixou.
Era operário e não serviu como meu advogado para que eu conquistasse um benefício que não estava na lei. E, naquele caso, foi só o jejum dos que podem mais

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