sábado, 31 de janeiro de 2009

FSM - Apocalipse Now

Em um debate sobre a crise, quatro especialistas convidados para o Fórum Social Mundial trouxeram más notícias. Pareciam os quatro cavaleiros do apocalipse. Segundo eles, os problemas estão só no começo e vão se aprofundar, jogando milhões de pessoas no desemprego. E as esquerdas, alerta um dos debatedores, estão paralisadas, sem coragem de denunciar isso e exigir mudanças reais. A análise é de Bernardo Kucinski.

Bernardo Kucinski

BELÉM - Tenho más notícias. A crise econômica está só no começo. Vai se aprofundar, durar anos, jogar milhões no desemprego e na rua da amargura. A profecia é de gente que entende, quatro especialistas convidados para o Fórum Social Mundial em um debate organizado por uma entidade também respeitável, a Fundação Friedrich Ebert. Pareciam os quatro cavaleiros do apocalipse.

Um deles, Joseph Borrell, com PhD em economia, ex-ministro de Obras da Espanha, cheio de outros títulos e credenciais, disse com todas letras que “os banqueiros que provocaram essa crise deveriam ser presos e processados por crimes contra a humanidade,” tal o estrago que provocaram no mundo e ainda provocarão. Mas em vez disso, estão soltinhos da vida, e ainda levaram de prêmio milhões de dólares como bônus de gratificação.

Na Espanha, diz Borrell, um milhão de pessoas perderam o emprego só nos três últimos meses. A taxa de desemprego deve atingir 17% da força de trabalho, a que havia na Espanha 15 anos atrás. “Recuamos 15 anos de nossa história econômica”, diz ele. Outra dimensão da profundidade da crise na Espanha é o estoque de 12 milhões de moradias vazias, sem comprador.

O economista do DIEESE Adhemar Mineiro, escolado e escaldado em economia internacional, disse que se trata de uma crise de todo o sistema econômico baseado na supremacia do capital financeiro e expansão ilimitada do crédito. Não é coisa pequena, localizada. É uma crise estrutural desse modo de produção e consumo.

A idéia de que a América Latina estaria imune ou menos vulnerável aos efeitos da crise também já foi para o ralo. Adhemar ressaltou o fato de que previsões cada vez mais pessimistas estão se sucedendo com rapidez. A previsão de que o PIB do Brasil cresceria 4% este ano foi rapidamente rebaixada à metade e hoje já se fala em crescimento zero.

O prognóstico é ainda pior para outros países da América Latina, de economia menos diversificada, que dependem de exportação de uma ou duas commodities, como Venezuela, Argentina, Chile. Vai ser pesado o efeito combinado do estrangulamento do crédito e queda no preço das commodities.

O sistema simplesmente parou e não conseguem religá-lo, diz Oscar Ugarteche, do Instituto Nacional de Pesquisas do México. Outro que tem Phd. Para ele ainda estamos na primeira etapa da crise. Uma montanha de títulos podres continua entupindo o sistema. O total de títulos e papéis criados pelos bancos é de 16 vezes o valor da riqueza real que os poderia lastrear. Essa montanha de títulos podres ainda está para desabar, só não se sabe quando e como. A bolha das hipotecas foi só a primeira.

Igualmente agourenta estava Modly McCoy, ativista da Confederação Internacional Sindical, que atua em nome dos trabalhadores no FMI e Banco Mundial. O discurso dessas entidades mudou com a crise, mas a prática não. Mesmo nos empréstimos emergenciais oferecidos nos últimos meses para tentar aplacar a sede de crédito continuaram impondo as condicionalidades neo-liberais: privatizar a previdência, reduzir salários de funcionários públicos e por aí afora. Não houve mudanças substantivas nessas estruturas de poder.

Por que está tão difícil atacar a crise? Em primeiro lugar porque precisaria haver um novo poder sobre o funcionamento da economia. Não adianta querer que o poder financeiro resolva, diz Adhemar Mineiro. Em segundo lugar, a crise já é global, mas as medidas anti-cíclicas que vêm sendo tomadas limitam-se a países. Poderiam até dar resultado nos marcos de uma integração regional porque a produção hoje em dia se dá numa escala que exige mercados ampliados, diz Oscar Ugarteche.

O pior de tudo, diz Joseph Borrell, é que a condução das soluções está nas mãos dos mesmos sujeitos que provocaram a crise. Os governos estão enchendo os bancos de dinheiro, sem exigir nada em troca. Ao contrário, ainda prometem que vão fazer de tudo para não nacionalizar os bancos, e pedem desculpas, se tiverem que nacionalizar será tudo temporário. E os paraísos fiscais, que ele chama de “o lado escuro do sistema financeiro”, continuam intocáveis”.

“As esquerdas não tem coragem de denunciar tudo isso e exigir mudanças reais. Estão paralisadas.”
Fonte:Agência Carta Maior.

MÍDIA - Veja acusa Davos de marxista e declara amor ao capitalismo.

A Veja acusa a 39ª edição do Fórum Econômico Mundial de um perigoso desvio marxista. ''O que mais faltou em Davos foram justamente coragem e lucidez'', afirma, na edição que chegou às bancas neste sábado. A matéria, não assinada, acusa Davos de cair numa visão ''cara aos marxistas''; conclui com uma arrebatada declaração de amor ao capitalismo e uma sumária excomunhão de toda crítica ao sistema capitalista.

Por Bernardo Joffily

Montagem gráfica da revista leva Marx a Davos A matéria, intitulada O Fórum Social de Davos (!), traz um pesado veredito de vacilação esquerdista contra os protagonistas do Fórum dos Ricos, promovido anualmente por um consórcio de multinacionais. ''De modo geral, os conferencistas e panelistas adotaram a visão tão cara aos marxistas de ver as falhas incontornáveis sistêmicas do 'modelo' e do 'mercado'''.

O texto segue um caminho enviezado, pois escolhe um caminho alegórico. Narra a suposta lenda de que Karl Marx abandona sua tumba para visitar o Fórum Social Mundial; decepciona-se com o que encontra na atual edição, em Belém do Pará; mas consola-se com o que escuta em Davos, onde acha ''gente articulada, brandindo dados e pondo a culpa da crise econômica no 'sistema capitalista'''.

A alegoria claudica desde o início, já que as tiradas de humor forçado não ocultam ao leitor atento uma intenção editorial quase colérica. Por fim, o autor anônimo desvencilha-se da falsa lenda para deitar no papel o que pretendia desde o início, seu amor ao capitalismo ...e seu medo de que a crise destrua o amado. Veja a longa conclusão:

''As contradições e injustiças que embalaram politicamente as teorias de Karl Marx na Europa da segunda metade do século 19 e por quase todo o século 20 praticamente não existem mais nos países avançados e foram minoradas em quase todo o mundo. O capitalismo deu condições extraordinárias de habitação, saúde, conforto e aposentadoria a milhões de habitantes de países onde se instalou. Só nos anos que antecederam a crise atual, tirou da miséria centenas de milhões de famílias no Brasil, China e Índia. É esse progresso que está sendo colocado em risco pela corrente de destruição de riqueza deflagrada pela crise financeira. Foram necessários grandes homens e grandes mulheres para chegar até esse estágio de progresso. É de indivíduos formidáveis, e não de críticas ao 'sistema capitalista' emanadas do cemitério de Highgate [onde Karl Marx está enterrado], que virá a solução para impedir que a crise destrua tudo o que se conquistou e para avançar ainda mais.''

A matéria mostra o tamanho dos apuros ideológicos, jornalísticos e estilísticos em que a revista número um da família Civita se meteu, desde que a crise entrou em sua fase aguda. A primeira capa dedicada ao assunto, na edição de 24 de outubro passado, foi o primeiro desastre: Tio Sam aparecia com um punhado de dólares na mão, afirmando ''Eu salvei você'', enquanto o texto garantia que o Plano Paulson (quem se lembra dele?) era a saída da crise.

Desde então, as abordagens do tema rivalizam com os tombos de Wall Street. Depois de fazer uma leitura errada do pós-Muro de Berlim, optando por um reacionarismo intolerante e estridente, a Veja se excede nesse caminho a cada semana. Agora, acusa Davos de marxista. Mais alguns passos à direita e corre o risco de cair do mundo.
Site: O Vermelho.

CULTURA - Cuba copia para os EUA mais de 3 mil documentos de Hemingway.

Graças a um acordo, as cópias digitalizadas de mais de 3 mil cartas e manuscritos que Ernest Hemingway escreveu em Cuba estarão disponíveis dentro de poucos meses para os pesquisadores na biblioteca John F. Kennedy em Boston (EUA). A imprensa americana publicou nesta quinta-feira (30) que as cópias dos documentos já se encontram na biblioteca que leva o nome do ex-presidente.

Segundo o jornal Worcester Telegram, os documentos foram examinados de maneira superficial. Espera-se que estejam à disposição dos pesquisadores até o final da primavera no hemisfério norte.

Devido à intercessão do congressista democrata James McGovern, Cuba e Estados Unidos acertaram, no ano de 2002, um plano para preservar milhares de fotografias, cartas e outros documentos do romancista americano que se encontram em Finca Vigia. Foi nesse local que, durante 21 anos, o escritor e jornalista americano instalou seu lar em Cuba.

A coleção inclui provas corrigidas de O Velho e o Mar, um roteiro de cinema baseado no romance e um final alternativo de Por quem os Sinos Dobram, além de milhares de cartas — incluindo correspondência dos escritores Sinclair Lewis e John Dos Passos e da atriz Ingrid Bergman.

Em declarações à imprensa, McGovern mostrou sua satisfação pelos documentos recebidos e disse que o acordo com Cuba foi uma cooperação histórica entre ambos os países. O congressista considerou que esta troca pode ser um passo rumo a uma relação mais racional e madura entre os dois países.

McGovern considera que Hemingway (1899-1961) pode ser a ponte que permita a ambos os países "ter uma relação boa e sólida". Em dezembro passado, fontes do Museu de Hemingway em Cuba disseram à Agência Efe que a partir de 5 de janeiro as cópias digitalizadas da coleção de Finca Vigia — que contém textos não-literários inéditos — estariam disponíveis aos interessados e pesquisadores.

Da Redação, com informações da EFE/Site O Vermelho.

MST - Carta do MST, na comemoração dos seus 25 anos de luta pela posse da terra.

Mais de 1.500 delegados, vindos de todas as regiões do Brasil, em representação dos trabalhadores rurais sem terra organizados no MST aprovaram um documento – Carta do MST – na comemoração dos seus 25 anos de luta pela posse da terra.

Por o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST

1. Nós, mais de 1.500 trabalhadores rurais sem terra, vindos de todas as regiões do Brasil, e delegações internacionais da América Latina, Europa e Ásia, nos reunimos de 20 a 24 de janeiro em Sarandi, no Rio Grande do Sul, para comemorar os 25 anos de lutas do MST. Avaliamos também nossa história e reafirmamos o compromisso com a luta pela Reforma agrária e pelas mudanças necessárias ao nosso País.

2. Festejamos as conquistas do nosso povo ao longo desses anos, quando milhares de famílias tiveram acesso à terra; milhões de hectares foram recuperados do latifúndio; centenas de escolas foram construídas e, acima de tudo, milhões de explorados do campo recuperaram a dignidade, construíram uma nova consciência e hoje caminham com altivez.

3. Reverenciamos nossos mártires que caíram nessa trajetória, abatidos pelo capital. E lembramos dos líderes do povo brasileiros que já partiram, mas deixaram um legado de coerência e de luta.

4. Vimos como o capital, que hoje consolida num mesmo bloco as empresas industriais, comerciais e financeiras, pretende controlar nossa agricultura, nossas sementes, nossa água, a energia e a biodiversidade.

5. Nos comprometemos em garantir à terra sua verdadeira função social, cuidar das sementes e produzir alimentos sadios, de modo a proteger a saúde humana, integrando homens e mulheres a um meio ambiente saudável e adequado a uma qualidade de vida cada vez melhor.

6. Reafirmamos nossa disposição de continuar a luta, em aliança com todos os movimentos e organizações dos trabalhadores e do povo, contra o latifúndio, o agronegócio, o capital, a dominação do Estado burguês e o imperialismo.

7. Defendemos a reforma agrária como uma necessidade popular, que valoriza o trabalho, a agro-ecocologia, a cooperação agrícola, a agro-indústria sob o controle dos trabalhadores, a educação e a cultura, medidas imprescindíveis para a conquista da igualdade e da solidariedade entre os seres humanos.

8. Estamos convencidos de que somente a luta dos trabalhadores e do povo organizado pode levar às mudanças econômicas, sociais e políticas indispensáveis à efetiva emancipação dos explorados e oprimidos.

9. Reafirmamos a solidariedade internacional e o direito dos povos à soberania e à autodeterminação. Por isso, manifestamos nosso apoio a todos que resistem e lutam contra as intervenções imperialistas, como faz hoje o povo afegão, cubano, haitiano, iraquiano e palestino.

10. Cientes de nossas tarefas e enormes desafios que se colocam, reafirmamos a necessidade de construir alianças com as organizações e os movimentos populares e políticos em torno de bandeiras comuns, para que, unidos e solidários posamos construir um projeto popular, capaz de romper com a dependência e subordinação interna e externa ao capital e de construir uma sociedade igualitária e livre – uma sociedade socialista.

Sarandi, 24 de janeiro de 2009

Fonte:O Diário.info.

VENEZUELA - Era Chaves promove redunção da pobreza.

Em década de Chávez, pobreza caiu na Venezuela

Claudia Jardim.

De Caracas para a BBC Brasil.

Programa "Bairro Adentro", usa médicos cubanos em atendimetos.

Há dez anos, cerca de 4,8 milhões de venezuelanos viviam em situação de pobreza e a saúde e a educação eram um privilégio.
Desde que o presidente Hugo Chávez assumiu o governo, a área social passou a ser prioritária em sua gestão, que contou com o incremento dos preços do petróleo para o financiamento dos projetos sociais.

Até mesmo os críticos da política econômica do governo, cuja estrutura continua dependente fundamentalmente da exploração petrolífera, concordam que as condições de vida dos venezuelanos melhoraram sob a administração chavista.

“Os setores sociais antes marginalizados e excluídos, realmente saíram da pobreza crítica, estão melhor, ninguém pode negar isso. Os que não comiam nem o suficiente, agora estão comendo”, afirmou Domingo Maza Zavala, ex-diretor do Banco Central da Venezuela (BCV).

De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, em 1999, 20,1% dos venezuelanos viviam na extrema pobreza. Em 2007, o índice havia caído para 9,5%.

O número de pobres total no início do governo era de 50,5 % - mais de 11 milhões de venezuelanos. Esse número caiu para 31,5%.

De um universo de 26,4 milhões de pessoas, 18,8% dos venezuelanos saíram da linha da pobreza (cálculo realizado com base nos dados oficiais).

Para o historiador norte-americano Steve Ellner, professor da Universidade dos Andes, no Estado de Mérida (Venezuela), entre apostar no desenvolvimento econômico e na industrialização do país ou investir no setor social, Chávez privilegiou o segundo na divisão da renda obtida com o petróleo.

“No curto prazo, programas de desenvolvimento econômico teriam dado resultados mais rápidos, mas a prioridade era o social”, afirmou.

O relatório da Cepal de 2008, que aponta a diminuição da pobreza na América Latina, indica que os programas sociais foram os responsáveis pela queda no número de pobres na Venezuela.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2007 pela empresa Datanálisis, nos últimos oito anos o consumo das classes E e D havia aumentado em 22%, impulsionado pelo incremento do salário mínimo (que subiu de US$ 47 em 1999 para US$ 371) e pela ajuda financeira que provém dos programas sociais.

Com exceção dos programas relacionados com a saúde, os beneficiários das “missões” (nome dado por Chávez aos programas sociais) recebem uma ajuda média de US$ 100.

“Parte dos recursos obtidos com o petróleo foi distribuída por meio desses programas”, afirmou o ex-diretor do BCV Maza Zavala.

“Missões”

O “Bairro Adentro” foi um programa social implementado pelo governo em 2003. Esta “missão”, que presta atendimento médico básico e familiar nas periferias do país, inaugurou o projeto de cooperação Cuba-Venezuela, que hoje está presente nas áreas de saúde, educação e esporte.

Os programais sociais são financiados com a receita excedente do petróleo e contam com estrutura e dinâmicas próprias, que obedecem fundamentalmente às diretrizes da Presidência da República, sem passar pelo filtro dos ministérios.

No entendimento do governo, a estrutura burocrática governamental impediria que os projetos alcançassem, com a velocidade que a conjuntura política exigia, um número considerável da população pobre, que foi e continua sendo a base de apoio do chavismo.

“Quando o governo teve que enfrentar a ameaça de perder o referendo (revogatório realizado em 2004), tirou quase que da manga o programa 'Bairro Adentro ', que teve um impacto extraordinário”, afirmou à BBC Brasil o sociólogo Edgardo Lander, da Universidade Central da Venezuela.

“Agora, as pessoas têm um médico a duas quadras de casa no caso de uma emergência, é uma mudança significativa na qualidade de vida das pessoas”, acrescentou.

Lander explica que a crise da saúde pública no país no período anterior a Chávez estava associada a dois fatores principais: a privatização do sistema e a resistência dos profissionais em atuar no setor público, desmantelado nas décadas anteriores, de acordo com o sociólogo.

Agora, as pessoas têm um médico a duas quadras de casa no caso de uma emergência, é uma mudança significativa na qualidade de vida

Edgardo Lander, sociólogo

“Para esses médicos, ir a um bairro pobre era o mesmo que ir a uma zona de guerra. Era algo completamente alheio à sua realidade”, disse.

Organização

Magaly Perez é coordenadora de um Comitê de Saúde no bairro periférico de 23 de Enero, em Caracas.

Os comitês reúnem voluntários da vizinhança onde está instalado o programa “Bairro Adentro”, que diagnosticam os problemas de saúde do local e auxiliam na atuação dos médicos cubanos.

Perez conta que o trabalho de censo da população do bairro fez com que esses voluntários “tomassem consciência da organização comunitária e da importância de participar para transformar nossa realidade”.

De acordo com os moradores do bairro, antes, a única alternativa para a população de baixa renda era enfrentar horas de fila em hospitais para receber algum tipo de atenção.

“Antes, morriam pessoas aqui porque não tínhamos assistência médica adequada. Isso mudou com a revolução”, afirmou Magaly Perez à BBC Brasil, enquanto anotava a lista dos idosos que participariam do exercício matinal realizado três vezes por semana com o auxílio de um técnico cubano.

“Os cubanos trabalham dia e noite, mas os médicos venezuelanos não, eles são capitalistas e o povo deu as costas a ele. Eles não sobem o morro para socorrer ninguém”, afirmou Magaly Perez.

Antes, morriam pessoas aqui porque não tínhamos assistência médica adequada. Isso mudou com a revolução

Magaly Perez

Em 1998, havia 1,6 mil médicos atuando no atendimento primário de uma população de 23,4 milhões de pessoas. Atualmente há 19,6 mil para uma população de 7 milhões. Deste total, 14 mil profissionais são cubanos, entre médicos, enfermeiras e técnicos em saúde.

A disputa entre os médicos venezuelanos - que alegam falta de condições e segurança para atuar nas periferias e hospitais públicos – e o governo – que argumenta que o problema é de natureza política - levou a administração chavista a criar um sistema de saúde paralelo, com a ampliação do “Bairro Adentro” em pequenas clínicas especializadas.

O resultado da disputa, de acordo com Lander, foi o abandono ainda maior da rede de hospitais públicos.

“A rede hospitalar foi abandonada na parte de insumos e atendimentos, os hospitais sofreram um deterioramento grande”, afirmou.

A quantidade de novas clínicas do “Bairro Adentro”, porém, ainda é insuficiente para atender a toda a população, de acordo com a organização não-governamental PROVEA.

Política

Na mesa da sala de espera do pequeno consultório no bairro de 23 de Enero havia um abaixo assinado em apoio à emenda constitucional que irá a referendo em 15 de fevereiro, cuja eventual aprovação colocará fim ao limite para a reeleição aos cargos públicos, entre eles, a Presidência.

Uma das senhoras que aguardavam atendimento se antecipou em dar uma explicação: "A saúde aqui não tem ideologia política, muitos que vêm aqui não apóiam o comandante (Chávez), mas, mesmo assim, são beneficiados", afirmou Josefina Rodriguez, de 70 anos.

De acordo com o Ministério da Saúde, a mortalidade infantil também foi combatida na última década, ao passar de 21,4 por cada mil nascidos, em 1998, para 13,7 em 2007. No Brasil, em 2007, o índice era de 24,32 por cada mil nascimentos.

O “Bairro Adentro” serviu de modelo para as outras “missões”, que abrangem as áreas de educação básica, superior e profissionalizante, de auxílio às mães solteiras, de subsídio alimentar, entre outras.

Em 2005, na metade do governo Chávez, o Ministério de Educação declarou o país “livre de analfabetismo” com a aplicação do método cubano “Yo sí puedo”, metodologia aplicada recentemente na Bolívia e em algumas áreas do nordeste do Brasil.

De acordo com o governo, 1,6 milhão de adultos foram alfabetizados no período de dois anos.

Ainda segundo o governo, 3,4 milhões de pessoas foram graduadas nas “missões” educativas.

Institucionalização

Julio Borges, dirigente do partido de oposição Primeiro Justiça (centro-direita) reconhece que durante o governo Chávez “houve um despertar social muito importante, principalmente entre os mais pobres, com a participação” das pessoas envolvidas com o projeto chavista.

Borges, porém, questiona se a estrutura criada para manter as missões poderá ser mantida ao longo do tempo.

“É um problema estrutural. As pessoas estão contentes com Chávez porque estão se afogando no mar e as missões são um colete salva-vidas. Mas a pergunta é se um dia elas vão sair do mar”, afirmou.

Para a oposição, analistas e inclusive alguns chavistas, a falta de institucionalização nos programas sociais abre o precedente para a corrupção, já que não há um sistema de controle que regule essas atividades e o manejo dos recursos públicos.

As pessoas estão contentes com Chávez porque estão se afogando no mar e as missões são um colete salva-vidas. Mas a pergunta é se um dia elas vão sair do mar

Julio Borges, dirigente do partido Primeiro Justiça

Em 2008, o orçamento anunciado para as missões foi de US$ 2,6 bilhões.

O sociólogo Edgardo Lander avalia que, passado o período de “emergência” para a criação dos programas sociais, o governo deveria institucionalizá-los.

“As pessoas não podem viver neste estado de emergência permanentemente e não pode haver essa espécie de militância na gestão pública”, afirmou.

Dívida

A insegurança continua sendo a principal dívida social do governo, na avaliação de especialistas. A violência é a principal preocupação dos venezuelanos, de acordo com uma pesquisa da empresa Hinterlaces.

De acordo com um levantamento do Centro para a Paz e Direitos Humanos da Universidade Central da Venezuela, publicado no relatório da ONG Provea de 2007, em 1998, o índice de homicídios era de 25 por 100 mil habitantes.

Em nove anos o número subiu para uma média de 45 mortos por 100 mil pessoas em 2007, com cerca de 13 mil assassinatos no mesmo período.

“Em um governo que pretende impulsionar a democratização da sociedade e favorecer os setores populares, nos damos conta de que são justamente eles os que mais sofrem as conseqüências da insegurança”, afirmou Edgardo Lander.

“O governo pensa que o problema da segurança é somente estrutural no âmbito da educação e da cultura”, acrescentou Lander.

Em um governo que pretende favorecer os setores populares, nos damos conta de que são justamente eles os que mais sofrem as conseqüências da insegurança

Edgardo Lander, sociólogo

O ministro de Relações Exteriores, Nicolas Maduro, ex-presidente do Congresso, admite que um dos principais desafios do governo é combater a criminalidade, sem apontar no entanto, soluções para o problema.

“É muito grave que em um país no qual se pretende construir a paz e estabilidade existam esses fenômenos, talvez seja um dos grandes desafios para a próxima década”, afirmou.
Fonte:BBC BRASIL.

MEIO AMBIENTE: Votorantin e Aracruz.

A Votorantin declarou que tinha R$ 8 bilhões em caixa. Aí recorre ao BNDES e consegue R$ 2,4 bilhões de empréstimo.Só queria entender a razão da liberação desses recursos pelo banco estatal.
Carlos Dória.

Entrevista com Carlos Tautz sobre Votorantin e Aracruz

IHU - Unisinos *

Votorantin e Aracruz: gigantes da celulose contra a sociedade e o meio ambiente.

Não é de hoje que a monocultura do eucalipto causa rupturas nos laços sociais e ambientais. Isso, porque é uma forma de cultivo "que utiliza de forma intensa os nutrientes do solo, em especial, uma quantidade muito superior de recursos hídricos, com relação a outras culturas, além de tirar da área rural a figura humana, como também as culturas que garantiam a diversidade biológica", conforme aponta o jornalista ambiental e pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) Carlos Tautz, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

A compra da Aracruz Celulose pela Votorantin Celulose e Papel (VCP) foi anunciada na última semana como um grande investimento financeiro. No entanto, o reflexo não será positivo para a economia local, ao contrário do que se afirma, pelas próprias empresas, com o aumento da geração de empregos e de arrecadação tributária. Para Tautz, à medida que se potencializa o alcance econômico da empresa em questão, significa uma possibilidade de extração de recursos naturais para atender exclusivamente ao mercado internacional, com muito pouco impacto positivo para a economia local.


Confira a entrevista.

IHU On-Line - Nesta semana, foi anunciada a fusão da Votorantin Celulose e Papel com a Aracruz Celulose, com apoio do BNDES. O que acarreta esta união? O impacto ambiental será maior, a partir do momento em que aumentará a escala de produção do plantio?

Carlos Tautz - Não resta dúvida de que o impacto será grande, porque já se aponta a possibilidade de um aumento de 600 mil hectares na área plantada. Por si só, o número já se explicita que é uma área muito grande. Há, também, os impactos históricos que o eucalipto causa, quando cultivado sob a forma de monocultura. São impactos de ordens ambientais e sociais. Os ambientais são aqueles utilizam de forma intensa os nutrientes do solo, em especial, uma quantidade muito superior de recursos hídricos, com relação a outras culturas. Já os sociais são os piores possíveis. Isso, porque não só tira da área rural a figura humana, como também as culturas que garantiam a diversidade biológica, a diversidade cultural e a utilização do solo para produção de alimento em nível local, sem o impacto do transporte dos alimentos.

Na medida em que se potencializa duplamente o alcance econômico de uma empresa como esta - pela injeção de recursos do Banco e pela fusão com a VCP - isso significa uma possibilidade de extração de recursos naturais, sob a forma de nutrientes do solo e água, para atender exclusivamente ao mercado internacional, com muito pouco impacto positivo para a economia local. Em geral, as empresas de celulose apontam uma quantidade absurda de empregos indiretos, que seriam, supostamente, criados para um investimento em celulose, mas eles espertamente estão computando todos que de alguma forma trabalham em algum município afetado pela cadeia produtiva deles. Até o botequim da esquina é contabilizado como grande gerador de emprego, e não é bem assim.

IHU On-Line - Considerando que o setor é um dos mais competitivos, devido à lucratividade, também fora do país, o que levou, em sua opinião, a empresa Aracruz Celulose à perda de espaço e produção, possível motivo da fusão com a Votorantin Celulose e Papel?

Carlos Tautz - Sinceramente, hoje em dia, com a falta de transparência que se tem nas empresas públicas, no trato com o dinheiro público, não sei se foram somente esses interesses republicanos que levaram à injeção dessa montanha de recursos do BNDES na Votorantin para a compra da Aracruz Celulose. Não me arrisco a dizer que apenas elementos de ordem da lógica econômica orientaram esse tipo de investimento. Quem o fez, tem o ônus de provar que tem viabilidade técnica, econômica e financeira. Só posso supor isso diante de como essa operação foi decidida: injetou-se dinheiro em uma empresa falida, desviando os recursos do seu objetivo principal, que é a produção de papel e celulose, para investir no mercado de derivativos. Com a crise econômica, eles tiveram perdas enormes. Só isso já coloca um senão muito grande. Inclusive porque o BNDES já era acionista da Aracruz. Então, ele sabia rigorosamente qual era a situação da empresa. Se não sabia, é porque é muito incompetente na administração dos seus ativos. Isso já justificaria uma atenção redobrada.

Outra questão que precisa ser debatida é a seguinte: para quê emprestar R$ 2, 400 bilhões para uma empresa que se gaba de ter em caixa 8 bilhões de reais? Isso há de ser questionado ao presidente do Banco, Luciano Coutinho, que, quando assumiu em 2007, disse publicamente que iria rever todo o tipo de relação que o BNDES tinha com as empresas de celulose, devido às denúncias de violação de direitos ambientais e sociais, por parte da empresa. Diante disso, sou obrigado a avaliar a possibilidade de que não apenas elementos de ordem técnica, financeira e econômica tenham sido levados em conta na decisão de conceder um empréstimo de tal volume à Votorantin para a compra da Aracruz Celulose.

IHU On-Line - O apoio do BNDES a empresas que estão comprometendo o meio ambiente, através do plantio de eucaliptos, compensa economicamente, em um momento no qual só se fala em alternativas para salvar o meio ambiente?

Carlos Tautz - A suposta política industrial do governo - suposta, porque ela não se configura como uma política planejada e sistemática, mas como uma lista de ações dispersas e desconectas, sem estratégia comum - diz que o Brasil precisa consolidar-se em multinacionais. Esse tipo de estratégia traria algum beneficio para as demandas sociais históricas que o país tem. Diante desse "cheque em branco" que foi dado aos agentes econômicos estatais brasileiros, cabe qualquer tipo de ação, inclusive a de apoiar empresas que absolutamente são desconectadas das necessidades do mercado interno e, também, de eventuais salvaguardas ambientais sociais. Esse tipo de prerrogativa que está na política industrial, permite que ações de todos os tipos sejam feitas pelos maiores degradadores do meio ambiente e das condições sociais. Isso vale para eucalipto, para a mineração - porque o governo todos os anos injeta bilhões de reais na Vale do Rio Doce - vale para o setor de pecuária, quando são concedidos empréstimos sem qualquer análise ambiental estratégica, a frigoríficos que vão se instalar em áreas de região amazônica, vale para hidrelétricas como, por exemplo, a do Rio Madeira. Enfim, há uma sucessão de setores que se beneficiam desse cheque em branco, que o estado brasileiro faz da extração intensa de recursos naturais a sua mais alta valia. É dessa forma que eles veem a sua inserção no cenário internacional, extraindo recursos naturais do país e recursos financeiros públicos.

IHU On-Line - Mesmo que provoque uma desestabilização no clima, na flora e na fauna brasileiras, a monocultura de determinados tipos de vegetação não sinaliza parar. Neste sentido, há medidas alternativas que poderiam ser tomadas pelas empresas de celulose, na tentativa de amenizar os prejuízos ambientais e também de lapidar a sua imagem?

Carlos Tautz - Se fosse apenas decisão de uma empresa, seria fácil, porque ela seria enquadrada com um bom argumento jurídico e ponto final. Mas o problema não é esse. Nós temos um estado orientado historicamente - desde que os primeiros europeus invadiram o Brasil, em 1500 - para a transferência massiva de recursos públicos para diversos agentes privados. O que tem que mudar não é uma ou outra empresa, embora fosse muito bom que mudasse (por exemplo, se a Votorantin tomasse vergonha na cara e não participasse de uma negociata como essa), mas ela vive disso, foi criada para fazer isso. Os governos alimentam essa situação. Vamos supor que amanhã o Antônio Ermínio de Moraes acordasse muito bêbado e dissesse: "vamos desfazer isso e tornar a nossa empresa de papel e celulose ambientalmente correta." Ele não vai conseguir, porque é da gênese, é da natureza ser como é. A empresa foi criada para extrair e amealhar recurso público da forma como amealhou a cumplicidade do Governo Federal através do BNDES. Então, não é uma decisão gerencial que vai mudar isso, é um projeto. Ou se mudam as estruturas do estado brasileiro ou governo, depois de governo, capitão de indústria após capitão de indústria, como o Ermínio, vão continuar fazendo o que fazem.

IHU On-Line - Como o senhor percebe que a imprensa, de forma geral, tem tratado o assunto? E como a sociedade tem reagido diante do tema?

Carlos Tautz - A imprensa está inserida em uma sociedade que tem os seus próprios valores. Tem um valor preponderante na sociedade brasileira, como em outras sociedades, que é o do produtivismo que, por si só, resolve todos os problemas. Então, parte-se do pressuposto de que, quanto maior o investimento em bilhões de dólares, mais benefícios trará para a sociedade. Não necessariamente ele criará mais empregos, não necessariamente vai distribuir renda, não necessariamente vai garantir a segurança alimentar. A ideologia do produtivismo para a imprensa sempre dá manchete. Mais investimentos, mais impostos arrecadados, mais empregos indiretos - sem dizer que os empregos são sazonais e precarizados. Enfim, a imprensa trata dessa forma fragmentada, o que, infelizmente, não ocorre só no Brasil. O sistema de produção de valores dos sistemas de comunicação é o mesmo, valoriza o produtivismo.

Fórum Social Mundial

Faço parte de um projeto que se chama Plataforma BNDES, onde nós monitoramos o BNDES, em conjunto com várias organizações. Vamos realizar duas atividades no Fórum Social Mundial, que tratam exatamente dos temas discutidos nesta entrevista. A primeira é a oficina "Atingidos pelo BNDES". Nós elencamos os principais setores em que o banco atua, onde ele aporta recursos investidos para empresas, e vamos levar representantes desses setores de pessoas que estão nos territórios sendo impactados pelos projetos financiados pelo banco, para que tenham a oportunidade de expor a sua visão.

A segunda atividade é um debate sobre o papel de fundos públicos do estado brasileiro, na viabilização de um modelo econômico que se baseia na extração intensa de recursos naturais. Para isso, estamos dando foco na Bacia Amazônica, nas hidrelétricas, na pecuária, na plantação de cana para a produção de etanol e na mineração na Amazônia. O país inteiro foi transformado em um grande canavial, em alguns lugares, monocultura de eucalipto em outros, mas essa é a lógica que queremos debater e, eventualmente, imaginar alternativas.
Fonte:ADITAL.

MENSAGEM DE DOM HELDER CÂMARA

Frei Betto *

De: HelderCamara@ceu.com

Para: amigos e amigas

Queridos: estivesse entre vocês, a 7 de fevereiro comemoraria 100 anos de idade. Quis o bom Deus, entretanto, antecipar-me a glória de desfrutar Sua visão beatífica. Aliás, o Céu nada tem daquela imagem idílica que se faz na Terra. Nada de anjos harpistas e nuvens cor-de-rosa, embora a música de Bach tenha muita audiência.

Entrar na intimidade das três Pessoas divinas é viver em estado permanente de paixão. Arrebatado por tanto amor, o coração experimenta uma felicidade indescritível.

A propósito, outro dia, Buda, de quem sou vizinho, me contou esta parábola que bem traduz o caminho da felicidade: numa feira da Índia, entre tantos restos de frutas e legumes, uma mulher fitava detidamente o chão. Viram que procurava algo. Um e outro perguntaram o quê. "Uma agulha". Não deram importância. Porém, quando ela acrescentou que se tratava de uma agulha de ouro, multiplicou o número dos que a auxiliavam na busca.


Súbito, um deles perguntou: "A senhora não tem ideia de que lado da feira a perdeu?" "Não foi aqui na feira", respondeu a mulher, "perdi-a em casa". Todos a olharam indignados. "Em casa?! E vem procurar aqui fora?" A mulher fitou-os e retrucou: "Sim, como vocês procuram a felicidade nas coisas exteriores, mesmo sabendo que ela se encontra na vida interior".

O Céu é terno, o que não impede que experimentemos indignações. Jesus não fez a fome e a sede de justiça figurar entre as bem-aventuranças? Quando olho daqui para a Igreja Católica confesso que sinto, não frustração, mas uma ponta de tristeza. O papa Bento XVI não transmite alegria e esperança. Faltam-lhe o profetismo de João XXIII e a empatia de João Paulo II.

Padres cantores atraem mais discípulos do que aqueles que se dedicam aos pobres, aos lavradores sem-terra, às crianças de rua, aos dependentes químicos. Nas showmissas os templos ficam superlotados, enquanto nos seminários o ensino de filosofia e teologia costuma ser superficial.

A vida de oração não é estimulada, muitos buscam o sacerdócio para obter prestígio social e, por vezes, o moralismo predomina sobre a tolerância, o triunfalismo supera o espírito ecumênico. Até quando homossexuais serão discriminados por quem se considera discípulo de Jesus?

Alegra-me, porém, saber que as Comunidades Eclesiais de Base estão vivas e se preparam para realizar o seu 12o encontro intereclesial, em Rondônia, no próximo julho. Dou graças a Deus ao constatar que o CEBI - Centro de Estudos Bíblicos - conta com mais de 100 mil núcleos espalhados pelo Brasil, integrados por gente simples interessada em ler a Bíblia pela ótica libertadora.

Preocupa-me, entretanto, a polêmica entre os irmãos Boff. Tanto Leonardo quanto Clodovis são teólogos de sólida formação. Não considero justa a acusação feita por Clodovis de que a Teologia da Libertação teria priorizado o pobre no lugar do Cristo. O próprio Evangelho nos mostra Cristo identificado com os pobres, como ocorre na metáfora da salvação em Mateus 25, 31-46.

Francisco de Assis, com quem sempre me entretenho em bons papos, lembra que sem referência ao pobre, sacramento vivo de Deus, Cristo corre o risco de virar um mero conceito devocional legitimador de um clericalismo que nada tem de evangélico ou profético.

Tenho dito a são Pedro que sonho com uma Igreja em que o celibato seja facultativo para os sacerdotes e as mulheres possam celebrar missa. Uma Igreja livre das amarras do capitalismo, e na qual os oprimidos se sintam em casa, alentados na busca de justiça e paz.

Quanto ao mundo, lamento que a fome, por cuja erradicação tanto lutei, ainda perdure, ameaçando a vida de 950 milhões de pessoas e causando a morte de cerca de 23 mil pessoas por dia, a maioria crianças.

Por que tantos gastos em formas de ceifar vidas, como armamentos, e investimentos que degradam o meio ambiente, como pesticidas, desmatamentos irresponsáveis e cultivo de transgênicos? Por que tão poucos recursos para tornar o alimento - dom de Deus - acessível à mesa de todos os humanos?

Ao comemorarem meu centenário, lembrem-se dos princípios e objetivos que nortearam a minha vida. Malgrado calúnias e perseguições, vivi 91 anos felizes, pois jamais esqueci do que disse meu pai quando comuniquei a ele minha opção pela vida sacerdotal: "Filho, egoísmo e sacerdócio não podem andar juntos".

[Autor, em parceria com Leonardo Boff, de "Mística e Espiritualidade" (Garamond), entre outros livros].
Fonte:ADITAL.

PETRÓLEO - Denúncia gravíssima.

Sabemos que o governo brasileiro está para divulgar se o marco regulatório do petróleo (lei 9478/97), uma das heranças malditas da era FHC, será aplicada ou não, nas descobertas do pré-sal.Sabemos também que existe um "lobby" fortíssimo pressionando o governo para que nada mude. Agora, esta notícia de que o próprio presidente Obama estaria defendendo um consórcio de empresas americanas e inglesas é uma coisa totalmente inaceitável.O governo tem que se manifestar sobre esta informação.
Carlos Dória

AEPET DIRETO URGENTE (30/01/09)

POR TELEFONE, OBAMA PRESSIONA LULA PARA ENTREGAR O PRÉ-SAL ÀS EMPRESAS ANGLO-SAXÔNICAS

O presidente da AEPET, Fernando Leite Siqueira, foi informado, por uma importante fonte, sobre uma conversa telefônica (cerca de 30 minutos) entre os presidentes Barack Obama (EUA) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) a respeito do setor petrolífero brasileiro. Segundo a fonte, a ligação foi de iniciativa do presidente norte-americano, que pressionou o presidente Lula para que o governo brasileiro suspenda os estudos para mudanças no atual marco regulatório (Lei 9478/97), empreendidos pela comissão interministerial, e entregue o pré-sal para um consócio de empresas petrolíferas anglo-saxônicas, sob liderança das empresas norte-americanas. A Petrobrás participaria do consórcio como sócia minoritária. A nação brasileira não pode aceitar tamanho absurdo. O pré-sal é da União Federal, logo, do povo brasileiro. (Assessoria de Imprensa da AEPET)

MAIS DE 50 ANOS DE GOLPES TORTUOSOS - A equipe de choque da CIA

Se foi evidente a maciça presença de cubanos exilados na tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em 1961, é pouco conhecido seu papel em operações subsequentes da Agência Central de Inteligência (CIA). Do Chile à Nicarágua, passando pelo Vietnam, envolvendo-se em golpes de estado, assassinato de dirigentes, tráfico de armas e de drogas, eles foram um dos instrumentos mais secretos da política externa norte-americana.

Hernando Calvo Ospina

(Le Monde Diplomatique – França)

Tradução de Argemiro Pertence.

“Nosso único delito foi fazer nossas próprias lei; nosso crime foi aplicá-las à United Fruit”. Eleito presidente da Guatemala em 1951, Jabobo Arbenz, entre outras medidas progressistas, promulgou a reforma agrária. Em 4 de março de 1953, ele expropriou parcialmente a companhia bananeira americana United Fruit desapropriando-lhe 84.000 hectares de um total de 234.000.Nos dias de 17 e 18 de junho de 1954, uma força mercenária vinda da Nicarágua e de Honduras penetrou na Guatemala e, no dia 27 de junho, esta força depôs Arbenz. O secretário de Estado americano John Foster Dulles e seu irmão Allen, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) eram à época acionistas da United Fruit! A operação – cujo nome de código era PB/Sucess – foi beneficiada com a participação ativa de uma “equipe de choque” da CIA cuja ação iria atravessar décadas.

Tendo ocorrido após a derrubada, no Irã, do dirigente nacionalista Mohamed Mossadegh, no dia 19 de agosto de 1953 a operação PB/Sucess deu à CIA uma reputação de invencibilidade e se tornou um modelo para suas operações clandestinas no mundo todo. Em março de 1960, o presidente Dwight Eisenhower deu sua luz verde para uma nova ação destinada, desta vez, a desestabilizar Cuba, onde a Revolução havia triunfado em 1º de janeiro de 1959. A maioria dos agentes que tinha participado da derrubada de Arbenz se tornou responsável pelo “Projeto Cuba”. Tratava-se, notadamente, de Richard Bissell no comando, o número dois da CIA.; de Tracy Barnes que assumiu a tarefa de formar a Força-Tarefa Cubana; de David Atlee Philips, responsável pela guerra psicológica; de Howard Hunt, encarregado de formar o “governo provisório cubano”. Dois jovens juntam-se ao grupo: Peter Goss, oficial da contra-espionagem do exército e George Herbert Walker Bush (1). Este último ajudou a “recrutar cubanos exilados para o exército de invasão da CIA” (2).

Em 17 de abril de 1961, os cerca de mil e quinhentos homens deste exército, a brigada 2506, desembarcam na Baía dos Porcos. Após sua derrota, em menos de setenta horas, os números um e dois da CIA, Dulles e Bissell, tiveram que pedir demissão.

Ferido por esta derrota, o presidente John F. Kennedy outorgou um poder exorbitante à Agência, decisão que afetaria as questões mundiais durante um bom tempo (3). Ministro da Justiça e irmão do presidente, Robert Kennedy, supervisionaria uma outra agressão contra Cuba. Miami se tornou o epicentro da maior operação paramilitar – nome de código JM/WAVE – jamais montada em solo americano. No seu comando, Theodore “Ted” Shackley e Thomas “Tom” Clines. O grupo recebeu, em especial, o reforço do general Edward Landsdale, recém-chegado da Indochina, onde trabalhou com o serviço secreto francês, envolvido na guerra colonial; também de Richard Secord, oficial da Força Aérea dos EUA e de David Sanchez Morales, oficial da contra-espionagem do exército dos EUA.

Formados na contra-guerrilha

Assim que, em 14 de outubro de 1962, explode a “crise dos mísseis”, Washington exige que os mísseis balísticos instalados pela União Soviética em Cuba sejam retirados. Moscou cede, com a condição de que os EUA não tentem mais invadir a ilha (além de desmobilizar seus próprios mísseis na Turquia). Kennedy aceita e manda desmantelar a operação JM/WAVE.

A revolução cubana não leva Washington a modificar radicalmente sua estratégia de segurança regional. A reestruturação dos exércitos latino-americanos se inicia e um centro de treinamento e de doutrinação – a Escola das Américas – começou a funcionar na zona americana do Canal do Panamá. Assim, quando Kennedy foi assassinado, em 22 de novembro de 1963, em Dallas (Texas), sua doutrina de segurança nacional já estava implantada. A derrubada do presidente brasileiro João Goulart, em 31 de março de 1964, deu o sinal para uma série de golpes de estado e marcou o início de uma fase de desaparecimentos e tortura de opositores políticos, de modo massivo e sofisticado.

Esta nova estratégia não pôde negligenciar a experiência dos agentes cubanos da operação JM/WAVE nem a dos mil cento e oitenta e nove homens capturados durante a tentativa de invasão da Baía dos Porcos e devolvidos aos EUA em dezembro de 1962 (4). Cerca de trezentos dentre estes, quase todos cubanos (e mais tarde, na maioria dos casos, cubano-americanos, já que obtiveram a nacionalidade do país que os abrigava) receberam uma formação de oficiais nas academias de operações especiais de Fort Bennings (Geórgia), Fort Mayers (Flórida), Fort Peary (Virgínia), etc. Outros foram enviados a Fort Gulick (Escola das Américas) para serem treinados em contra-guerrilha. Seus nomes eram José Basulto, Jorge Mas Canosa (5), Francisco “Pepe” Hernández (6), Luís Posada Carriles, Felix Rodriguez Mendigutía, etc. Considerados como se jamais fossem emergir do anonimato, seus nomes logo passaram a surgir na imprensa.”A América do Sul será o faroeste onde eles farão o papel de pioneiros” (7); E, por seus atos clandestinos, eles “brilharão” mesmo fora de lá.

Por exemplo, na ex-colônia belga do Congo. Eles lá desembarcaram no fim de 1962 para dar, entre outras tarefas, apoio aéreo às forças do futuro ditador Joseph Desiré Mobutu. Os aviões pertenciam à Air America, companhia recentemente criada e de propriedade da CIA. No solo, esses homens formavam a companhia 58, encarregada de despistar e perseguir sem sucesso Ernesto Che Guevara e um pequeno grupo de revolucionários cubanos. Por solicitação de Laurent-Desiré Kabila, o Che chegou ao Congo no fim de abril para orientar, em técnicas de guerrilha, os que combatiam Mobutu (8).

Esta equipe de choque se reforçaria definitivamente no Vietnam. Ela retoma e desenvolve os métodos das forças especiais francesas derrotadas, financiando operações sujas com o dinheiro oriundo do tráfico de ópio do Laos e da Birmânia (lá também havia aviões da Air America). Encontramos lá os homens da JM/WAVE: Shackley, Clines, Sánchez, Morales, Secord, “Ed” Dearborn, Rodriguez Mendigutía em companhia de Donald Gregg, inspetor dos agentes da CIA; de John Dimitri Negroponte, “conselheiro político” de toda a operação; do general John Singlaub, ex-chefe da CIA na Coréia; de Landsdale, encarregado de operações pelo Pentágono; e de Oliver North, do serviço de investigações da Marinha. Em 1968, William “Bill” Colby foi enviado à região para dirigir a “Campanha de Pacificação Acelerada” (nome de código: Fênix) que implicava em aterrorizar a população civil a fim de neutralizar a resistência vietnamita. Em quase quatro anos cerca de quarenta mil suspeitos foram mortos.

Foi, todavia, em outro continente que a equipe conheceu seu maior sucesso. Em março de 1967, dentre os cerca de vinte homens das forças especiais americanas que desembarcam na Bolívia para perseguir Che Guevara estava o cubano Rodriguez Mendigutía. Assim que o Che ferido foi capturado, no dia 8 de outubro de 1967, foi ele quem transmitiu a ordem para sua execução.

Três anos depois,entretanto, a CIA não pôde evitar a eleição do socialista Salvador Allende para a presidência do Chile. Richard Nixon ordenou à Agência que impedisse que ele assumisse o cargo. A equipe enviada falhou, mas conseguiu assassinar o comandante-em-chefe das forças armadas chilenas, o general René Schneider, leal a Allende. Seu sucessor se chamava Augusto Pinochet. Outra vez, Philips e Sánchez Morales estavam entre os responsáveis pelas operações no terreno. Transformado em chefe da direção do hemisfério ocidental da CIA, graças a seu trabalho em relação a Cuba e ao Vietnam, Shackley foi encarregado da desestabilização do governo Ele nomeou Clines para que este se concentrasse no “caso Allende” (9). Colby controlava o conjunto. A organização da campanha internacional de difamação contra o governo Allende foi entregue ao embaixador dos EUA na ONU: George Bush.

Com Allende eliminado em setembro de 1973 e Pinochet no poder tudo ia bem e no melhor dos mundos se... a CIA não se tornasse objeto de escândalo, tendo suas asas cortadas, uma boa parte de seus crimes sendo revelada pela imprensa e pelas comissões parlamentares de inquérito Church (10) e Rockfeller (11). Que problema! A Agência “delega” uma boa parte de suas ações aos serviços com os quais ela colaborou durante a operação “Condor” (12) e a seus agentes cubanos do Comando das Operações Revolucionárias Unidas (CORU). Este foi fundado na República Dominicana, em maio de 1976, sob orientação da CIA, e dirigido de 30 de janeiro de 1976 a 20 de janeiro de 1977 por George Bush.

No comando do CORU, cujo financiamento vinha, sobretudo, do tráfico de drogas (13) se encontravam Orlando Bosch e Posada Carriles. A partir de Caracas (Venezuela) eles organizaram o atentado que explodiu, em 6 de outubro de 1976, em pelo vôo, um avião da Cubana de Aviación (setenta e três mortos). Contudo, talvez porque tenha sido cometido em plena Washington o crime do binômio Condor-CORU que causaria mais impacto foi, em 21 de setembro, o assassinato do ministro das relações exteriores de Allende, Orlando Letelier.

Entre os cinco homens posteriormente detidos estavam três veteranos do “projeto Cuba”. A CIA de George Bush fez o possível para entravar a investigação e ocultar as provas. Eleito presidente, o mesmo Bush anistiaria os culpados, os quais não tinham passado mais que alguns anos na prisão. Um deles, Guillermo Novo Sampol seria preso no Panamá, em 17 de novembro de 2000, em companhia de Posada Carriles, enquanto preparavam um atentado a bomba contra Fidel Castro, em visita àquele país. Condenados a oito anos de prisão em 20 de abril de 2004, eles seriam anistiados no dia 25 de agosto seguinte pela presidente panamenha Mireya Moscoso, grande amiga dos EUA.

Droga contra armas

Entrementes, a guerra de baixa intensidade de Washington contra a Nicarágua reuniu a maior parte desses agentes. O vice-presidente George Bush supervisiona as operações enquanto Donald Gregg e Oliver North, veterano do Vietnam comandavm o complô. Embaixador dor EUA em Honduras – onde era conhecido como “pró-cônsul” - John Negroponte transformou esse país numa plataforma militar para agressões, ao passo que os esquadrões da morte do exército hondurenho - o batalhão 3-16 – reprimiam a oposição. Passando da Bolívia aos arrozais asiáticos e depois para El Salvador, Rodriguez Mendigutía fortaleceu os contra-revolucionários nicaragüenses (os contras) – assistido por Posada Carriles (e por Basulto) em território nicaragüense. Para lhe confiar esta missão, a CIA e os grupos anticastristas de Miami organizaram a evasão (em agosto de 1985) de Posada Carriles da prisão venezuelana onde ele estava preso após o atentado contra o avião da Cubana de Aviación.

Com todo apoio financeiro aos “contras” proibido pelo Congresso americano, o vice-presidente Bush passou a recolher recursos de qualquer origem e por todos os meios. A venda ilegal de armas ao Irã através de Israel iria explodir em 1986 no escândalo Irã-contras. Tendo sido eleito presidente George Bush, a comissão do Senado dirigida pelo senador John Kerry demonstrou a existência de uma aliança entre a CIA a e máfia colombiana (14). Na Costa Rica, em julho de 1989, Oliver North e Richard Secord, dentre outros membros de certos círculos do poder americano, foram formalmente acusados de serem responsáveis pela rede “drogas por armas”, organizada naquele país durante a guerra antisandinista.

Expurgada pelo presidente James Carter em meados de agosto de 1978, regularmente investigada por comissões de inquérito oficiais ou pela abertura de seus arquivos (especialmente sob a administração de Bill Clinton), a CIA após sua criação em julho de 1947, conheceu de fato altos e baixos De toda forma, todos aqueles que participaram das ações clandestinas do grupo de choque, formado em 1954 e ampliado com o passar dos anos, se beneficiaram de uma constante: a impunidade. Para citar apenas alguns: Posada Carriles e Orlando Bosch vivem em liberdade em Miami. Rodriguez Mendigutía que mandou executar o Che vive nesta mesma cidade onde dirige uma empresa de assessoria em segurança. Após ter sido o primeiro embaixador dos EUA no “Iraque liberado”, depois de ter passado vinte meses como super-chefe dos serviços de inteligência americanos, John Negroponte tornou-se o número dois do Departamento de Estado em janeiro de 2007. Quanto a Peter Goss, presente no “projeto Cuba” desde 1960, foi diretor da CIA de setembro de 2004 a maio de 2006.

(1) Este artigo tratará apenas de George Bush, pai.

(2) Common Cause, Washington, DC, 4 de março de 1990.

(3) William Colby, Trinta anos de CIA, Presses de la Renaissance , Paris, 1978.

(4) Eles foram trocados por Cuba por 54 milhões de dólares em alimentos e medicamentos.

(5) Futuro presidente da Fundação Nacional Cubano-americana (FNCA), principal organização anticastrista baseada em Miami que ele dirigiu até sua morte em novembro de 1997. A FNCA está envolvida numa onda de atentados que afetaram Havana em 1997.

(6) Atual presidente da FNCA.

(7) Jean-Pierre Gillet, Os boinas verdes, os comandos da CIA, Albin Michel, Paris, 1981.

(8) O Che e seus camaradas se retiraram em novembro de 1965.

(9) David Corn, Fantasma loiro: Ted Shackley e os cruzados da CIA, Simon & Schuster, Nova York, 1994.

(10) Congresso americano, “Comissão escolhida para estudar as operações governamentais com respeito às atividades de inteligência”, 1976.

(11) Publicado em 10 de junho de 1975, sob a presidência de Gerald Ford (1974 -1977), o relatório Rockfeller acusa a CIA de atividades ilegais, “durante vinte anos”. Os ex-presidentes Lyndon Johnson (1963 – 1969) e Richard Nixon (1969 – 1974) são postos sob suspeita.

(12) Cooperação dos serviços secretos das ditaduras do sul do continente para a repressão e assassinato dos opositores políticos.

(13) Peter Dale Scott e Jonathan Marshall, Política da cocaína, drogas, exércitos e a CIA na América Central, University of Califórnia Press, Los Angeles, 1991.

(14) Idem.

Publicado originalmente: Le Monde Diplomatique - França.

Hernando Calvo Ospina – autor, dentre outros, de “L’equipe de choc de la CIA ”, a ser lançado em abril de 2009 – Editora Temps de Cerises, Pantin) – Tradução de Argemiro Pertence.

Tradução de Argemiro Pertence (engenheiro e ex-vice-presidente da AEPET).

O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL E A CRISE GLOBAL.

Pessoas desumanizadas e entidades fantasmáticas antropomorfizadas: este foi, e ainda, é o clima mental regressivo da globalização proposta no alvorecer do novo milênio. Embora díspare em seus objetivos e alvos de interesse, o altermundialismo conseguiu claramente impor uma agenda (ainda que precária) a governos, instituições multinacionais e grandes empresas. Com ele, a chamada “opinião pública mundial” passou a ser também um ator global. A análise é de Francisco Carlos Teixeira.

Francisco Carlos Teixeira
(Agência Carta Maior)

A Recusa ao Império:

No imediato pós-Guerra Fria. Desde 1991, quando o então Presidente George Bush (sênior) declarou - no day after da vitória na primeira Guerra do Golfo (1990-1991) - a emergência de uma nova ordem mundial colocou-se a questão da natureza deste mundo surgido de mais uma vitória.

As mazelas da Guerra Fria (1947-1991) eram por demais evidentes. Em primeiro lugar o risco de aniquilação termonuclear total, expressa na condição MAD/Mútua Destruição Assegurada. Era o equilíbrio do terror. Na periferia do sistema de poder mantido pelas então superpotências – EUA e URSS – explodiam guerras violentas e cruéis, como na Coréia, nos anos ‘50; no Vietnã, nos anos ’60 e em Angola nos anos ’70. O corolário da “Bipolaridade” era o tremendo antagonismo entre os dois sistemas que se queriam validos universalmente, capitalismo e comunismo.

Os Estados Unidos emergiam do conflito com a URSS como o único poder “global” – palavra que, saída de um comercial de cartão de crédito veiculado em mídia mundial, tornar-se-ia a denominação genérica da nova ordem mundial.

Naquela ocasião a maior parte da mídia, e também vários acadêmicos, apressam-se em declarar os Estados Unidos o último “império” do planeta. Não no sentido da última ocorrência na história, mas, como significando a própria realização da história. Nada haveria depois da hegemonia total, ou global, da América. É neste sentido que a noção de fim da história de Francis Fukuyama – exagerada pelo autor, mas muito mais pelos comentaristas – é concebida como a marca registrada da nossa época. A vitória final dos Estados Unidos seria a vitoria dos regimes liberais representativos (apenas aparentemente democráticos) e da economia de mercado. As idéias “velhas” – e graças ao mega-sucesso de Stevie Spielberg, denominadas desde logo de “jurássicas”- sobre a regulação econômica, sobre o Estado de Bem-Social e de controles da sociedade sobre os agentes econômicos, foram consideradas simplesmente insuportáveis.

A vitória destrutiva do liberalismo

A destruição de barreiras e entraves ao livre fluxo de capitais e a demolição sistemática dos anteparos sociais que deveriam proteger grupos, classes e minorias menos dotadas eram as únicas metas possíveis de qualquer política econômica. Somente nos anos imediatos ao “boom”de 1870, ou os “Anos Loucos” dos ’20 ( do século passado ) podem ser comparados com a apologia aos méritos da “mão invisível” como gerente geral do capitalismo.

Logo após as eleições de Margareth Thatcher e de Ronald Reagan (1979/1980 ) pareceria ao observador cuidadoso que os diversos matizes do socialismo e, mesmo, do keynesianismo regulador, estavam definitivamente condenados à lata de lixo da história. Ao mesmo tempo, embora poucos se dessem conta disso naquele momento, o próprio pensamento econômico e social no Ocidente entrava em decadência. Os grandes debates econômicos foram substituídos pela mágica da micro-economia, como os operadores do mercado substituindo os pensadores.

Por toda a parte, mas especialmente na mídia globalizada, surgiam “intérpretes” do chamado “mercado”. Este era transformado em uma entidade antropomórfica, dotado de sentimentos e, mesmo, de uma psicologia própria. Assim, conforme as grandes redes de televisão, o “mercado” variava de “otimista”, para “pessimista”, ou mesmo “nervoso”. Num exemplar fenômeno de transferência na mesma proporção em que os indivíduos eram incorporados na nova ordem como “coisa”, mera mercadoria, o mercado assumia as prerrogativas típicas da pessoa humana. Os livros de auto-ajuda, uma espécie de evangelho sacrílego do sucesso pessoal, ensinavam e impunham a idéia de um indivíduo padrão, sempre positivo, em eterna prontidão, inteiramente despido de qualquer nuance de subjetividade. O “mercado”, bem ao contrário, tornava-se cada vez mais sensível, subjetivo, idiossincrático.

Pessoas desumanizadas e entidades fantasmáticas antropomorfizadas: este foi, e ainda, é o clima mental regressivo da globalização proposta no alvorecer do novo milênio.

Resistência e Inovação nos Movimentos Sociais

O desmonte desta burocracia pode ser naquele momento, popular em virtude do seu papel espoliador das próprias massas populares que deveria promover e assistir. Contudo, tal consenso em torno de um Estado dito “mínimo” acabou por revelar, com rapidez, sua face perversa. Junto com as grandes empresas estatais – ineficientes e oligárquicas – também eram desmontados sistemas de educação, de saúde, de transporte ou de construção de moradias. Em alguns países radicalmente pobres, até a água era privatizada, como no caso da Bolívia. Na maioria das vezes, os serviços, sempre caros, não correspondiam minimamente às necessidades da maioria da população.

Ao mesmo tempo em que a “velha” Ordem ruía, em alguns países, em especial na América do Sul, surgiam novos movimentos sociais altamente reivindicatórios, muitos radicalizados, revelando que o fim da história havia sido anunciado prematuramente. Grupos sociais secularmente marginalizados, espoliados em seus direitos, tratados com arrogância e crueldade, aproveitaram-se da ordem liberal e criaram no seu interior tensões que ela mesma não estava preparada e não podia resolver.

Arranjos oligárquicos de décadas, como na Venezuela, Bolívia, Equador, ruíam deixando para trás uma elite pervertida e atônita. Regimes cruéis como o apartheid na África do Sul ou a ditadura de Pinochet no Chile foram substituídos por novos arranjos, onde os grupos subalternos passaram a desempenhar um papel central.

A nova ordem mundial proclamada na débâcle do socialismo soviético não se quadrava nos moldes do consenso ditado em Washington. Surgiam sinais inquietantes de contestação ao império global dos Estados Unidos.

Existe Alternativa

Da mesma forma, no interior das sociedades avançadas, na Europa e nos Estados Unidos (e por toda parte nos países onde uma florescente classe média urbana impunha-se no novo cenário social) surgia uma ativa crítica ao excessivo materialismo e mercantilismo da chamada Nova Ordem Mundial. Isso se dava através ora, a emergência de novas igrejas; de cultos milenaristas e salvacionistas de caráter regressivo; e de diversos e fundamentalismos.

Grandes vagas de movimentos sociais de protesto contra a destruição da natureza, da vida selvagem; de proteção às crianças ou outras minorias não atendidas, também atraiam a atenção e moldavam-se como alternativas a Ordem que emergira do fim da Guerra Fria.

O mega-movimento organizado em tono do chamado Fórum Social Mundial (inicialmente na cidade de Porto Alegre, depois em várias capitais mundiais ) erguia seu lema ( “Outro Mundo é Possível”) como um ímã aglutinador do que seria chamado de altermundialismo, no final dos anos ’90 e começo do novo milênio. Embora díspare em seus objetivos e alvos de interesse, algumas vezes até mesmo caótico posto que recusava a qualquer instituição, partido o governo um papel dirigente -, o altermundialismo conseguiu claramente impor uma agenda (ainda que precária) a governos, instituições multinacionais e grandes empresas. As noções de “desenvolvimento sustentável”, as chamadas “Metas do Milênio”, o Protocolo de Kyoto, os tratados de banimento das minas terrestres, do mercenariato de crianças, a criação de vários santuários naturais e a adoção pela ONU de uma agenda de combate ao racismo, ao sexismo machista e de debate da homofobia são resultantes em grande parte da agitação do movimento altermundialista.

Em alguns momentos, em Seatlle (1999) ou Genova (2001), as reuniões de cúpula do chamado G-7 (depois, G-8) foram alvo de manifestações gigantescas de protesto dos movimentos alternativos em busca de “um outro mundo”, fazendo com que a chamada “opinião pública mundial” passa-se a ser, também ela, um ator global.

Eis aí, no âmbito da crise mundial, o papel do FSM na história recente dos movimentos sociais.

Francisco Carlos Teixeira é professor Titular de História Moderna e Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Publicado originalmente: Agência Carta Maior.AEPET.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

AINDA SOBRE O SARKOZY - Greve Geral na França

Parece que agora os franceses estão percebendo quem é o seu presidente.
Carlos Dória.

L'Humanité vê greve geral como "uma virada"

"Nicolas Sarkozy deve agora se render à evidência e tomar nota do imenso protesto que se expressou em todo o país contra sua política ultra-reacionária", diz o centenário diário comunista francês L'Humanité, em editorial assinado por Patrick Le Hyaric, sobre a surpreendente adesão à greve geral desta quinta-feira, convocada pelas oito centrais sindicais francesas. Veja a íntegra do editorial.

Nicolas Sarkozy não poderá mais dizer, como fez em 6 de julho passado estufando o peito, que "daqui por diante quando há uma greve na França ninguém se apercebe".

Depois de ter feito tudo, durante dias e dias, com seus ministros, para impedir esta forme mobilização, ele deve agora se render à evidência e tomar nota do imenso protesto que se expressou em todo o país contra sua política ultra-reacionária. É altamente sintomático que tal mobilização tenha sido possível, quando os períodos de crise tendem a empurrar os indivíduos para o recuo. Cerca de 70% de nossos concidadãos apoiaram o movimento.

Que o poder não tente distorcer o sentido desta jornada. Desde o mais minúscula povoado até Paris, os assalariados, os aposentados, os sem-emprego e os precarizados, seja do setor público ou privado, as pequenas e médias empresas fizeram ouvitr sua voz com uma força como há muito tempo não se via.

Em certo sentido, pela primeira vez no reinado de Sarkozy o povo quis erguer uma barreira no caminho de sua contra-revolução neoconservadora. Fez sentir sua cólera e sua revolta face às gritantes injustiças que sofre cada dia mais. "Não somos nós que devemos pagar a crise", foi sem dúvida a frase mais ouvida nas manifestações.

Os "esforços", sempre os mesmos

Esta idéia tornou-se majoritária no país. Com efeito, faz décadas que se pede sacrifícios ao mundo do trabalho, aos aposentados e pensionistas, supostamente para que as coisas melhorem amanhã. Ora, o que cada família popular vive é que ao fim dos sacrifícios existem ainda mais sacrifícios para a maioria.

Em contraste, os privilégios de uma minoria aumentam e a crise não cessa de se agravar. Enquanto as rendas do trabalho não param de se reduzir. O número de pobres aumenta. Centenas de milhares de pessoas não têm acesso a uma moradia decente. Um certo número delas, em pleno século 21, mora nas florestas e nas ruas.

O poder sempre solicita "esforços" dos mesmos, enquanto os lucros das empresas cotadas na Bolsa e dos bancos não cessam de explodir. É precisamente essa transferência para o capital de mais e mais riquezas produzidas pelo trabalho que é a causa fundamental dos males da sociedade socialista.

A consciência desta realidade aumenta. A excepcional potência deste 29 de janeiro é um dos sintomas.

É preciso buscar bem longe, no tempo, para se achar uma tal unidade, uma tal vontade de estarem "todos juntos".

È também a primeira vez em déecadas que um movimento deste gênero foi convocado por todos os sindicatos, reunidos com base numa plataforma reivindicatória de grande qualidade. Esta mostra, com razão, que é o progresso social, a eficácia social, quem irá gerar a eficácia econômica, não o inverso.

Assim, o povo em movimento colide frontalmente com as políticas atuais de compressão do poder de compra, de laissez faire em matéria de emprego, de devastação dos serviços públicos e de questionamento de tudo que forma a arquitetura francesa em matéria de educação, de pesquisa, de cultura ou de informação.

Para além de um movimento reivindicativo, trata-se de uma verdadeira revolta contra um sistema indecente, injusto, irrresponsável, que se choca com o interesse geral da sociedade e do mundo e que não pára de favorecer as forças do dinheiro. Sem exagero, pode-se dizer que ele constitui um movimento contra o capitalismo globalizado e seus governantes, o grande patronato e os banqueiros que o promovem.

Também é a primeira vez – e nós o felicitamos – que as forças de esquerda e progressistas apresentam em uníssono seu apoio ao movimento. Falta construir agora uma união sólida, durável, eficaz desta esquerda para dar um impulso político confiável e eficaz às demandas populares.

Um tal impulso político passa por reformas estruturais progressistas, elaboradas pelos próprios cidadãos, reunidos por sua vontade de transformar a sociedade, a Europa e o mundo. Refundar o capitalismo ou consertá-lo apenas nos levaria ao mesmo beco sem saída.

De imediato, é indispensável fazer o debate sobre o uso dos 420 bilhões de euros de dinheiro público que o poder sarkozysta pretende distribuir aos bancos e algumas grandes empresas. Este dinheiro deve servir não para consolidar os lucros da grande empresa e do setor financeiro, mas para responder a urgências sociais. Deve ser usado em favor de um aumento do salário mínimo e dos salários mais baixos, das contribuições sociais e de um novo emprego do crédito de forma seletiva, que pese no sentido da manutenção do emprego e de investimentos úteis para o futuro.

É preciso agora deter todos os fechamentos de serviços públicos e barrar o projeto de supressão de um posto de trabalho em cada dois no setor público. Em todas as regiões e departamentos devem-se implementar dispositivos pluralistas de controle do dinheiro público, de tal forma que este sirva bem ao emprego, às pequenas e médias empresas e à vida das coletividades.

O movimento de 29 de janeiro já convulsiona a paisagem social e política da França. Outros países europeus conhecem igualmente fortes mobilizações sociais em torno dos mesmos temas daqui. Os assalariados puderam verificar que são fortes quando não se acham divididos ou isolados. Isto é igualmente verdadeiro à escala do continente europeu, o que demanda novas convergências de lutas e novas unificações.
Esta ação unida deve prosseguir para obter resultados. O presidente da República e o governo devem ouvir a voz do povo.

Eles poderiam em particular reunir uma conferência nacional que associe o Estado, as organizações sindicais e o patronato, pela melhoria do poder de compra e o aumento dos salários, do emprego, dos serviços público, a melhoria da seguridade social e das aposentadorias.

Isto é do interesse geral. Isto são trunfos que nosso país deve usar para fazer com que a crise recue.

Fonte: http://www.humanite.fr/Site O Vermelho.

SARKOZY, MODELO DO SÉCULO XXI???

O leitor Antonio também não concordou com o artigo do professor da Universidade Yale, Andrew Yarrow, que colocou o presidente francês, como um modelo do século XXI.Sugeriu e fizemos uma pesquisa sobre o que escreveu o analista francês Thierry Meyssan sobre o Sarkozy, que ele conhece muito bem. Escolhemos então o artigo que vamos reproduzir abaixo, no nosso entender, bastante elucidativo, aproveitando para agradecer nosso leitor pela sugestão apresentada.
Carlos Dória

Operação Sarkozy:

Como a CIA colocou um dos seus agentes na presidência da República Francesa

por Thierry Meyssan [*]

Nicolas Sarkozy deve ser julgado pelas suas acções e não pela sua personalidade. Mas quando as suas acções surpreendem até os seus próprios eleitores, é legítimo debruçarmo-nos em pormenor sobre a sua biografia e interrogarmo-nos sobre as alianças que o conduziram ao poder. Este artigo descreve as origens do presidente da República Francesa. Todas as informações nele contidas são verificáveis, com excepção de duas imputações, pelas quais o autor assume a responsabilidade exclusiva.

Os franceses, cansados das demasiado longas presidências de François Mitterrand e de Jacques Chirac, elegeram Nicolas Sarkozy contando com a sua energia para revitalizar o país. Eles esperavam uma ruptura com anos de imobilismo e ideologias ultrapassadas. Tiveram uma ruptura com os princípios que fundam a nação francesa. Ficaram estupefactos pois este "hiper presidente", a apanhar um novo dossier a cada dia, a atrair a direita e a esquerda para si, a abalar todas as referências até criar uma completa confusão.

Tal como as crianças que acabam de fazer uma grossa asneira, os franceses estão demasiado ocupados a procurar desculpas para admitir a amplitude dos danos e a sua ingenuidade. Recusam-se portanto a ver quem realmente é Nicolas Sarkozy, o que deveriam ter percebido há muito.

O homem é hábil. Tal como um ilusionista, ele desviou as atenções ao oferecer a sua vida privada como espectáculo e a posar nas revistas populares, até fazer esquecer seu percurso político.

Que se compreenda bem o sentido deste artigo: não se trata de criticar o sr. Sarkozy pelas suas ligações familiares, de amizade e profissionais, mas de criticá-lo por ter escondido suas ligações aos franceses que acreditaram, erradamente, estar a eleger um homem livre.

Para compreender como um homem em que todos hoje concordam em ver o agente dos Estados Unidos e de Israel pode tornar-se o chefe do partido gaullista, depois presidente da República Francesa, é preciso remontar atrás. Muito atrás. Teremos de efectuar uma longa digressão no decorrer da qual apresentaremos os protagonistas que hoje se vingam.

Segredos de família

No fim da Segunda Guerra Mundial, os serviços secretos estado-unidenses apoiaram-se no padrinho italo-americano Lucky Luciano para controlar a segurança dos portos americanos e para preparar o desembarque aliado na Sicilia.

Os contactos de Luciano com os serviços dos EUA passam nomeadamente por Frank Wisner Sr. e depois, quando o "padrinho" é libertado e se exila na Itália, pelo seu "embaixador" corso, Étienne Léandri.

Em 1958, os Estados Unidos, inquietos com uma possível vitória da FLN na Argélia que abriria a África do Norte à influência soviética, decidem instigar um golpe de Estado militar em França. A operação é organizada em conjunto pela Direcção da Planificação da CIA – teoricamente dirigida por Frank Wisner Sr. – e pela NATO. Mas Wisner já havia afundado na demência de modo que é o seu sucessor, Allan Dulles, que supervisiona o golpe. A partir de Argel, generais franceses criam um Comité de Salvação Pública que exerce uma pressão sobre o poder civil parisiense e constrange-o a votar plenos poderes ao general De Gaulle sem ter necessidade de recorrer à força. [1]

Ora, Charles De Gaulle não é o peão que os anglo-saxões acreditavam poder manipular. Num primeiro tempo, ele tenta sair da contradição colonial concedendo uma grande autonomia aos territórios do ultramar no seio de uma União Francesa. Mas é demasiado tarde já para salvar o Império francês pois os povos colonizados não acreditam mais nas promessas da metrópole e exigem a sua independência. Depois de ter conduzido vitoriosamente ferozes campanhas de repressão contra os independentistas, De Gaulle rende-se à evidência. Fazendo prova de uma rara sabedoria política, ele decide conceder a cada colónia a sua independência.

Esta reviravolta foi considerada pela maior parte daqueles que o levaram ao poder como uma traição. A CIA e a NATO apoiam então toda espécie de conspirações para eliminá-lo, inclusive um putsch falhado e uma quarentena de tentativas de assassinato. [2] Entretanto, alguns dos seus partidários aprovam a sua evolução política. Em torno de Charles Pasqua eles criam o SAC, uma milícia para protegê-lo.

Pasqua é ao mesmo tempo um gangster corso e um antigo resistente. Ele casou-se com a filha de um contrabandista de bebidas canadiano que fez fortuna durante a proibição. Dirige a sociedade Ricard que, depois de ter comercializado o absinto, um álcool proibido, respeitabiliza-se a vender anisete. Entretanto, a sociedade continua a servir de cobertura para todas espécie de tráficos relacionados com a família italo-nova-iorquina dos Genovese, aquela de Lucky Luciano. Portanto não é espantoso que Pasqua apele a Étienne Léandri (o "embaixador" de Luciano) para recrutar braços fortes e constituir a milícia gaullista. [3] Um terceiro homem desempenha um grande papel na formação do SAC, o antigo guarda costas de De Gaulle, Achille Peretti – também ele um corso.

Assim defendido, De Gaulle concebe com desenvoltura uma política de independência nacional. Sempre afirmando sua pertença ao campo atlântico, ele põe em causa a liderança anglo-saxónica. Opõe-se à entrada do Reino Unido no Mercado Comum Europeu (1961 e 1967); recusa a mobilização dos capacetes azuis da ONU no Congo (1961); encoraja os Estados latino-americanos a libertarem-se do imperialismo americano (discurso do México, 1964); expulsa a NATO da França e retira-se do Comando Integrado do Aliança Atlântica (1966); denuncia a Guerra do Vietname (discurso de Phnon Pehn, 1966); condena o expansionismo israelense aquando da Guerra dos Seis Dias (1967); apoia a independência do Quebeque (discurso de Montreal, 1967); etc...

Em simultâneo, De Gaulle consolida o poderio da França dotando-a de um complexo militar-industrial incluindo a força de dissuasão nuclear, e garantindo seu aprovisionamento energético. Afasta utilmente os inconvenientes corsos do seu círculo confiando-lhes missões no estrangeiro. Assim, Étienne Léandri torna-se o trader do grupo Elf (hoje Total) [4] , ao passo que Charles Pasqua torna-se o homem de confiança dos chefes de Estado da África francófona.

Consciente de que não pode desafiar os anglo-saxões sobre todos os terrenos ao mesmo tempo, De Gaulle alia-se à família Rothschild. Escolhe como primeiro-ministro o director do banco, Georges Pompidou. Os dois homens formam um par eficaz. A audácia política do primeiro nunca perde de vista o realismo económico do segundo.

Quando De Gaulle se demite, em 1969, Georges Pompidou sucede-lhe brevemente na presidência antes de ser levado por um cancro. Os gaullistas históricos não admitem a sua liderança e inquietam-se com a sua tendência anglófila. Eles urram "traição" quando Pompidou, secundado pelo secretário-geral do Eliseu Edouard Balladur, faz entrar "a pérfida Albion" no Mercado Comum Europeu.

A fabricação de Nicolas Sarkozy

Apresentado este cenário, retornemos ao nosso personagem principal, Nicolas Sarkozy. Nascido em 1955, é o filho de um nobre húngaro, Pal Sarkösy de Nagy-Bocsa, refugiado em França depois de ter fugido do Exército Vermelho, e de Andrée Mallah, uma judia originária de Tessalónica. Depois de terem três filhos (Guillaume, Nicolas e François), o casal divorcia-se. Pal Sarkösy de Nagy-Bocsa casa-se novamente com uma aristocrata, Christine de Ganay, de quem terá dois filhos (Pierre-Olivier et Caroline). Nicolas não será educado só pelos seus pais, mas mover-se-á nesta família recomposta.

Sua mãe tornou-se a secretária de Achille Peretti. Depois de ter sido co-fundador do SAC, o guarda-costas de De Gaulle havia trilhado uma brilhante carreira política. Fora eleito deputado e maire de Neuilly-sur-Seine, o mais rico arrabalde residencial de Paris, depois presidente da Assembleia Nacional.

Infelizmente, em 1972, Achille Peretti é posto gravemente em causa. Nos Estados Unidos, a revista Time revela a existência de uma organização criminosa secreta, a "União corsa", que controlaria grande parte do tráfico de estupefacientes entre a Europa e a América, a famosa "French connexion" que Hollywood levaria às telas. Apoiando-se em audições parlamentares e nas suas próprias investigações, a Time cita o nome de um chefe mafioso, Jean Venturi, preso alguns anos antes no Canadá, e que não é outro senão o delegado comercial de Charles Pasqua para a sociedade de bebidas alcoólicas Ricard. Evoca-se o nome de várias famílias que dirigiriam a "União corsa", inclusive os Peretti. Achille nega, mas deve renunciar à presidência da Assembleia Nacional e escapa mesmo a um "suicídio".

Em 1977, Pal Sarközy separa-se da sua segunda esposa, Christine de Ganay, a qual liga-se então com o nº 2 da administração central do Departamento de Estado dos Estados Unidos. Ela o desposa e instala-se com ele na América. Sendo o mundo pequeno, como é bem sabido, seu marido não é outro senão Frank Wisner Jr., filho do anterior. As funções de Junior na CIA não são conhecidas, mas é claro que ele desempenha um papel importante. Nicolas, que permanece próximo da sua mãe adoptiva (belle-mère), do seu meio irmão e da sua meia irmã, começa a virar-se para os Estados Unidos onde se "beneficia" dos programas de formação do Departamento de Estado.

Neste período, Nicolas Sarkozy adere ao partido gaullista. Ali tem contactos com Charles Pasqua, tanto mais frequentes por este ser não só um líder nacional como também o responsável da secção departamental de Hauts-de-Seine.

Em 1982, Nicolas Sarkozy, tendo concluído seus estudos de direito e tendo-se inscrito nos tribunais, casa com a sobrinha de Achille Peretti. Sua testemunha de casamento é Charles Pasqua. Enquanto advogado, Mestre Sarkozy defende os interesses dos amigos corsos dos seus mentores. Ele adquire uma propriedade na ilha da beleza, em Vico, e imagina "corsisar" o seu nome substituindo o "y" por um "i": Sarkozi.

No ano seguinte é eleito maire de Neuilly-sur-Seine em substituição do seu tio adoptivo, Achille Peretti, abatido por uma crise cardíaca.

Entretanto, Nicolas não tarda em trair sua mulher e, desde 1984, mantém uma ligação escondida com Cecília, a esposa do mais célebre animador da televisão francesa da época, Jacques Martins, que conheceu ao celebrar seu casamento na qualidade de maire de Neully. Esta vida dupla dura cinco anos, até que os amantes deixem seus consortes respectivos para construir um novo lar.

Nicolas é a testemunha de casamento, em 1992, da filha de Jacques Chirac, Claude, com um editorialista do Figaro. Ele não consegue impedir-se de seduzir Claude e de manter uma breve relação com ela, enquanto vive oficialmente com Cecília. O marido enganado suicida-se com a absorção de drogas. A ruptura é brutal e irreversível entre os Chirac e Nicolas Sarkozy.

Em 1993, a esquerda perde as eleições legislativas. O presidente François Mitterand recusa demitir-se e entra em co-habitação com um primeiro-ministro de direita, Jacques Chirac, que ambiciona a presidência e pensa então formar com Edouard Balladur um tandem comparável àquele de De Gaulle e Pompidou. Ele recusa-se a ser novamente primeiro-ministro e deixa o lugar ao seu "amigo de trinta anos", Edouard Balladur. Apesar do seu passado sulfuroso, Charles Pasqua torna-se ministro do Interior. Conservando firmemente o domínio da marijuana marroquina, ele aproveita a sua situação para legalizar as suas outras actividades tomando o controle dos casinos, jogos e corridas na África francófona. Ele também tece ligações na Arábia Saudita e em Israel e torna-se oficial de honra (officier d'honneur) do Mossad. Nicolas Sarkozy, por sua vez, é ministro do Orçamento e porta-voz do governo.

Em Washington, Frank Wisner Jr. assumiu a sucessão de Paul Wolfowitz como responsável pelo planeamento político no Departamento da Defesa. Ninguém comentou as ligações que o uniam ao porta-voz do governo francês.

É então que retorna ao seio do partido gaullista a tensão que se experimentara trinta anos antes entre os gaullistas históricos e a direita financeira, encarnada por Balladur. A novidade é que Charles Pasqua e com ele o jovem Nicolas Sarkozy traem Jacques Chirac para se aproximarem da corrente Rothschild. Saiu tudo errado. O conflito atingirá seu apogeu em 1995 quando Édouard Balladur se apresenta contra o seu ex-amigo Jacques Chirac à eleição presidencial, e será batido. Acima de tudo, seguindo as instruções de Londres e Washington, o governo Balladur abre as negociações de adesão à União Europeia e à NATO dos Estados da Europa central e oriental, livres da tutela soviética.

Nada dá certo no partido gaullista, onde os amigos de ontem estão prestes a matar-se uns aos outros. Para financiar a sua campanha eleitoral, Edouard Balladur tenta apoderar-se da caixa negra do partido gaullista, escondida na dupla contabilidade da petroleira Elf. Assim que morreu o velho Étienne Léandri, os juízes examinaram a sociedade e os seus dirigentes são encarcerados. Mas Balladur, Pasqua e Sakozy não chegarão a recuperar o tesouro.

A travessia do deserto

Ao longo de todo o seu primeiro mandato, Jacques Chirac manteve Nicolas Sarkozy a distância. O homem fez-se discreto durante esta longa travessia do deserto. Discretamente, continua a estabelecer relações nos círculos financeiros.

Em 1996, Nicolas Sarkozy, tendo por fim conseguido encerrar um processo de divórcio que não acabava, casa-se com Cecília. Eles têm como testemunhas os dois miliardários Martin Bouygues e Bernard Arnaud (o homem mais rico do país).

Último acto

Bem antes da crise iraquiana, Frank Wisner Jr. e seus colegas da CIA planeiam a destruição da corrente gaullista e a ascensão ao poder de Nicolas Sarkozy. Eles agem em três tempos: primeiro a eliminação da direcção do partido gaullista e a tomada de controle deste aparelho, depois a eliminação do principal rival de direita e a investidura do partido gaullista à eleição presidencial, finalmente a eliminação de todo rival sério à esquerda de maneira a que fosse certo ganhar a eleição presidencial.

Durante anos os media foram mantidos excitados pelas revelações póstumas de um promotor imobiliário. Antes de morrer de uma doença grave, ele registou, por uma razão nunca esclarecida, uma confissão em vídeo. Por uma razão ainda mais obscura, a "cassette" cai nas mãos de um hierarca do Partido Socialista, Dominique Strauss-Khan, que a faz chegar indirectamente à imprensa.

Se bem que as confissões do promotor imobiliário não resultem em nenhuma sanção judiciária, elas abrem uma caixa de Pandora. A principal vítima dos casos sucessivos será o primeiro-ministro Alain Juppé. Para proteger Chirac, ele assume só todas as infracções penais. O afastamento de Juppé deixa o caminho livre a Nicolas Sarkozy para tomar a direcção do partido gaullista.

Sarkozy explora então a sua posição para constranger Jacques Chirac a retomá-lo no governo, apesar do seu ódio recíproco. Ele acabou por ser ministro do Interior. Que erro! Neste posto, ele controla os prefeitos e a rede de inteligência interna, a qual ele utilizou para colocar os seus indicados nos principais ramos da administração.

Ele também trata dos assuntos corsos. O prefeito Claude Érignac foi assassinado. Se bem que não tenha sido reivindicado, o assassínio foi imediatamente interpretado como um desafio lançado à República pelos independentistas. Após uma longa caçada, a polícia conseguiu prender um suspeito em fuga, Yvan Colonna, filho de um deputado socialista. Desprezando a presunção de inocência, Nicolas Sarkozy anuncia a sua prisão acusando-o de ser o assassino. É que a notícia é demasiado bela, a dois dias do referendo que o ministro do Interior organiza na Córsega para modificar o estatuto da ilha. Seja como for, os eleitores rejeitam o projecto Sarkozy que, segundo alguns, favorece os interesses mafiosos. Se bem que Yvan Colonna posteriormente tenha sido reconhecido culpado, ele sempre clamou a sua inocência e não foi encontrada nenhuma prova material contra ele. Estranhamente, o homem amuralhou-se no silêncio, preferindo ser condenado a revelar o que sabe. Nós revelamos aqui que o prefeito Érignac não foi morto por nacionalistas, mas sim abatido por um assassino a soldo, Igor Pecatte, imediatamente enviado para Angola onde foi contratado pela segurança do grupo Elf. O móvel do crime estava precisamente ligado às funções anteriores de Érignac, responsável pelas redes africanas de Charles Pasqua na Ministério da Cooperação. Quanto a Yvan Colonna, é um amigo pessoal de Nicolas Sarkozy desde há décadas e seus filhos frequentam-se mutuamente.

Explode um novo caso: circulam falsas listagens que acusam mentirosamente várias personalidade de esconderem contas bancárias no Luxemburgo, junto à Clearstream. Dentre as personalidades difamadas, Nicolas Sarkozy. Ele apresenta queixa e sub-entende que seu rival de direita na eleição presidencial, o primeiro-ministro Dominique de Villepin, organizou esta maquinação. Ele não esconde sua intenção de lançá-lo na prisão.

Na realidade, as falsas listagens foram postas em circulação por membros da Fundação Franco-Americana [5] , de que John Negroponte era presidente e de que Frank Wisner Jr. é administrador. O que os juízes ignoram e que nós revelamos aqui é que as listagens foram fabricadas em Londres por uma oficina comum da CIA e do MI6, Hakluyt & Co, de que Frank Wisner Jr. é igualmente administrador.

Villepin defende-se do que é acusado, mas está sob exame, proibido de deixar a sua casa e, de facto, afastado provisoriamente da via política. O caminho está livre à direita para Nicolas Sarkozy.

Resta neutralizar as candidatura da oposição. As quotas de adesão ao Partido Socialista são reduzidas a um nível simbólico para atrair novos militantes. Subitamente milhares de jovens obtém seu cartão do partido. Dentre eles, pelo menos dez mil novos aderentes são na realidade militantes do Partido trotskquista "lambertista" (do nome do seu fundador, Pierre Lambert). Esta pequena formação de extrema esquerda historicamente pôs-se ao serviço da CIA contra os comunistas stalinianos durante a Guerra Fria (Ela é o equivalente do SD/USA de Max Shatchman, que formou os neoconservadores nos EUA). [6] Não é a primeira vez que os "lambertistas" infiltram o Partido Socialista. Eles nomeadamente plantaram dois célebres agentes da CIA: Lionel Jospin (que se tornou primeiro-ministro) e Jean-Christophe Cambadélis, o principal conselheiro de Dominique Strauss-Kahn. [7]

São organizadas primárias no interior do Partido Socialista a fim de designar seu candidato à eleição presidencial. Duas personalidades estão em concorrência: Laurent Fabius et Ségolène Royal. Só o primeiro representa um perigo para Sarkozy. Dominique Strauss-Kahn entra na corrida tendo por missão eliminar Fabius no último momento. O que ele está em condições de fazer graças aos votos dos militantes "lambertistas" infiltrados, que dão os seus votos não a ele mas sim a Royal. A operação foi possível porque Strauss-Kahn, de origem judia marroquina, está há muito na folha de pagamento dos Estados Unidos. Os franceses ignoram que ele dá cursos em Stanford, onde foi contratado pela superintendente da universidade, Condoleezza Rice. [8]

A partir da sua tomada de posse, Nicolas Sarkozy e Condoleezza Rice agradecerão a Strauss-Kahn fazendo-o eleger para a direcção do Fundo Monetário Internacional.

Primeiros dias no Eliseu

Na noite da segunda volta da eleição presidencial, quando os institutos de sondagem anunciam a sua provável vitória, Nicolas Sarkozy pronuncia um breve discurso à nação no seu QG de campanha. Depois, ao contrário de todos os costumes, ele não vai à festa com os militantes do seu partido, mas dirige-se ao Fouquet's. O célebre restaurante dos Campos Elíseos, que outrora era o ponto de encontro da "União corsa", hoje é propriedade do operador de casino Dominique Desseigne. Foi posto à disposição do presidente eleito para receber seus amigos e os principais doadores da sua campanha. Uma centena de convidados ali se acotovelam, os homens mais ricos da França ombro a ombro com patrões de casinos.

Depois disso o presidente eleito oferece-se alguns dias de repouso bem merecidos. Tomando um Falcon-900 privado, vai para Malta. Ali repousa no Paloma, o iate de 65 metros do seu amigo Vicent Bolloré, um miliardário formado no Banco Rothschild.

Finalmente, Nicolas Sarkozy toma posse como presidente da República Francesa. O primeiro decreto que assina não é para proclamar uma amnistia, mas para autorizar os casinos dos seus amigos Desseigne e Partouche a multiplicar as máquinas de moedas.

Ele forma sua equipe de trabalho e seu governo. Sem surpresa, encontra-se ali um bem turvo proprietário de casinos (o ministro da Juventude e Desporto) e o lobbyista dos casinos do amigo Desseigne (que se torna porta-voz do partido "gaullista").

Nicolas Sarkozy apoia-se sobretudo em quatro homens:

* Claude Guéant, secretário-geral do Palácio do Eliseu. É o antigo braço direito de Charles Pasqua.

* François Pérol, secretário-geral adjunto do Eliseu. É um associado-gerente do Banco Rothschild.

* Jean-David Lévitte, conselheiro diplomático. Filho do antigo director da Agência Judia. Embaixador da França na ONU, ele foi afastado das suas funções por Chirac que o julgava demasiado próximo de George Bush.

* Alain Bauer, o homem da sombra. Seu nome não aparece nos anuários. É o encarregado dos serviços de informação. Neto do Grande Rabi de Lyon, antigo Grande-Mestre do Grande Oriente da França (a principal obediência maçónica francesa) e antigo nº 2 da National Security Agency estado-unidense na Europa. [9]

Frank Wisner Jr., que entretanto fora nomeado enviado especial do presidente Bush para a independência do Kosovo, insiste em que Bernard Kouchner seja nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros com uma dupla missão prioritária: a independência do Kosovo e a liquidação da política árabe da França.

Kouchner, um judeu de origem báltica, começou sua carreira a participar na criação de uma ONG humanitária. Graças aos financiamentos da National Endowment for Democracy, ele participou nas operações de Zbigniew Brzezinski no Afeganistão, ao lado de Oussama Ben Laden e dos irmãos Karzaï contra os soviéticos. Nos anos 90 podia ser encontrado junto a Alija Izetbegoviç na Bosnia-Herzégovina. De 1999 à 2001 foi Alto Representante da ONU no Kosovo.

Sob o controle do irmão mais novo do presidente Hamid Karzaï, o Afeganistão tornou-se o primeiro produtor mundial de papoula. O seu sumo é transformado ali em heroína e transportado pela US Air Force para Campo Bondsteel (Kosovo). Lá, a droga passa para os homens de Haçim Thaçi que a escoa principalmente para a Europa e acessoriamente para os Estados Unidos. [10] Os lucros são utilizados para financiar as operações ilegais da CIA.

Karzaï e Thaçi são amigos pessoais de longa data de Bernard Kouchner, que certamente ignora suas actividades criminosas apesar dos relatórios internacionais que lhe foram consagrados.

Para completar seu governo, Nicolas Sarkozy nomeia Christine Lagarde, ministra da Economia e das Finanças. Ela fez toda a sua carreira nos Estados Unidos onde dirigiu o prestigioso gabinete de juristas Baker & McKenzie. No seio do Center for International & Strategic Studies de Dick Cheney, ela co-presidiu com Zbigniew Brzezinski um grupo de trabalho que supervisionou as privatizações na Polónia. Ela organizou um lobbying intenso por conta da Lockheed Martin contra o construtor de aviões francês Dassault. [11]

Nova escapada durante o Verão. Nicolas, Cecília, sua preceptora (maitresse) comum e seus filhos fazem-se oferecer férias estado-unidenses em Wolfenboroo, não longe da propriedade do presidente Bush. A factura, desta vez, é paga por Robert F. Agostinelli, um banqueiro de negócios italo-nova-iorquino, sionista e neoconservador que apresenta seus pontos de vista em Commentary, a revista do l'American Jewish Committee.

O êxito de Nicolas reflecte-se no seu meio-irmão Pierre-Olivier. Sob o nome americanizado de "Oliver", é nomeado por Frank Carlucci (que foi o nº 2 da CIA depois de ter sido recrutado por Frank Wisner Sr.) [12] director de um novo fundo de investimento do Grupo Carlyle (a sociedade comum de gestão de carteiras dos Bush e dos Ben Laden). [13] Tornado o 5º deal maker do mundo, ele gere os haveres principais dos fundos soberanos do Koweit e de Singapura.

A quota de popularidade do presidente está em queda livre nas sondagens. Um dos seus conselheiros em comunicação, Jacques Séguéla, preconiza desviar a atenção do público com novas "people stories". O anúncio do divórcio com Cecilia foi publicado pelo Libération, o jornal do seu amigo Edouard de Rothschild, para encobrir os slogans dos manifestantes num dia de greve geral.

Indo mais além, o comunicador organizou um encontro com a artista e ex-manequim Carla Bruni. Alguns dias mais tarde, sua ligação com o presidente é oficializada e a campanha mediática encobre novamente as críticas políticas. Algumas semanas ainda e é o terceiro casamento de Nicolas. Desta vez, ele escolhe como testemunhas Mathilde Agostinelli (a esposa de Robert) e Nicolas Bazire, antigo director de gabinete de Edouard Balladur que se tornou associado-gerente no Rothschild.

Quando os franceses terão olhos para ver o que têm a fazer?

14/Julho/2008

[1] Quand le stay-behind portait De Gaulle au pouvoir , par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 27 août 2001

[2] Quand le stay-behind voulait remplacer De Gaulle , par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 10 septembre 2001

[3] L'Enigme Pasqua , par Thierry Meyssan, Golias ed, 2000.

[4] Les requins: Un réseau au coeur des affaires Elf, Thomson, TGV, GMF, travaux publics, partis politiques , par Julien Caumer, Flammarion, 1999.

[5] Un relais des États-Unis en France : la French American Foundation , par Pierre Hillard, Réseau Voltaire, 19 avril 2007.

[6] Les New York Intellectuals et l'invention du néo-conservatisme , par Denis Boneau, Réseau Voltaire, 26 novembre 2004.

[7] Eminences grises , Roger Faligot et Rémi Kauffer, Fayard, 1992 ; "The Origin of CIA Financing of AFL Programs" in Covert Action Quaterly, n° 76, 1999.

[8] Dominique Strauss-Kahn, l'homme de "Condi" au FMI , par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 5 octobre 2007.

[9] Alain Bauer, de la SAIC au GOdF , Note d'information du Réseau Voltaire, 1er octobre 2000.

[10] Le gouvernement kosovar et le crime organisé , par Jürgen Roth, Horizons et débats, 8 avril 2008.

[11] Avec Christine Lagarde, l'industrie US entre au gouvernement français , Réseau Voltaire, 22 juin 2005.

[12] L'honorable Frank Carlucci , par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 11 février 2004.

[13] Les liens financiers occultes des Bush et des Ben Laden et Le Carlyle Group, une affaire d'initiés , Réseau Voltaire, 16 octobre 2001 et 9 février 2004.

[*] Analista político, fundador do Réseau Voltaire . Último livro publicado: L'effroyable imposture : Tome 2 (a remodelação do Oriente Próximo e a guerra israelense contra o Líbano). As informações contidas neste artigo foram apresentadas na mesa redonda de encerramento do Eurasian Media Forum, no Casaquistão (25/Abril/2008).

O original encontra-se em http://www.voltairenet.org/article157210.html

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