quinta-feira, 26 de março de 2009

A TENDÊNCIA DA AMÉRICA LATINA

A tendência da AL
Por José Dirceu

(publicado no jornal O Tempo, em 22 de março de 2009)

A eleição de Mauricio Funes para a Presidência de El Salvador não pode ser vista apenas como mais uma vitória do Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), mas sim como a confirmação de uma tendência na América Latina e uma mudança de época.

Vivemos um longo processo de mudanças no continente, com a volta das classes populares à cena política, como sujeito e autor. Mais experientes e organizadas, elas empurram suas lideranças, movimentos e partidos para a democracia, a retomada dos projetos e o resgate das riquezas nacionais e o combate à pobreza.

Verdadeiras revoluções sociais democráticas, passaram por longos processos de mobilização social e aprendizado político, como o caso do Brasil e do PT.

Também são consequência dos anos de neoliberalismo, uma resposta às políticas de desregulamentação que agora mostram sua fase destruidora nos países desenvolvidos; de privatizações e abertura comercial que não resolveram seus problemas sociais; e do desemprego e fome que agravaram seus problemas econômicos.

Além da maioria dos países do continente ter passado por ditaduras que nos roubaram a liberdade e implantaram políticas antinacionais e antipopulares - no Chile, Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia - ou por governos genocidas como os da Guatemala e Nicarágua no passado.

As mudanças recentes na Venezuela, Equador e Bolívia têm um caráter radical, com amplas mobilizações e mesmo rebeliões populares. As mudanças no Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e agora em El Salvador são fruto de longos processos de acúmulo, resistência e vitórias eleitorais, nem sempre majoritárias, no parlamento; e de processos de transição e transação, como o caso chileno. Cada país tem sua característica, processo e ritmo, que devem ser respeitados e compreendidos, sob pena de não avançarmos na integração tão necessária para os progressos sociais e econômicos.

Devemos nos apoiar em objetivos comuns da democracia, no resgate das riquezas nacionais, no combate à fome e ao desemprego; e na retomada de projetos de desenvolvimento apoiados no excedente da exploração de nossas riquezas para o desenvolvimento da infraestrutura energética e de transporte, a agricultura para alimentação e exportação, a educação e a inovação com sistemas públicos educacional, de saúde e de seguridade social.

A chave do sucesso é a integração, começando pelo Mercosul e avançando para a Unasul, partindo da integração energética e de transportes para a de políticas industriais, moeda e instituições políticas comuns.

Essa é uma agenda que ainda não assumimos. E não temos como escapar, começando pelo contencioso que temos com nossos vizinhos. O Brasil deve se preparar para assumir seu papel, como fez recentemente ao reivindicar o combate ao narcotráfico e a formação de um conselho sul-americano de defesa, dando uma resposta à altura aos desafios deste século que é tirar a América Latina da dependência e da pobreza.
Fonte:Blog do Zé Dirceu.

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