sexta-feira, 29 de julho de 2022

Crônica de um país devastado.

 

Crônica de um país devastado 🇧🇷
~
Eu andava apressada na rua quando o olhar daquela mulher que carregava um saco preto cruzou com o meu. Ela disse algo que não consegui entender. Cheguei mais perto e com a voz embargada ela perguntou se eu podia ajudá-la porque ela só conseguiu juntar algumas latinhas muito tarde e o lugar que trocava já estava fechado, então teria que voltar para casa de mãos abanando. As filhas, de 8 e 11 anos, aguardavam para comer a primeira refeição do dia. Segundo ela a vizinha ajudava a olhar as duas meninas enquanto ela saia para conseguir alguma coisa. “Mas elas estudam, não quero que tenham a minha vida e passe por tudo que eu estou passando. O pai voltou para o Norte e eu fiquei sozinha cuidando delas”, disse aquela mulher, retratando um país onde muitos homens abandonam suas mulheres, e elas tem que virar pai e mãe. Um país que é contra o aborto mas vê passivamente as crianças crescerem sem qualquer perspectiva de uma vida melhor.
A essa altura eu já estava envolvida e impactada com aquela história. Me ofereci para fazer algumas compras e fomos até um mercado a alguns passos dali, e ela constrangida ia se desculpando no caminho. “Será que você poderia comprar um óleo, açúcar, sal e café? Não tenho nada em casa, nada mesmo”. Me ofereci então para comprar arroz, feijão, macarrão, e fui pegando nas prateleiras. Ela pediu se podia comprar farinha de mandioca: “quando não tiver nada, dá para comer alguma coisa”. Depois muito envergonhada perguntou se podia pegar um sabão: “é que só estou lavando a louça com água, acabou o sabão, está faltando tudo mesmo”. Pegamos então pão de forma, leite, biscoitos e banana para as crianças, e ela só agradecia: “que bom, nem acredito, graças a Deus! Hoje vamos poder almoçar e jantar, porque o dia que a gente almoça a gente não janta, está muito difícil”. Fui pegando mais algumas coisas para ajudar, carne moída, ovo, alho, extrato de tomate e itens de limpeza como sabão em pó e desinfetante, ela sempre muito agradecida do lado. Passamos no caixa e ela muito feliz disse que assim que chegasse pegaria umas madeiras para fazer o almoço “porque o gás está muito caro, não dá mais para comprar”. Mais uma vez agradeceu e brincou dizendo que os vizinhos lá da comunidade em Bonsucesso onde morava iam achar que estava rica “nunca cheguei com tantas compras”, disse pela primeira vez sorrindo (mas nem era tanta coisa assim, devia dar para quebrar o galho por uma semana). Meu coração já estava apertado, quando ela se despediu e disse que não esqueceria de mim. Fiquei feliz de poder ajudar só um pouquinho, e no fundo eu é que não vou esquecer dela e quando chegar em outubro não tenho dúvida em quem votar para mudar essa triste realidade onde 33 milhões de pessoas estão vivendo em insegurança alimentar. É Lula 13.
Neuza Salles Carneiro, ALda Vital Brasil e outras 7 pessoas
1 comentário
Curtir
Comentar

Nenhum comentário: