sexta-feira, 25 de setembro de 2020

ANOS DE CHUMBO - Um sobrevivente poeta.

 

ERA 1971 - DITADURA MILITAR
Tinha 20 anos em 1970. Foi um ano trágico. Fazia jornalismo na UFPr e Teatro no Guaíra. Tinha vindo de Apucarana no ano anterior. Minha entidade, UEA - UNIÃO DOS ESTUDANTES DE APUCARANA, fora invadida pelo Exército e fechada em 15 de dezembro de 1968. Eu era o presidente. Éramos um grupo de garotos entre 15 e 21 anos nessa cidade do interior paranaense e tínhamos integrado a DI - Dissidência do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Rompidos, buscávamos uma nova organização para continuar a luta. Difícil de ficar em Apucarana por questão de segurança, Dois de nós foram para São Paulo, Três para Curitiba e os demais, sem condições de sair, ficaram na cidade. Nesse maldito ano sofremos violenta repressão. Os que foram para São Paulo, José Idésio Brianezi e Antonio dos Três Reis de Oliveira, foram assassinados em abril e maio. Os que ficaram em Apucarana foram presos e torturados (julho/agosto), Valdir Feltrim e Valdecir Feltrim e Geraldo Magela Soares Vermelho. Geraldo não suportando as torturas tentou o suicídio, cortando a garganta na prisão. Sobreviveu. Dos três que vieram para Curitiba, Francisco Dias Soares Vermelho morreu afogado num acidente estúpido, uma semana antes de ter o seu apartamento invadido pela DOPS em junho/julho, Manuel Cezar Mota e eu conseguimos fugir. Fui preso em dezembro daquele ano e libertado no início do ano seguinte (seria a minha primeira prisão). Manuel ficaria foragido por mais de dois anos, somente aparecendo 2 anos depois. Respondeu a processo e foi absolvido. ESSA POESIA, portanto, eu a fiz em 1971, num momento muito difícil para todo Brasil que acreditava na liberdade e sonhava com a democracia. Estava com 21 anos e é incrível que 50 anos depois, tenho praticamente 71, ela consiga ser tão atual.
A imagem pode conter: texto que diz "ESPERANÇA 1971 Espero no anseio da noite 0 gorjeio das aves da manhã romper a aurora de luz Para ver se as trevas Também tem fim... NARCISO PIRES"
Eni Silveira e outras 44 pessoas
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