sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ELEIÇÕES - Sem prévias, pesquisas definem candidatos e alianças.

Ricardo Kotscho

Como no Brasil não temos o salutar hábito das prévias, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, um fato político está ficando evidente nesta temporada pré-eleitoral: cada vez mais, não são apenas as vontades e os conchavos dos caciques, muito menos os programas partidários, mas as pesquisas que definem o quadro de candidatos e alianças para 2010.
Até o começo do ano, antes da safra mais recente de pesquisas, o quadro parecia definido com apenas dois candidatos disputando para valer a presidência. De um lado, Dilma Roussef, do PT, como candidata do governo Lula; de outro, José Serra, do PSDB, pela oposição.
Desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito pela primeira vez, tem sido assim. Passando pela sua reeleição e, depois, as duas vitórias de Lula, a disputa praticamente se limitou aos candidatos do PSDB e do PT. Aos outros, cabia apenas fazer figuração.
Agora, parece que as coisas estão mudando, tantas são as variáveis produzidas pelas últimas pesquisas. A começar pela entrada em cena de um fato novo, a candidatura de Marina Silva pelo PV, o quadro está em constante mutação.
Pouco mais de um ano de antes de sairmos de casa para eleger o sucessor de Lula, ainda não sabemos quais os nomes que estarão na urna eletrônica, nem do lado do governo, nem da oposição, muito menos podemos prever quem estará no segundo turno.
Mas vai ser muito difícil, a julgar pela indefinição das candidaturas de um lado e de outro, o quadro ficar limitado a apenas duas candidaturas viáveis. O sonho de Lula de transformar a eleição num plebiscito sobre o seu governo, em comparação com o anterior, a esta altura parece cada vez mais distante da realidade.
Com a acentuada queda dos favoritos José Serra e Dilma Roussef no Ibope divulgado esta semana, e o crescimento consistente de Ciro Gomes, do PSB, até o papel do PMDB, o grande fiel da balança, ficou embaralhado nesta história.
Orestes Quércia, Jarbas Vasconcelos e Ibsen Pinheiro à frente, o PMDB serrista peitou esta semana Michel Temer, presidente licenciado da sigla e nome mais cotado para ser o vice de Dilma. Temer agora quer uma rápida definição da chapa governista, mas o PSDB e seus aliados no PMDB não querem definição nenhuma por enquanto. A ordem por lá é tocar a bola e deixar o tempo passar.
Pouco importa que o PSDB tenha nascido exatamente da dissidência criada pelo chamado “grupo ético” do antigo PMDB, que não aceitava mais o comando do partido nas mãos de Quércia em São Paulo. Da mesma forma, o PT já esqueceu tudo o que falava sobre o ex-presidente Sarney e sua turma. O que importa e está em jogo é o latifúndio de tempo que o PMDB tem na televisão, além dos seus palanques estaduais.
Pelo andar da carruagem, como não lançará candidato próprio, para poder se compor depois com quem ganhar, o PMDB permanecerá dividido e a maioria ficará com quem estiver melhor nas pesquisas no próximo ano.
Do lado tucano, há um consenso de que Serra, ainda com boa folga na liderança, só levará sua candidatura até o fim se tiver certeza da vitória na corrida presidencial. Caso contrário, vai preferir uma tranquila reeleição em São Paulo.
Do lado do governo, Lula e o PT estão fechados com Dilma, mas o que farão se Ciro Gomes, que também é da base aliada, continuar crescendo nas pesquisas e abrir uma boa vantagem sobre a candidata do governo?
Um ano antes das eleições americanas do ano passado, quem apostava um tostão em Obama contra Hillary na convenção democrata? E quem apostaria outro tostão de que, ao final das prévias, sairia uma chapa Obama-Hillary?
Como aqui não temos prévias, volto ao início do comentário: precisamos esperar as próximas pesquisas para saber que rumos os principais partidos e candidatos vão tomar. Os líderes políticos podem ser teimosos, mas não costumam rasgar votos.
Assim como alguns líderes do PSDB, a começar pelo ex-presidente FHC, ainda sonham com uma chapa puro sangue Serra-Aécio, os números poderão levar os governistas a montar uma chapa Dilma-Ciro ou Ciro-Dilma, caso o PMDB não apóie oficialmente nenhuma das candidaturas.
Só para encerrar: diante da importância que as pesquisas vêm ganhando nas eleições 2010, urge que o TSE providencie um controle rígido sobre metodologias aplicadas pelos institutos, que já começam a ser contestadas, para assegurar a lisura dos resultados apresentados.

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