sexta-feira, 23 de abril de 2010

EUA - Avanço da extrema direita americana.

Chomsky alerta sobre crescimento da extrema direita nos EUA

A direita se alimenta da frustração e avançam os ultra-conservadores como o Tea Party. Latinos e negros são perseguidos, como a Alemanha fascista fez com os judeus, assegura o intelectual.

Por David Brooks, para o La Jornada

O desencanto com o governo e os políticos cresceu a níveis sem precedentes nos últimos tempos de acordo com pesquisas. Crescem a ira, a incerteza, o pessimismo e a desconfiança em Washington, e o fruto dessa frustração popular está sendo colhido por direitistas.

"Nunca vi nada parecido na minha vida", declarou Noam Chomsky. Entrevistado por Chris Hedges para o site Truthdig, acrescentou que o humor do país é aterrador. O nível de ira, frustração e ódio a instituições não está organizado de maneira construtiva. É desviado para fantasias autodestrutivas em referência a expressões populistas da ultra-direita.

O sentimento anti-governamental foi incrementado entre a sociedade, e só 22% diz confiar plenamente no governo, de acordo com pesquisas do Pew Research Center, um dos pontos mais baixos em meio século. Para quase toda medida concebível, os estadunidenses hojes são menos positivos e mais críticos de seu governo. Há uma tormenta perfeita de condições associadas com a desconfiança em relação ao governo: uma economia abismal, um público pessimista e um descontentamento épico com o Congresso e os funcionários eleitos, afirmou Andrew Kohut, presidente do Pew Research Center, ao resumir as conclusões de uma série de pesquisas.

O Pew registrou que apenas 25% tem uma opinião favorável do Congresso — o ponto mais baixo em 50 anos — e 65% expressa uma opinião negativa. Cada vez mais americanos opinam que o governo tem prioridades equivocadas e que isso tem um impacto negativo em suas vidas cotidianas. Cerca de 62% afirma que as políticas do governo beneficiam somente alguns grupos e 56% opina que o governo não faz o suficiente para ajudar o estadunidense médio.

Além disso, se confirma o aumento do sentimento anti governamental entre um segmento da sociedade, ao duplicar-se aqueles que dizem que estão incomodados com o governo federal: de 10% em 2000 a 21% hoje. E 30% percebe que o governo é uma ameaça para sua liberdade pessoal.

O Pew também registrou, em um revés comparado com uma pesquisa de meses atrás, que a maioria desconfia de um maior papel do Estado na economia, com a exceção do setor financeiro, onde uma ampla maioria deseja que o governo regule estritamente as empresas financeiras.

Talvez o setor mais descontente com o governo seja o chamado movimento Tea Party, expressão ultra-conservadora que surgiu há um ano em protesto pelo projeto de estímulo econômico e que cresceu em visibilidade na campanha contra a reforma da saúde proposta pelo governo de Barack Obama. Esse movimento é majoritariamente formado por homens brancos, de 45 anos, que se descrevem como incomodados ou furiosos com Washington.

São considerados como a parte mais dinâmica do movimento conservador, com o propósito de não só deter as propostas de Obama, como também de atacar políticos republicanos que são considerados "não muito" conservadores.

Pesquisas recentes do New York Times/CBS News revelaram que 18% dos americanos se identificam como simpatizantes do Tea Party, se classificam "muito conservadores", são muito pessimistas sobre a direção do país e severamente críticos de Washington e, naturalmente, de Obama. Mais de 90% deles acreditam que o país avança por um caminho equivocado e a mesma porcentagem desaprova o presidente e sua administração política. Já 92% dos pesquisados estimam que Obama leva o país "rumo ao socialismo" (uma opinião compartilhada por mais da metade da população em geral).

Por outro lado, as expressões de ira popular direitista se registram ao reportar-se mais crimes de ódio, um aumento de grupos ultradireitistas radicais, assim como relatórios não oficiais de um crescente número de ameaças de morte contra o presidente. As agências de segurança pública elevaram o estado de alerta pelo que foi chamado de "terrorismo doméstico".

Foram relatados incidentes, vários sob investigação, de atos de intimidação contra congressistas e outros políticos eleitos. No início do mês, mais de 30 governadores receberam cartas de um grupo anti-governamental ultra-conservador que exigia deles sua renúncia em um prazo de 3 dias (embora não houvesse ameaça de violência), o que fez com que autoridades federais advertissem policiais locais que as cartas poderiam provocar comportamento violento. Como estes, existem mais exemplos por todo o país.

A onda de desilusão com o governo e seus governantes provoca preocupação entre alguns políticos que ainda não sabem que impacto isso poderia ter nas eleições legislativas de novembro próximo. Mas para outros o assunto é alarmante.

"É muito similar à Alemanha de Weimar, os paralelos são notáveis". Também aí existe uma desilusão tremenda com o sistema parlamentar, apontou Chomsky na entrevista do Truthdig.

"Os Estados Unidos tem muita sorte em que não tenha surgido uma figura honesta e carismática, já que se isso acontecesse este país estaria em verdadeiros apuros pela frustração, a desilusão e a ira justificada e à ausência de uma resposta coerente", inclui.

Na Alemanha, relembra, o inimigo criado para explicar a crise foi o judeu. "Aqui serão os imigrantes ilegais e os negros. Nos dirão que os homens brancos são uma minoria perseguida. Nos dirão que temos que nos defender e defender a honra da nação. Se exaltará a força militar. Haverá golpes. Isso pode se converter em uma força incontestável. E, se ocorrer, será mais perigosa que a Alemanha nazista. Os Estados Unidos são o poder mundial... não acredito que isto esteja longe de acontecer", diz.

Fonte: La Jornada

Nenhum comentário: