terça-feira, 31 de março de 2009

"VAMOS LÁ, EU GOSTO DESSE JOGO"

Ricardo Kotscho.

Vários leitores me chamaram a atenção por ter falado só do caso da faxineira do deputado Alberto Fraga (DEM-DF) e não da secretária parlamentar Luciana Cardoso, filha do ex-presidente FHC, que ganha R$ 7.500 para “cuidar dos arquivos” na casa do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), noticiado na semana passada. Peço desculpas pela falha, já tinha me esquecido.

Segundo ela mesma declarou à Folha (coluna da Mônica Bergamo), Luciana Cardoso não vai ao Senado, onde é funcionária, “porque lá é uma bagunça”.

E se todos os outros funcionários do Senado resolverem fazer o mesmo, alegando o mesmo motivo? Teremos uma legião de trabalhadores domésticos pagos com o dinheiro público?

“Mas vamos lá, vamos lá, eu gosto desse jogo”, desafiou o cabra macho Alberto Fraga (DEM-DF) ao ser procurado pelos repórteres Leonardo Souza e Maria Clara Cabral, da Folha, para esclarecer o caso da secretária parlamentar Izolda da Silva Lima, flagrada trabalhando como faxineira na casa do nobre parlamentar, que ocupa uma área de 1.875 metros quadrados, às margens do lago Paranoá.

Quando li essa notícia no jornal, imaginei logo quem iria perder esse jogo. Adivinhem quem? Não deu outra: Izolda foi exonerada ontem mesmo após pressão da Mesa Diretora da Câmara, pelo suplente de Fraga, Osório Adiano, depois de todas as bravatas do deputado, que está licenciado, atual Secretário de Transportes do Distrito Federal.

Izolda, de 30 anos, que segundo ela mesma trabalhava há quatro ou cinco anos na casa do deputado, foi promovida no mês passado de secretária parlamentar 05 para 06, com salário de R$480,86, mas com as gratificações seus vencimentos chegavam a R$ 1.080, um bom salário para faxineira. Não vai ser fácil arrumar outro emprego com este salário em Brasília.

Pior do que manter uma secretária particular trabalhando como empregada doméstica em sua mansão, foi a reação do deputado ao ser flagrado. Primeiro tentou negar o fato, depois tentou justificá-lo, dizendo não ver nenhum problema nenhum em usar dinheiro da Câmara dos Deputados para fins privados. Disse aos repórteres que teria dinheiro para pagá-la, mas não o usa porque “não quer”.

Deputado do baixo clero que saiu do anonimato ao liderar a “bancada da bala” contra a proibição do comércio de armas no país, em 2005, Alberto Fraga resolveu partir para o ataque, desafiando os repórteres que descobriram o caso.

“Vocês não têm mais um castelo, agora querem uma doméstica fabricada. Mas vamos lá, vamos lá eu gosto desse jogo”.

“Eu pedi, evidentemente, se ele (o suplente Osório) pudesse segurar ela (como funcionária do gabinete). Se for o caso, se for para satisfazer o ego de vocês, eu volto amanhã para a Câmara e ela (Izolda) continua (contratada pelo gabinete). Não tenho tenhum tipo de receio de vocês, não”.

“Desculpa, não tenho que ficar dando este tipo de satisfação (sobre o tipo de serviço prestado por Izolda). Ela vai ao banco, esse tipo de coisa”.

Ontem, depois que o caso estourou, Fraga manteve a mesma linha de ataque:

“Não vou pedir para exonerá-la. Vocês que são os donos do mundo que peçam. Em minha vida pública sempre cumpri a lei e vou continuar cumprindo”.

A que tipo de lei Fraga estaria se referindo? A lei do comigo-ninguém-pode ou do você-sabe-com-quem-está-falando?

Entre tantas coisas ilícitas, ilegais ou imorais quase todos os dias denunciadas na rotina do Congresso Nacional, usar dinheiro público para levar uma secretária parlamentar a trabalhar como empregada doméstica, pode até ser algo irrelevante a esta altura do campeonato.

O que choca é a certeza da impunidade, é o desprezo pelo trabalho da imprensa e pela opinião pública, já que a única prejudicada nesta história toda foi a pobre faxineira recentemente promovida, certamente por bons serviços prestados.
Fonte:Balaio do Kotscho.

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