sexta-feira, 27 de setembro de 2013

MÍDIA - Entrevista com um ator engajado.

Diário do Centro do Mundo

“O futuro pode ser muito pior”: uma entrevista com Matt Damon, o ator mais engajado de Hollywood

by Harold Von Kursk
matt damon
Aos 42 anos, Matt Damon se firmou como o ator mais engajado de Hollywood. Em seu novo filme, Elysium, incrível sci-fi pós-apocalíptico dirigido por Neill Blomkamp, Damon vive Max, um antigo ladrão de carros morando em Los Angeles, uma cidade que vira uma grande favela um século e meio no futuro. Depois de ser exposto a uma dose letal de radiação em seu trabalho, Max fica sabendo que tem apenas mais 5 dias de vida.
Isso o inspira a encontrar uma forma de chegar em Elysium, a cidade dentro de uma gigantesca estação espacial onde as elites extremamente ricas migraram para escapar do planeta super populado, poluído e movido ao crime. Elysium providencia a todos os seus residentes máquinas capazes de curar qualquer doença em questão de segundos, e Max está determinado a pular essa barreira apocalíptica e se salvar.
“Eu vi o roteiro como uma metáfora à desigualdade social que vemos hoje e que pode ficar muito pior no futuro”, disse Damon. “Sou fã de Neil Blomkamp desde que vi Distrito 9, que achei muito original e divertido, mas que também continha uma metáfora sombria sobre o seu país natal. Elysium é uma extensão dos maiores problemas que podem acontecer no nosso planeta em 150 anos se continuarmos tratando as coisas como estamos fazendo.”
Matt, você se preocupa que o nível de poluição, aquecimento global e desigualdade social transforme o planeta em uma favela tóxica como a que Elysium prevê?
Talvez eu não seja tão pessimista, mas acho que temos que prestar atenção aos problemas que Neill Blomkamp aborda de uma forma metafórica no filme. Isso é o que torna seu trabalho tão interessante. Ter crescido na África do Sul fez com que Neill fosse muito atento à desigualdade entre pobres e ricos. Então ele tem um senso muito forte de justiça social e responsabilidade que é parte do subtexto de seus filmes.
Você acha que o público vai concordar com o comentário social por trás da missão de Max?
A princípio, Elysium tem como objetivo entreter o público. Sabe, no fim das contas, esses são filmes-pipoca e você quer que eles sejam satisfatórios nesse intuito. Mas em relação a seus temas, há coisas acontecendo em Elysium muito interessantes e provocadoras, mas sem ser pretensioso de qualquer forma.
Vocês filmaram grande parte do filme na Cidade do México. Isso te ajudou a imaginar que o planeta apresentado em Elysium não está tão distante?
Sim. A Cidade do México é o segundo maior lixão da terra. Comunidades inteiras chegaram a nascer e morrer e a ver seus filhos se tornarem parte dessas favelas tóxicas. As pessoas fazem a vida organizando o lixo. Eu viajei muito pelo terceiro mundo, mas a Cidade do México levou minha compreensão a outro nível. Há também muito crime e fora da cidade há o problema dos carteis de droga, que têm muito poder no país.
Você foi contratado inicialmente para Avatar (para o papel de Sam Worthington) mas teve que desistir por conta de problemas de agenda. Você sempre quis voltar ao gênero sci-fi?
Eu amo filmes sci-fi e alguns filmes que me marcaram até hoje são Blade Runner e Matrix, mas dificilmente os diretores pensam em mim para este tipo de projeto. James Cameron me queria para Avatar e o que me impressionou em Neill foi que ele tinha a história toda e a visão desse mundo em sua cabeça e numa HQ que ele preparou para o filme. Ele conseguia responder qualquer coisa que eu perguntasse na hora. James Cameron era assim também quando discutíamos Avatar – ele sabia todos os detalhes sobre cada aspecto do mundo que queria criar. Todo ator quer trabalhar com diretores que tem essa visão extraordinária sobre o que querem fazer.
O subtexto político e social foi importante para você aceitar o trabalho?
Eram elementos interessantes mas não os mais importantes. É algo que ajuda o filme a ser mais profundo, mas não é uma mensagem jogada na cara de todo mundo. Neill não acredita que filmes podem mudar a opinião pública mas acredita que pode fazer as pessoas pensarem. Ele foi do Canadá para a África do Sul quando tinha 18 anos e então sua mente foi aberta a uma mudança de ambiente gigantesca.
E como foi vestir o figurino com o exoesqueleto pela maior parte do filme enquanto tenta entrar em Elysium?
Foi bem pesado, mas não tão difícil de se locomover. Tinha mobilidade total e quando começamos a filmar já me sentia confortável com ela. A parte mais difícil foi filmar a luta com Sharl. A armadura é afiada e você tem que tomar todo o cuidado para não acertar alguém com ela, já que não quer cortar o rosto de ninguém. A coreografia era um pouco perigosa. Normalmente quando você filma uma luta, tem que intencionalmente errar o golpe por alguns centímetros. Mas as vezes você acaba acertando o outro ator, e isso não podia acontecer de forma alguma nesse filme. Tive que tomar cuidado com Sharl porque ele é um ator muito intenso e que quer colocar muita emoção nas cenas de luta. [rs] Você tem que se manter calmo porque se acabar provocado, pode fazer um estrago com aquela roupa.
Você nunca esteve tão forte como em Elysium. O que você fez para ficar assim?
Basicamente malhei 8 horas por dia por três meses. Foi muito difícil porque adoro comer e beber. E eu cheguei num ponto na minha vida em que alguém foi boba o suficiente para se casar comigo e continuar comigo mesmo que eu ganhe alguns quilos. Então é difícil conseguir me motivar para manter a forma. Mas quando vi todas as imagens de Neill e como ele imaginava Max, pensei: “Ok, entendi e vale a pena”.
Sua mulher gostou?
Acho que ela gosta da variedade. Quando fiz O Desinformante, ganhei 18 quilos e fiquei surpreso ao ver que ela ainda assim gostava de mim! Estou tentando fazer com que ela goste só daquele cara, já que a minha tendência é deixar meu corpo com aquele formato ao invés do de Jason Bourne ou de Max.

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