Ele
O
senador Ted Cruz, prodígio republicano do Texas, decidiu revelar -se o
guardião sagrado da ortodoxia do Tea Party, um homem com a missão de
salvar a América de Obama e sua horda marxista. Raramente um senador
novato surgiu no cenário político americano com tanto talento e fervor
como Cruz. Sua vontade de tomar o controle da direita republicana o
transformou num dos homens mais odiados da política. A marca de
bajulador do populismo puritano provocou comparações com o falecido
Joseph McCarthy, outro grande demagogo cuja tática era espalhar o terror
no início dos anos 50.
Mas
a paranóia é apenas uma das táticas empregadas por Cruz. Ex aluno de
Princeton, debatedor reconhecido, Cruz tem a retórica escorregadia e o
charme brega de um vendedor de óleo de cobra. Felizmente para o mundo,
seus argumentos ideológicos não são páreo para sua oratória - há uma
base limitada de fãs para alguém que se opõe ao aborto, a programas
saúde e a praticamente toda iniciativa de ajudar os pobres, proteger o
meio ambiente e limitar os efeitos mais extremos do capitalismo de livre
mercado. Além disso, Cruz usa seus argumentos de tal forma reptiliana
que fez de si mesmo um alvo fácil para a caricatura, ao invés da
adoração. Há algo terrivelmente perturbador em seu estilo, que lembra um
fundamentalista cristão prepotente dando sermão para seu rebanho.
No
centro de sua ladainha populista está a desconfiança nas instituições
democráticas. Sua obstrução infame ao ObamaCare deixou furiosos colegas
da velha guarda republicana, como John McCain, que o chamou de “pássaro
maluco” por ter ajudado a atirar a popularidade do Partido Republicano a
seus níveis mais baixos em décadas.
A
verdade é que Ted Cruz é uma aberração política, um auto-intitulado
"libertador" que acredita que só Ele tem a verdade e só Ele pode
conduzir sua nação à terra prometida.
O
verdadeiro perigo que Cruz representa está em sua capacidade de agitar a
histeria conservadora em uma paisagem política americana cada vez mais
polarizada. Desde 2009, o Partido Republicano foi arrastado mais para a
direita por causa do Tea Party, financiado por uma quantidade enorme de
dinheiro fornecida pelos irmãos Koch e outros industriais covardes.
O FATOR CRUZ
Cruz
envenena o clima político sem oferecer quaisquer objetivos políticos
coerentes além do enxugamento do estado e de reduzir o debate a
afirmações selvagens de ideologia que não deixam espaço para um terreno
comum.
De
acordo com Cruz, o Partido Republicano deve reafirmar-se como o partido
da promessa econômica e, portanto, de maior mobilidade social, apesar
de toda a evidência econômica sugerir que a desregulamentação
desenfreada serve apenas para aumentar o fosso entre ricos e pobres.
A
conseqüência disso é que, enquanto democratas e republicanos eram
capazes de discutir compromissos, agora é praticamente impossível.
Liderados pelo irresponsável John Boehner, esses congressistas estão
cada vez mais ligados ao mantra da direita de não aumentar impostos e
não se opor a qualquer medida contra Wall Street ou ao combate a
emissões de carbono.
A
marca do narcisismo político de Cruz pode muito bem ter vida curta. Os
eleitores provavelmente vão cansar da arrogância viscosa, da pausa
calculada e do arsenal de expressões faciais e gestos que parecem ter
sido praticados na frente de um espelho no circo.
Mas,
até lá, a coisa vai piorar. O Obamacare, por exemplo, foi aprovado por
lei em 2010, quando os democratas controlavam tanto o Senado quanto a
Câmara. É quase inédito para qualquer partido de oposição tentar, como
Cruz tentou, forçar a revogação ou a anulação de legislação aprovada em
governos anteriores. Ele e seus companheiros talebãs do Tea Party se
recusam a admitir o absurdo de suas reivindicações.
Ele
sabe que seus argumentos são sofismas. É por isso que se trata de um
demagogo mais perigoso do que Joe McCarthy, que estava tão cego pelo
ódio aos comunistas que acreditava em grande parte de seu próprio
discurso de duplo sentido. Apesar de seu objetivo declarado de limpar a
nação norte-americana de elementos comunistas - reais ou imaginários -, o
macarthismo empregava os mesmos métodos que os governos nazistas e de
estilo soviético na Europa Oriental para se livrar de “inimigos do
Estado”.
Antes
que se pense que as comparações com McCarthy são exageradas, precisamos
apenas recordar os ataques de Cruz ao indicado de Obama para secretário
da Defesa, Chuck Hagel, durante sua audiência de confirmação no início
do ano. Cruz havia sido empossado como senador do Texas um mês antes,
mas estava ansioso para crescer em cima de Hagel -- ex- senador
republicano, aliás. Cruz especulou que Hagel tinha recebido um suborno
de US$ 200 000 de um governo estrangeiro como a Coreia do Norte ou a
Arábia Saudita. Esta alegação foi tão insidiosa que ele recebeu uma
reprimenda da colega Lindsay Graham, acusando-o de ultrapassar todos os
limites.
Detonando o Obamacare
Cruz
e seus companheiros republicanos talibãs estão com as cepas mais
antidemocráticas do mundo. Seu populismo não é muito diferente do do
movimento de extrema-direita liderado pelo primeiro-ministro húngaro
Victor Orban, que chegou ao poder em 2010, e que corre o risco de
ressurgir na Polônia.
A
mensagem de Cruz consiste em empregar táticas para convencer os
americanos raivoso de que Obama é um muçulmano no armário, empenhado em
transformar a América em um estado socialista.
Não
são ameaças vazias. Graças à enorme riqueza de vários doadores do
Partido Republicano, como os irmãos Koch, muitos republicanos moderados
se desviaram para a direita a fim de passar no teste de pureza
ideológica do Tea Party. É como na Alemanha. Sob Hitler, os alemães
foram pressionados a fazer um juramento de lealdade ao partido nazista,
método escolhido pelo Führer para impor disciplina partidária rígida.
Sua
conduta oscila entre a perturbação e a traição, na medida em que tenta
minar a autoridade do presidente dos EUA e questionar sua lealdade e
motivações ao tentar introduzir um modelo de saúde pública mais
abrangente.
A
doutrina constitucional americana de "razoabilidade", que manteve os
partidos Democrata e Republicano em um estado de simbiose mútua, está
agora à beira de um colapso.
Historicamente,
o Partido Republicano tem defendido os direitos do indivíduo à vida, à
liberdade e à busca da felicidade em um país que minimiza o papel do
governo federal na regulação de tais práxis. Entretanto, ao atacar o
princípio do governo da maioria, Cruz e o Tea Party estão invocando o
tipo de intolerância antidemocrática mais comum na extrema direita
europeia.
Pode-se
apenas esperar que, assim como na era McCarthy, sempre haverá homens
suficientemente razoáveis, em ambos os lados do espectro político,
dispostos a expor o mal e a mentira no coração e na mente de um palhaço
perigoso como Ted Cruz.
Fonte:DCM
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