Um
vídeo está circulando na internet freneticamente neste final de semana.
É da Veja SP, e apresenta um “sultão” das baladas chamado Alexander de
Almeida, que diz ter 39 anos.
O DCM colocou o vídeo ontem na seção Vídeo do Dia, e agora pela manhã era a coisa mais lida no site.
Alexander
– imagino que seja um nome fantasia derivado do prosaico Alexandre – dá
seus conselhos a quem quer, como ele, ser “alguém especial” nas
baladas.
Todos
os conselhos cabem num só: torre seu dinheiro em camarotes nas baladas
com espertalhões – homens e mulheres – que vão largar você assim que sua
conta bancária inevitavelmente entrar em colapso e você não puder mais
pagar o champanhe que eles tomam rindo de você e de sua monumental
burrice.
Do ponto de vista jornalístico, raras vezes se viu algo que reflita tão bem a essência de uma publicação e de seus leitores.
A
Veja SP se dedica, com obtusa regularidade, a promover a frivolidade
consumista num mundo de faz de conta em que todos riem como Alexander.
A
Veja SP não faz pensar, não provoca você a sair de sua vidinha medíocre
em que o que vale são as aparências, não faz nada digno da palavra
‘jornalismo’.
Mesmo
assim, apenas para lembrar a mamata estatal dada às empresas
jornalísticas com dinheiro público, a Veja SP é impressa com papel
isento de imposto.
Fui
um dos primeiros editores da Veja SP, em meados da década de 1980, aos
26 ou 27 anos. Eu era na época subeditor de Economia da Veja, mas já a
direção da revista achava que já era tempo de eu ser promovido a editor.
Apareceu
a oportunidade na Veja SP quando a editora Selma Santa Cruz deixou a
revista para se juntar a seu marido, Sérgio Mota Melo, num
empreendimento jornalístico, a TV1.
Tentei
fazer “jornalismo sério”. Uma de minhas primeiras capas mostrava o caso
dramático de dois bebês que tinham sido trocados na maternidade.
Naquela
semana, desci o elevador da Abril com Roberto Civita. Sempre amável,
sempre charmoso, sempre sorridente, ele me disse que não era exatamente
aquele tipo de reportagem que ele queria na Vejinha, como era e é
chamada.
Me
ajustei ao mundo da fantasia. Mas, em meio a tantas tolices que editei,
lembro com satisfação capas como uma que trazia a escalada de um jovem
editor chamado Luiz Schwarcz, que começava sua Companhia das Letras.
Fiz,
pessoalmente, este texto. Também fiz, eu mesmo, coisas como o perfil de
um jovem jornalista que se tornara cultuado entre os jovens paulistanos
no comando da Folha Ilustrada, Matinas Suzuki.
Pouco
mais de um ano depois, voltei à área de Economia, da qual saíra, para
ser editor executivo da Exame. Nela vivi os melhores anos de minha
carreira – só igualados ou superados agora pela experiência eletrizante
que é o DCM.
Dentro
das limitações que um editor tem na mídia corporativa, em que a voz do
dono é a que realmente vale, fiz o que pude na Vejinha para ir além do
cardápio que agora foi dar em Alexander de Almeida.
No
terreno das curiosidades, não pude deixar de notar a semelhança física
entre ele e Kassab. E então fui remetido mentalmente a uma capa da
Vejinha com Kassab às vésperas das eleições municipais de 2012.
O
texto defendia a administração Kassab, àquela altura extremamente
impopular entre os paulistanos. “Estamos sendo muito duros com ele?” –
esta era a pergunta. Kassab não conseguiu cuidar sequer das árvores de
São Paulo, destruídas a cada chuva mais forte, não conseguir resolver
nem o problema do excesso de pernilongos na cidade, e mesmo assim a
Vejinha acusava seus leitores de serem rigorosos com o prefeito.
Como
toda mídia impressa, a Vejinha está morrendo. Cada vez menos pessoas
lêem revistas na era digital. E indicações de bares, restaurantes,
teatro e cinema – o maior pilar da revista – você encontra de graça, em
tempo real, na internet.
Mas ela poderia morrer sem a humilhação de ver seu logotipo associado a um decálogo como o de Alexander de Almeida.
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