POR REINALDO AZEVEDO
Um site de palestras resolveu descrever, certa feita, as qualidades de procurador de Deltan Dallagnol. Destacou as maçãs rosadas de seu rosto, o aro fino dos óculos e o perfil longilíneo. Sei. A notícia exótica mais recente sobre esse rapaz informava que ele vai ser professor num curso que se dispõe a ser um “acelerador de pessoas”. Não tenho ideia do que seja. Mas entendo. Parece que o militante político que é procurador nas horas vagas optou mesmo por perder o decoro, o bom senso e também o senso de ridículo. Mas quer manter seu perfil longilíneo. Ele decidiu entrar em jejum.
Atenção, gente! Se Lula não for preso, Dallagnol pode morrer de fome!
Ele escreveu o seguinte no Facebook:
“4ª feira o dia D da luta contra a corrupção na #LavaJato. Uma derrota significará que a maior parte dos corruptos de diferentes partidos, por todo o país, jamais serão responsabilizados , na Lava jato e além. O cenário não é bom. Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país”.
Vamos ver
Também a gramática de Dellagnol corre o risco de esmorecer na inanição. O correto é “a maior parte (…) jamais será”. Mas eu entendo esse rapaz. Ele faz a chamada concordância psicológica. Em matéria de cadeia, com ele, o verbo só fica em pessoas do plural.
Ele ainda sonha escrever: “A totalidade dos congressistas ESTÃO na cadeia”…
Observaram?
Ele não cita a Constituição. Isso é besteira.
Ele não se apega ao Código de Ética do Ministério Público. Isso também é besteira. Nessas horas, e sua turma afirmam se manifestar como cidadãos.
Moram como procuradores — e nós pagamos o auxílio-moradia dos bravos —, mas fazem campanha política como “cidadãos”.
Não está claro se ele já parou de comer ou se vai fazer um jejum meia-bomba só na quarta-feira.
Religioso, entrará em oração, mas também não cita trecho da Bíblia que justifica seu ato.
De figura tão singular, esperava algo mais dramático. Dallagnol deveria se amarrar à estátua da Justiça, que fica em frente ao STF. Uma vez lá, faria um esforço para arrancar a venda dos olhos daquela dona. E aproveitaria para colocar em suas mãos uma espada flamejante.
Venham cá… Com aquelas bochechas rosadas de quem foi alimentando a Toddynho e sucrilho, alguém acredita no rapazola passando fome pelo Brasil? Ele não abre mão nem do auxílio-moradia!
Dallagnol não está só
Para ficar em termos bíblicos, Dallagnol é uma legião!. Quem veio em seu socorro? O juiz Marcelo Bretas. Este escreveu o seguinte em resposta:
“Caro irmão em Cristo, como cidadão brasileiro e temente a Deus, acompanhá-lo-ei em oração, em favor do nosso país e do nosso povo”.
Para ficar em termos bíblicos, Dallagnol é uma legião!. Quem veio em seu socorro? O juiz Marcelo Bretas. Este escreveu o seguinte em resposta:
“Caro irmão em Cristo, como cidadão brasileiro e temente a Deus, acompanhá-lo-ei em oração, em favor do nosso país e do nosso povo”.
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Gosto de palavras. Das que são escritas e das que não são. Notem que Bretas prometeu acompanhar seu amiguinho fanático na oração, mas não no jejum. Sabem como é… A gente vê que, em matéria de direito, ele não resiste a um prato cheio, né? Não tem perfil longilíneo, é meio gordoto.
Como se nota, também Bretas deixa de lado os códigos legais. Estamos todos submetidos a uma religião que, até onde acompanho — e entendo um pouco do assunto —, está para o cristianismo mais ou menos como estavam aquelas seitas medievais que, incapazes de entender a Santíssima Trindade, optavam por escatologias “findomundistas”…
Tenho de lembrar o Marx de o “18 Brumário” ao se referir a Luís Bonaparte. E não só no trecho em que ele fala do “bufão sério que não mais toma a história universal por uma comédia e sim a sua própria comédia pela história universal.” Há também o trecho das salsichas com alho. Napoleão III, diz Marx, era um temperamento fatalista e achava haver forças às quais os homens, especialmente os soldados, não conseguiam resistir. Entre elas estavam “fatias de peru e salsichas com alho”.
Bretas não deve resistir a um prato bem cheio de macarrão à bolonhesa. Nessa hora, sua concepção de direito encontra seu desígnio superior. Com a devida vênia, é um glutão até do auxílio-moradia. Não se contentou com um. Ele e a mulher recebem logo dois.
Jejum aí nem pensar.
Desafio
De cristão que cujo sacrifício consiste em desejar a má sorte alheia, ainda que merecida, o inferno está cheio. Faço aqui um desafio à dupla: os dois abrem mão em juízo, ainda nesta terça, do auxílio-moradia — basta um compromisso público e verificável de que passarão a doar este e outros penduricalhos a entidades assistenciais —, e isso funciona como uma doação votiva antecipada ao Senhor, entenderam?
De cristão que cujo sacrifício consiste em desejar a má sorte alheia, ainda que merecida, o inferno está cheio. Faço aqui um desafio à dupla: os dois abrem mão em juízo, ainda nesta terça, do auxílio-moradia — basta um compromisso público e verificável de que passarão a doar este e outros penduricalhos a entidades assistenciais —, e isso funciona como uma doação votiva antecipada ao Senhor, entenderam?
Nesse caso, como deve ser, o sacrifício antecede a recompensa.
Um só vai entrar em oração, mas sem abrir mão da bolonhesa. O outro vai, no máximo, deixar de lado a tigelinha de sucrilhos…
O cristianismo não está por aí há mais de dois mil anos em razão dessas molezas…
Encerro
Pense você o que for sobre o habeas corpus a Lula. Seja contra, seja a favor, seja indiferente. Só espero que não ache normal o coordenador da Lava Jato e um dos juízes hoje com maior visibilidade no país recorrerem a esse tipo de expediente para, a um só tempo, demonizar a Justiça, tentar inflamar as ruas e ainda fazer demagogia pessoal.
Pense você o que for sobre o habeas corpus a Lula. Seja contra, seja a favor, seja indiferente. Só espero que não ache normal o coordenador da Lava Jato e um dos juízes hoje com maior visibilidade no país recorrerem a esse tipo de expediente para, a um só tempo, demonizar a Justiça, tentar inflamar as ruas e ainda fazer demagogia pessoal.
Ao longo de 12 anos de blog, comprei boas brigas com juízes e procuradores de esquerda que usaram o seu cargo e a sua condição para fazer proselitismo fora da lei.
Não vou condescender com essa dupla porque, afinal, eles tentam mobilizar a opinião pública contra Lula.
Por que não?
Vergonha na cara.
É a herança maior que meu pai me deixou.
Era operário e não serviu como meu advogado para que eu conquistasse um benefício que não estava na lei. E, naquele caso, foi só o jejum dos que podem mais
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