segunda-feira, 30 de novembro de 2009

MÍDIA - LIxo em estado puro.

Dines: Lixo em estado puro

Atualizado em 30 de novembro de 2009 às 20:13 | Publicado em 30 de novembro de 2009 às 20:10

Lixo em estado puro

Por
Alberto Dines

no Observatório da Imprensa

Vamos criar uma igreja e deixar de pagar impostos? A manchete da Folha de S.Paulo de domingo (29/11) foi a mais comentada dos últimos tempos. Nem parecia ser o mesmo jornal que dias antes, na sexta-feira, produziu um lixo jornalístico dos mais repugnantes e que desde então está ocupando a seção de cartas dos leitores quase inteira.

A propósito da estréia do filme Lula, o filho do Brasil, a Folha publicou um depoimento do seu colunista Cesar Benjamin, dissidente do PT, a propósito de um comentário cabeludo feito há 15 anos pelo então candidato à presidência Lula da Silva (FSP, 27/11, pág. A-8).

Como foi constatado no dia seguinte, o comentário foi efetivamente feito mas em tom de troça, conversa de fim de expediente. A Folha rasgou e tripudiou sobre todos os seus manuais de redação, pisoteou 20 anos de trabalho dos seus ouvidores ao aceitar como verdadeira uma fofoca estapafúrdia sem qualquer diligência sobre a sua veracidade.

Não foi desatenção, erro involuntário, tropeço de um redator apressado: a Folha reservou uma página inteira para que o colunista contasse a sua saga nos cárceres da ditadura iniciada quando contava apenas 17 anos. Seu relato é impressionante, mas de repente, para desqualificar os 30 dias em que Lula passou no xadrez, Cesar Benjamin conta a sua anedota em três enormes parágrafos e com ela fecha o artigo.

Imprensa marrom

À primeira vista, parece mais um golpe publicitário da família Barreto (que produziu o filme), em seguida percebe-se que a denúncia é a vera, fruto de um ressentimento pessoal que um jornal do porte da Folha, que se assume “a serviço do Brasil”, não tem o direito de perfilhar.

A direção da Folha simplesmente não avaliou o tamanho do desatino. No dia seguinte, tentou consertar: mancheteou uma de suas páginas com o justo desabafo de Lula classificando o texto como “loucura” (FSP, 28/11, pág. A-10). No domingo, certamente arrependida, a direção da Folha providenciou a evaporação do assunto. Ficou apenas a reprovação do seu ouvidor Carlos Eduardo Lins da Silva.

Tarde demais. Já no sábado (28/11) o Estado de S.Paulo repercutia o episódio com destaque e, no mesmo dia, a Veja já o incorporara à sua edição. O Globo manteve-se à distância desta porcaria.

Se o leitor não sabe o que significa “imprensa marrom”, tem agora a oportunidade de confrontar-se com este exemplo – em estado puro – do jornalismo de escândalos e achaques.

MÍDIA - Irresponsável é pouco.

Copiado do blog "Vi o Mundo"

Irresponsável é pouco. Foi calhorda, mesmo

Atualizado em 30 de novembro de 2009 às 20:23 | Publicado em 30 de novembro de 2009 às 20:20

30/11/2009 - 08:43
O Jornalismo irresponsável
Do Último Segundo
Coluna Economica 30/11/2009

por Luís Nassif

Watergate tinha dois repórteres espertos – Bob Woodward e Carl Bernstein – e um editor memorável – Ben Bradlee – que filtrava todas as informações e só permitia a publicação daquelas confirmadas por pelo menos três fontes. Até hoje Bradlee é um dos símbolos do bom jornalismo e exemplo para jornalistas de todas as partes do mundo. O caso Watergate foi citado pelo comentarista Ronaldo Bicalho e ressalta a importância da apuração jornalística.

O escândalo divulgado pela Folha na sexta-feira – um artigo de um dissidente do PT, César Benjamin – acusando Lula de ter currado um militante do MEP no período em que esteve preso no DOPS, é um dos mais deploráveis episódios da história da imprensa brasileira. E mostra a falta que fazem pessoas da envergadura de Bradlee.

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Qualquer acusação, contra qualquer pessoa, exige discernimento, apuração. Quando o jornal publica uma acusação está avalizando-a.

Quando a acusação é gravíssima e atinge o Presidente da República – seja ele Sarney, Itamar, FHC ou Lula – o cuidado deve ser triplicado, porque aí não se trata apenas da pessoa mas da instituição. Qualquer acusação grave contra um Presidente repercute internacionalmente, afeta a imagem do país como um todo. Se for verdadeira, pau na máquina. Se for falsa, não há o que conserte os estragos produzidos pela falsificação.

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A acusação é inverossímil.

Na sexta conversei com o delegado Armando Panichi Filho, um dos dois incumbidos de vigiar Lula na cadeia. Ele foi taxativo: não só não aconteceu como seria impossível que tivesse acontecido.

Lula estava na cela com duas ou três presos. A cela ficava em um corredor, com as demais celas. O que acontecesse em uma era facilmente percebida nas outras.

Havia plantão de carcereiros 24 horas por dia. E jornalistas acompanhando diariamente a prisão.

Não havia condições de nenhum fato estranho ter passado despercebido. Panichi jamais ouviu algo dos carcereiros, dos presos, dos jornalistas e do delegado Romeu Tuma, seu chefe.

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Benjamin não diz que Lula cometeu o ato. Diz que ouviu o relato de Lula em 1994, em um encontro que manteve em Brasília com um marqueteiro americano, contratado pela campanha, mais o publicitário Paulo de Tarso Santos e outras testemunhas.

Conversei com Paulo de Tarso – que já fez campanha para FHC, Lula – que lembra do episódio do americano mas nega que qualquer assunto semelhante tivesse sido ventilado, mesmo a título de piada. E nem se recorda da presença de Benjamin no almoço.

***

E aí se chega à questão central: com tais dados, jamais Ben Bradlee teria permitido que semelhante acusação saísse no Washington Post.

Antes disso, colocaria repórteres para ouvir as tais testemunhas, checaria as informações com outras fontes, conversaria com testemunhas da prisão de Lula na época. Praticaria, enfim, o exercício do jornalismo com responsabilidade.

A Folha não seguiu cuidados comezinhos de bom jornalismo. Não apenas ela perde com o episódio, mas o jornalismo como um todo.

É importante que leitores entendam: isso não é jornalismo. É uma modalidade especial de deturpação da notícia que os verdadeiros jornalistas não endossam.

Nota do Viomundo: Este site insiste. Irresponsável é pouco. Irresponsável pode ser por descuido. Mas não foi. Houve protestos internos na Folha contra a publicação do artigo de César Benjamin. Qualquer estagiário sabe que uma grande empresa jornalística não publica acusações antes de ter certeza do que está fazendo, especialmente por causa de ações na Justiça. A Folha sabia o que estava fazendo. A Folha planejou a publicação. Quanto ao argumento do ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva de que não analisa artigos opinativos, como se coubesse qualquer coisa neles, a pergunta que se deve fazer é: e se um articulista da Folha escrevesse que o dono do jornal cheira cocaína, por exemplo, um óbvio absurdo? Sairia primeiro e seria apurado e desmentido depois?

MÍDIA - A Folha ensandeceu de vez.

Hélio Fernandes na Tribuna da Imprensa

A FOLHA ENSANDECEU DE VEZ

Sem controle, abusou da liberdade de imprensa, envergonhou o país interna e externamente com um artigo libertino, cuja leitura provoca vômitos intermitentes

A “Folha de S. Paulo”, que comeu o pão que o diabo amassou para sobreviver, crescer e dizer a que veio, tem história bastante controvertida. Vende cerca de 350 mil exemplares diariamente e cerca de 450mil aos domingos e, inexplicavelmente, como um carro desgovernado, abriu um de seus mais nobres espaços para que, num artigo de página inteira, seu colunista César Benjamin, narrasse o passado de militante contra a ditadura e, finalmente, pudesse contar um suposto fato duvidoso da vida do atual presidente.

Segundo ele, durante a campanha presidencial de 1994 (na qual César trabalhou como petista e assessor), Lula, em reunião descontraída, teria afirmado que, quando preso no distante 1980, teria assediado um outro prisioneiro. Sua investida foi infrutífera porque a possível vítima resistiu. A curiosa situação foi negada por todos os participantes do mencionado encontro.

Irresponsavelmente, talvez com intenção ao que parece dolosa (destruir a imagem de outrem), a “Folha de S. Paulo” ofereceu uma página inteira para que o colunista, cuja existência é ignorada por 99,99% dos brasileiros, pudesse ressuscitar uma confidência-brincalhona feita por amigo, em conversa sem compromisso e assim, quem sabe, mostrar ao mundo, que o presidente Lula, que está sendo festejado e bem recebido em muitos países, não merece toda essa reverência, respeito e homenagem. Isso porque teria assediado um companheiro de prisão em momento de descontrole emocional ou de quase delírio há TRINTA ANOS.

Por essa razão, o articulista aproveitou para dizer que não pretendia assistir ao filme “O filho do Brasil”, que tenta reviver a trajetória seguida pelo atual presidente, desde seu nascimento até sua chegada à Presidência da República. Ele assegurou que quando preso, no Rio de Janeiro, não sofreu ameaças por parte de nenhum dos mais famosos e temidos criminosos e com os quais chegou a ter relacionamento cordial. Estaria insinuando que sua sorte poderia ter sido diferente, se tivesse sido preso também em 1980, no DOPS de São Paulo?

Sem dúvida, este foi o MAIS INDECENTE “FURO JORNALÍSTICO” dos últimos tempos, que diminui a imprensa, a grandeza do Estado Democrático de Direito e que, desgraçadamente, põe novamente em discussão os limites do direito de os veículos de imprensa informarem, de destruírem honras alheias, famílias inteiras, atentarem contra a dignidade alheia e a auto-estima de um povo, que se imagina governado por gente honesta, equilibrada.

A desastrada e encomendada matéria, com espaço tão farto e privilegiado, exala um mau cheiro insuportável, forçando a mudança do slogan da “Folha de S. Paulo”, de “UM JORNAL A SERVIÇO DO BRASIL” para “UM JORNAL QUE NÃO RESPEITA O LEITOR”.

Votei no Lula em 2002 e logo depois passei a criticá-lo por discordar de caminhos que adotou, traindo seu passado de lutas e o próprio programa de governo que prometeu e nem chegou a montar. Meu jornal, Tribuna da Imprensa, com 60 anos, foi uma das maiores vítimas dos truculentos governantes revolucionários e por não transigir, foi também “castigado” pelos governantes ditos democratas, inclusive o Lula, que proibiram as estatais de nele anunciar, assim, afastando também os anunciantes privados.

A “Folha de S. Paulo”, diferentemente, foi “um jornal a serviço da ditadura” e que cresceu à sua sombra. Sua covardia e colaboracionismo com os mandantes militares eram tão acentuados que as edições do jornal saíram vários anos sem editorial. O jornal nem tinha opinião.

Economicamente deficitário, sobreviveu, entre meados de 1960 e início de 1980, graças à utilização irregular de um valorizadíssimo espaço público no bairro de Campos Elíseos, em São Paulo, onde montou a sua Rodoviária e para onde todos os ônibus que chegavam a São Paulo tinham que se dirigir. Essa centralização provocou durante décadas prejuízos incomensuráveis à cidade de São Paulo, que tinha seu trânsito totalmente congestionado, e à população, que tinha sua saúde afetada pelo excesso de poluição despejada no entorno da Rodoviária, uma gigantesca armação de ferro empastilhada e de um mau gosto ímpar.

No governo de Abreu Sodré, o coronel Fontenelle, diretor de trânsito de São Paulo, ameaçou deslocar a Rodoviária, descentralizando-a. A “Folha” ameaçou não dar sossego às autoridades de então se isto fosse efetivado. Nada aconteceu a não ser a morte do desautorizado coronel. Isto, sem falar na famosa história das “ASSINATURAS PERPÉTUAS”. (O senhor Otávio Frias exigiu a saída de Fontenelle. Demitido, no mesmo dia quando dava entrevista, morreu em frente às câmeras de televisão).

Como mostram alguns informes inseridos em diversos sites, se os inimigos da combativa “Folha de S. Paulo” dispusessem de uma página inteira para contar pormenores de seu surgimento, crescimento e consolidação como empresa jornalística, certamente, muitos casos inconvenientes poderiam surgir e que não deveriam assim mesmo ser publicados porque nada acrescentam ao dia-a-dia do leitor, como a absurda história, inescrupulosamente, publicada com a assinatura do colunista Benjamin, com o pleno conhecimento dos editores da mesma “Folha”.

Não dá para acreditar que a “Folha de S. Paulo”, que, competentemente, produz artigos e comentários fundamentados sobre os mais variados temas (jornal de maior circulação), tenha permitido que tamanho e tão comprometedor disparate tenha sido inserido em suas páginas.

Somente uma mente doentia e abominável poderia concordar com tal maldade, pois, goste-se ou não de Lula, a criminosa e intempestiva história atinge um cidadão que preside a República Federativa do Brasil há 7 anos e com aprovação de 70% de sua população, sem falar no prestígio que vem desfrutando no Exterior.

A matéria não é jornalística, não se justifica e foi mal montada. Seus escusos objetivos não foram bem dissimulados, o que só agrava a responsabilidade de quem autorizou sua edição e veiculação. Por muito menos, o conceituado jornal “O Estado de S. Paulo” vem sofrendo inaceitável censura prévia. O irresponsável artigo só faz crescer a convicção dos inimigos da liberdade de imprensa e que clamam por censura prévia mais ampla, indistintamente.

O comando editorial da “Folha de S. Paulo” tem a obrigação de, em primeira página, desculpar-se junto aos seus leitores, aos brasileiros em geral e aos eleitores de Lula e aos seus familiares por terem prestado tão sórdido desserviço ao país. Isso não é e nunca foi exercício democrático e nem uso responsável da liberdade de imprensa.

Otávio Frias, o pai de tudo, deve estar decepcionado com a falta de critério e de rumo de seus descendentes no comando do jornal “Folha de S. Paulo”.

A mente que produz e a que acolhe tão medonha “criação” não pode estar à frente de uma empresa de comunicação, que se quer responsável, criteriosa e comprometida com os interesses dos cidadãos brasileiros e do País. Basta. Meu estômago não é de ferro. Nem o dos 300 mil leitores que a própria Folha apregoa.

No mais, é pacífica a responsabilidade civil da empresa jornalística quando o autor da publicação tenha desejado ou assumido o risco de produzir o resultado lesivo, ou ainda, embora não o desejando, TENHA LHE DADO CAUSA POR IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA OU IMPERÍCIA. O fato de a “Folha” estar amparada pelo direito de liberdade de expressão não a isenta da responsabilidade pela prática de ato ilícito e, no caso, repugnante contra a figura de um Chefe de Estado e de Governo.

Assim, o direito da liberdade de informar não deve ser tolhido, mas exercido com responsabilidade sem lesionar os direitos individuais dos cidadãos. Em síntese, sem tirar nem por, com a extemporânea “revelação”, a “Folha de S. Paulo” abusou de seu direito de liberdade de expressão, o que resultou na violação da honra objetiva do cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República Federativa do Brasil, em âmbito nacional e internacional.

* * *

PS- Essa Folha de hoje que agride a si mesma e a seus leitores, tentando agredir o presidente da República de forma repugnante, é a mesma que servia de forma subserviente à ditadura. E que usava os carros (kombis) de transporte do jornal, e levava prisioneiros para as sessões amaldiçoadas nos porões da OBAN. (O correspondente ao Doi-Codi no Rio).

Além do mais, não há nem comprovação do fato noticiado e que teria SUPOSTAMENTE ocorrido em 1980, portanto há 29 anos. Lula realmente esteve preso, e nesse período sua mãe morreu, permitiram que ele fosse ao enterro. Era o mínimo que poderiam conceder.

PS2- A Folha nunca se mostrou o melhor exemplo da LIBERDADE DE IMPRENSA. Mas agora, vergonhosa e traumaticamente, o jornal mostra que é capaz de ser sempre e cada vez mais, saudosista da ditadura. E pode ser o jornal-arauto do regime que já identificam em alguns “paísecos” da América Central, (e não apenas aí) como DEMOCRACIA AUTORITÁRIA

ECONOMIA - Fronteiras abertas para países pobres.

Copiado do blog Siga MPost


O Brasil dará livre acesso a seu mercado para produtos importados dos 49 paises mais pobres do planeta a partir de meados do ano que vem. O anúncio foi feito ontem pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a representantes desses paises durante café da manhã em Genebra.

Amorim disse que, inicialmente, o Brasil vai eliminar alíquotas de importação sobre 80% de seu universo tarifário, formado por 10 mil linhas. A liberalização vai aumentar em 5% a cada ano, até a abertura total, em 2014. A lista de países pobres beneficiados inclui Bangladesh, Camboja, Sudão, Uganda, Iêmen, Senegal, Etiópia, Mali, Nepal e Moçambique.

Só que o cumprimento dessa antiga promessa já causou embaraços ontem mesmo, por causa da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul. O secretário de Comércio da Argentina, Alfredo Chiaradia, não escondeu a surpresa. "Não estou sabendo de nada disso", disse, sem também manifestar oposição à medida.

Horas depois, Amorim afirmou que o livre acesso para os mais pobres foi discutido há três anos no Mercosul. E avisou que, se o resto do bloco não aceitar a abertura, o Brasil pedirá autorização para ir adiante sozinho. Já o Uruguai foi além. Defende que a abolição de tarifas cubra 100% da TEC, pois precisa importar cacau, café e açúcar, entre outros produtos, e "não importa a origem", como afirmou um diplomata.

Mas o Brasil tomará alguns "cuidados". No caso dos têxteis, Amorim avisou que haverá medidas de salvaguarda para proteger a industria brasileira, por exemplo, da entrada excessiva de produtos como têxteis e confecções de Bangladesh, que é um país pobres mas está entre os grandes exportadores desses produtos.

O que o Brasil promete é inferior à eliminação de tarifa para 97% do comércio dos mais pobres prevista na Rodada Doha. Só que Doha não avança, e Amorim diz que o Brasil está fazendo mais que China e Índia, "que dão preferências [aos pobres], mas não a abolição das tarifas". O embaixador chinês na OMC, Sun Zhenyu, observou que a China eliminou as taxas para 60% das alíquotas que cobrem 95% do comércio em valor. "E a China é o terceiro maior importador de produtos dos países pobres", disse ele.

Também hoje, ministros do Mercosul, Índia e South African Customs Union - SACU, formada por África do Sul, Namíbia, Botsuana, Lesoto e Suazilândia - confirmarão a intenção política de tentar, num futuro não definido, juntar negociações em curso que correm separadamente.

Rob Davies, ministro de Comércio sul-africano, deixou claro que está mais interessado em financiamento do brasileiro BNDES do que em um acordo para ampliar o número de produtos (atualmente são mil) cobertos pelo acordo Mercosul-Sacu. Pretoria espera financiamento do BNDES para ajudar na integração da África, mas admite que o tema "ainda não é de atualidade". Na frente comercial, a prioridade é um acordo preferencial com a Índia. (AM)

Fonte: Valor Econômico

ELEIÇÕES NA AMÉRICA LATINA - o contraste.

Uruguai e Honduras: o contraste entre duas eleições

Neste domingo ocorreram eleições presidenciais no Uruguai e em Honduras, em contextos radicalmente diferentes. No primeiro caso, a jornada eleitoral foi uma festa cívica exemplar na qual o candidato progressista apresentado pela Frente Ampla, no governo, José Mujica, venceu o segundo turno sem qualquer dúvida ou impugnação, derrotando o ex-presidente direitista Luis Alberto Lacalle, do Partido Nacional (Branco).

Editorial do La Jornada

No país centroamericano, em troca, ocorreu uma farsa, desprovida de credibilidade e de legitimidade, onde as vontades determinantes não foram as dos cidadãos hondurenhos, mas sim as da reduzida oligarquia local e a do governo dos Estados Unidos.

No país sulamericano, a eleição presidencial de domingo colocava em jogo a continuidade ou interrupção do programa social e econômica aplicado pela Frente Ampla desde 2005, quando a esquerda estreou seu primeiro governo nacional, encabeçado por Tabaré Vázquez.

Programa este que, no passado, conseguiu reduzir a pobreza em 5,5 pontos percentuais (a 20,5% da população) e que, em 2009, evitou a queda do país na recessão, obtendo inclusive um moderado crescimento – em meio à crise econômica mundial – de 1,2%.

Já nas eleições em Honduras, realizadas por um poder golpista e usurpador, respaldado solitariamente por Washington e desdenhado pela maior parte da cidadania, podem ser vistas como uma tentativa do poder oligárquico de legitimar sua tomada de assalto das instituições, no final de junho deste ano, a expulsão ilegal do país do presidente constitucional, Manuel Zelaya, e a posterior conformação de uma presidência usurpada, repressiva e antipopular, em torno de Roberto Micheletti.

Em tais circunstâncias, a vitória do candidato Porfírio Lobo (Partido Nacional) sobre Elvin Santos (Partido Liberal) carece de relevância. De fato, a principal inquietude internacional não era a conseqüência formal da eleição, mas sim a materialização do perigo de confrontações massivas entre o difuso, mas perseverante, movimento de resistência contra o golpe de Estado de junho, e as forças políticas e militares.

Assim como cabe felicitar o desenrolar e os resultados do segundo turno das eleições presidenciais celebradas ontem no Uruguai, é inevitável duvidar da perspectiva que a farsa ocorrida em Honduras conduza a uma normalização democrática e constitua uma saída da crise política que persiste neste país, como esboçaram os golpistas hondurenhos e a presidência de Barack Obama.

Em contraste com Washington e com o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, cuja subserviência aos gorilas hondurenhos chegou a graus deploráveis, a maior parte dos governos latinoamericanos, encabeçados pelo Brasil, anunciaram sua determinação, correta e ética, de não reconhecer como autoridade legítima de Honduras a quem quer que fosse declarado ganhador da farsa efetuada ontem.

Devemos pedir ao governo do México para que se some sem reservas a essa postura continental majoritária e se abstenha de conceder o menor gesto de reconhecimento diplomático a quem, em Tegucigalpa, dê continuidade e consumação ao golpismo.

Para finalizar, os setores mais lúcidos e conscientes da sociedade hondurenha tenham diante de si a perspectiva amarga de uma luta prolongada para restituir a ordem constitucional atingida pelo golpe de junho. Essa tarefa será tanto menos árdua e dolorosa quando menor for a margem de manobra internacional que se outorgue ao governante que substitua Micheletti no cargo.

Fonte: La Jornada

BLOGS - Seattle, o embrião da blogosfera.

Copiado do blog do Luis Nassif

O blogueiro de Seattle

Por Leo V

Do Estadão

Seattle: uma década de ativismo 2.0

por
Filipe Serrano

Existiu uma época – sem YouTube, Flickr, Wikipédia, blogs ou qualquer ferramenta de autopublicação – em que colocar seu relato na internet era muito mais um ato de protesto do que qualquer outra coisa. Uma época em que se buscava uma nova forma de comunicação, mais livre de intermediários.

Toda a ideia de jornalismo cidadão, que inspirou o desenvolvimento de plataformas de publicação na web, tomou forma há 10 anos, em 30 de novembro de 1999, durante os protestos em Seattle contra a reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC – ou WTO, na sigla em inglês), que daria início à rodada do milênio, para negociar maior abertura do comércio mundial.

Ao menos 40 mil pessoas, entre elas ativistas, membros de ONGs, sindicalistas, ambientalistas e anarquistas, reunidos sob uma organização descentralizada chamada de Direct Action Network (DAN), tomaram as ruas do centro de Seattle e furaram o bloqueio em torno do local onde a reunião acontecia. A manifestação ficou conhecida como N30 ou a Batalha de Seattle.

Foi lá, durante os protestos, que os participantes começaram a usar as tecnologias para mostrar o que estava acontecendo nas manifestações – não só para se organizar, mas para interagir com ativistas de todo o mundo que não estavam lá. Eles usavam uma improvisada rede de comunicação, com celulares, rádios, notebooks e modems conectados à web, para publicar imagens e relatos sobre os protestos.

“Seattle foi a primeira grande explosão de protestos por uma justiça global. E juntou muitas pessoas de diversos movimentos, com diferentes ideias do que era necessário mudar no mundo”, diz Margaret Levi, professora do departamento de ciência política da Universidade de Washington e responsável por um projeto de resgatar a história dos protestos em Seattle.

Entre os envolvidos, surgia o coletivo Indymedia, um grupo de ativistas que se reuniu para fazer uma cobertura jornalística alternativa dos protestos em Seattle. No Brasil é conhecido como Centro de Mídia Independente (CMI).

Para cobrir os protestos de junho de 1999, durante o encontro do G8, em Colônia, na Alemanha, o embrião do Indymedia usou uma ferramenta de publicação, um tipo de blog coletivo, criado alguns meses antes por um grupo da Austrália.

Desenvolvido para ser um mecanismo que desse voz a cada manifestante presente nos protestos, o site permitia já naquela época uma cobertura em tempo real da manifestação em Seattle, em texto, áudio e vídeos. Cinco documentários ainda foram produzidos pelo Centro de Mídia Independente de Seattle.

“As pessoas tiravam fotos, colocavam depoimentos, publicavam sua opinião sobre que estava sendo discutido, no caso, na rodada do milênio da OMC”, diz Pablo Ortellado, um dos fundadores do CMI no Brasil, criado quatro meses depois de Seattle. “Muitos grupos dos EUA se interessaram pela ferramenta do Indymedia. Mas, como era aberta, ela era muito mais usada pelos manifestantes individuais do que por revistas e veículos alternativos”, continua.

O site do Indymedia teve mais de 1 milhão de acessos durante o lançamento, no N30, o que sobrecarregou os servidores. “Foi aí que incorporamos a autopublicação como essência do site. Do ponto de vista da web 2.0, era um projeto totalmente radical. Se você for ver, os blogs foram continuação disso. Não é a toa que o YouTube, o Twitter, o Craiglist saíram de desenvolvedores que fizeram parte do Indymedia. O Twitter foi criado para ser usado em manifestações”, diz Ortellado.

Hoje o YouTube faz campanhas por vídeos que defendam a liberdade de expressão no mundo todo; o Twitter serve como troca de informações durante os protestos no Irã; blogueiros palestinos relatam abusos, entre outros exemplos que têm ocorrido nos últimos anos.

Há muitas críticas à incorporação das ideias do Indymedia por sites comerciais, principalmente quanto à privacidade dos usuários, às limitações impostas e à necessidade de gerar lucro e publicidade.

De qualquer maneira, a partir do Indymedia e de Seattle, surgiram muitos outros projetos que procuram dar voz na internet a grupos de pessoas que antes não tinham como expressar suas opiniões ou relatar o que veem e vivem em suas comunidades.

“A tecnologia foi importante para planejar os processos e para trocar informações depois dos protestos. Muito mudou nestes 10 anos. Ainda vejo muitas demonstrações políticas, mas elas são feitas de outra forma. Vemos que há grupos menores, mais comprometidos, não só se mobilizando em protestos, mas realmente trabalhando para mudar o mundo”, diz a professora Margaret Levi.

MÍDIA - entrevista com Zé Dirceu.

Altamiro Borges

Conversa sobre a mídia com José Dirceu

Reproduzo abaixo a entrevista concedida a José Dirceu, ex-ministro do governo Lula e uma das principais referências do PT e da esquerda brasileira. Ela aborda o papel da mídia e os desafios da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). É mais uma contribuição do Blog do Zé Dirceu, um dos mais influentes da atualidade, ao debate democrático sobre este tema estratégico.

“A mídia brasileira é o pior dos mundos”

A constatação acima é do jornalista e secretário de comunicação do Comitê Central do PC do B, Altamiro Borges, autor de “A ditadura da mídia” e um dos principais pensadores sobre o papel da comunicação no país. Nesta entrevista, ele explica essa sentença e alerta para o paradoxo vivido atualmente pela imprensa brasileira: ao mesmo tempo em que nunca teve tanto poder, ela sofre hoje um processo de perda de credibilidade e de fragilidade frente às novas tecnologias.

Para Altamiro, a transformação necessária à imprensa brasileira começa por uma questão central: direito de resposta. “A lei de imprensa devia garantir o que está na Constituição, que fala de presunção da inocência. Mas, a mídia brasileira trabalha é com a presunção de culpa”, afirma. Ele defende que caminhemos no sentido de garantir a pluralidade e diversidade na imprensa.

As relações entre comunicação e poder econômico - objeto de observações do seu livro - podem ser comprovadas, segundo o jornalista, na análise dos principais episódios da história brasileira. De Getúlio Vargas, passando pela ditadura militar e as Diretas Já, até chegar ao desmonte do Estado pelo neoliberalismo, Altamiro nos oferece um panorama histórico que mostra o processo de concentração do poder e a formação do monopólio dos grandes grupos de mídia.

Defensor da pluralidade, o jornalista também nos conta como anda a radiodifusão comunitária brasileira e aponta as dificuldades e injustiças que hoje cerceiam as rádios comunitárias no país. Sobre a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), programada para 14 a 17 de dezembro, cita Gramsci: "é bom ser pessimista na análise e otimista na vontade da transformação". Altamiro está satisfeito com o processo que conduz à Conferência, sobretudo pelo caráter pedagógico de que está se revestindo.

Zé Dirceu: Como você avalia a mídia brasileira hoje sem qualquer regulamentação ou controle público? O que é necessário para se fazer respeitar princípios e direitos elementares como o de resposta e de imagem e, no mínimo, o direito ao contraditório?

Altamiro Borges: A mídia brasileira é o pior dos mundos. É altamente concentrada e não tem regra nenhuma. Diferentemente da Europa que tem uma grande presença da rede pública, principalmente a partir da II Guerra Mundial, aqui não tem. Os únicos presidentes que tentaram foram o Getúlio [Vargas] com a Rádio Nacional – por isso apanhou um bocado – e agora, no segundo mandato do presidente Lula, a construção da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Mas, a Rádio Nacional que chegou a ser uma rádio potente, 5ª em audiência no mundo, não conseguiu prosperar.

Então, a mídia brasileira não tem concorrência no setor público. Ela é basicamente privada e totalmente desregulamentada. Nos Estados Unidos e na Europa, eles têm uma regulamentação que dificulta, por exemplo, a propriedade cruzada. No Brasil, isso não existe. Uma mesma família é dona de TV, rádio, revista, internet, editora, etc. Se a mídia por si só nunca terá neutralidade, aqui ela vai ter esse problema. Além da ausência da rede pública e de qualquer regulamentação, ela tem um processo de concentração muito violento. Há algum tempo falava-se em nove famílias que dominavam a mídia brasileira. Hoje, não são nem mais nove, são cinco famílias, e algumas em processo de falência.

Portanto, temos uma mídia altamente concentrada e sem regra nenhuma. Quanto à questão da lei de imprensa, sempre a criticamos porque era do regime militar. Agora, tirar a lei de imprensa para ficar libertinagem de imprensa é um extremo que não podia ocorrer. Você não ter garantido o direito de resposta é uma aberração. E hoje o poder dela é maior, mas paradoxalmente mais vulnerável.

A mídia sempre se comportou dessa forma. É só você pegar a história da imprensa brasileira, principalmente de meados do século passado para cá. Por exemplo, ver a postura da imprensa no governo Getúlio Vargas. E hoje o poder dela é maior, mas paradoxalmente mais vulnerável.

Getúlio chegava a dizer que a burguesia brasileira era muito burra, porque ele a estava fazendo ceder os anéis para não perder tudo – na questão do salário mínimo – e a imprensa na época batendo. O discurso do Carlos Lacerda, da Tribuna da Imprensa, contra a candidatura do Getúlio nos anos 50 era “não pode ser candidato; se for não pode ser eleito; se for eleito, não pode tomar posse; e se tomar posse não pode governar, a gente derruba”. É isso a mídia brasileira. Com essa expressão, Lacerda a sintetizou.

É só ver o papel da mídia no golpe de 64. A Folha de S. Paulo, na minha opinião, deu um tiro no pé ao usar a expressão “ditabranda” (em relação à ditadura). A resposta da ministra Dilma Rousseff foi muito precisa: “Só se foi ditabranda pra vocês, para mim foi ditadura”. Na verdade, com exceção do (jornal) Última Hora, toda a imprensa pediu o golpe e comemorou. Depois, alguns engoliram o próprio veneno. Mas ela teve esse papel no golpe, depois na retomada das lutas grevistas. É impressionante como foi uma mídia que procurou e continua a procurar até hoje criminalizar qualquer tipo de luta social. Pega o papel da mídia nas campanhas da Diretas, foi vergonhoso. Nesse caso, a exceção foi a Folha de S.Paulo que percebeu uma mudança de correlação de forças e apostou numa outra alternativa. Agora, a Rede Globo escondendo o Comício das Diretas em São Paulo...

Há um belíssimo estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre o papel da mídia na Constituinte. É impressionante. Foi contra todas as bandeiras de interesse dos trabalhadores, de defesa da nação e pela soberania.

Então, na minha opinião, é uma mídia que reúne o que há de pior. Lógico que tem exceções. Com isso não estou querendo dizer que a produção de conteúdo, como um todo, seja uma porcaria. Pelo contrário. Há coisas boas. A teledramaturgia no país é muito respeitada, bem produzida. Você tem bom jornalismo ainda. Eu tive agora a alegria de participar da comissão julgadora do Prêmio Vladimir Herzog na categoria jornais. Fiquei impressionado com a riqueza do material. Você tem bom jornalismo sendo produzido no Brasil. Com isso, ao falar que reúne o que há de pior, não estou querendo negar tudo.

Há coisas muito boas, mas no geral ela tem essas duas grandes marcas: a de uma concentração pior do que todos os lugares do mundo, totalmente desregulada; e uma capacidade de manipulação muito alta.

Zé Dirceu: O que você considera o básico numa Lei de Imprensa para garantir democracia e o mínimo de igualdade da informação?

Altamiro Borges: Começa por uma questão central: direito de resposta. A lei de imprensa devia garantir o que está na Constituição que fala de presunção da inocência. Hoje, a mídia brasileira trabalha é com a presunção de culpa. Ela primeiro aniquila a pessoa e, depois, se tiver algum reparo a fazer, põe uma notinha fazendo o reparo. Então é garantir a Constituição brasileira que fala de presunção da inocência.

Nós devíamos caminhar para mecanismos de garantia da pluralidade e diversidade na imprensa. O presidente da Bolívia, Evo Morales acabou de aprovar um projeto que garante ao jornalista a questão de consciência, a chamada cláusula de consciência – que na Europa já existe – em que ele tem direito de dar a sua opinião. Muitas vezes, ele faz uma boa matéria. Perseu Abramo falava que o problema não está em fazer uma boa matéria, mas nos padrões de manipulação da edição quando você oculta ou realça de acordo com os seus interesses, e o jornalista fica vendido. Então, a cláusula de consciência, nesse caso da Bolívia, está aprovada.

O jornalista e o movimento social têm uma coluna no jornal e três minutos na TV para dar a sua opinião. Isso é garantir pluralidade e diversidade mínima. Essas três questões: direito de resposta, presunção da inocência e espaço para o contraditório seriam questões centrais numa lei de imprensa.

Zé Dirceu: O governo Lula adotou medidas como a criação da TV pública e convocação da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Você está de acordo com essas medidas? O que mais seria necessário para avançar no sentido da democratização da informação?

Altamiro Borges: Eu tenho uma avaliação crítica do governo Lula em relação à comunicação. Concordo, nesse sentido, com o professor Bernardo Kucinski em alguns pontos. No primeiro mandato, o governo Lula foi muito tímido em relação à comunicação. Foi um misto de ilusão com certo pragmatismo.

Zé Dirceu: Fora o recuo em relação ao Conselho Federal de Jornalismo e a Agência Nacional de Cinema e Audiovisual (Ancinav).

Altamiro Borges: Exato. O Conselho Federal de Jornalismo nem era uma proposta do governo, mas da Federação Nacional dos Jornalistas.

Zé Dirceu: Nas duas medidas não havia nada quanto a restringir o direito de informação da imprensa, mas ela transformou as duas propostas em censura...

Altamiro Borges: Na Ancinav foi a mesma coisa. Não restringia nada na produção. Então, no primeiro mandato... Também não achei legal Lula ter sido eleito e no dia seguinte já dar uma entrevista exclusiva para o Pedro Bial e estar do lado da Fátima Bernardes e do William Bonner, no Jornal Nacional. Foi uma sinalização, no meu entender, que não precisava. Mas está feito.

O governo chegou a apresentar algumas idéias e recuou rapidamente. E acho que cedeu em várias coisas. O tal do padrão digital japonês, por exemplo. Nós estávamos fazendo um processo de produção própria. A Universidade do Rio Grande do Sul estava produzindo o nosso padrão digital. Então, o comportamento no primeiro mandato não foi legal. Mesmo a Radiobrás, tenho a impressão que ela reproduz exatamente o mesmo tipo de cobertura que a mídia comercial realizava, um negócio terrível.

Zé Dirceu: Ontem eu vi no Jornal Nacional o noticiário sobre a queda de vigas de um viaduto do rodoanel. Eles não falam nem em governo do Estado de S. Paulo, nem em PSDB. Não falam em José Serra. É só Rodoanel em São Paulo. Não falam o governo.

Altamiro Borges: Imagine se isso tivesse ocorrido numa administração do PT, do PSB, do PDT, do setor do PMDB aliado ao governo...

Uma das coisas mais impressionantes de como a mídia manipula – não temos que nos meter na vida pessoal de ninguém – foi o escarcéu que fizeram com a Marta Suplicy em São Paulo quando ela se separou. Ou o que fizeram com o Lula, no caso da Lurian, que foi uma determinante naquela batalha eleitoral (1989). E agora, o tal Fernando Henrique, o Fracassando Cardoso, reconhece que tem um filho (fora do casamento) que todo mundo sabia, a (revista) Caros Amigos já tinha dado...

Eu acho que o primeiro governo Lula foi tímido em relação à comunicação. Algumas coisas tiveram a ver com governabilidade, não tem jeito. Quem está fora faz mais críticas do que quem está lá vivenciando. Foi feito um pacto público com o setor financeiro para poder governar, a famosa Carta ao Povo Brasileiro. E foi feito um pacto, que me parece não público, com a mídia, principalmente com esse grupo que hoje monopoliza a mídia brasileira, a família Marinho. Então, foi muito limitado, ruim o primeiro mandato, na área de comunicação.

Já o segundo mandato deu boas sinalizações, como as que você mencionou, a Confecom e a TV pública. A constituição da Empresa Brasil de Comunicação é muito positiva. Está começando, ainda tem um problema seríssimo de recursos. A TV Brasil teria que ter fomento porque não dá para você concorrer com R$ 350 milhões com R$ 6 bilhões, da Globo. Tem problemas ainda de gestão, o movimento social não se sente participando da EBC. Em outras TVs públicas, de outros países, o movimento social tem uma presença maior, mas eu acho que a EBC tem um papel muito positivo – e que a gente nem está percebendo direito – que é o papel estruturante da rede pública no Brasil.

Tenho acompanhado as belíssimas experiências desenvolvidas nas TVs Educativas do Pará, de Sergipe, da Bahia. Você vê que há um papel estruturante de apoio da TV pública. Isso você vai sentir daqui a pouco, não adianta muita pressa. Então a iniciativa da EBC é muito boa. Não é pra menos que a Folha de S.Paulo pediu em recente editorial para fecharmos a EBC, a TV Brasil.

Outra atitude muito positiva foi a convocação da Confecom. O governo Lula mostrou coragem. Você tem 47 conferências temáticas que o governo Lula realizou em todo o país. Mobilizou-se 4 milhões de pessoas nesses 47 eventos temáticos. Não ter uma conferência de comunicação não seria uma boa sinalização. Portanto, a Confecom é outro dado de mudança de comportamento.

E você vê, eles (os donos da mídia) não estão gostando da Confecom. Não é pra menos que o governo monta uma comissão organizadora que tem oito entidades empresariais e seis se retiram. Seis das principais, entre as quais a entidade que representa a Folha, o Estadão, o Globo, que é a Associação Nacional de Jornais (ANJ). Retirou-se, também, a Associação Brasileira das Emissoras de rádio e TV, a ABERT, que representa a Rede Globo. O que, inclusive, para eles deve ser uma coisa terrível porque cadê o discurso da liberdade de expressão, da democracia que eles fazem? Isso é uma desmoralização total.

Na verdade, o que eles pregam não é liberdade de expressão, muito menos de imprensa. O que pregam é liberdade de empresa, de monopólios. Eles se acham acima do ser humano comum. Fogem do debate, tentam sabotar a Confecom. Aqui em São Paulo, por exemplo, contam com ajuda do governador (José) Serra que nem se dignou convocar a conferência estadual. Não vai ter Conferência de Comunicação convocada pelo governo e a Assembléia Legislativa está fazendo de tudo para sabotar essa conferência estadual também.

Há outro lado positivo também, a revisão dos critérios de publicidade oficial. Não é, ainda, a revisão ideal. Nós devíamos caminhar para um exemplo que já existe nos países europeus. Na publicidade oficial tem a questão do capitalismo onde prevalece o critério mercadológico da audiência e da tiragem. Mas não pode prevalecer apenas esse critério senão o dinheiro é para os mesmos sempre. Então, você tem que seguir outro critério que estimula a pluralidade e a diversidade. Várias entidades estão defendendo para a Confecom que se fixe na publicidade oficial 20% para estímulo da pluralidade e diversidade, para fortalecer, por exemplo, portais progressistas tipo agência Carta Maior, Revista Fórum, revista Caros Amigos e por aí vai.

Zé Dirceu: Houve também a mudança na distribuição geográfica.

Altamiro Borges: Esse foi um dado importantíssimo. É o que a Folha chamou pejorativamente de “Bolsa Mídia”, como se fosse uma forma de corromper os jornais e TVs. Então, na minha opinião, somando as medidas positivas do governo Lula na área de comunicação são a EBC, Confecom e publicidade mais regionalizada.

Zé Dirceu: Como você está avaliando até agora a Confecom?

Altamiro Borges: [Antônio] Gramsci dizia que era bom ser pessimista na análise e otimista na vontade da transformação. Eu estou muito satisfeito com o processo da Confecom. Primeiro, pelo seu papel pedagógico. Há três semanas houve uma bateria de conferências municipais. Aqui em São Paulo mesmo, foram umas dez ou doze. No Brasil inteiro, cerca de 15 mil pessoas se mobilizaram para discutir comunicação. Na Conferência da Bahia, 400 e poucos inscritos, em Minas idem, na capital paulista, 250 inscritos. Por mim, se terminasse aqui já seria até bom. A Confecom já cumpriu o seu papel pedagógico de envolver mais gente debatendo comunicação.

Até hoje nesse setor, algumas entidades tomaram a dianteira e tiveram papel importantíssimo, como o Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC), o Intervozes que tem dado belas contribuições, a Associação Brasileira das Rádios Comunitárias (Abraço), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Fitert dos radialistas, o Conselho de Psicologia... Mas é uma coisa muito pequena. São entidades que tiveram a visão de que a comunicação hoje é estratégica, tem centralidade na luta política. É ainda um grupo muito reduzido. A Confecom escancarou esse processo. Hoje, há muita gente debatendo. Na Conferência da Bahia, por exemplo, estavam lá os índios. As mulheres estão dando um show. Em todas as conferências estaduais e municipais mais da metade dos participantes é de mulheres porque elas sentem muito na pele a forma como a mulher é tratada na mídia.

Então, a Confecom já cumpriu esse papel pedagógico. Acredito que pós-conferência, estaremos num outro patamar. Sairemos com maior capacidade de organização. Ninguém participa da Confecom e volta para casa simplesmente. Junto às entidades que já desenvolvem esse trabalho, nós vamos agregar... Tivemos uma reunião das centrais sindicais aqui em São Paulo que foi muito importante, as seis centrais discutindo, tirando documento de 10 pontos para uma plataforma unitária. Então, dará mais organicidade à luta pela democratização da comunicação.

E por fim, aí sim, tem uma polêmica grande: muita gente diz que a Confecom não vai resolver nada. Eu acho que podemos ter vitórias pontuais, sinalizações. Primeiro porque o empresariado está dividido. Há um setor do empresariado que percebe que não dá para continuarmos com esse poder de monopólio de alguns grupos. E tem sugestões para dar, contribuições, por exemplo, na área de distribuição de TV paga.

Segundo, o governo tem dado sinalizações boas. Estou surpreso com as últimas falas do presidente Lula sobre a mídia. Ele é muito sagaz. Ontem mesmo, provocando o Kennedy (entrevista que o presidente deu ao “É Notícia”, programa do jornalista Kennedy Alencar na RedeTV!) para ver se ele entrava na Confecom, ele disse: “Nós vamos fazer a Conferência de Comunicação. Não estou querendo colocar ninguém contra a imprensa, mas a imprensa tem que perceber que não dá para continuar do jeito que está”. Eu acho que o governo tem dado sinalizações muito positivas.

Zé Dirceu: Em relação à radiodifusão comunitária, como você vê esse processo hoje?

Altamiro Borges: Está terrível. A postura diante da radiodifusão comunitária é muito ruim, é de criminalização. Você tem 8 mil radiodifusores comunitários processados. O (prefeito paulistano Gilberto) Kassab (DEM-PSDB) outro dia fez uma festa aqui em São Paulo passando o rolo compressor em cima de transmissores de radiodifusão comunitária. A Anatel continua torrando o saco das rádios comunitárias naquelas peruinhas. Já não chega a Polícia Federal (PF) – que tem feito trabalhos excelentes em outras áreas – ter que cumprir esse papel de prender e pegar equipamentos? Tem tanto bandido de colarinho branco por aí, e a PF tem que ficar enchendo as paciências de quem está fazendo rádio para a comunidade... Nessa questão da radiodifusão comunitária a posição hoje é muito ruim. Tem mais apreensão hoje das rádios comunitárias do que havia nos governos anteriores. A média é de uma por dia.

Zé Dirceu: Rádios piratas ou comunitárias? Quais estão fechando?

Altamiro Borges: Fecharam agora rádios comunitárias. Qual o problema que você tem na rádio comunitária? Primeiro é que o processo de outorga é muito lento - a não ser que o cara tenha algum esquema com quem manda. Há rádio comunitária que está há sete anos, 14 anos pedindo outorga e não consegue.

Zé Dirceu: É uma licença precária?

Altamiro Borges: Uma licença precária. A rádio comunitária é uma comunidade que está querendo fazer o seu trabalho. Veja um caso: há uma rádio comunitária feita por dois deficientes visuais, destinada a ajudar esse setor. Eles não conseguiram outorga! Acabou de falecer um deles. Veja a Rádio Favela de Belo Horizonte! Faz um trabalho belíssimo e já ganhou dois prêmios na ONU. Tem um filme a respeito inclusive. Numa conversa com o Misael [Avelino dos Santos], responsável pela emissora, ele te mostra o pulso que tem as marcas de algema. Ele foi preso várias vezes, fecharam a rádio várias vezes.

Por que isso ocorre? Porque a outorga não sai. A rádio fica clandestina e aí vem a perseguição. Na minha opinião, tem que primeiro acabar com o processo de criminalização das rádios comunitárias. Segundo, tem que fixar regras para evitar que elas sejam contaminadas - porque isso já existe. O professor Venício de Lima já demonstra isso. Cerca de 10% é de igreja. Outro percentual alto é vinculado a políticos fisiológicos. E uma parcela das comunitárias é comercial. Hoje, com outorga são 3 mil e há aproximadamente 14 mil em processo enfrentando essa burocracia da Anatel.

Um consenso em todas as Confecom – municipais e estaduais – é que não dá mais para continuar nesse processo de criminalização. Também é preciso estabelecer regras que impeçam que as rádios comunitárias se desconfigurem, É preciso otimizar o processo de outorga a partir e regular, também, porque você não pode ter dez rádios comunitárias no mesmo local. Mas a campanha que fazem contra é de um exagero tremendo.

Dizem que temos que tomar cuidado com as rádios piratas porque irá ocorrer o que acontece na Avenida Paulista – impedir a recepção e sintonização de emissoras de rádio. Mas, na Paulista não tem rádio pirata. Tem convencional. Então, já que querem criticar, que usem um exemplo correto.

Óbvio que tem que ter regulação. Mas, temos que tomar cuidado com o exagero. E tem aquela coisa de que “rádio pirata derruba avião”. Se rádio pirata derrubasse avião, Osama Bin Laden teria utilizado outra tática nos Estados Unidos. Isso é conversa fiada. A potência que tem uma rádio pirata, de 25 watts, derruba avião?

Temos que parar com esse processo de criminalização e evitar a utilização errada, seja para que fins, de rádio comunitária. E acelerar o processo de outorga. E mais do que isso, devíamos fazer o que o Uruguai está fazendo. O professor [Denis de] Moraes tem um livro belíssimo, “A batalha da mídia” no qual descreve isso, essa legislação e processo uruguaios com a radiodifusão comunitária.

No Uruguai é um primor, porque além de legalizar eles incentivam, criam redes, facilitam a aparelhagem, barateiam, promovem cursos para aperfeiçoamento porque sem capacitação será uma rádio precária. Se nós aplicássemos aqui o que tem sido feito em termos de legislação e de política pública de radiodifusão comunitária em outros países... Essas rádios cumprem um papel muito bonito. Você dá mais voz, para mais gente poder falar. A rádio comunitária é a voz de quem não tem voz. Isso cria um laço na comunidade. E é de uma criatividade enorme. Nesse ponto a gente pode avançar na Confecom. Eu acho muito difícil sair da Conferência Nacional deixando esse debate da rádio comunitária do jeito que é hoje, com a Anatel e a PF perseguindo as pessoas.

Zé Dirceu: Como você vê a Internet hoje?

Altamiro Borges: É a segunda coisa que eu acho que a gente avança na Confecom. Vai se criando um consenso quanto à necessidade do processo de inclusão digital. Até por conta das contradições no próprio setor empresarial.

A Internet é um barata. É a tal da dialética. Da mesma forma que houve a aceleração desse processo de rotação tecnológica, de quem tem maior poder econômico, tem mais força para fomentar; por outro lado, essas novas tecnologias abrem brechas. A Internet cria uma brecha comparável ao que foi o rádio na década de 20. O rádio também criou uma brecha na comunicação. A Internet está criando uma brecha maior, que nos leva a situações interessantíssimas. Você hoje tem uma crise violenta da mídia impressa tradicional – saber que o The New York Times teve que penhorar o seu prédio é um barato.

Tem muitos jornais fechando ou indo para a Internet. Pega aqui em São Paulo. A Folha na década de 80 tirava 1 milhão e pouco de exemplares de sua edição dominical. Hoje, ela tira 290 mil exemplares. Isso é dado oficial. A queda foi violentíssima. Está havendo uma migração.

Zé Dirceu: No seu mais recente livro, “A ditadura da mídia", você fala muito do Getúlio até agora. Por quê? Como se deu o processo de concentração e monopolização da mídia e da informação no Brasil? O que tem no passado que podemos aprender nesse sentido? Foi o poder público que permitiu esse processo de concentração? Hoje a mídia, realmente está vulnerável? Podemos falar que a mídia é um partido político?

Altamiro Borges: A mídia nunca teve tanto poder, porque hoje ela é diferente do que era a imprensa na década de 40, 50, 60, em que ainda era composta de grupos familiares frágeis. Mesmo O Globo era um jornal... Ele passa a ser o que é com a ditadura. Naquele tempo, eram grupos ainda familiares e frágeis. Hoje são grandes conglomerados com muitos interesses envolvidos. Não é mais só informação – é, também, mas tem entretenimento, cultura, etc. Não é mais só uma plataforma, é o jornal, a revista, a rádio, a TV, a Internet, a produtora, a distribuidora.

Zé Dirceu: Eles queriam ser donos das telecomunicações e agora não querem que as teles entrem na terra, na área deles. Quebraram por causa disso.

Altamiro Borges: É, apostaram na privatização, no desmonte do sistema para eles abocanharem, mas aí dançaram.

Mas a mídia nunca foi tão poderosa. O professor Denis de Moraes tem um estudo que mostra isso. Hoje você tem nove megaconglomerados no mundo – Disney, Sony, etc. Depois 40, numa segunda lista, em que se sobressaem os grupos Clarin, Cisneros, Globo. Esse é o mundo. Mundo da mídia, com muito poder, diferente do que foi no passado. Isso tem a ver, no meu entender, com a lógica do próprio sistema que é de concentração, com a desregulamentação e também com a revolução tecnológica que exige investimento. Nesse sentido, dá um grande poder econômico e ao mesmo tempo, um grande poder ideológico.

Quem primeiro trabalhou essa coisa da imprensa como partido do capital foi um sujeito chamado Gramsci que tem uma discussão mais atual hoje do que quando ele escreveu na década de 20. Ele disse que quando as instituições do sistema entram em crise, a imprensa ocupa o papel do partido do capital. E isso é cada vez mais forte. Você saber que o Bush contou 930 mentiras para justificar a invasão do Iraque e que a mídia repercutiu acriticamente isso! Só o The New York Times fez uma criticazinha pequeninha sobre isso. É uma vergonha. Veja a mídia aqui, como ela está tratando o golpe de Honduras... É governo “interino”, governo “de fato”. Que governo “de fato”?

Esse poder hoje é mais vulnerável. O que explica essa vulnerabilidade? Primeiro é pela própria revolução da tecnologia. A Internet está fazendo falir jornais tradicionais. E está ocorrendo um fenômeno de migração da TV para a Internet, sobretudo com a juventude. O paradoxo é esse. A tecnologia abre essa brecha. O editor do site Rebelión, Pascual Serrano, está insistindo muito na tese de perda de credibilidade. A mídia está perdendo a credibilidade. Há muita desconfiança, hoje, em relação à mídia.

Esse negócio que o Lula fala, desses que se acham formadores de opinião, é verdade. Eles não formam mais opinião nenhuma. Então, há perda de credibilidade. E há outro fator que explica esse paradoxo: em função de mudanças políticas, principalmente com essa guinada a esquerda na América Latina, há menos relação carnal com os Estados Unidos, mais postura de integração.

Zé Dirceu: No caso do Brasil, o modelo monopólico da Globo termina por atrair o capital estrangeiro. Ela não se associou a esse capital, ela defendeu e estimulou a privatização selvagem, mas não na área dela. Só que agora vê que não tem como impedir. Essa é a maior fragilidade do Brasil. Ou eles se associam... Porque de uma maneira ou de outra (o capital estrangeiro), eles vão chegar. Não há como impedir isso, porque na hora em que tiver cota nacional, não tem explicação nenhuma para impedir o capital estrangeiro de entrar.

Altamiro Borges: São essas mudanças na América Latina, políticas, uma guinada mais à esquerda, que colocou a mídia no banco dos réus pelo papel que ela teve na época da ditadura... O Clarín, o El Mercúrio... Ela também foi colocada no banco dos réus por ter sido a principal alavanca ideológica do projeto neoliberal. A grande imprensa justificou todo o desmonte do Estado. Apresentou o setor público como reduto de marajás e por aí vai. E, também, porque ela joga contra esses governos de esquerda. Na Argentina, o Clarín estimulou esse locaute do agronegócio. Teve papel à direita semelhante na Bolívia.

O Emir Sader tem uma pesquisa que mostra que 83% das notícias no ano de eleição, nas rádios TVs e jornais, foram contra o (presidente) Evo Morales. E o povo votou nele. Então essa mídia está no banco dos réus e esses governos começam a efetuar mudanças muito interessantes. Isso fragiliza esse poder ditatorial midiático em países como Uruguai, Argentina, Venezuela, Bolívia (que agora tem um jornal para disputar hegemonia, constituiu uma rede pública inclusive). Há mudanças muito interessantes na Nicarágua. Então, são esses elementos que explicam a fragilidade. A mídia é poderosa e ao mesmo tempo está fragilizada. Agora, quanto ao poder político, é exatamente isso que Gramsci já alertava.

Zé Dirceu: A mídia hoje organiza a agenda da oposição, cobra inclusive. Há articulista no Estadão, por exemplo, escrevendo artigo para dizer que nós estamos querendo que o Aécio não seja vice do Serra.

Altamiro Borges: Foi a Miriam Leitão que escreveu semana passada que não existia oposição no Brasil? Que a única oposição era a mídia? Se você pegar a CPI da Petrobrás, ela é uma lição. Nem o DEM nem o PSDB têm interesse sobre isso.

Zé Dirceu: Eles fizeram a encenação, mas queriam que acabasse logo.

Altamiro Borges: Pelo peso da Petrobras, nem essa turma topava a CPI. Luis Nassif está falando que essa CPI foi o mensalão da mídia – ela forçou a CPI. O senador Agripino Maia (DEM-RN) iria querer a CPI na Petrobrás? (Um filho do senador teria empresa fornecedora de combustível de aviação, com negócios com a Petrobras). Constituíram a CPI, aí a mídia tirou o time. A ponto do senador Agripino Maia ter dito: “A imprensa nos abandonou na CPI”.

Zé Dirceu: E na sua avaliação, é boa para o país a aprovação do PL-29 (o projeto ainda se encontra em tramitação)?

Altamiro Borges: O PL-29 está meio morto, Zé. Ele foi muito desfigurado. Marcos Dantas, professor do Rio, diz que apoiou o PL-29, o projeto inicial que teve como relator o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) porque permitiria por ordem nessa caso da TV a cabo, produção nacional, cotas. O projeto original permitiria um regramento que, na área de distribuição, significaria um baque no monopólio. Só que o projeto inicial foi desfigurado. Acho que hoje ele está ruim. Essa semana mesmo já se fala em retirar cotas da PL-29.

Zé Dirceu: A aprovação original permitia acabar com a exigência de 30% de participação máxima do capital estrangeiro na mídia por conta das cotas. O único argumento que eles tem é a desnacionalização.

Altamiro Borges: Temos que tomar cuidado com duas arapucas: uma a de que eles defendem a liberdade de expressão e nós somos contra. Mesmo o termo controle social não é um bom termo reforça o truque deles: “Vocês são contra a liberdade de expressão”.

Zé Dirceu: Melhor que o termo controle social é usar regulação. É melhor falar o que é concretamente, direito de resposta, respeito à honra e à imagem que está na Constituição, direito de resposta e ao contraditório e democratização. E não pode ser um monopólio. Hoje é um cartel. Precisa ter um órgão regulador. Por que não pode ter um Conselho Federal de Jornalista? Hoje, o jornalista faz o que quer.

Altamiro Borges: E tem que ter participação da sociedade. Precisa haver o Conselho Nacional de Comunicação, conselhos estaduais, etc.

Zé Dirceu: Precisa ter um órgão regulador. Por que não pode ter um Conselho Federal de Jornalista? Hoje, o jornalista faz o que quer.

Altamiro Borges: Sem regulação, ele se sente acima do Estado de Direito.
Fonte:Blog do Miro.

CUBA - Argentinos pedem Nobel para Fidel.

Copiado do blog "Tijolaço", do Brizola Neto.

inos pedem Prêmio Nobel para Fidel

fidelnobelO jornal Público, de Lisboa, noticiou agora há pouco que foi lançado na Argentina um abaixo-assinado propondo que se conceda o prêmio Nobel da Paz ao líder cubano Fidel Castro.

Numa evidente referência ao prêmio Nobel concedido este ano a Barack Obama, o manifesto diz que “enquanto outros governantes, mesmo laureado, exportam Marines e lançam mísseis e bombas pouco inteligentes sobre aldeias devastadas para saquear os seus recursos naturais e humanos, Fidel Castro fez uma contribuição para a paz no mundo, formando médicos e os exércitos de “batas brancas”, professores, educadores, atletas e artistas.”

Embora as proposituras oficiais para o Nobel tenham de ser feitas por governos ou parlamentos, quem quiser subscrever pode mandar um e-mail para fidelnobeldelapaz@gmail.com. Leia, abaixo, o texto do abaixo-assinado:

“Os cidadãos abaixo assinados da Argentina e outros países, promovemos a candidatura do estadista Fidel Castro, de Cuba, ao Prêmio Nobel da Paz de 2010, e recolhendo apoios dos movimentos sociais, culturais, acadêmicos, direitos humanos, sociais e políticos.

O credenciam a ele as conquistas de Cuba na saúde e educação, com objetivos tão elevado como o acentuado declínio da mortalidade infantil a menos de 6 por mil nascidos vivos, e taxas da escolarização, que abrange quase cem por cento da população.

Por favor, notem que, nesta base, sob a presidência de Fidel Castro, até julho de 2006, Cuba continuou a fazer progressos: na saúde, com uma indústria de biotecnologia llíder no terceiro mundo semelhante e na educação, com uma população de alto nível cultural.

O que é surpreendente é que esses objetivos foram alcançados mesmo com um bloqueio ilegal dos Estados Unidos, que dura 47 anos. E duplamente notável é que tais conquistas de Cuba, sob a inspiração de seu líder histórico, foram compartilhados com outras pessoas ao redor do mundo. Isso se aplica a Escola Latino-Americana de Medicina, que em seus dez anos de vida recebeu mais de 20.000 alunos de quase cem países.

Com o método cubano “Eu posso, sim”, 4 milhões de pessoas foram alfabetizadas, e o do programa oftalmológico “Operacion Milagro” operou 1,6 milhão de pessoas, em ambos os casos, gratuitamente. A maioria dos beneficiários é de pessoas humildes, “descartáveis” para o mundo injusto das multinacionais e banqueiros.

Enquanto outros governantes, mesmo laureados, exportam Marines e lançam mísseis e bombas pouco inteligentes sobre aldeias devastadas para saquear os seus recursos naturais e humanos, Fidel Castro fez uma contribuição para a paz no mundo, formando médicos e os exércitos de “batas brancas”, professores, educadores, atletas e artistas.

Quanto às tentativas de esvaziar imperial e lançar o mundo num abismo de mais profundo da crise, é preciso lembrar que Fidel Castro em 1983 alertou para o fenómeno da dívida externa impagável e incobrável, imoral e fraudulenta. Milhões de empregos e milhões de vidas foram perdidas desde que o início da crise da dívida externa, por não se atenderem as propostas realistas e justas do então presidente de Cuba.

Em 2007, (fez)um alerta contra planos norteamericanos de produzir biocombustíveis a partir de milho e de alimentos, plano patrocinado pelo lobby de empresas grandes, que criaram uma legião de famintos aoe aumentar o preço dos alimentos. Existem hoje 1 milhão de famintos em vez dos 840 milhões daqquele instante.

Fidel Castro emitiu alertas para o cuidado do meio ambiente e contra o estilo de vida alienado, a produção e consumo capitalistas que estão causando o aquecimento global e mudanças climáticas. Antes, na ‘ Eco-Rio 92, há 17 anos, o líder cubano fez chamamentos pela defesa do meio ambiente e criticou governos e monopólios internacionais que favorecem os seus negócios e lucros excessivos, a ponto de poluição nos rios, destroem recursos não-renováveis, terras degradadas, o superaquecimento do planeta e ameaçam a espécie humana.

Todas essas conquistas e muitas outras sustentam a candidatura de Fidel Castro para o Prêmio Nobel da Paz em 2010.”

EUA - A aliança de Obama com a direita.



A aliança de Obama com a direita


November 26, 2009
O retorno da triangulação

Prepare-se para a aliança Obama/Republicanos

By JEFF COHEN, no
Counterpunch

Com Obama defendendo uma grande escalada militar no Afeganistão, a história pode muito bem se repetir com vingança. E não é apenas o caso de compará-la com LBJ [Lyndon Johnson], que destruiu a sua presidência nos campos de batalha do Vietnã e entregou o poder a Nixon e ao Partido Republicano.

Existe outro paralelo amedrontador: Obama parece seguir os passos de Bill Clinton, que obteve seu maior "triunfo" legislativo -- o NAFTA [acordo comercial com o Canadá e o México] -- graças a uma aliança com os republicanos que derrotou uma forte oposição de militantes e democratas.

Foi há 16 anos neste mês que Clinton formou sua coalizão com o Partido Republicano para atropelar o ceticismo público com o tratado comercial e derrotar o movimento contra o NAFTA liderado por sindicatos, ambientalistas e grupos de defesa dos consumidores. Como Clinton obteve sua maioria no Congresso? Com os votos de quase 80% dos senadores republicanos e com quase 70% dos deputados republicanos. Os democratas no Congresso votaram contra o NAFTA na proporção de 3 a 2, com a oposição incluindo os líderes democratas nas duas casas.

Para conseguir maioria hoje no Congresso sobre o Afeganistão, a Casa Branca de Obama aparentemente vai replicar a farsa trágica de Clinton: ignorar as dúvidas em seu próprio partido e fazer aliança com os extremistas republicanos que nunca aceitaram sua presidência em primeiro lugar.

As conspirações não são novidade para o Partido Republicano. Clinton causava um desprezo similar [ao causado por Obama] na direita, apesar de sua política centrista e amigável com as corporações. Quando líderes conservadores como Newt Gingrich e Dick Armey deram a Clinton (e à elite corporativa) a vitória no NAFTA, isso não evitou que operadores da extrema-direita continuassem a circular vídeos malucos acusando Clinton de promover o assassinato de repórteres e outros.

Para os que elegeram Obama, é importante relembrar a espiral que se acelerou depois que a aliança de Clinton com os republicanos passou o NAFTA. Deveria causar alarme entre nós agora o que acontece no Afeganistão.

O NAFTA foi seguido rapidamente pelo debacle de Clinton na reforma de saúde, uma "reforma" desenhada especialmente pelas grandes companhias seguradoras, seguida da chocante derrota dos democratas nas eleições legislativas de novembro de 1994, quando ativistas sindicais e progressistas estavam letárgicos e a direita acelerada colocou Gingrich na cadeira de líder do Congresso.

Um ano depois, assessorado por seu estrategista-chefe, Dick Morris (sim, o que agora detona Obama na Fox), Clinton declarou: "A era do grande governo acabou". Nos anos seguintes, Clinton provou que a era dos grandes negócios estava longe de acabar -- trabalhando com líderes republicanos ele deu bem-estar corporativo aos conglomerados da mídia (Ato de Telecomunicações de 1996) e aos bancos de investimento (abolição do Ato Glass-Steagall de 1999).

Hoje, é crucial perguntar para onde vai Obama. Do estímulo aos bancos à reforma de saúde, ele demonstrou a mesma tática de Clinton de atropelar os progressistas no Congresso em busca de corromper legislação e de fazer acordo com os democratas que representam corporações ou os republicanos "moderados". Enquanto isso, o incrível encolhimento da "opção pública" tornou-se uma piada doentia.

[Nota do Viomundo: A opção pública pretendia oferecer aos estadunidenses a oportunidade de, querendo, escolher um seguro de saúde administrado pelo governo federal. Com isso, acreditavam os progressistas, seria possível aumentar a competição e reduzir os preços. Mas, pelas versões do plano que estão no Congresso, o resultado final poderá obrigar todo estadunidense a ter seguro de saúde comprado de empresas privadas!].

Ele vai de recuos nas liberdades civis à reforma de saúde que contempla interesses corporativos, à sua promessa típica de Bush de "acabar o serviço" no Afeganistão. A busca de Obama por apoio republicano no Congresso para financiar a escalada de tropas [no Afeganistão] poderá ser o golpe final para desorientar e desmobilizar os ativistas progressistas que o elegeram no ano passado.

Através dos séculos, nenhum poder estrangeiro conseguiu "acabar o serviço" no Afeganistão, mas o presidente Obama pensa que ele é um comandante-em-chefe duro o suficiente para conseguir isso. Que pena que ele não demonstrou essa dureza para enfrentar os republicanos ou os lobistas corporativos [na reforma do sistema de saúde]. Com eles, ele é o "negociador-em-chefe".

Quando você começa no centro (vamos dizer, na reforma de saúde ou Afeganistão) e rapidamente dá vários passos à direita para aplacar os políticos direitistas, os lobistas ou os generais, por definição você está governando como um conservador.

Tem havido um queda gradual na esperança de mudança real que muitos americanos sentiram na noite de eleição, em novembro de 2008. Para alguns de nós que acompanhamos o governo Clinton no início dos anos 90, a esperança morreu dias depois da eleição de Obama quando ele escolheu como chefe da Casa Civil Rahm Emanuel, um estrategista de Clinton que arquitetou a aliança que aprovou o NAFTA no Congresso.

Se Obama não mudar na questão das tropas no Afeganistão (assim como Clinton lutou ferozmente pelo NAFTA), só uma mobilização sem precedentes de progressistas -- alguns dos quais trabalharam incessantemente para eleger Obama -- será capaz de enfrentá-lo. Acreditem em mim: os republicanos que gritam contra os déficits orçamentários de Obama quando obstruem a reforma do sistema de saúde vão se tornar amigos do déficit para gastar 1 milhão de dólares por ano por soldado (sem mencionar os contratos terceirizados) que segue para a Ásia.

A única notícia boa que posso ver: talvez uma aliança da Casa Branca com os republicanos para promover a escalada de tropas no Afeganistão fará acordar os grupos liberais (como o MoveOn) para que tenham uma visão mais crítica das políticas de Obama.

Jeff Cohen é professor de Jornalismo e foi do grupo Democratas Progressistas dos Estados Unidos.

domingo, 29 de novembro de 2009

PRÉ-ESTRÉIA DO FILME "LULA, O FILHO DO BRASIL".

Ricardo Kotscho

Os convidados eram tantos que os Barreto tiveram que fretar dois ônibus para levá-los à pré-estréia de “Lula, o Filho do Brasil”, nos estúdios da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, na região do ABC, onde o filme termina quando morre a mãe do protagonista, dona Lindu, em 1980.

O encontro para a excursão foi marcado para as quatro da tarde _ a projeção estava marcada para as oito da noite _ no apartamento de Bruno, irmão do diretor Fábio Barreto. Entre as pessoas que foram chegando, encontrei os artistas do filme, patrocinadores, empresários, os publicitários Washington Olivetto e Nizan Guanaes, e o pessoal de cinema, incluindo minha filha Carolina e seu marido Bráulio Mantovani, roteiristas que já fizeram ou estão fazendo trabalhos para a família Barreto.

No comando de tudo, Paula Barreto, a onipresente irmã dos diretores, responsável pela produção de seus filmes. Agitado como sempre, Luiz Carlos Barreto, o pai de todos, circulava de rodinha em rodinha. Para saber o que eu achava, veio me mostrar o discurso de apenas uma página que leria à noite antes da apresentação do filme.

Pouco depois das cinco, entramos todos nos ônibus e, apesar de ser um sábado, levamos uma hora e meia para chegar a São Bernardo do Campo. Até gostei da demora porque deu para ouvir histórias engraçadas e dar boas risadas com gente que você não cruza nas esquinas todo dia.

Apesar de toda a polêmica causada pelo filme, que só estréia nos cinemas no começo de janeiro, não ouvi ninguém discutindo os possíveis desdobramentos políticos que a exibição de “Lula, o Filho do Brasil” poderá provocar nos rumos da eleição presidencial de 2010.

Glória Pires, que faz o papel de dona Lindu, gastava seu francês castiço no celular falando com alguém em Paris, onde a família mora atualmente e onde ficaram os seus filhos com Orlando Morais, o compositor boa praça que eu não conhecia pessoalmente.

Washington Olivetto, como de hábito, só falava do seu Corinthians _ ele lança nesta segunda-feira à noite, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, mais um livro que tem por tema sua grande paixão _ e sacaneava os torcedores de outros times.

Atrás dele, feliz da vida com o resultado que já tinha visto nas telas, estava a jornalista e pesquisadora Denise Paraná, autora do livro que deu origem ao filme do mesmo nome. Em 1989, ano da primeira eleição presidencial pós-ditadura, quando nos conhecemos, e ela começou a fazer as primeiras entrevistas para o livro, nenhum de nós poderia imaginar que vinte anos depois seríamos convidados a assistir ao filme que conta a história do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

Por uma ou outra razão, os convidados que chegaram à Vera Cruz nos dois ônibus pareciam todos alegres colegiais premiados com uma viagem à Disneylândia. Entramos todos em fila indiana e no caminho encontramos outros dois convidados, Carlos e Dirce Mantovani, pais de Bráulio, que moram ali perto. Carlos, metalúrgico aposentado da Mercedes, até levou sua carteira do sindicato para mostrar a Lula.

Um dos monumentais estúdios da Vera Cruz foi transformado em sala de exibição e o outro serviu de sala de espera para os mais de dois mil convidados, recebidos com pipoca, salgadinhos e refrigerantes sem gelo. Ali encontrei dezenas de personagens das minhas matérias sobre as greves dos metalúrgicos no final dos anos 1970 e levei um tempão para chegar até a área reservada aos convidados da produção, sempre com medo de me perder da minha mulher, a Mara, e da Paula Barreto, a severa chefe da excursão.

“Acho que o Brasil é o país que tem mais vips no mundo”, brincou Olivetto ao encontrar meio mundo na área reservada. Eram ministros, senadores e deputados, grandes empresários, líderes sindicais da ativa e aposentados, artistas famosos _ uma seleta amostra do saco de gatos da grande aliança promovida por Lula nos seus dois governos.

Veio também boa parte da família Silva, irmãos, filhos, netos e sobrinhos de Lula, todos orgulhosos de estar ali. O mais paparicado como sempre era Frei Chico, como é conhecido o careca José Ferreira da Silva, um dos irmãos mais velhos do presidente, responsável por sua entrada na vida sindical.

O presidente Lula e Marisa chegaram logo depois da ministra Dilma Roussef, pouco depois das oito da noite, para alívio dos convidados que começaram a chegar à Vera Cruz por volta das três da tarde. Mas, antes do filme começar, ainda teve sessão de fotos de Lula e Marisa com os atores, vários discursos e um vídeo sobre a história da Vera Cruz e seus ousados planos para o futuro.

O diretor Fábio Barreto se emocionou ao dedicar o filme a dona Lindu e arrancou as primeiras lágrimas de Lula, que passou o resto do filme chorando discretamente. Como já conhecia a história da família Silva, que o presidente gosta sempre de repetir aos amigos, e testemunhei a parte final do filme, a partir de 1978, foi como se estivesse assistindo à noite ao vídeo-tape de um jogo de futebol que já tinha assistido no estádio à tarde.

Não se trata de um documentário, evidentemente, a exemplo dos que Silvio Tendler, por exemplo, produziu sobre Jango e JK, e agora está fazendo sobre Tancredo Neves. Nem concordo que o filme de Barreto seja este melodrama todo, um filme hagiográfico, como andaram falando.

Mesmo sem ser crítico de cinema, achei que é apenas um filme muito bem feito, baseado na vida de um personagem improvável e sua saga familiar, na medida do possível fiel ao livro e aos fatos. Mas é apenas cinema, um espetáculo de entretenimento, que recomendo aos meus leitores.

Para os mais jovens, é uma boa oportunidade de conhecer os principais fatos políticos do período e saber como se formou a personalidade de Lula, que o levou a comprar muitas brigas, a criar o PT e a CUT, sem nunca deixar de negociar e compor, até chegar à Presidência da República, depois de três derrotas. Parece que ele seguiu à risca, o conselho tantas vezes repetido por dona Lindú: “Teime!”.

Lula se emocionou tanto ao ver nas telas a sua própria história e a da sua família, que não atendeu ao pedido dos assessores para falar com a imprensa. Recolheu-se a uma pequena sala, onde estavam sua família e uns poucos amigos, e ainda passou algum tempo conversando com Barretão e Barretinho, que lhe falou dos problemas com a equalização do som no início da projeção.

Quase meia noite do sábado, os ônibus já tinham ido embora, mas conseguimos pegar uma carona na van providenciada por Paula Barreto para levar de volta os retardatários. Foi uma excursão bem divertida.

sábado, 28 de novembro de 2009

MÍDIA - O desespero da Folha é pior do que a mente de Benjamim.

Copiado do Blog do Rovai

Busca de artigo por palavra-chave:
Cesar Benjamim é uma mente doentia. Alguém que inventa histórias e constrói tramas para desqualificar aqueles com os quais por muitas vezes teve longo relacionamento.


Para quem não se lembra, esse é o sujeito que “denunciou” Emir Sader quando a editora dele não foi escolhida para fazer um trabalho que o sociólogo coordenava.

Era amigo de Sader por muito tempo, mas como seus interesses comerciais não foram atingidos, decidiu acusá-lo publicamente de corrupto.

Este Cesar Benjamim também é o mesmo que trabalhou no programa de governo de Garotinho quando imaginava que aquele poderia ser o candidato do PMDB à presidência da República.

Era um dos “cérebros” do ex-governador na construção de um programa nacionalista.

Mas como a candidatura do ex-governador não emplacou pelo PMDB, este mesmo Cesar Benjamim se filiou ao PSol e saiu candidato à vice-presidência da República na chapa de Heloísa Helena.

Provavelmente porque passou a achar que Garotinho não era mais o caminho a verdade e a vida. Mas sim HH.

Não foi só do PT, partido ao qual foi filiado, que saiu atirando. Também tretou com Garotinho e com o PSol. Benjamim não é só craque em produzir inimigos. É especialista em delação pública sem provas.

Se alguém com um currículo desses procurasse seu jornal para denunciar o presidente da República de ter tentado enrabar (vamos usar o português claro) um jovem nos dias em que era preso político, o que você faria? Publicaria o artigo?

E se essa mente doentia ainda citasse nominalmente uma única pessoa como testemunha, o que você faria? Não ouviria a testemunha e publicaria o artigo?

Cesar Benjamim é uma pessoa sem caráter, um psicopata da política. Pessoas assim existem. E vivem buscando jornais para acusar seus adversários. Jornais, em geral, as ignoram.

Por isso, neste episódio, o que mais me assusta é ver a Folha valer-se de uma mente insana para tentar atingir a reputação de alguém a quem se contrapõe politicamente.

Se a direção deste jornal considera isso válido para atingir seus objetivos, por que não sustentaria um golpe para derrotar esses mesmos adversários políticos?

A iminente derrota da oposição em 2010 e a falta de perspectiva política desse grupo nos próximos anos estão levando a uma radicalização midiática que não é só nojenta. É preocupante.

É bom os partidos da base do governo ficarem atentos a isso.

LULA E O RESGATE DE UM SONHO.

Zé de Abreu: Lula e o resgate de um sonho

Sempre tive muito claro que mais do que as perseguições, prisões, tortura, censura e afins, a ditadura matou o sonho revolucionário de minha geração. O sonho do “dia que vem vindo em que o mundo vai virar”, quando veríamos a “volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar” acordou numa triste realidade: o povo não estava nem aí com a ditadura. Estávamos enganados, uma vanguarda distante da realidade movida a sonho e esperança. A ditadura matou tudo. Quando ela acabou os tempos eram outros.
 


Por Zé de Abreu*, no blog do Zé Dirceu

 zé de abreu

O povo continuava o mesmo povo, pobre e sofrido, mas não era mais motivo de preocupação. Povo ficou fora de moda, só usado nos momentos eleitorais. E veio Sarney substituindo a ditadura, Lula perdendo para Collor, Itamar abrindo caminho para FHC... Aquele que tinha sido literatura de axila nos meus tempos de Faculdade era Presidente da República, a esperança renascera. Mas já não era o mesmo sonho, o dele. O meu ainda era, embora eu não soubesse. Achava que morrera. 



Até que de tanto insistir Lula ganhou.

Eu estava em Pelotas gravando A Casa das Sete Mulheres e meus amigos do PT de lá me convidaram para uma festa na Avenida Borges de Medeiros. Fomos, eu e alguns outros atores. Lembro-me que, apertado no carro cheio, pensei: será que vai dar certo? E me veio uma idéia maluca: se fosse para acabar com a miséria no Brasil, eu concordava em aumentar meu imposto de renda! Se Lula se preocupasse com os “menos favorecidos” seria o resgate do meu sonho. 



Hoje, passados sete anos, acredito que isso aconteceu. Com os índices de “saídos da linha da miséria” que são milhões de patrícios agora participando ativamente e comendo seus pedaços do bolo da economia que, se na ditadura e nos governos anteriores também crescia, nunca era dividido. E com muita satisfação dos da “classe superior” que vende cada vez mais para esses novos consumidores, verdadeiros novos cidadãos brasileiros. 



E as Universidades Federais que Lula criou? E as Escolas Técnicas Federais que, de um processo de extinção, foram multiplicadas? E as mil e vinte duas creches sendo construídas? 



Isso é resgate do meu sonho.



Fiquei um mês fora do Brasil, nos Estados Unidos, Canadá e República Dominicana, pude notar uma coisa: hoje nosso herói internacional, o brasileiro mais conhecido lá fora não é mais o jogador de futebol, como Pelé, Ronaldo... É Lula, é o Mr. President! Quer orgulho maior para um ex-comunista? Ver como o “operário no poder” deu certo? E o comportamento de nosso Itamarati na crise de Honduras? 



Recentemente, tivemos o Presidente de Israel, pela primeira vez em 43 anos, visitando o Brasil. Shimon Peres, premio Nobel da Paz, veio conversar conosco por que o Brasil hoje tem um papel considerável a desempenhar na eterna crise do Oriente Médio. Com sua indiscutível liderança internacional, com sua imensa capacidade de negociação e autoridade política conseguida na prática da Presidência, Lula pode mediar qualquer litígio entre nações. 



Com a continuidade do Governo Lula garantida pela futura eleição da Ministra Dilma me vem uma sensação de que não foi à toa minha militância juvenil. Me abriu a cabeça para entender o momento histórico que vivemos, a Revolução sendo desenvolvida no dia a dia, no voto, na Paz e, porque não dizer, no Amor. Afinal de contas alguém já viu um Presidente da República mais apaixonado pelo seu povo?

*Zé de Abreu é ator.

ENTREVISTA ESCLARECEDORA.

Copiado do Blog "Entrelinhas"

Entrevista esclarecedora

Não é preciso nem comentar. Só mesmo um... César Benjamin para escrever o que escreveu, só mesmo a FSP para publicar o que publicou. Do Terra Magazine:

Tendler: Benjamin vai ganhar o prêmio "loura do ano"

Bob Fernandes, no Terra Magazine

César Benjamin, 55 anos, é ex-preso político e um dos fundadores do PT. Na sexta-feira, 27, Benjamin escreveu um artigo na Folha de S. Paulo e acusou o hoje presidente Lula de ter revelado, em 1994, uma tentativa de estupro dele, Lula, contra um "menino do MEP". Tentativa que teria acontecido em 1980, quando o então líder sindical Lula esteve preso por 30 dias, e na mesma prisão, com o jovem da organização de esquerda que já não existe, o MEP. César Benjamin cita, em seu texto, uma testemunha, "um publicitário brasileiro que trabalhava conosco cujo nome também esqueci".

O "publicitário" é o cineasta Silvio Tendler, que em 1994 trabalhou na campanha de Lula à presidência da República. De início, afirma Tendler:

- Ele diz não se lembrar de quem era o "publicitário", mas sabe muito bem que sou eu. Eu estava lá e vou contar essa história...

Sobre os fatos e a acusação, gravíssima, o cineasta, o documentarista Silvio Tendler conta o que viu e o que recorda daquele almoço em meio à campanha presidencial de 1994:

- Era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara...só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...

Silvio Tendler já fez cerca de 40 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens. Além de vários prêmios é detentor das três maiores bilheterias de documentários na história do cinema brasileiro: "O Mundo Mágico dos Trapalhões" (1 milhão e 800 mil espectadores), "Jango" (1 milhão de espectadores) e "Anos JK" (800 mil espectadores).

Na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, neste 2009, Silvio Tendler lançou o documentário "Utopia e Barbárie", no qual trabalhou durante 19 anos. Dentre os personagens ouvidos pelo documentarista mundo afora, o general vietnamita Vo Nguyen Giap, que derrotou os exércitos francês e americano. "Giap, o maior general do século XX", segundo o cineasta.

Na conversa que se segue, o documentarista Silvio Tendler recorda a história da história de Lula e o "menino do MEP".

Terra Magazine - Silvio Tendler, é você o publicitário citado por César Benjamin no artigo na Folha de S.Paulo?
Silvio Tendler - Eu mesmo, em pessoa.

Você estava lá? Você, o Lula, o César Benjamin, o publicitário Paulo de Tarso e o tal marqueteiro dos Estados Unidos?
Na verdade eu não me lembro é do César Benjamin lá no almoço (...) e, sim, o publicitário que ele diz não lembrar era eu. E ele, se estava lá, sabe e se lembra que era eu; não tinha mais três publicitários na campanha, portanto ele sabe que era eu quem estava lá...mas eu não sei se ele estava, não me lembro, de verdade, se ele tava na sala. Ele agora diz não se lembrar do "publicitário" porque sabe que eu não iria corroborar essa maluquice, até porque eu vi, testemunhei, a quantidade de erros, de bobagens que ele cometeu durante a campanha...

Ele, César Benjamin?
Ele, Benjamin...por exemplo: já tava tudo perdido, um dos poucos apoios que o Lula ainda tinha depois daqueles erros de ataques da campanha ao Plano Real, era o da Igreja. E de repente o César resolveu botar como pauta do dia o quê?

O quê?
O aborto! Só isso. Esse cara montava e desmontava os programas como se fosse um expert em comunicação... e não era. Me lembro de outra história dele. Tinham inventado uma legislação casuística, criada para segurar o Lula, que tinha feito aquelas caravanas pelo Brasil. Não podia ter imagem externa em movimento... então fizemos um video-clip, eu e minha ex-mulher, a jornalista Tânia Fusco. Ela fez o texto, e eu, com as fotos dele na caravana e outras imagens, fiz, fizemos um clip, uma biografia do Lula a partir de fotos...

E aí?
Aí fui dar aula no Rio de Janeiro por dois dias, o comando da campanha era em São Paulo, e quando voltei o clip estava desfigurado pelo gênio da comunicação. Onde havia poesia o César colocou chavões do tipo "arrocho salarial"...

Por quê?
Porque se acha um gênio, melhor do que todo mundo... peguei meu boné e fui embora pro Rio...

E o César?
Ele continuou com suas trapalhadas. E quinze anos depois ele segue em campanha, agora contra o Lula diretamente. Ele atrapalhou o Lula em 94 e segue tentando atrapalhar o Lula.

Ok, esses detalhes à parte, você estava à mesa do almoço no dia da tal conversa do Lula?
Eu estava lá, sentado à mesa. Eu sou o publicitário "anônimo" que estava lá. O Lula, um cara que foi brincalhão durante toda a campanha, mesmo quando já tava tudo perdido. Eu até pensava "esse cara passa a noite pensando em como sacanear os outros", porque todo dia tinha uma piada, um brincadeira, uma vítima de gozação... nesse dia o Lula queria chocar o tal marqueteiro americano...

O James Carville era...
O James Carville tinha sido contratado para ajudar na campanha do Fernando Henrique e nós tínhamos o nosso americano também. O Lula brincava: "O americano do Fernando Henrique fez a campanha do Bill Clinton, o nosso americano fez a campanha do Daniel Ortega" (NR: Ex e atual presidente da Nicarágua). Bem, o Carville já tinha ou tava sendo mandado embora da campanha do FHC e a campanha do Lula também ia despachar o "nosso" americano.

E o que aconteceu?
...e aí, nesse dia, o Lula, claramente num clima de brincadeira, tava a fim de sacanear, de chocar o americano com essa história dele "seco" na prisão, todos na mesa, nós todos, sabíamos que aquilo era uma brincadeira, era gozação, sacanagem, e imaginando como seria se fosse traduzido pro cara...

Você tem, teve então a certeza de que era uma brincadeira? Não teve e não tem nenhuma dúvida?
Nenhuma. Era claro, óbvio que era uma brincadeira, mais uma piada, mais uma gozação do Lula, nenhuma dúvida. E além disso a história, a cena toda não teve de forma alguma esse ar, essa dramaticidade que o César enfiou nesse texto melodramático. É incrível essa história... todos sabíamos que aquilo era uma brincadeira, como tantas outras feitas durante a campanha...

As tais "conversas de homem"...
Nem era esse clima "conversa de homem", era brincadeira, pura gozação, nenhuma responsabilidade, nunca, nunca com esse tom de "confissão" que o Benjamin fez parecer que teve. E você acha que se isso fosse, soasse verdadeiro, todos nós não ficaríamos chocados? Todos ali da esquerda, com amigos presos, ex-presos e tudo mais, você acha que nós ouviríamos aquilo com tom de verdade, se assim fosse ou parecesse, e não reagiríamos, não ficaríamos chocados?

Na sua opinião, que conhece os personagens dessa história, o que aconteceu?
O César Benjamin guardou ressentimentos por 15 anos para agora despejar todo esse rancor. Ele pirou com o sucesso do Lula. Ele transformou uma piada num drama, vai ganhar o troféu "Loura do ano".

O Paulo de Tarso estava lá?
Estava. E estava o americano... pensa só uma coisa: você acha que o Lula, logo o Lula, tão pouco esperto como ele é, em meio a uma campanha presidencial, vai chegar na frente de um gringo que ele mal conhecia, um gringo que vai voltar pro país dele e contar tudo o que viu, você acha que o Lula vai chegar pra um gringo que nunca viu, na frente de testemunhas, e vai contar que tentou estuprar alguém? É, foi óbvio, evidente, que aquilo era gozação, piada, brincadeira, sem nada desse drama todo do Benjamin de agora... rimos e ninguém deu a menor importância àquilo...

Você, um cineasta, um documentarista que viveu a cena, relembrando-a quadro a quadro, o que verdadeiramente pensa, o que diria hoje?
O Lula adorava provocar... era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era o marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara... como é possível que alguém tenha levado aquilo a sério?

Então...
Isso não tem, não deveria ter importância nenhuma. Só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...